sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Viña Albali Garnacha Rosé 2019

 

Mais uma noite de degustação regada a novidades, pelo menos pra mim, é claro. Será a minha primeira degustando um Garnacha Rosé. Degustar uma das castas icônicas da Espanha é sempre um momento sublime, mas agora a degustação será na versão rosé.

Hoje a noite está particularmente agradável, um pouco calorosa para uma noite, mas é verão em terras brasileiras e nada como um rosé, que tem a cara dos trópicos, para harmonizar com esse período do ano.

E também teremos outra novidade: além de ser o meu primeiro rosé da casta Garnacha, será também o primeiro rosé da região de Castilla La Mancha, a terra de Dom Quixote de La Mancha.

Embora seja uma região conhecida na Espanha para a produção de vinhos, considerada a região com a maior vinha do mundo, muitos e muitos litros da bebida sagrada para nós enófilos saem de lá. Há quem diga que essa produção em larga escala impacta negativamente na qualidade do vinho. Olha os poucos rótulos que degustei eu gostei.

Os meus primeiros contatos tem sido satisfatórios, especiais e espero que esse não fuja à regra. E o meu primeiro contato com esse rótulo já foi especial: o preço. Ótimo e atraente valor que justifica e muito o investimento: Abaixo dos R$ 40 para um rosé com a sua proposta descontraída e jovial sempre é válido.

Bem sem mais delongas façamos as devidas apresentações! O vinho que degustei e gostei, como disse, vem da região espanhola de Castilla La Mancha e se chama Viña Albali da casta Garnacha, um rosé da safra 2019. E antes de tecer os comentários que algo posso adiantar, um espetáculo de vinho na sua concepção mais genuína, com muita fruta vermelha, falemos um pouco da região de Castilla La Mancha.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rosado de média intensidade, com uma cor de casca de cebola, com um reluzente brilhante.

No nariz aromas delicados de frutas vermelhas tais como framboesa, morango e cerejas, com um discreto toque floral.

Na boca é leve, fresco, com as notas de frutas vermelhas como no aspecto olfativo, com uma boa acidez mostrando equilíbrio entre esta e a fruta. Apresenta um teor alcoólico com alguma veemência, atípico para um rosé, tendo um final longo e refrescante.

Dizem que comemos e bebemos com os olhos e é verdade! O Viña Albali Garnacha Rosé já encanta com a sua cor rosada vibrante, quase intensa, com traços brilhantes e envolventes que é um atrativo, um chamariz a degustação. E a confirmação desemboca nos seus aspectos olfativos e gustativos onde a fruta vermelha impera, traz, como carro chefe, o frescor, a leveza e a jovialidade que todo bom rosé deve proporcionar. Mas com tudo isso entrega personalidade, uma expressividade que o toque generoso da fruta traz, entregando ao enófilo toda a forma genuína da Garnacha, frutada e marcante. Mais uma vez a região de Castilla La Mancha me surpreende de forma arrebatadora e singular. Que possamos continuar plenamente na viagem enófila a Castilla La Mancha e que ela seja agradável e de preferência eterna enquanto dure como diz aquela música tupiniquim. Tem teor alcoólico de 12,5%.

Ah e vale como curiosidade: A palavra “Albali” refere-se a uma das mais brilhantes estrelas da constelação de aquário.

Sobre a Bodega Felix Solis:

A Félix Solís Avantis é uma grande empresa espanhola que produz vinhos e espumantes, sangria e suco de uva. Assim sendo, suas principais marcas incluem Vina Albali e Los Molinos.

A princípio, a primeira vinícola da empresa foi aberta em 1975 em Valdepeñas. De fato, continua sendo uma das maiores instalações de vinho de propriedade familiar do mundo, capaz de receber 7,5 milhões de quilos de uvas por dia durante a colheita.

Possui dessa forma uma grande adega de barris de carvalho americano para os vinhos Crianza, Reserva e Gran Reserva. Posteriormente, uma segunda vinícola foi aberta em 2011 em La Puebla de Almoradiel, na região de La Mancha.

Ademais, a empresa expandiu seus interesses para a região de Marlborough, na Nova Zelândia, aonde produz o Sauvignon Blanc do Oceano Antártico. Os vinhos chilenos são produzidos sob as bandeiras Pico Andino e La Piqueta.

Mais informações acesse:

https://www.felixsolis.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 











domingo, 9 de janeiro de 2022

Estate 1958 Inzolia 2019

 

Mais um vinho da série que, a cada dia ou semana, está cada vez mais emocionante, das castas e/ou regiões pouco conhecidas, raras e nem um pouco badaladas. Falo emocionante, mas degustar vinhos com essas novidades traz à tona o que vem se tornando um fato em minha caminhada de enófilo: de que o universo do vinho é vasto e pouquíssimo inexplorado.

Quem dizer por aí que muito já degustou, que domina vários conceitos do vinho ou está redondamente enganado ou goza de uma arrogância do tamanho do mencionado universo desta maravilhosa bebida.

Mas eu confesso que demorei a escolhê-lo. Não sei dizer exatamente o motivo pelo qual isso aconteceu. Talvez seja pelo fato dessas visões pré concebidas, aqueles preconceitos pequenos, mas significativos para não proporcionar potenciais momentos de alegria, prazer, de celebração.

Lembro-me que tive umas três boas oportunidades para compra-lo. Boas oportunidades que me refiro são basicamente de valores atrativos e aqueles desejáveis fretes grátis que dá aquela ajuda considerável. Mas não comprei.

