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sábado, 9 de novembro de 2024

Enterizo Reserva 2020

 



Vinho: Enterizo Reserva

Safra: 2020

Casta: Bobal, Tempranillo, Cabernet Sauvignon e Garnacha

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Bodegas Coviñas

Adquirido: Evino

Valor: R$ 89,90

Teor Alcoólico: 13%

Estágio: 24 meses em barris de carvalho americano

 

Análise:

Visual: revela um rubi escuro, fechado, com reflexos violáceos, além de lágrimas finas, lentas e em profusão, tendo, inclusive, viscosidade.

Nariz: traz aromas frutados, de frutas frescas, denotando a sua jovialidade, com as notas amadeiradas igualmente evidentes, devido a sua longa passagem por barricas, entregando um discreto tostado, baunilha, carvalho, além de especiarias, com destaque para pimenta.

Boca: no início, sem decantar, mostrou-se estruturado, álcool evidente, intenso, com taninos marcados e presentes, mas que logo se equilibrou, porém, mantendo a sua potência e personalidade. As notas frutadas frescas replicam, como no aspecto olfativo, as amadeiradas idem, com destaque para chocolate, mentolado e tostado. A acidez é média e corrobora o seu frescor. O final é persistente.

 

Produtor:

https://covinas.com


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Enterizo Crianza Tempranillo e Bobal 2021



Vinho: Enterizo Crianza

Safra: 2021

Casta: Tempranillo e Bobal

Região: Utiel Requena

País: Espanha

Produtor: Bodegas Coviñas

Adquirido: Evino

Valor: R$ 60,31

Teor Alcoólico: 12,5%

Estágio: 12 meses em barris de carvalho americano.

 

Análise:

Visual: revela um rubi intenso, escuro, fechado, com brilho e halos violáceos, além de lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: traz aromas de frutas vermelhas e pretas, um mix que destaca ameixas, cerejas, amoras, com um toque amadeirado que aporta baunilha, chocolate, algo tostado e defumado elegante típico da Tempranillo.

Boca: apresenta estrutura média, mas também o frescor da juventude, um vinho redondo e equilibrado, com as notas frutadas que replicam os aromas, taninos presentes, mas dóceis, acidez vibrante, a madeira mais perceptível que entrega baunilha, chocolate, couro. Final com persistência.

 

Produtor:

https://covinas.com




 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Las Aldeas Bobal 2020

 



Vinho: Las Aldeas

Safra: 2020

Casta: Bobal (Vinhas velhas de 65 anos)

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Bodegas Murviedro

Adquirido: Evino

Valor: R$ 69,90

Teor Alcoólico: 14,5%

Estágio: 5 meses em barricas de carvalho francês.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi púrpura bem intenso, fechado, com halos violáceos, concentrado, mancha as bordas da taça, além de lágrimas grossas, lentas e em profusão.

Nariz: intenso aroma em frutas vermelhas maduras, se assemelhando a uma compota, geleia de frutas, com notas discretas do carvalho que entrega ainda baunilha, chocolate. Especiarias como pimenta preta são percebidas, bem como couro.

Boca: é versátil, equilibrado, pois mostra personalidade e estrutura, mas é macio, frutado, com destaque para amora, cereja e groselha, elegante, inclusive. O toque amadeirado é mais evidente no paladar, entregando baunilha, chocolate e torrefação discreta. Os taninos são gulosos, mas domados, a acidez está na medida e o final é longo, cheio.

 

Produtor:


quarta-feira, 10 de julho de 2024

Valtier Gran Reserva Tempranillo e Bobal 2014

 



Vinho: Valtier Gran Reserva

Safra: 2014

Casta: Tempranillo (50%) e Bobal (50%)

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio

Adquirido: Evino

Valor: R$ 69,90

Teor Alcoólico: 13%

Estágio: 36 meses em barricas de carvalho americano

 

Análise:

Visual: revela um rubi de média intensidade, com reflexos granada e em evidência, denotando os seus dez anos de idade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: é expressivo e complexo, com notas de frutas vermelhas e pretas maduras, com notas delicadas do carvalho, entregando notas terrosas, de terra molhada, de couro, charcutaria, tabaco, especiarias e um toque instigante de defumado.

