É sabido que os vinhos que tem maior sucesso, logo maior
fatia do nosso mercado, entre os consumidores tupiniquins são os chilenos e
argentinos. Claro que é até, de certa forma, normal, haja vista que a questão
logística favorece, são países vizinhos que estimula a tráfego de tais vinhos
em nossas terras.
Claro que também a força do marketing mesclado, em alguns
casos, com a relação custo X benefício de alguns! Os vinhos amadeirados,
potentes têm um peso preponderante para a escolha dos brasileiros por esses
vinhos que, evidente, são ótimos! Como não se render aos belíssimos Malbecs
amadeirados, encorpados de Mendoza, na Argentina? O que dizer dos envolventes
Cabernet Sauvignon do Chile?
Não podemos deixar que essa percepção nos contamine, essa
percepção de que os amadeirados e encorpados são sinônimos de qualidade de
vinho! São propostas de vinhos, apenas e todas essas propostas precisam ser
levadas em consideração e todas essas propostas podem, sim, trazer qualidade e
prazer ao enófilo. Claro que há a predileção e que precisa ser respeitada, mas
nunca pode ser o amadeirado e encorpado ser sempre melhor que os que não passam
por madeira e leves. Não há sentido!
Mas como estou naquela levada tão profunda de desbravar o
vasto e desconhecido universo do vinho com as suas regiões, com as suas castas
e, evidentemente, propostas de vinhos, experimentar o diferente e pouco usual
torna-se algo quase que necessário e urgente. Afinal, sair da famigerada e
perigosa “zona de conforto” no universo do vinho, é algo quase que obrigatório.
E quando buscamos sair da tal “rotina” no mundo, ou melhor,
universo dos vinhos, aparecem os vinhos europeus! É inegável essa visão ou
buscar esses terrenos que, querendo ou não, são os melhores, mais tradicionais
e importantes do cenário vitivinícola. Mas também não podemos ficar
“restritos”, a França, Portugal e Espanha, se é que podemos falar de restrição
em terroirs como esses que trazem micro-terroirs tão ricos!
Porém o vinho de hoje traz um turbilhão de novidades, pelo
menos para este reles enófilo que redige essas linhas. Uma região que, até
pouco tempo atrás, não sabia sequer de que existia um cenário vitivinícola,
pois o conhecia apenas por trazer a fantástica história da Transilvânia e do
Conde Vlad Tepes, conhecido como Drácula, eternizado em livros e no cinema.
Falo da Romênia.
Eu fazendo aquelas costumeiras garimpagens pela internet em
busca da descoberta de novos vinhos e grandes novidades que o envolve,
descobri, quase que por acaso um rótulo romeno que estava em destaque, na promoção,
em um famoso site de vendas de vinhos. Resolvi conferir!
Quando o acessei de imediato não identifiquei que era da
Romênia, apenas quando cliquei em suas descrições e me tomou de assalto, me
injetando uma curiosidade que há muito tempo não tinha por um rótulo. Tentei
procurar alguma referência na grande rede sobre o vinho e a casta, bem como a
sua região, que são todas desconhecidas para mim e pouco encontrei, mas a
excitação pelo rótulo era tamanha e o valor, bem atrativo, impulsionou a minha
decisão de compra.
Por um tempo hibernou em minha adega até o momento de
degusta-lo! Talvez para tê-lo em minha taça em um dito momento especial ou a
oportunidade não tinha chegado, não sei ao certo e também e não vale tanto a
pena tentar descrever isso, o mais importante, cedo ou tarde, é degustar o
vinho!
Então sem mais delongas vamos às apresentações desse ilustre
vinho que definitivamente me surpreendeu por demais da conta! O vinho que
degustei e gostei veio de uma região da Romênia chamada Dealurile Munteniei e
se chama Prahova Valley composto pela casta tinta chamada Feteasca Neagra da
safra 2018!
Como eu havia dito, foi um tanto quanto difícil e trabalhoso
encontrar referências sobre a região e a casta, até pelo simples fato de tal
região e variedade não ser tão conhecida e popular no Brasil e até mesmo no
mundo. Mas tentemos discorrer algumas informações sobre elas para traçar um
mínimo entendimento, para se familiarizar com elas.