Tive alguns medos, algumas preocupações, aquelas buscas por referências são essenciais, mas as vezes nos trava da possibilidade de degustar bons e surpreendentes vinhos, onde a razão sempre sobrepõe o coração e, atualmente, tento priorizar o contrário, mesmo que eu cometa alguns erros, afinal, nem sempre temos que ter aquela obrigação em acertar sempre, mas também não persistir no erro.

Mas um belo dia eu olhei para o vinho, não demorei muito para adquiri-lo, fiz uma breve leitura sobre a casta que jamais havia falar do nome e assumi o risco e comprei o vinho.

Demorei também para degusta-lo! Ficou na adega, caiu no esquecimento e com o início do verão, veio à tona o interesse em abri-lo, mais ainda, claro, pela casta em si. Então em um dia dominical quente e abafado, mesmo sem o raiar poderoso do sol, decidi desarrolha-lo.

Rolha retirada, taça inundada, vinho geladinho, pronto para o “abate”. Aquele ritual básico, que deve ser seguido, mas sem muitas delongas, afinal, estava curioso para conhecer o vinho e sua casta que para mim era novidade. Que vinho legal! Que vinho interessante e peculiar. O vinho que degustei e gostei veio de uma região italiana que adoro, a Sicília, e se chama 1958 Estate da casta Inzolia, safra 2019.

Inzolia? Até o nome soa diferente. Diferente também são algumas características dela. A começar com um tanino um pouco alto para uma cepa branca. Mas eu não vou tecer, pelo menos ainda, maiores comentários sobre o vinho, mas, para não perder o costume falarei um pouco da história dessa casta.

Inzolia

A uva branca Inzolia é nativa da Itália, onde também é conhecida como Ansonica, principalmente na região da Toscana. O prestígio desse tipo de uva está relacionado, sobretudo, à sua utilização na elaboração do vinho de corte siciliano fortificado, o vinho Marsala, juntamente com as outras castas brancas Catarratto e Grillo.

A grande quantidade de taninos presentes na Inzolia é considerada uma característica singular dessa variedade de uva, já que as demais uvas brancas não costumam apresentar taninos em quantidades elevadas. A perda de acidez da fruta no final da estação faz da Inzolia uma variedade que requer cuidados especiais, de forma que tenha sua qualidade assegurada.

Não há um consenso quanto à origem da uva Inzolia, a teoria mais aceita é que ela seja originária da ilha da Sicília. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que sua terra natal, na verdade, seja a Grécia. O fato é que a Inzolia é uma das uvas brancas mais expressivas na Sicília, sendo, também, cultivada na Toscana.

Os principais varietais elaborados com esta casta são vinhos brancos secos, enquanto os vinho de corte tem êxito na combinação com as uvas Catarrallo e Grillo. Na região da Toscana, a uva Vermentino é considerada um excelente par para compor bons vinhos de corte com a Inzolia.

Os vinhos criados com a uva Inzolia apresentam coloração dourada com reflexos esverdeados, e ostentam aromas expressivos e grande equilíbrio, além de demonstrarem boa capacidade de envelhecimento. Os aromas mais comuns são os de amêndoa, ervas frescas, frutas cítricas e tropicais.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora o vinho!

Na taça revela um amarelo levemente dourado com reflexos esverdeados com um reluzente brilho e discretas e rápidas lágrimas.

No nariz as frutas têm o protagonismo, frutas de polpa branca, algo de cítrico também e frutas tropicais, com notas florais, de flores brancas bem delicadas.

Na boca é fresco, refrescante, saboroso, com as notas frutadas em grande evidência como no aspecto olfativo, com taninos também um pouco mais evidente para uma casta branca, acidez muito boa, que faz salivar e um final de média persistência e frutada.

Mais uma grata descoberta! O garimpo do vinho nos revela riqueza à alma, nos entrega o que há de mais significativos em seu vasto e inexplorado universo. Tudo conspirou a favor nesta degustação: a casta, a região, adoro os vinhos da Sicília e a suas formas despretensiosas de degustação, o novo contato com este produtor etc. o 1958 Estate se revelou um vinho fresco, harmonioso, com alguma estrutura sim, graças aos seus inusitados taninos um pouco mais evidentes, mas leve, jovem, despretensioso, como todo siciliano tem de ser, o que muito me atrai e me cativa. Um frescor que me faz viagem, sem sair de casa, até os mares que banham a Sicília, que me projeta uma degustação com evidente apelo regionalista à beira mar, provando suas cepas autóctones. Tem 12,5% de teor alcoólico. Ah o nome do vinho, “1958 Estate” é em virtude da ano de fundação da vinícola, exatamente em 1958.

Sobre a Cantine Settesoli:

A Cantine Settesoli é cooperativa vinícola siciliana de 2.000 produtores que desde 1958 acredita no valor da comunidade, na qualidade dos vinhos que produz e no bem-estar econômico, social e ambiental gerado pelo trabalho em equipe. Cultivam a maior variedade de uvas da Sicília: mais de 30 cultivares diferentes em 6.000 hectares de terra, que representam mais de 7% dos vinhedos da ilha.

São uma empresa global que aposta nas novas gerações, que cultiva o futuro, que se preocupa com a vinha respeitando o meio ambiente e que sempre foi pioneira na investigação, tecnologia e qualidade, para garantir valor às uvas, remuneração aos associados e vinhos excelentes para os consumidores.

São o motor do desenvolvimento econômico de todo o território, que desde Menfi se estende além de Montevago, Condessa Entellina e Santa Margherita di Belìce e abrange três províncias. Envolvemos 70% das famílias que vivem nesta parte do sudoeste da Sicília, em um caminho de cooperação que reúne pequenos vinicultores em um grande vinhedo.

