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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2020

 

Sabe daquela frase famosa, aquele ditado popular amplamente conhecido e falado? “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!” Sinceramente é difícil contextualizar a essência e o significado da frase, haja vista que vai depender da situação, do que está sendo tratado.

Agora vem a pergunta: será que essa frase deve ser aplicada para a realidade do vinho, do nosso querido e amado universo vinífero? Eu digo que sim! Claro que um raio pode cair duas ou mais vezes no mesmo lugar! E o que significa tudo isso?

Quando falamos em um raio cair, ou não, duas vezes no mesmo lugar é adequar em uma realidade de degustar o mesmo rótulo em duas ou mais vezes! Claro que isso é possível e muito salutar! Demonstra uma predileção do enófilo por um rótulo, por um produtor, por uma região etc.

Principalmente quando se degusta o mesmo rótulo em safras distintas! Isso é melhor ainda, porque, por mais que o rótulo seja igual, a casta e a região idem, são safras diferentes, com climas, temperaturas diferentes, podendo oferecer nuances distintas uma das outras.

Mas como tudo na vida tem o lugar ruim, diria temeroso. A temível e silenciosa “zona de conforto” e isso para o mundo do vinho é péssimo, penso. Se você degusta, com alguma frequência, um determinado rótulo, de um determinado produtor e casta, demonstra que você tem uma predileção, o que é normal, mas essa predileção pode gerar uma espécie de dependência.

Em um cenário tão vasto, de uma infinidade de vinhos, regiões, países, castas, ficar no mesmo rótulo, tem impossibilita diversificar o tem leque de degustação e, convenhamos, a vida é deveras curta para ficar apenas em um rótulo, em um país, em uma região, em uma casta...

Mas esse rótulo deixou saudades! Não direi saudades, haja vista que o degustei no início deste ano, 2022, mas deixou um impacto positivo na minha degustação e a casta não é muito popular pelo menos em nossas terras brasileiras.

E resolvi compra-lo novamente! E o valor também estava arrebatador: R$37,90! Como encontrar um vinhaço da casta Gewürztraminer, brasileiro, a esse valor? Fiz uma breve, mas reveladora pesquisa, e os valores de rótulos tupiniquins desta variedade estão uma fábula! Caríssimos!

Mas decidi degusta-lo com dois anos de safra! Esse “novo velho” rótulo para mim é da “safra das safras”: 2020! É considerada, aqui no Brasil, como uma das melhores safras, a melhor em mais de trinta anos! Já traz esse atrativo! O primeiro que degustei, da safra 2019, o fiz com três anos de safra! Será que esse tempo afetará na degustação? Será que teremos novas nuances? Ah para uma comparação a resenha do Zanotto Gewürztraminer 2019 pode ser lida aqui. 

Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que degustei e gostei veio da região gaúcha de Campos de Cima da Serra, região essa que vem ganhando visibilidade e que está me ganhando também, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer e a safra, como disse, é a de 2020. Então para não fugir daquela máxima, vamos às histórias de Campos de Cima da Serra e desta casta que ainda não é tão popular no Brasil, a Gewürztraminer.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra mais ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Campos de Cima da Serra

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida. Para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta.

Outra teoria é de que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, há ainda suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, límpido, brilhante, com lindos e discretos reflexos esverdeados.

No nariz apresenta aromas intensos e calcados na fruta, frutas brancas e cítricas com destaque para pêssego, melão, maçã-verde, lichia, além de notas delicadas e agradáveis de flores, com um mineral que traz muito frescor.

Na boca muito frescor, leve para mediano, com algum açúcar residual, mas sem ser enjoativo, com as notas frutadas predominando como no aspecto olfativo, com um delicioso toque picante, típico da casta, com uma acidez equilibrada e instigante com final de média persistência.

Sim! Um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes e diante desse rótulo, mais do que especial, essa frase ganha força e digo de antemão que continuarei a degustar mais e mais rótulos desse produtor. E o que dizer desse produtor? Falei muito, ao longo desse texto, de visibilidade e credibilidade, e não podemos negligenciar o trabalho que a Vinícola Campestre vem realizando com a sua linha Zanotto! Vinhos frutados, leves, saborosos e o principal: de personalidade! Expressivo! A Zanotto está levando o nome da região de Campos de Cima da Serra ao alto! Vamos seguindo a valorizar a região, os vinhos nacionais, os seus produtores! Definitivamente o Zanotto Gewürztraminer sintetiza o melhor momento do vinho brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre: 

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 



sábado, 16 de julho de 2022

Panizzon Maximus 2018

 

Algumas discussões vêm se tornando recorrente entre os enófilos brasileiros e é bom que aconteça mesmo, pois estimula o senso crítico e a capacidade de entendimento de determinados cenários. E quais seriam as discussões? A disseminação da cultura do vinho, democratizando-a, a qualidade crescente do vinho brasileiro e o seu reconhecimento pela crítica especializada internacional, o custo Brasil que os encarece etc.