Boca: é macio e elegante, mas ainda assim se mostra com personalidade, sendo muito equilibrado. As notas frutadas são perceptíveis, bem como as de carvalho, entregando baunilha, algo de chocolate, especiarias, como canela e pimenta. Taninos dóceis, acidez de baixa para média e um final persistente.

 

Produtor:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/


segunda-feira, 17 de junho de 2024

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2017

 



Vinho: Valtier Reserva

Safra: 2017

Casta: Tempranillo (50%) e Bobal (50%)

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Evino

Valor: R$ 64,90

Estágio: 24 meses em barricas de carvalho francês e americano.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi de média intensidade, com halos granada. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: aromas flagrantes de frutas vermelhas maduras, com notas amadeiradas, baunilha, leve tosta, caramelo, cacau, coco queimado, além de toques defumados e terra molhada.

Boca: é elegante, macio, mas com alguma estrutura. Bom volume de boca, mostra equilíbrio entre taninos, marcados, mas dóceis e um acidez média. Replica-se as notas frutadas, bem como as notas amadeiradas, que entrega chocolate, baunilha. Tem final persistente e amadeirado.

 

Produtor:


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Enterizo Bobal Rosé 2021

 

Como estou a “navegar” pelos mares da novidade no vasto e ainda inexplorado mundo dos vinhos, resolvi fazê-lo com mais afinco na Espanha. E quantas regiões temos a desbravar naquele país que conta com uma das mais proeminentes produções de vinhos do planeta.

E devido a tal condição, não se pode limitar-se a Rioja e Ribera del Duero, apenas, por mais que essas regiões sejam emblemáticas e fizeram, claro, por merecer, mas que não nos tira o direito e, diria, a obrigação de conhecer outras regiões da Espanha.

E uma, em especial, vem descortinando diante dos meus olhos e enchendo a minha taça, belos e surpreendentes rótulos: falo de Utiel-Requena. Uma região que, até pouco tempo, não tinha o status de grandiosa, sob o aspecto mercadológica, pois os vinhos produzidos eram comercializados apenas na região, atualmente vem ganhando o mercado consumidor brasileiro.

E consigo vem a sua casta “vitrine” que, ao que consta, só é produzida nesta região: a Bobal. Outra gratíssima “descoberta”, trata-se de rótulos frutados, que, dependendo de sua vinificação, traz complexidade e longevidade aos vinhos.

A Bobal é muito cultivada na Espanha, sobretudo em Utiel-Requena e vem ganhando cada vez mais em apreciação internacional e isso está fazendo com que mais rótulos com a casta ganhe destaque e visibilidade, afinal, é mais e mais ofertas de Bobal para aqueles que estão se enamorando, como eu, pela variedade.

E o exemplar de hoje vem em outro “caráter”, vem no formato rosé. Claro, nunca havia degustado um Bobal Rosé e, para variar, não consigo esconder o meu interesse, a minha ansiedade em degustar o rótulo que escolhi.

E esse rótulo, em especial, veio com um excepcional custo, na faixa dos R$ 35 e, diante de uma novidade para mim a esse valor está mais do que válido o risco em compra-lo. Ficou, logo após a minha aquisição, um tempo razoavelmente curto e logo decidi desarrolhá-lo para um deleite à Bobal.

E quando esse momento chegou a expectativa valeu e muito! Então, sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Utiel-Requena e se chama Enterizo, um 100% Bobal rosé da safra 2021. E para não perder o costume vamos de história!

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molon

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora.

Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados.

Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um rosado brilhante, com alguma intensidade, com um cor salmão, com discretas lágrimas finas e rápidas.