Nascida em 1958 em Menfi, no mesmo ano em que foi publicado "Il Gattopardo" de Tomasi di Lampedusa, romance histórico siciliano que menciona um feudo denominado Settesoli. Herança importante, tanto que foi concedida como dote por Dom Calogero Sedara à sua filha Angélica para o casamento com Tancredi, neto do Príncipe de Salina: o mesmo feudo do qual tiram o nome da vinícola, as mesmas terras que o constituem. O pano de fundo do livro é o olhar diário da Cantine Settesoli. Lá, revive uma história antiga que remonta aos sicanos e passou desde os antigos gregos: os vinhedos ainda emolduram Selinunte, o maior parque arqueológico da Europa, e o apoiaram com uma arrecadação de fundos que visa torná-lo mais conhecido e utilizável.

Os viticultores apostam na vinha e juntos apostam na organização, que na Sicília é uma escolha de inovação: fazer com que o mundo do vinho passe de uma conotação puramente agrícola e sedentária a uma visão de empresa global, confiada a gestores preparados e atentos ao desenvolvimento de jovens que viajaram o mundo e depois voltaram para casa, para valorizar a comunidade.

Optaram por seguir o caminho da qualidade: existe uma relação constante entre agrónomos e sócios, que se orientam durante todas as fases do seu trabalho no campo, para tirar o melhor partido das nossas uvas, dos nossos solos e das características pedoclimáticas dos vinhedos. Isso protege os viticultores, o vinho que produzem e o território em que vivem. Foram a primeira vinícola na Itália a certificar a rastreabilidade de toda a cadeia produtiva, desde a vinha (em que todas as fases são monitoradas, para a proteção do meio ambiente e da qualidade do produto) às adegas (onde se concentram na eficiência energética e tem um dos maiores sistemas fotovoltaicos do setor vitivinícola italiano).

A sustentabilidade está no DNA da vinícola. São pioneiros na investigação: o patrimônio vitícola assenta nas vinhas tradicionais da zona mediterrânica e nas mais recentes castas importadas, com um olhar sempre atento às novidades. Sempre investiram em tecnologias e colaboramos com prestigiosas universidades e investigadores de todo o mundo, para melhorar a qualidade das uvas e produzir vinhos únicos e distintos no território. Por exemplo, todos os anos efetuam a vindima noturna geo-localizada das mais delicadas uvas brancas para preservar intactas as suas qualidades e aromas.

A qualidade dos vinhos é atestada pelos inúmeros prémios recebidos ao longo dos anos: o de "Adega do Ano" pela excelente relação qualidade / preço; o “Prêmio Sodalitas”, pelo compromisso com a responsabilidade social em prol do território; “Tre Bicchieri” de Gambero Rosso em Mandrarossa Cartagho e Timperosse, só para citar alguns.

Oss vinhos são distribuídos na Itália e no exterior sob as marcas Settesoli, Mandrarossa e Inycon e são obtidos a partir de uvas selecionadas, vinificadas na área de origem, integrando a cultura local, métodos tradicionais e inovação tecnológica. Também Colaboram com grandes varejistas internacionais, sempre produzindo os melhores e comercializando vinhos de qualidade, com marcas exclusivas e próprias em todo o mundo. 

Mais informações acesse:

https://cantinesettesoli.it/it

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Vinho Perfeito”: http://vinhoperfeito.com/2017/02/22/inzolia/

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/inzolia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/inzolia

 










sábado, 8 de janeiro de 2022

First Fill Red Blend 2015

 

Costumo dizer que é um grande prazer degustar vinhos sul africanos. E quando comecei a degusta-los, lembro-me vivamente, de que era muito difícil encontrar uma variedade de rótulos desse país e quanto menos oferta, maior eram os valores.

Mas com o tempo e a aceitação do mercado os vinhos da terra de Mandela foram ganhando um pouco mais de representatividade, as opções de rótulos se expandindo e os valores um pouco mais acessíveis. E digo que degustar rótulos da casta Pinotage é de um prazer sem igual. Os vinhos da casta Cabernet Sauvignon dessas terras são igualmente espetaculares. A rainha das uvas tintas ganhou uma nova majestade naqueles terroirs.

Mas retornando ao quesito preço, valor, sei que é um pouco relativo tratar desse assunto, até um pouco delicado, haja vista que valor pode ser maior ou menor de acordo com a realidade de cada um, é muito peculiar tudo isso. Mas eu fui arrebatado por um presente quando vi o valor de um sul africano em um desses aplicativos de venda de vinhos muito conhecidos e quase não acreditei.

Sempre quis degustar um vinho barricado da África do Sul. Já havia, até então, degustado alguns rótulos sem passagem por barrica, alguns mais básicos, de entrada, e já revelavam complexidade e personalidade. Então o que esperar de um barricado?

Estava ansioso por ter degustar um desses vinhos! E quando estava a navegar por esses aplicativos de vendas de vinhos, vi um com 12 meses de passagem por barricas de carvalho na bagatela de R$ 32,90! Não acreditando revi o valor: confirmado! Com a surpresa veio a apreensão, pois estava pronto para adquiri-lo: será que esse vinho está com algum problema na sua qualidade? Por que está tão barato? São aquelas perguntas que vem com a insegurança!

Mas comprei! Hesitei só por um pouco tempo! Ainda evoluiu por mais um ano, um ano e meio na adega até chegar ao momento da degustação: 7 anos de safra! 7 anos de vida! O que será que ele me espera?