IG Dealurile Munteniei
Dealurile Munteniei é uma região romena famosa e conhecida
por ser a “terra do vinho tinto”, que, aliás, é marcada por outonos longos.
Dealurile Munteniei (em inglês: “Muntenia's Hill s”) GI é uma
região vinícola localizada na parte sul da Romênia nos condados de Buzău,
Prahova, Argeş, Dâmboviţa e Olt . A região pertence à área de Subcarpaţii de
Curbură e as plantações de videiras estão localizadas nas encostas e depressões
das colinas. Além disso, a região é famosa pelos notáveis vinhos tintos, e
também tem muito bom potencial para o plantio de variedades brancas aromáticas,
como Muscat Ottonel ou Tămâioasă Românească.
A origem da viticultura na área de Dealurile Munteniei é
muito antiga, prova disso são os achados arqueológicos, peças cerâmicas e
toponímia. Uma das primeiras menções data do século IV, quando o rei visigodo
Athanaric enterrou o seu famoso tesouro conhecido como “Cloşca cu puii de aur ”
(“A Galinha com Pintos Dourados”) ou “Tezaurul de la Pietroasa” (“ The
Piertroasele Thesaurus”). Mais tarde nos arquivos, há várias menções do século
XV sobre os locais onde se praticava a viticultura e a vinificação como Bucov,
Valea Călugărească, Ceptura, Urlaţi e Tohani.
Um momento que ajudou no desenvolvimento de Dealurile
Munteniei foi a proximidade com cidades como Bucareste, Ploieşti e Buzău, que
atraiu muitas personalidades e famílias nobres do século XVII para investir em
adegas e adegas. Um exemplo bem conhecido é o de Constantin Brâncoveanu
(1688-1714 ), que construiu em Tohani uma adega, uma mansão e uma igreja como
ponto de paragem a caminho da Moldávia.
A viticultura é há muito tempo a principal atividade dos
moradores de Dealurile Munteniei IG, razão pela qual em 1893 foi criada a
Fazenda Vitícola Pietroasa, para recuperar o vinhedo após a invasão da
filoxera. Mais tarde, em 1924, junto à Quinta, foi fundada a Estância Vitícola
e Enológica Pietroasa, uma estreia na Romênia.
A região de Dealurile Munteniei é famosa por suas excelentes
condições naturais (terroir) no cultivo de videiras:
1 - Um clima temperado-continental com verões quentes,
outonos longos e secos e invernos curtos;
2 - Solos castanho-avermelhados juntamente com porções ricas
em argila vermelha, marga e calcário em algumas áreas, abundantes em óxido de
ferro e carbonato de cálcio;
3 - Altitude variando entre 137 e 550 metros;
4 - A exposição da vinha é predominantemente sul, sudeste e
sudoeste;
5 - Ótima exposição solar e precipitação.
Em Dealurile Munteniei os vinhos brancos apresentam aromas
intensos, corpo cheio, bom equilíbrio e boa acidez. E os vinhos tintos podem
ser descritos como extrativos, aromáticos e de cor rubi intensa.
Nos últimos anos, muitas vinícolas de alto padrão como Serve,
Davino, Aurelia Vişinescu ou Viile Metamorfosis foram estabelecidas. Isso
realmente criou um verdadeiro renascimento dos vinhos de assinatura. Entre as
castas que contribuíram para a reputação da região, podemos citar Fetească
Albă, Tămâioasă Românească, Chardonnay, Muscat Ottonel, Merlot, Cabernet
Sauvignon ou Fetească Neagră.
Fetească Neagră
A uva Feteasca Neagra possui uma cor escura, pois se trata de
um vinho tinto. O grande diferencial do Feteasca está na sua origem, história,
sabor e tradição.
De origem Romena esse vinho quase foi extinto, por meio de
uma ordem do antigo imperador Júlio César (44 a.C.) que, após um ataque às
regiões romenas, ordenou que todas as vinhas fossem arrancadas.
Porém, para felicidade dos apreciadores, a cultura do vinho
romeno sobreviveu ao decorrer dos milênios.
A Feteasca Neagra está alcançando níveis interessantes de
muita qualidade, atualmente. Na Romênia ela acostuma ser vinificada como vinho
seco, meio seco e até doce.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
entornos granada, bem brilhantes e lágrimas finas e lentas, em média
intensidade.
