Quando falamos em vinhos estruturados, encorpados do Chile,
qual casta vem a mente? Não tem erro: Cabernet Sauvignon! Se quiser degustar um
vinho com complexidade, com certa estrutura e potência, aposte firmemente no
Cabernet Sauvignon do Chile, isso se optar pelos vinhos do Novo Mundo!
Já tive alguns das melhores experiências quando se fala dos
Cabernets Sauvignon do Chile! Há quem diga que os mesmos são demasiadamente
carregados no famoso “pimentão” quando estagiam em barricas de carvalho, que
não traz um bom paladar.
De fato o excesso não pode trazer prazer na degustação, mas
que mal há quando se tem aquele pimentão no Cabernet Sauvignon dos chilenos?
Enfim há gosto e percepção para tudo, é tudo muito particular e deve ser
respeitada a opinião alheia.
Mas os vinhos chilenos desta cepa que degustei até hoje,
sobretudo os amadeirados, me trouxe grandes momentos na degustação! Foram
ótimos! Alguns entregaram potência, estrutura e complexidade, principalmente
quando tiveram poucos anos de garrafa, já outros rótulos que degustei e gostei
da rainha das uvas tintas com algum bom tempo de guarda entregaram vinhos
elegantes, aveludados, mas de marcante personalidade, característica essencial
da uva, bem como a proposta dos vinhos naquele país produzido.
A compra do rótulo de hoje, com toda essa entrada de vinhos
potentes e amadeirados, teve a compra estimulada pelo vinho mais básico da sua
linha. Sim! Um rótulo de proposta distinta estimulou a compra da sua linha mais
complexa. Algum tempo atrás comprei um vinho de nome “AS3 Reserva Cabernet
Sauvignon da safra 2014” e que me surpreendeu grandemente pela personalidade e
estrutura, aliada a maciez e elegância.
Isso me excitou a degustar outros vinhos da sua linha. Neste
mesmo supermercado havia um chamado “AS3 Premium” que, à época estava, a meu
ver, muito caro. Sabemos que vinhos com tais propostas não são baratos quando
entram no mercado brasileiro, mas sentia que, pelo simples fato do valor alto,
eu poderia, um dia, ter a oportunidade de compra-lo a um preço mais acessível
ao bolso.
E esse dia não demorou muito a chegar! O vinho entrou na
promoção custando na faixa dos R$55,00 e não hesitei em comprar dessa vez.
Então já “denunciei” o rótulo de hoje: o vinho que degustei e
gostei veio da Região do Vale do Curicó, no Vale Central, Chile e se chama AS3
Premium da safra 2015. Mas as histórias que giram em torno do rótulo não param
por aqui.
Por que o nome “AS3” e de onde esse vinho veio?
Em 2012 a gigante OLISUR, empresa chilena do ramo de
alimentos, entrou no mercado brasileiro disposta a não brincar em serviço. Seus
azeites invadiram as gôndolas dos nossos supermercados em uma política
comercial bem agressiva. A garrafa de 500ml do famoso “O-Live” vendeu muito e a
preços muito atraentes, na faixa dos R$13,00 em média, desbancando a
concorrência.
Em 2013 decidiram, entretanto, investir no ramo dos vinhos.
No caso da nossa poesia líquida é fácil fazer guerra de preços, basta trazer
rótulos de baixa qualidade e inundar o nosso mercado, mas não foi o que a
Olisur quis fazer.
A Olisur fez uma pesquisa de mercado para aprender o gosto
dos enófilos brasileiros e contrato a vinícola chilena Terramater para
vinificar os vinhos. Buscou ainda o prestigiado enólogp Stefano Gandolini para
prestar consultoria no ambicioso projeto que era o enólogo-chefe da Von
Siebentahl, onde assina alguns dos mais premiados e conceituados vinhos do
Chile.
E assim nasceu o projeto “AS3”, que consiste em uma linha de
três rótulos de vinhos com propostas mais básica, intermediária e a chamada
Premium, ou seja, vinhos de entrada, sem passagens por barricas de carvalho, um
reserva com um tempo razoável em madeira e o “Premium” ou a “versão” Gran
Reserva com uma passagem maior por barricas. Tais rótulos foram concebidos para
atingir apenas o mercado brasileiro.
O termo “AS3” refere-se, primordialmente nas três sub-regiões
distintas de onde vêm esses vinhos, oriundas do Vale Central, são elas: Vale do
Curicó, do Maipo e Maule. O rótulo que degustarei em questão é produzido na
região do Vale do Curicó e do Vale centras, regiões estas que valem contar as
suas histórias.
Vale Central
Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule.
Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região,
elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão
desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos
mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de
diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas
Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do
Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é
referência em Mendoza, do outro lado dos Andes.
As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer.
O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas,
de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é
a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o
século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel
Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule
Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do
Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo
vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura
moderna.
A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no
Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale
de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca
disponibilidade hídrica) aliada à alta taxa de amplitude térmica (diferença
entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau
de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale,
portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro.
Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de
onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência
direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e
fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a
sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e
úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da
montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha
perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo
surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países
ao redor do mundo.
Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina
de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central
é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada
por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao
produtor uma extraordinária variedade de terroirs.
Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.
Vale do Curicó
O nome “Curicó” significa “águas negras”, no idioma indígena
mapuche. O motivo é a bacia do Mataquito, com suas águas escuras que
serpenteiam pelo vale. Por conta dessa irrigação, o Curicó tem sido um centro
agrícola importante do Chile.
O Vale de Curicó, a 85 quilômetros do oceano e 45 da
Cordilheira dos Andes, é uma importante Denominação de Origem chilena que tem
vastas extensões de terras plantadas com videiras de alto rendimento.
Localizado no Maule, região da parte central do Chile, 45
quilômetros a oeste da imponente Cordilheira dos Andes e 85 a leste do Oceano
Pacífico, o Vale de Curicó é um dos principais e mais antigos centros vinícolas
do país. Por conta disso, sua famosa rota do vinho é também um importante
roteiro turístico do Novo Mundo.
Mais de 30 variedades de uvas são cultivadas no vale, desde a
metade do século 19. A característica climática é a neblina que cobre tudo pela
manhã. A variação de temperatura gera vinhos de boa acidez, sendo perfeitos
para as castas brancas. Os vinhos de Sauvignon Blanc, Vert e Gris do Vale do
Curicó são de qualidade notável, com todo o frescor que eles prometem.
Já as partes mais quentes do vale, como Lontué, trazem ótimos
vinhos de Cabernet Sauvignon, principalmente dos vinhedos mais antigos. Foi no
Vale do Curicó que o produtor espanhol Miguel Torres começou um investimento,
nos anos 70, iniciando a onda de valorização de vinhos do Novo Mundo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça manifesta um intenso vermelho rubi, mas com entornos
granada, acastanhado, devido talvez à passagem por barricas de carvalho e/ou
tempo de garrafa, sete anos, com a presença de algumas borras e lágrimas
grossas, lentas e em vultosa quantidade.
No nariz a presença das notas amadeiradas ganha protagonismo,
entregando tabaco, couro, terra molhada, menta, café e tostado médio, mas logo
se percebe, se sente as frutas pretas maduras, como ameixa, amora e cereja
negra, que se fundem e revelam um inigualável equilíbrio além de especiarias
com destaque para pimenta preta e aquele pimentão, mas discreto.
Na boca é seco, estruturado, médio corpo, mas elegante graças
às facetas do tempo em garrafa, que lhe confere, graças também aos 12 meses em
madeira, muita complexidade, promovendo também um equilíbrio fantástico entre
as frutas maduras e a madeira, com taninos maduros, mas macios e domados, com
acidez correta, com toques de chocolate, baunilha, álcool evidente e integrado
e um agradável e persistente final com retrogosto frutado.
Quer degustar um Cabernet Sauvignon poderoso, de
personalidade marcante, com complexidade? Vai de Chile! Não há como errar! São
vinhos de caráter, de voluptuosidade, são rótulos dessa região que expressão os
melhores e mais prestigiados terroirs da América Latina e não é à toa e com
muitos preços compatíveis, acessíveis a todas as camadas sociais, o que é o
mais importante! O AS3 Premium é versátil, o afinamento em barricas o
possibilitou ser mais elegante, saboroso, complexo, mas com a estrutura típica
da cepa. E se junta a essas combinações, 50 anos de vinhas às quais esse vinho
foi concebido. Fantástico! Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Terramater:
Em 1996, numa idade em que muitas pessoas pensam em se
aposentar, 3 irmãs Canepa, - Gilda, Edda e Antonieta -, respondendo à paixão
pela produção de vinhos finos que está em sua família desde os anos trinta,
decidem juntar-se vinhas de longa tradição para uma nova adega de última geração,
fundando assim a TerraMater.
O nome TerraMater diz-nos muito sobre esta empresa, que nasce
de terras excecionais com vinhas nobres até aos 70 anos e maravilhosos olivais,
com troncos grossos e bonita folhagem verde com mais de 50 anos, que atualmente
produzem o melhor azeite e azeitona do mundo. Também é possível encontrar
árvores de fruto, principalmente macieiras, que nos meses de verão enfeitam com
os seus frutos abundantes e fazem destas quintas um verdadeiro espetáculo.
TerraMater representa a combinação perfeita entre a
tradicional viticultura chilena de vinhos de alta qualidade, a busca constante
pela inovação entregando novos aromas e sabores, e a preocupação em conseguir
os melhores vinhos que a terra pode nos dar, criando assim vinhos que possam
verdadeiramente honrar a generosidade da Mãe Terra.
Mais informações acesse:
Referências:
Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central
Portal Winepedia, em: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/
Portal Enologuia, em: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente
“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vale-do-curico-para-alem-dos-vinhedos/
“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/vales-do-chile/
“Enoeventos”: http://www.enoeventos.com.br/201401/as3/as3.htm
“Escrivinhos”: https://escrivinhos.com.br/2015/04/tres-cabernets-do-chile-com-uma-otima.html/