É chegado o momento mais esperado. O dia chegou! A rolha se desprende do líquido que inunda a taça e... Que vinho especial! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Durbanville, Cape Town, na África do Sul, e se chama Durbanville Hills First Fill com um delicioso blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (70%), Merlot (20%) e Petit Verdot (10%) da safra 2015.

E que blend legal! Aquele blend bordalês, mas que de Bordeaux nada tem! Pois se trata de um vinho expressivo, de personalidade, pleno e vivo com seus 7 anos de vida, o que lhe confere a elegância esperada. Mas antes de falar do vinho, contemos a história das regiões, de Cape Town e de sua importância na produção de vinhos para a África do Sul.

Cape Town: A Cidade do Cabo

Com mais de 100 mil hectares cultivados em videiras e climas que se assemelham aos do Mediterrâneo, bafejadas por brisas marítimas constantes e dona de temperaturas mais frias pela noite e ao amanhecer, mas que esquenta durante o dia, a região do Cabo, onde os oceanos Atlântico e Índico se encontram, é moldurada por uma cordilheira que tem na Montanha de Mesa seu ápice geográfico e turístico.

Cape Town (Cidade do Cabo)

E, no epicentro dessa província, a Cidade do Cabo ou “Cape Town”, onde vivem 3,5 milhões de habitantes, é também chamada de “cidade-mãe” sul africana. Metrópole europeizada à beira mar em plena África, além da capital da Província do Cabo Ocidental, a capital legislativa do país.

Foi lá que, há séculos, os primeiros vinhedos do continente africano foram plantados e que floresceram outras cidades igualmente históricas, caso de Stellenbosch, Boeschendal, Franschoek e Paarl.

Na base da primeira colonização, que ocorreu no século 17, estavam protestantes de origem holandesa e huguenotes franceses, a quem se atribui o pioneirismo da indústria vinícola local.

Nem tão Novo Mundo assim, nem tampouco Velho Mundo, a Província do Cabo é uma região ideal para roteiros enograstronômicos. E, Stellenbosch é referência para quem vai atrás de bons vinhos e de comidas contemporâneas e típicas além das inusitadas paisagens da região.

Para a Cidade do Cabo, a indústria vitivinícola é quase tão simbólica as duas maiores atrações turísticas da região: A Montanha de Mesa, elevação de 1.088 metros, e o Cabo da Boa Esperança.

E foi bordejando essa região, em 1487, que a caravela do navegante português Bartolomeu Dias encontrou, quase sem perceber, a passagem entre os oceanos Atlântico e Índico, depois de uma tempestade de 14 dias.

Dez anos depois, em 1497, Dias refez a viagem na expedição do seu conterrâneo Vasco da Gama, a primeira, dobrando o cabo, chegou às Índias.

Encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente, o cabo, que era das Tormentas, antes de ser renomeado da Boa Esperança é um desses locais onde a história e a geografia se entrelaça.

No complexo universo vitivinícola da Província do Cabo, na África do Sul, o debate sobre a produção de vinhos mais clássicos ou ultracontemporâneos está em franca efervescência.

Usar as barricas de carvalho francês ou também as de carvalho americano? Fechar as garrafas com as tradicionais rolhas de cortiça ou as de rosca, as famosas “screw cap”? Priorizar as tintas tradicionais como a Pinotage ou investir em vinhos mais tradicionais produzidos a partir de varietais brancas? Todas essas discussões fazem com que a Cape Town cresça a olhos vistos e os seus vinhos ganhem em tipicidade e qualidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo vermelho rubi intenso, quase escuro com discretos reflexos violáceos que o torna brilhante, com lágrimas finas e abundantes que marcam o bojo do copo.

No nariz se destaca a explosão aromática com notas de frutas negras maduras como amora, ameixa e cereja negra, além de especiarias doces, baunilha e toques evidentes da madeira, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, intenso, complexo, estruturado, com volume de boca, mas, ao mesmo tempo, os seus 7 anos de vida entrega um vinho redondo, equilibrado e elegante. Tem taninos gordos, cheios, presentes, mas que não agride, sendo alcoólico, com uma incrível acidez média, com as notas amadeiradas e frutadas em harmonia, com a presença da tosta, do chocolate meio amargo e um final prolongado, persistente e frutado.

As brisas, as montanhas, o cenário da geografia entrelaçados com a história de seu povo e as suas identidades culturais constrói, de forma veemente e consistente, a história dos seus rótulos de vinhos. E assim é com o Durbanville Hills First Fill Red Blend. A ligação é tão forte que carrega em seu nome a região e as suas mais marcantes características. A força do terroir se faz presente, se faz forte e as castas francesas que compõe esse rótulo sul africano ganham um toque único, um tempero da região, o famoso apelo regionalista de que tanto gostamos. Segundo o cellarmaster da Durbanville Hills, Martin Moore, são as colinas que determinam quais vinhos serão engarrafados sob o rótulo Durbanville Hills. É com esse depoimento que se reforça, se corrobora a reverência a natureza, a cultura e a identidade natural e cultural dessa região. Um vinho elegante, mas estruturado, de personalidade, maduro, mas pleno e jovem, com os seus 7 anos de vida, mostrando uma boa evolução. Um vinho especial! Ah e mais uma curiosidade: o nome que carrega no rótulo, “Firs Fill” é devido a passagem do vinho por barricas francesas de primeiro uso. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Durbanville Hills:

A vinícola foi criada em 1990, em uma interessante parceria entre a gigante Distell (Licor Amarula, vinhos Nederburg, Plaisir de Merle, Fleur du Cap, Two Oceans e Obkwa, entre outros) e sete viticultores da região. O projeto foi bem sucedido e hoje os produtores associados à Distell são nove.