No nariz trazem aromas intensos e predominantes de frutas
vermelhas maduras, como framboesa, groselha, cereja, além de especiarias, com
destaque a pimentas, canela, com toques de terra molhada, terroso, entregando
certa rusticidade e complexidade. A madeira também é envolvente e aporta ao
vinho um defumado, abaunilhado, caramelo.
Na boca é elegante, equilibrado, com um discreto residual de
açúcar, mas sem ser enjoativo, com um bom volume de boca, conferindo-lhe um
sabor adorável. O protagonismo das notas frutadas se repete e em grande
sinergia com a madeira, com a baunilha reaparecendo, além do couro e tabaco (o
tempo de barricas não é informado no rótulo e tão pouco no site do produtor). Tem
taninos aveludados e acidez média, com um final persistente, de retrogosto
frutado.
Mágica a experiência! Não pelo simples fato de ser diferente
ou pouco usual, mas também pelo que o rótulo e a sua região e variedade
apresentaram, proporcionaram a este humilde e reles enófilo. A esse humilde e
reles enófilo que, modéstia à parte, está promovendo uma verdadeira cruzada,
uma verdadeira capacidade de desbravar um universo tão rico e vasto e tão
inexplorado com a sua diversidade, pluralidade. Como nos render a zona de
conforto quando se tem uma infinidade de terroirs disponíveis para inundar as
nossas taças literalmente? Estou feliz, me sinto um privilegiado por ser
agraciado por degustar rótulos desse naipe. E que venha a Romênia a te
proporcionar grandes e arrebatadoras surpresas com seus rótulos! Tem 13,5% de
teor alcoólico.
Sobre a The Iconic State:
The Iconic Estate, membro do Alexandrion Group, é um
fabricante, exportador e importador seletivo de vinhos tranquilos bem como
espumantes. A empresa possui então instalações de produção e armazenagem,
linhas de engarrafamento, armazém com temperatura controlada e caves
subterrâneas.
A vinícola em Tohani, Gura Vadului, é uma das maiores adegas
da região de Dealu Mare, pois possui capacidade de processamento de 5.000
toneladas por ano, sendo produzida cerca de 3,6 milhões de litros por ano e
cerca de 5 milhões de garrafas por ano.
A Iconic Estate possui mais de 255 hectares de vinhedos, a
maioria deles em uma das regiões vinícolas mais férteis da Romênia, Dealu Mare
– uma região que fornece uma parte significativa das uvas usadas para obter
vinhos excepcionais, semelhantes de fato a duas famosas regiões vinícolas
europeias: Piemonte na Itália e Bordeaux na França.
A qualidade dos vinhos, o valor, o requinte e a sua distinção
fazem de The Iconic Estate sem dúvida um dos melhores produtores de vinho
romenos, que têm explorado o potencial e a diversidade vinícola do país através
dos seus próprios vinhos: Rhein Extra, Hyperion, Neptunus, Kronos, Rhea, Theia,
Colina Piatra Albă, Bizâncio, Vale Prahova, Floare de Lună, Floarea Soarelui,
La Umbra, La Crama e outros.
Ao longo dos anos, as marcas do portfólio de The Iconic
Estate foram premiadas em importantes competições nacionais assim como
internacionais, tais como: International Wine Contest Bucareste, Concours
Mondial de Bruxelles, International Wine Challenge ou Decanter World Wine
Awards.
As Caves Rhein & CIE Azuga, integrantes de The Iconic
Estate, são o local mais antigo onde se produz, sem interrupção desde que
quando foi criada a vinícola, em 1892. Os vinhos espumantes são elaborados de
acordo com o método tradicional da França.
A Royal House of Romania aprecia os vinhos das adegas da
vinícola pela sua qualidade superior, nomeando, portanto The Iconic Estate o
fornecedor oficial dos vinhos tranquilos e espumantes.
Mais informações acesse:
Referências:
“Premium Wines of Romania”: https://premiumwinesofromania.com/ig-dealurile-munteniei/
“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/la-crama-merlot/
“Wine Chef”: http://winechef.com.br/vinho-feteasca-neagra-um-tesouro-desconhecido-da-romenia/
“Telefnews”: https://tefenews.com.br/destaque/feteasca-neagra-ja-ouviu-falar-deste-vinho-sommelier-traz-algumas-curiosidades.html