Por que falo tudo isso? Acredito que precisamos discutir tais temas e entender como e em que circunstâncias o vinho nacional enche as nossas taças. Não quero parecer ufanista e tão pouco ser um espírito de porco chato que critica os problemas pela qual a nossa cultura (ou falta de) na degustação de nossos vinhos passa.

O fato é que os nossos vinhos ganham, a cada dia, em qualidade, adquirindo tipicidade, expressando o que há de mais genuíno de nossos mais significativos terroirs, embora o consumo per capita, por ano, insiste em não passar dos dois litros e detalhe: Esse triste e preocupante panorama desde 1986, pasmem!

Então tentemos enxergar o que há de bom e ruim na nossa viticultura e, evidente tentar tirar bons proveitos nisso tudo e tentar degustar, em especial, os nossos rótulos. O conceito de preço baixo pode ser relativo, mas o cenário difícil dos valores e os altos tributos que pesam sobre nossa bebida é nítido, mas, enquanto enófilos que somos, temos de ter a mínima capacidade de garimpar, de buscar opções de vinhos mais justas no preço para o seu bolso. Isso sim é ter o que eu chamei de bom senso no início deste texto.

E acreditem há sim vinhos com um excelente custo X benefício, com propostas arrojadas, de vinhos complexos, que entregam qualidade, tipicidade, de regiões que aprecia, bem como castas ou blends igualmente atrativas.

E preciso citar alguns poucos produtores que, a duras penas, tem produzindo vinhos de extrema qualidade há décadas e que mantém um valor justo, democrático e que vem ganhando também a credibilidade em todo o planeta ganhando prêmios, sendo laureados com reconhecimentos dos mais expressivos: Falo da Panizzon e da Garibaldi.

A Garibaldi entrega rótulos especiais e muito bem feitos, sobretudo os espumantes e não ousarei aqui a elencar todos os seus grandes rótulos que degustei e gostei para não correr o risco de ser injusto. A Panizzon eu conheci, o que é uma pena, recentemente e confesso que fiquei impressionado com os preços que são praticados dos seus rótulos mais simples aos complexos.

Fui presenteado por um amigo e foi assim que conheci esse produtor com um Panizzon da casta Ancellotta da safra 2015 e estava simplesmente espetacular e o valor de mercado gira em torno dos R$ 40,00, aproximadamente! Então movido pelo interesse e excitação por buscar novos rótulos a ótimos preços da Panizzon me pus a garimpar pela grande rede.

E parei em um site conhecido que vende vinhos brasileiros e me deparei com um, que parece ser um dos mais complexos do portfólio deste produtor e quando vi o preço não acreditei: em torno dos R$50,00! Vi novamente, talvez poderia ter sido um erro, mas não, o valor era aquele! Li a descrição do vinho me excitando ainda mais! Então a aquisição era inevitável.

Ficou algum tempo na adega até que precisava iniciar a minha experiência com esse rótulo e o dia chegou! Eis que o momento chegou e o ritual de iniciação se fez necessário neste dia! Desarrolhado, a taça inundada, os sentidos aguçados e...voilá! De fato, o vinho correspondeu de forma suprema, única! Um estupendo vinho da região de Campos de Cima da Serra, um terroir que também vem me ganhando definitivamente. Ainda ouvirão e muito falar de Campos de Cima da Serra!

Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Campos de Cima da Serra, no Brasil, e se chama Panizzon Maximus composto pelas castas Cabernet Franc (35%), Merlot (35%), Sangiovese (15%) e Ancellotta (15%) da safra 2018. Então antes de falar sobre o vinho vamos traçar a história de Campos de Cima da Serra.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto.

A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade.

As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.

Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, porém com tons brilhantes, com lágrimas finas e em profusão que, lentamente, desenham as bordas do copo.

No nariz entregam aromas intensos de frutas negras bem maduras, com destaque para a ameixa, amora e cereja preta, em perfeita sinergia com a madeira que evidente, aporta notas de chocolate, torrefação e baunilha, além de toques de especiarias que vai surgindo com a evolução do vinho em taça, diria algo de pimenta ou ervas.