O winemaker Martin Moore destaca que a Durbanville Hills é marcada por forte atuação na área da sustentabilidade, voltada para os cuidados com o meio ambiente e desenvolvimento sócio-econômico das famílias de seus trabalhadores. Localizada a apenas 20 minutos de Cape Town e com vista espetacular para Table Mountain e Table Bay, a vinícola conta com dezesseis variações de vinho divididas em três linhas.

A empresa é adepta da chamada Produção Integrada nas práticas agrícolas e nas funções da adega. Por exemplo, atua na recuperação do solo, trata toda a água que utiliza e participa de ações para proteção dos principais biomas locais, como o Renosterveld, que abriga a vegetação nativa na zona do Cabo. No campo social, mantém creche para os filhos dos trabalhadores e oferece amplo apoio na área educacional.

Mais informações acesse:

https://www.distell.co.za/home/

https://durbanvillewine.co.za/discover-durbanville/durbanville-hills/

Referências:

“Folha”: https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2014/07/1479517-cidade-do-cabo-e-referencia-na-enogastronomia-na-africa-do-sul.shtml

“3 em 3”: https://3em3.com/cape-town-africa-do-sul-como-e-fazer-a-rota-dos-vinhos/

“Viva Mundo”: https://viva-mundo.com/pt/noticia/post/curiosidades-sobre-cape-town-segunda-maior-cidade-da-africa-do-sul

“Durbanville Wine Valley”: https://durbanvillewine.co.za/discover-durbanville/durbanville-hills/

“Brasil Vinhos”: http://www.brasilvinhos.com.br/2017/08/21/durbanville-hills-sabores-da-africa-do-sul/

 

 

  




sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quinta Don Bonifácio Tannat Reserva 2007

 

Sempre ao término do ano, na transição para o ano novo algumas metas são renovadas: sucesso profissional, emagrecer, ser mais tolerante e legal etc. Ano novo, intenções velhas. Velhos obstáculos, projetos... O ser humano é movido por metas e projeções para dar o mínimo de sentido a vida ou uma espécie de farol para ter um norte na vida.

Como um homem sistemático sempre serei a favor de método na vida, mas nunca se escravizar a eles. A vida precisa ser leve, principalmente transparente, respeitando a elas, buscando novidades para que ela siga dessa forma. Mas algumas tradições, por mais austeras que ela aparenta, podem trazer alguns prazeres.

E claro falo do vinho, do universo do vinho, o que nós tratamos por aqui, linhas de auto ajuda à parte. Decidimos por alguns anos consecutivos promover um churrasco em família para, dentro do possível, comemorarmos um novo ano.

E com ele veio também a decisão de um novo rótulo e como mencionei o quesito tradição veio à tona. Quando falamos em churrasco o que vem à mente? Vinhos encorpados, estruturados e com alguma complexidade.

Mas vinhos tintos com essa proposta em pleno verão de dezembro no Brasil? Será que há uma espécie de “incoerência” nessa escolha? Não sou um especialista, apenas um relés enófilo, mas penso que temos de ser regidos por nossa vontade, pelo que o coração nos diz. Talvez um espumante mais seco e com boa acidez possa ser uma escolha mais “decente”, mas dessa vez decidi pela tradição, pelo óbvio.

Mas o rótulo não é nem um pouco óbvio, mas uma escolha pouco ortodoxa e incomum e logo direi o motivo: Um vinho com 14 anos de vida! Sim! Um rótulo com seus longos 14 anos de vida, no auge de sua evolução. Bem se está no auge de sua evolução eu não sei ainda, mas eu sei que a decisão da escolha foi óbvia, mas o rótulo é sem dúvida arrojado.

Quando degustamos um vinho com algum tempo de safra sempre tem aquela dose de incerteza. Como ele estará? O que ele nos reservará? Pode estar no ápice de seu momento evolutivo, pode estar em declínio, é sempre um momento de apreensão, com um misto de privilégio, pelo fato de degustar um vinho com esse tempo de vida, mas de preocupação também, pelo fato do que irá encontrar.

Mas decidi ser o mais positivo possível projetando (olha a palavra aí novamente) as possibilidades que possibilitam que esse vinho possa estar em seu grande momento, mesmo que esteja quase debutando. Trata-se de um Tannat que, genuinamente, traz muitos taninos, o que viabiliza sua longevidade. A passagem por barricas de carvalho, que traz complexidade, estrutura ao rótulo.

O tempo poderá ser um mero detalhe a este vinho. O momento é chegado! A rolha, delicadamente se desprendeu da garrafa, parecia que ele nascia para o nosso deleite. A taça foi inundada de expectativas, os aromas timidamente se mostrando. Um buquê aromático aos poucos foi mostrando a que veio os famosos aromas terciários: toques balsâmicos, de café torrado mesmo, com frutas secas, couro, tabaco, especiarias. Uma loucura! Na boca ainda trazia a plenitude, a vivacidade das frutas, apesar de discreta, se fazia presente. Personalidade é o seu nome! Não vou entrar, pelo menos ainda, em detalhes sobre o vinho, mas não preciso dizer que o vinho é especial.

Mas de qualquer forma vou evocar a frase que dá nome a este humilde diário virtual. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e necessária Serra Gaúcha, no Brasil e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Tannat, da safra 2007. Nada como a austeridade da harmonização para te entregar alegria e deleite, a ode ao prazer. E para trazer um pouco de história e curiosidade, para não perder o costume, falemos um pouco da grande Serra Gaúcha e um pouco da história dele, do churrasco, tão importante e tradicional nas tradições gaúchas, argentinas, tendo a Malbec como protagonista e no Uruguai tendo o Tannat como carro chefe.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

As origens da Parilla: o famoso churrasco

Não existe referência exata sobre a origem do churrasco, mas presume-se que a partir do domínio do fogo na pré-história, o homem passou a assar a carne de caça quando percebeu que o processo a deixava mais macia.