No nariz um inusitado aroma de goma de mascar, algo como balas de morango. Muito frutado, trazia algo de morango, framboesa, frutas frescas mesmo. Macio, leve, traz uma incrível sensação de frescor.

Na boca é leve, de paladar fresco e agradável, muito equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, correta e um final com alguma persistência com um retrogosto frutado.

Uma casta autóctone, ainda emergente no mercado, uma região que também cresce em visibilidade e um rosé que traz todo o caráter que um vinho desta proposta pode proporcionar: frutado, fresco, leve, que tem tudo a ver com o clima de nosso país e o melhor: com um excelente valor! Um verdadeiro achado que vale e muito a pena degustar e sair do óbvio, da temível zona de conforto. A Bobal definitivamente se apossou de minha adega. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Coviñas:

A Bodegas Coviñas, fundada em 1965, é uma união dos proprietários de terras mais proeminentes da região. Ela foi fundada em esforços para criar uma destilaria para utilizar a abundância de mosto de suas vinícolas individuais.

Durante os tempos sombrios do ditador Francisco Franco, a maior parte da produção de vinhedos veio de cooperativas sindicalizadas que empregavam milhares de proprietários de terras. Cada viticultor é considerado um “funcionário” e recebe os benefícios que acompanham a estabilidade.

A Bodegas Coviñas sempre se esforçou para cuidar das pessoas de UR, pagando caro pela fruta da mais alta qualidade, tornando-se a base sobre a qual a região sobrevive e um destino desejado de frutas de qualidade pelos habitantes locais.

Mais informações acesse:

https://covinas.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/enterizo-bobal-rosado-utiel-requena-dop-2021/













domingo, 28 de maio de 2023

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2015

 

Será que um raio cai duas vezes no mesmo lugar? O que é bom merece bis? Por que estou trazendo à tona esses ditados populares? Tanta pergunta que merece a resposta que até me parece simples: Sim, degustarei um rótulo a qual já tive uma agradável e especial experiência e que irei repetir.

Mas terá uma diferença: a safra. A Colheita será diferente! O que estará guardado para mim? O mais do mesmo? Terei novidades nesta safra? Será esta a melhor que a anterior que degustei? Será? Será? Perguntas que podem gerar alguma tensão, mas que na realidade só aguça ainda mais a curiosidade em degustar a “nova versão” desse rótulo que vem ganhando alguma fama.

Sim, fama! Certamente a linha “Valtier” é um dos rótulos mais vendidos de um conhecido e-commerce de venda de vinhos do Brasil, principalmente pelo seu atraente custo X benefício imbatível.

Apesar da popularidade do rótulo a região de onde este vinho veio ainda é pouco conhecida entre nós, brasileiros enófilos, arriscaria dizer que não está sequer entre as regiões mais famosas da Espanha.

Utiel-Requena, apesar de seus registros históricos antigos de produção de vinhos sempre produziu seus rótulos para consumo apenas na região, não desbravando o mundo, outros mercados consumidores, tendo apenas essa “aventura” de uns poucos anos para cá.

O Brasil está na rota e atualmente se encontra com alguma facilidade, principalmente graças a este famoso e-commerce, alguns rótulos de Utiel-Requena, dos mais simples até os mais complexos, como, diria, a linha “Valtier”.

A região se orgulha de cultivar a sua casta mais famosa, a Bobal que, definitivamente caiu nas minhas graças e a cada dia venho me enamorando pelas suas mais emblemáticas e atraentes características.

A linha “Valtier” traz um blend extremamente interessante, onde protagoniza a filha pródiga de Utiel-Requena, a Bobal, com a mais popular casta espanhola, a Tempranillo. E se revelou fantástica, com complexidade, explosão de frutas maduras e personalidade.