Na boca é intensamente seco, mas saboroso, volumoso em boca, de médio corpo, a sua estrutura é evidente, mas, por outro lado, é macio e equilibrado graças a sinergia, também percebida no palato, da fruta com a madeira, afinal os 12 meses de passagem por barricas de carvalho, evidencia o amadeirado, mas privilegia o protagonismo da fruta. Os taninos são gulosos, marcados, mas aveludados, com uma acidez alta que corrobora, reforça o volume de boca, com a percepção de notas terrosas, de couro e tabaco. Tem final persistente e retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências sensoriais! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, está na sua tipicidade, respeitando o seu terroir e convenhamos que, mais uma vez, Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa, personificada em um vinho estupendo como o Panizzon Maximus! O vinho já traz sua imponência no nome! Nunca um nome de vinho veio tão a calhar como esse da Panizzon que merece, mais uma vez, os louros por produzir grandes vinhos a preços acessíveis. Não! Neste caso não podemos criticar sobre os altos valores dos vinhos brasileiros. Panizzon Maximus ostenta não só o nome e a qualidade, mas a relevância de seu preço que só estimula a democratização da cultura do vinho brasileiro! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Panizzon:

Foi em 1960 que Ricardo Panizzon e seus filhos decidiram apostar em sua produção própria de vinhos. Com vasta experiência como fornecedores de matéria-prima para vinícolas da região, a família Panizzon teve a visão empreendedora de investir em um novo negócio. E foi a partir deste importante passo que nasce a Sociedade de Bebidas Panizzon Ltda., surgida e instalada até hoje no Travessão Martins, interior de Flores da Cunha, e atualmente capitaneada pela terceira geração da família.

Até 1990, as atividades da empresa se concentravam na produção de vinhos de mesa. Em 1991, inicia-se a produção de vinagres, sob a marca Rosina, em homenagem à nona Rosina, esposa do fundador Ricardo. Ainda na primeira metade da década de 90, a Sociedade amplia seu mix de produtos com o lançamento de bebidas quentes e vinhos compostos. Com o aquecimento do mercado e a grande demanda por novos produtos, em 1999 a Panizzon lança seus primeiros vinhos finos e, em 2002, passa a fazer parte também do nicho de espumantes finos.

Mas foi no ano 2003 que a empresa ampliou ainda mais sua atuação, apresentando ao mercado linhas de vinagre balsâmico e suco de uva. Um marco no setor produtivo da Panizzon foi a implementação de técnicas, equipamentos e infraestrutura de última geração aplicada na produção de suco de uva concentrado, no ano de 2006. Os vinhedos Durans são o berço da produção das uvas dos Vinhos Panizzon. A produção de vinhos e espumantes realizada a partir de vinhedos próprios é garantia de excelência, devido ao controle rigoroso de qualidade que é feito desde o plantio, que é realizado em espaldeiras, até a vintage.

Esses diferenciais únicos garantem reconhecimento aos Espumantes e Vinhos Finos Panizzon, premiados em concursos nacionais e internacionais. Hoje, presente há mais de 59 anos no mercado brasileiro de bebidas, a Panizzon se configura como referência por sua excelência, fruto da tradição do legado da família e do constante aprimoramento técnico e produtivo.

A sua postura inovadora, responsável pela introdução de novos gêneros de produtos em território nacional evidencia a maturidade da empresa, que possui mais de 50 anos de mercado. Além da tradição e do legado da família, o que impulsiona a Panizzon é a responsabilidade de aprimorar constantemente os conhecimentos adquiridos, formar técnicos, investir em tecnologia e novos projetos como o plantio de grandes áreas de vinhedos próprios. O resultado deste incansável trabalho são os espumantes, vinhos finos, vinhos de mesa, vinagres, sucos e bebidas quentes, todos os produtos referência no mercado por sua excelência em qualidade.

Mais informações acesse:

http://www.panizzon.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

 

 

 

 

 







segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Zanotto Pinot Noir 2019

 

Nos últimos natais, mais precisamente há três natais atrás, tenho degustado rótulos da casta Pinot Noir. E por que essa decisão? Acho que a Pinot Noir extremamente versátil gastronomicamente falando. Além de ser uma casta delicada, leve e frutada, goza de uma boa acidez que corrobora a sua condição de leveza e frescor.

E claro com o atual clima de calor, de verão a Pinot Noir, dada a sua boa acidez e frescura, cai também como uma luva. E diante dessa condição e de sua versatilidade com as comidas multifacetadas do período das festas de fim de ano.