Na América do Sul a primeira grande área de criação de gado foi o pampa, uma extensa região de pastagem natural que compreende parte do território do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, além da Argentina e Uruguai. Foi ali que os vaqueiros, conhecidos como gaúchos tornaram o prato famoso e típico.

A carne assada era a refeição mais fácil de preparar quando se passava dias fora de casa, bastando uma estaca de madeira, uma faca afiada, um bom fogo e sal grosso, ingrediente abundante e que é utilizado também como complemento alimentar do gado. A partir dali o costume cruzou as regiões e se tornou um prato nacional, multiplicando-se as formas de preparo, o que gera entre os adeptos muita discussão sobre o verdadeiro churrasco, como por exemplo, a utilização de lenha ou carvão, de espeto ou grelha, temperado ou não, com sal grosso ou refinado, de gado, suíno, aves ou frutos do mar. O correto é afirmar que não existe fórmula exata, uma vez que cada região desenvolveu um tipo diferente de carne assada, mas, sem dúvidas, a imagem mais famosa no Brasil é o churrasco preparado pelos vaqueiros, conhecidos pelo termo latino gaúcho, que se transformou na denominação dos cidadãos nascidos no estado do Rio Grande do Sul.

Na Argentina e no Uruguai o churrasco típico é chamado asado, e é o prato nacional de ambos os países. Tradicionalmente é feito na grelha com uso de lenha, mas também se usa carvão pela praticidade.

Os gaúchos alimentavam-se, sobretudo de churrasco no pão, que está na origem do asado rio-platense. Na Argentina o asado tradicional dos Pampas estendeu-se a toda a população, e hoje, devido á qualidade e ao preço baixo, é consumido por todas as classes sociais.

Aos finais de semana, as famílias se juntam nos pátios das casas para desfrutar um asado mais sofisticado que inclui, além de famoso bife, todo o tipo de achuras – órgãos menores como os rins, intestinos, estômago e ainda morcelas e vários tipos de embutidos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro com bordas de cor atijoladas, acastanhadas, mostrando evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas terciários, um envolvente bouquet que traduz em complexidade com frutas secas, frutas negras maduras, notas amadeiradas, couro, tabaco, um toque intrigante de terra molhada, floresta.

Na boca é estruturado, complexo, mas elegante graças aos seus 14 anos de vida, mostrando uma evolução correta e vagarosa, com taninos presentes, maduros, mas polidos e pelo tempo, o que lhe confere um bom volume de boca, com acidez vivaz, mas na medida, com as notas amadeiradas em evidência graças aos seus 16 meses de passagem por barricas de carvalho, com aquele toque de café, tostado e especiarias doce que o torna ainda mais atraente. Tem um final curto, de média persistência.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 14 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e fazê-lo em um momento de alegria com os seus, de celebração, de transição de um novo ano sem a preocupação de se cobrar, mas com a alegria de novos tempos, é de suma importância. Degustar, pela primeira vez, um rótulo de um produtor, a sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria e respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. E como está a harmonização com o churrasco? Maravilhoso! Especial! Nunca foi tão óbvio, nunca foi tão delicioso! Um vinho supreendente, que evoluiu muito bem e que entregou elegância, delicadeza, mas complexidade e a estrutura ou melhor a personalidade marcante do Tannat, com a assinatura do produtor brasileiro que, a cada ano, vem fazendo emblemáticos Tannats para o nosso deleite! Um viva a 2022 e que o vinho seja a nossa razão de ser! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Cabana Monte Fusco”: http://www.cabanamontefusco.com.br/a-origem-da-parrilla/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 




quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

El Miracle by Mariscal Garnacha Tintorera 2015

 

Repletos de estreias marcam essa degustação de hoje. Novas experiências sensoriais têm sido primordial para as minhas degustações ultimamente. E tenho feito isso de forma meticulosa, bem cuidadosa. Não são somente as estreias, as novidades, mas a busca incessante e urgente de fazer com que a adega seja tenha um leque de opções variado, grande, diversificado.

O risco da “zona de conforto” pode trazer a tranquilidade das suas predileções, mas podemos, por outro lado, nos tornar escravos de nossas preferências. Então nada mais prudente do que buscar novas regiões, novas castas, aquelas menos conhecidas, mais raras ou aquelas que eu simplesmente não degustei ainda, independente de sua popularidade e temos também o contato com novos produtores e isso tem me estimulado também.

E a degustação de hoje me traz o contato com uma casta que degustei em blends, geralmente para trazer cor e alguma potência ao vinho, mas terei a oportunidade e o privilégio de degusta-la em varietal. Terei também meu primeiro contato com um produtor que, após a aquisição desse rótulo, li sobre e observei que se trata de uma vinícola muito importante e tradicional que tem atuações em várias regiões emblemáticas espanholas.

Então a expectativa e ansiedade estavam na estratosfera! Não é muito comum encontrar por aí varietais de Garnacha Tintorera ou a famosa Alicante Bouschet. Garnacha Tintorera é como a cepa é conhecida em terras espanholas. O produtor, Vicente Gandia, quem produziu o rótulo e a região é Valência. Já degustei uns poucos valencianos, então será também especial degustar, depois de algum tempo, um vinho dessa região.