E graças a esses quesitos e a grande satisfação em ter degustado o Valtier Reserva 2013, o raio cairá sim duas vezes no mesmo lugar, porque tudo que é bom merece bis, então, sem mais delongas, vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio da região emergente espanhola chamada Utiel-Requena e se chama claro, Valtier Reserva da safra 2015, com as castas Bobal (50%) e Tempranillo (50%).

E para não perder o costume vamos de história, vamos, cada vez mais, difundir a região de Utiel-Requena e a sua casta Bobal, com as suas histórias.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molón

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura nos arredores de Chera

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, com halos granada, devido ao tempo, oito anos de garrafa e pela longa passagem por carvalho, com algum brilho e boa profusão de lágrimas lentas e finas.

No nariz traz aromas envolventes de frutas vermelhas bem maduras, com destaque para ameixas, amoras, framboesas e até mesmo morangos, em uma sinergia adorável com o carvalho, bem integrado ao vinho, devido aos vinte e quatro meses estagiando em barricas, com notas defumadas, de couro, estrebaria, tabaco, baunilha, além de especiarias, ervas, por exemplo, além de terra molhada, tudo envolto em muita complexidade.

Na boca é seco, marcante, de personalidade, mas, por outro lado, o tempo de vida lhe conferiu maciez e elegância. As frutas, como no aspecto olfativo, ganha protagonismo, com destaque para um delicioso ameixa maduro. O carvalho, devido ao tempo em barricas, se faz presente, contudo igualmente integrado como no olfativo. Traz taninos presentes, mas domado, dócil, com acidez de baixa para média, denotando que poderia ter ainda algum tempo em garrafa, com final de média persistência.

O raio caiu duas vezes no mesmo lugar e fez um significativo estrondo em minhas experiências sensoriais. A minha taça foi o para-raios e o meu coração se viu na mais perfeita sintonia com esse momento, mais uma vez, especial. A linha “Valtier” definitivamente merece a sua condição de “fama” entre os brasileiros e sabe conduzir a representação típica da região de Utiel-Requena. Um vinho de incrível custo X benefício e que prova para todos os preconceituosos de plantão no universo do vinho que sim, podemos ter vinhos especiais e de marcante personalidade a preços acessíveis para todos os enófilos, de forma indistinta. Que o caminho continue a ser percorrido e que possamos sempre viajar pelas várias vindimas que esse vinho puder conceder. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 

 












sexta-feira, 12 de maio de 2023

Expresión Reserva Bobal 2016

 

A Espanha possui a maior área cultivada de vitis vinífera do planeta, embora em volume de produção ocupe a terceira posição. Ou seja, uma região que tem a maior área cultivada de uvas finas do mundo merece desbravar, nós merecemos buscar aquelas regiões pouco badaladas e não ficar naquela temível zona de conforto com as famosas Rioja e Ribera del Duero, por exemplo.

Trata-se de um amplo território o qual nos presentei, ano após ano, com vinhos exuberantes e de grande personalidade. E nesses últimos quatro ou cinco anos aproximadamente venho descobrindo, redescobrindo, conhecendo “novas” regiões na Espanha me possibilitando, a cada rótulo degustado, novos prazeres sensoriais e histórias de tirar o fôlego.

É que muitas regiões ainda preferem manter uma espécie de “anonimato”, dedicando a sua produção ao consumo regional, porém outras regiões dedicam esforços incansáveis no sentido de promoção, de difusão de seus vinhos, de seu terroir, com suas castas autóctones, com a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo e um exemplo latente é Utiel-Requena.

Atualmente nosso mercado tem sido “invadido” por rótulos dessa região, sendo ofertado nos principais e-commerces do país com valores extremamente atraentes, causando, lamentavelmente certas rejeições, afinal ainda existe um terrível preconceito entre os enófilos de que vinhos baratos estão associados à baixa qualidade.

Mas como comprar vinhos é sempre assumir riscos eu decidi investir em vinhos dessa região e tenho tido excelentes surpresas, rótulos muito bons, de tipicidade, de qualidade mesmo, a relação custo X benefício vem imperando nas aquisições.