Mas digo que também, por conta da sua boa acidez, um Pinot Noir com pizza cairia bem. Não sei se é uma harmonização clássica, típica ou coisa que o valha, confesso que nunca fiz, mas fiquei muito curioso por fazê-la, haja vista que hoje receberei meu grande amigo e confrade, meu novo companheiro de taça, Paulo Rodrigues, que faz uma pizza como poucos.

Compartilho da opinião de que harmonização tem muito do experimentalismo, algo de alquimia, de testes, sem se prender às conveniências e às questões clássicas já manjadas. Não sou, confesso um grande especialista em harmonizações, mas entendo que até mesmo as clássicas combinações partiram de experimentações.

Mas não é só a harmonização que me cativou no rótulo de hoje, mas também essa região que, há pouco tempo atrás, descobri e gostei muito: Campos de Cima da Serra. Inclusive já que falei dos Pinots que degustei nos últimos natais, comprei um, em um evento de degustação que participei em 2017, também era dessa região lá do Rio Grande do Sul e que praticamente me inseriu nessas degustações de rótulos dessa proeminente região. Falo do ótimo Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Campos de Cima da Serra, ao norte da Serra Gaúcha e que faz divisa com Santa Catarina, e se chama Zanotto da casta Pinot Noir e a safra é 2019. E além de todos esses bons pré-requisitos ainda tem o produtor que vem se destacando vertiginosamente nesses últimos tempos: A Vinícola Campestre.

E prêmios estão surgindo um atrás do outro! E não é apenas prêmio e medalhas, mas a certeza de que os vinhos, sobretudo da linha “Zanotto”, têm qualidade. E recentemente literalmente tirei a prova quando degustei o maravilhoso Zanotto Gewürztraminer 2019. Mas antes de ir para o finalmente com as minhas impressões do vinho claro falemos um pouco de Campos de Cima da Serra.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade.

As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.

Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta inusitado vermelho de média intensidade, com reflexos violáceos, um vermelho bem mais escuro para um típico Pinot Noir, mas brilhantes, com lágrimas finas e discretas que logo se dissipavam.

No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas muito agradável, onde se destacam morango, framboesa e cereja, com notas florais em evidência, que revela muito frescor.

Na boca é seco, fresco, leve, delicado e elegante, com as notas frutadas em destaque, como no aspecto olfativo, com os taninos ligeiros e discretos, com uma ótima acidez que saliva. Tem final prolongado e um retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o seu terroir. Mais uma vez Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa em minha humilde taça. A Pinot Noir vai se revelando maravilhosa nessa região. O Zanotto Pinot Noir entrega leveza, muita fruta, acidez vivaz, mas muita personalidade, marcante. E a pergunta que não quer calar: e a harmonização com a pizza, como foi? Foi maravilhosa! Valeu pela risco, valeu também pelo fato de ter a mínima capacidade de exercício de descrever as características das castas e consequentemente o conhecimento adquirido em prol do prazer da degustação da poesia líquida chamada vinho! Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre:

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

 






sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2019

 

Algumas novidades giram em torno desse rótulo que degustarei hoje. É simplesmente uma maravilha quando a degustação, que já é um prazer à parte, vem recheada de novidades, afinal não podemos, diante de um universo tão vasto e ainda inexplorado como o do vinho, nos dar ao luxo de sustentar uma temível “zona de conforto”.

Primeiramente começa pelo produtor, pela vinícola. Eles são conhecidos por um vinho de mesa, talvez um dos mais vendidos atualmente chamado “Pérgola”. Jamais em pensei que seu produtor estava produzindo vinhos de castas vitis viníferas, e o que é melhor: despontando com alguns de seus rótulos ganhando credibilidade e prêmios.

Eu os conheci de forma totalmente despretensiosa em uma das minhas já famosas incursões aos supermercados, onde avistei um de seus rótulos, mas de início não os associei ao “dono do Pérgola”, para mim era mais um vinho que havia me interessado, afinal os valores também estavam competitivos, interessantes.

Estava observando os rótulos quando, mais detalhadamente, avistei o branco deste produtor e fiquei abismado com que vi: era um Gewürztraminer! Sim! Uma casta que não é muito difundida no Brasil apesar de ser relativamente conhecida por aqui e muito popular em países como Alemanha e Chile. E falando em Chile eu recomendo o da linha Adobe, dos vinhos orgânicos da Emiliana Vineyards, o Adobe Gewürztraminer!