Sem mais delongas apresentemos o vinho! O vinho que degustei e gostei é oriundo de Valência, na Espanha, e se chama El Miracle By Mariscal e a casta, é claro, é a Garnacha Tintorera ou a mundialmente Alicante Bouschet da safra 2015. E para não perder o costume vamos de história! Falemos da Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet e falemos também um pouco da pouco badalada, mas importante região espanhola de Valência.

Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet

O palco da uva tinta Alicante Bouschet é, sem dúvidas, a região de Alentejo, em Portugal, onde esse tipo de uva faz grande sucesso. A variedade é utilizada para adicionar corpo e estrutura aos rótulos produzidos na região, bem como dar mais volume aos vinhos.

Criada em laboratório pelo Francês Henri Bouschet, no final de 1800, na região de Languedoc-Roussillon, a uva Alicante Bouschet é a união das castas Petit Bouschet e Grenache. Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio.

E essa prática de cruzamento de castas vitiviníferas parecia ser rotineira na família Bouschet. Antes do filho Henri, o pai Louis Bouschet em 1824 havia criado a Petit Bouschet, uma casta que se destaca em locais quentes, tanto que um dos principais terroirs da uva é a Argélia.

Mas o nome da família na vitivinicultura mundial seria marcado pelo filho de Louis, Henri Bouschet em 1866 pegou a criação do seu pai e fez um cruzamento com a Grenache. Nascia ali a Alicante Bouschet.

Batizada com o sobrenome da família Bouschet e Alicante por ser uma das formas que a Grenache era conhecida, a uva se espalhou e chegou a ser uma das mais plantadas do mundo.

Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.

O principal fator que levou a Alicante Bouschet a cair no gosto dos produtores é que se trata de uma casta tinturada. Ou seja, além da casca, a polpa também tem cor. Os vinhos assim são mais estruturados e encorpados mesmo com tempo menor de maceração.

Esse fato levou a uva a ser uma das mais utilizadas durante a Lei Seca nos Estados Unidos. Imagine que com a proibição de fabricação, transporte e vendas de bebidas alcóolicas um punhado de uvas poderia facilmente e rapidamente se transformar em vinho. E era isso o que acontecia. Os comerciantes vendiam “tijolos de Alicante Bouschet” que os “enólogos”, que eram os próprios compradores, colocavam em banheiras cheias de água e pronto, vinho. Ou quase isso...

Fato é que em meados do século 20 a Alicante Bouschet começou a ser deixada de lado. O estilo de vinho encorpado poderia ser feito com outras uvas e ali começou um declínio da casta. É aí que entra Paulo Laureano. O enólogo português é conhecido por transformar a francesa Alicante Bouschet na portuguesa Alicante Bouschet. Ou como ele gosta de dizer “a naturalizei portuguesa. E digo ainda mais, a naturalizei como alentejana”.

Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis no paladar.

A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa, enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.

A primeira referência ao cultivo desta variedade na Espanha é de García de los Salmones (1914), que cita a sua presença em todas as províncias da Comunidade Valenciana, Castilla-La Mancha e Galiza, em Murcia, em várias províncias de Castilla y León e em Vizcaya, Granada e Jaén. Da mesma forma, García de los Salmones (1940) indica que Garnacha Tintorera não deve ser confundido com Tinto Fino ou Cencibel, nem com Tinto Basto ou Borrachón da região de La Mancha. Nem com o comum Tinto de Madrid. Salienta que não está claro que variedade e com que nome é cultivado, uma vez que as variedades que lhe dão muita cor tentam levar o nome do tubarão azul mais famoso: Alicante Henri Bouschet.

A dúvida se Alicante Bouschet é sinônimo de Garnacha Tintorera estendeu-se até 2003, quando foram realizados estudos em El Encín e recentemente confirmados por marcadores moleculares. Antes desses estudos, Galet e Hidalgo em 1988 disseram que "há uma variedade intimamente relacionada com Alicante Bouschet e conhecida como Garnacha Tintorera, Moratón, Alicante, Tintorera ou Tinto Velasco, é uma variedade de uva vermelha, cuja casca contém muito coloração", duvidando de que ambas as variedades fossem sinônimos. Chirivella em 1995, indicou que na França eles chamam Garnacha Tintorera como Alicante Bouschet, tentando confirmar esta sinonímia, e posteriormente Peñín, em 1997, disse que Garnacha Tintorera é uma variedade espanhola com características muito semelhantes a Alicante Bouschet . Há autores que os consideram iguais e outros não. Indica que “sua origem seria Alicante ou Albacete, e posteriormente teria passado ao noroeste da Península”. A equipe do IMIDRA confirmou em 2003, estudando o DNA, que existem três variedades de tintorera presentes na Espanha (com polpa pigmentada): Petit Bouschet, com o sinônimo Negrón de Aldán; Morrastel-Bouschet, cruzamento de Morrastel (= Graciano) x Petit Bouschet, com a sinonímia Garnacho; e Alicante Henri Bouschet, cruzamento de Alicante (= Garnacha) x Petit Bouschet. Esta última variedade é a que mais se difundiu das três e é a que conhecemos na Espanha Garnacha Tintorera.

Portanto, Garnacha Tintorera é a variedade Alicante Henri Bouschet. Henri Bouschet deu a este cruzamento o nome de Alicante Henri Bouschet por tê-lo feito usando Garnacha como mãe, na França sendo um sinônimo de Garnacha o nome Alicante. 

Valência

A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha.

Seus vinhos incluem os tintos, rosés, brancos e os famosos vinhos para sobremesa de uvas plantadas em quatro subzonas. Para cada tipo de vinho se utiliza sua própria tradição na elaboração. Graças às exportações que duram séculos (através do porto da cidade), a produção está mais focada no mercado internacional do que no mercado interno. Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.