A casta tinta que predomina além, é claro, da Tempranillo é a Bobal. Ainda é pouco conhecida no Brasil, mas também existe um ceticismo em aceita-la ou ao menos experimentá-la. Como tenho, como disse, desbravado o universo vasto do vinho e mais precisamente dos vinhos espanhóis que vinha negligenciando há alguns anos, me permiti experimentar.

A minha primeira experiência foi com o vinho Bobal de SanJuan da safra 2016 e já de imediato me conquistou pela sua vivacidade, elegância, frescor, intensidade aromática e personalidade. Evidente que não iria parar por aqui e decidi continuar em busca de novos rótulos que levasse a Bobal.

Veio a Bobal dividindo o protagonismo com a Tempranillo do belíssimo Valtier Reserva da safra 2013, que degustei com oito anos de garrafa e estava maravilhoso, com plenitude e vivacidade, que certamente teria alguns anos mais em evolução.

Depois segui com mais uma nova experiência com a Bobal protagonizando solitária, com um vinho de abordagem mais jovem, frutada de um produtor que adoro chamado Murviedro, o DNA Murviedro Bobal 2018. O nome entregou firmemente o seu terroir que já se estabelecia em minhas predileções sensoriais.

E hoje decidi subir alguns degraus de características e propostas e, mais uma vez, degustar a Bobal solitariamente, porém com passagens por barricas de carvalho. É uma nova abordagem da Bobal que não preciso dizer o quão estou animado para ter em minha humilde taça.

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, claro, da região espanhola de Utiel-Requena e se chama Expresión Bobal, um reserva da safra 2016. E para a minha alegria o rótulo também é da vasta linha de vinhos da Bodega Murviedro, algo mais para abrilhantar essa degustação espetacular. Mas antes de tecer, com requintes de detalhes, comentários do vinho, vamos de história, vamos de Utiel-Requena e da Bobal.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molón

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura nos arredores de Chera

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidad Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito frescos no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada em cerca de 12% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, talvez pelo tempo de garrafa, sete anos, ou pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em profusão com alguma viscosidade.

No nariz é muito aromático e entrega aromas de frutas negras e vermelhas maduras com destaque para cereja, framboesa, morango, bem compotado, com notas amadeiradas evidentes, graças aos doze meses em barricas de carvalho, mas muito bem integrado, com toques de coco queimado, baunilha, chocolate e algo de herbáceo, de grama cortada.

Na boca é seco, mas saboroso, intenso, complexo, estruturado, cheio, bom volume de boca, alcoólico, com as frutas maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas, em destaque, mas em plena convergência com a fruta mostrando equilíbrio. Os taninos são presentes, marcados, imponentes, mas domados, maduros, com acidez incrivelmente vívida, salivantes o que surpreende no auge dos sete anos de garrafa. O chocolate, tostado, a baunilha também aparecem, com um final de média persistência.

Definitivamente o nome do vinho expressa fielmente o que o vinho entrega na taça: “Expresión”. A Murviedro foi muito feliz e tocada pela inspiração ao conceder tal nome a este rótulo complexo, de um vinho de explosão aromática, com as notas frutadas gritando, com notas amadeiradas bem integradas ao vinho, com o paladar guloso, cheio, poderoso, cheio de personalidade, mas elegante, austero e macio. A Bobal pode proporcionar versatilidade com notas complexas e de personalidade, mas ser fácil de degustar, agradável. O céu é o limite para a Bobal, para Utiel-Requena que, a cada experiência, se torna agradável e especial. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Murviedro:

Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou uma das vinícolas mais importantes da região.

A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o início de um dos principais pilares da marca: a exportação.

Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas mais renomadas.

A vinícola, desde que começou as suas atividade, sempre teve acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um amplo portfólio de estilos de vinho.

A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.

Mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html