Valencia não é somente um lugar na costa do Mediterrâneo. Seu interior alberga surpresas que fazem com que suas praias sejam esquecidas. Lá se pode desfrutar de centenas de hectares de vinhedos. Zonas rurais e de uma gastronomia rica. Ideal para deixar para trás a cidade, desconectar-se totalmente e relaxar. 


Valência

O vinho, as bodegas e os viticultores converteram-se em um motor para a conservação das paisagens e para a sustentabilidade desta comarca. A viticultura é o eixo econômico, social e cultural de Fontanar dels Alforins, La Font de la Figuera e Moixent, por exemplo. Com mais de dois mil anos de história na elaboração do vinho, que hoje em dia continua sendo produzido com muito respeito e esforço. Seguindo os princípios da agricultura sustentável.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho rubi intenso, com discretas bordas violáceas, diria com tons acastanhados talvez mostrando alguma evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz entrega um aroma intenso e perfumado de frutas vermelhas maduras e pretas e se destacam a ameixa, cereja e amoras. Notam-se as notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, e também um toque floral que potencializa a expressividade aromática.

Na boca é intenso, estruturado e envolvente, é cheio em boca, com um bom volume, mas fácil de degustar, elegante, redondo e saboroso. Tem taninos presentes, diria carnudos, porém domados, polidos, graças à madeira e os seus seis anos de safra. Acidez correta, álcool imperceptível, muito bem integrado ao vinho, com notas amadeiradas, de tabaco, tosta e chocolate. Tem final prolongado, persistente.

Um clássico! Ou diria um “novo clássico” em minha trajetória enófila! Um vinho, uma casta que carrega história e tradição que passeou e passeia por terras espanholas, portuguesas, francesas e chegou a minha mesa, que inundou a minha humilde taça e que arrebataram, de forma definitiva, as minhas humildes percepções sensoriais. A experiência foi singular, essencial e maravilhosa! Redondo, equilibrado, elegante, mas carnudo, estruturado e complexo como pede a casta, com toda a sua característica mais marcante. Sim, um vinho marcante, de personalidade, mas que com o tempo, cerca de seis anos de safra, ganhou elegância e maciez. Tem 13% de teor alcoólico.

No tocante a elaboração, que me chamou a atenção, diz o produtor em seu portal na internet:

“El Miracle By Mariscal é produzido a partir de uma seleção de uvas Grenache Tintorera colhidas manualmente e cultivadas em vinhas de 35 anos de idade treinada em gobelet, localizadas na área de produção de vinho “Valentino”. O vinho é produzido com maceração muito lenta e fermentação alcoólica até ao fim da fermentação maloláctica, altura em que o vinho é despejado em cascos de carvalho francês de segundo enchimento. Isso garante a combinação perfeita entre o caráter frutado do varietal Grenache Tintorera e a madeira”.

Sobre a Bodega Vicente Gandia:

A bodega tem mais de cem anos - viticultores desde 1885 - e agora tem um caráter decididamente mediterrâneo. No início estavam exclusivamente empenhados na produção e comercialização / distribuição dos vinhos, que ainda assim tinham algo de especial.

Pelo espírito inovador que sempre caracterizou a adega, e depois de muitos anos no setor da exportação de vinhos, deram um passo mais longe: em 1971 foram a primeira adega valenciana a comercializar vinho engarrafado da marca Castillo de Liria , que quase cinquenta anos depois ainda é uma de suas marcas icônicas.

O crescimento continuou então em 1990 a família Gandía decidiu investir na Fazenda Hoya de Cadenas. Um paraíso vitivinícola localizado em Las Cuevas de Utiel, este local idílico tem as características perfeitas para produzir as melhores uvas e assim puderam produzir excelentes vinhos na mesma propriedade. Isto significou um salto quântico na qualidade dos vinhos e desde então a procura da excelência tem sido a imagem de marca da adega.

A vinícola é atualmente administrada pela 4ª geração da família Gandía, mantendo-se fiéis aos valores dos fundadores e contribuem para o progresso e a prosperidade do negócio apostando na qualidade e na inovação, sem esquecer a tradição vitivinícola.

A abordagem mediterrânea permeia a filosofia de vinificação da bodega e espalha a sua cultura do vinho por todo o mundo é a chave para a sua identidade. Produzem vinhos de diferentes Denominações de Origem através de um cultivo sustentável, criaram safras modernas e elegantes, além de proteger e desenvolver as variedades autóctones. Contam com a mais moderna e avançada tecnologia que permite produzir vinhos de acordo com métodos tradicionais com a máxima segurança, contribuindo para a poupança de energia e cuidando do meio ambiente.

Hoje, estão em 90 países nos 5 continentes, e são a maior vinícola da Comunidade Valenciana . Além disso, em 2014 ganharam o prêmio de melhor vinícola espanhola no prestigioso concurso internacional AWC Viena. Nesse mesmo ano, a Associação Mundial de Escritores e Jornalistas de Vinhos e Bebidas espirituosas a incluiu em seu ranking das 50 melhores vinícolas do mundo. Em 2018, o Congresso Europeu das Confrarias Enogastronômicas (CEUCO) atribuiu o Prémio “Aurum Europa Excellente” a Vicente Gandía como “Melhor Adega Europeia”.

Mais informações acesse:

https://www.vicentegandia.es/en/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/portuguesa-com-certeza-francesa-porem-alentejana-alicante-bouschet_13332.html

“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/

https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/02/uva-garnacha-tintorera/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alicante-bouchet

“Vinos Alicante DOP”: https://vinosalicantedop.org/sobre-la-alicante-bouschet/