Eu pensei já tomado pela animação mesclado à surpresa, nunca pensei encontrar um Gewürztraminer produzido no Brasil e melhor na região de Campos de Cima da Serra, que também vem despontando como uma das novas grandes vitrines da produção vitivinícola no Brasil com grandes vinhos.

Inclusive degustei alguns vinhos dessas bandas e recomendo o Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2019. Mas esse Gewürztraminer seria meu mais novo investimento e o valor, como disse, estava competitivo, em torno dos R$ 45,00!

Levei comigo o vinho! Tantas novidades e alguns motivos, mais do que fortes, para degusta-lo. Demorei um pouco para abri-lo, ficou um tempo na adega, mas agora não há como esperar e a ansiedade teria um fim, com o início de sua degustação. A rolha se desprendeu, o aroma do vinho tentando se manifestar, emanando e provocando os meus sentidos.

E...voilá! Que vinho delicioso! O aroma desbanca e arrebata, a cor é linda!  O vinho que degustei e gostei veio da região brasileira de Campos de Cima da Serra, do Rio Grande do Sul, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer (100%) da safra 2019. Antes de tecer maiores e detalhados comentários do vinho falemos da região e da casta ainda não muito consumida em nossas terras.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo com tons esverdeados, translúcido, límpido, mas brilhante, reluzente.

No nariz explodem aromas de frutas de polpas brancas como abacaxi, pera, maçã-verde, pêssego, maracujá e um discreto toque cítrico, com notas delicadas, mas evidentes de flores brancas.

Na boca tem estrutura leve para média, com as notas frutadas também em destaque como no aspecto olfativo. A acidez é equilibrada com um dulçor em pleno equilíbrio, que faz do vinho delicado e elegante. Tem um bom volume de boca, diria algo de untuosidade e um consequente final prolongado de retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o seu terroir. Ousando com castas que jamais vi produzir por aqui. A Gewürztraminer definitivamente me ganhou por completo. Preciso degustar mais dela. E o que dizer da linha Zanotto? Ótimo! Não se enganem não se limita, com o devido respeito, aos da linha “Pérgola”, é muito mais que isso! E não se enganem também que a tendência é mais do que positiva para o futuro deste produtor e seus rótulos e essa visibilidade inaugural é só o começo. Um vinho frutado, frutas brancas, uma explosão de aromas frutados, o destaque dessa casta, um toque cítrico mesclado a uma boa acidez que saliva. Um belo vinho que entregou além do que valeu e trouxe a refrescância tão necessária nos dias atuais de verão brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre:

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação, é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 






sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017

 

O natal é um ótimo período do ano para harmonizar vinhos! São tantas opções, são tantos pratos, dos mais diversos que você pode escolher vinhos de todas as propostas: dos mais doces aos mais encorpados, dos secos aos frutados. A lista é grande! Porém, contudo, entretanto, todavia, a diversidade é tamanha que às vezes geram dúvidas e questionamentos quanto às famosas harmonizações enogastronômicas.

Digo isso porque, confesso não ser muito bom nas harmonizações, o mínimo que sei são as harmonizações com os queijos e olha lá, fazendo, muita das vezes, com o apoio de informações coletadas na grande rede.

Quando chega o período natalino e de ano novo é sempre aquele dilema, aquela dúvida recorrente de qual vinho escolher para harmonizar com essa infinidade de comidas que a nossa mãe ou a nossa avó, exageradas como são, faz e entope as mesas faltando espaço na maior parte das vezes, na mesa e na barriga também.

Depois de alguns erros, equívocos da minha parte, ao escolher determinados rótulos, e digo isso não porque há algo estabelecido por formadores de opinião que determina que o prato “A” é perfeito para o vinho “B”, pois sempre escolhi os vinhos que achavam ser interessante para alguns pratos natalinos, eu encontrei um denominador comum, um vinho versátil, um coringa para essas ocasiões festivas. E bingo! Foram os rótulos da casta Pinot Noir.

Pinot Noir, uma casta frutada, delicada, leve tem tudo a ver, pelo menos para mim, com o período natalino, a começar pelo tempo: No natal estamos no verão e nada mais adequado degustar um Pinot Noir mais refrescado, até geladinho. É interessante também com os tradicionais pratos, como: Peru, Chester, as aves, carne branca. Essa conclusão eu cheguei, modéstia à parte, sozinho, com todo respeito aos profissionais da área, como os somelliers, tão importantes nessa hora.

Então naquele natal de 2019, olhei para a adega sem a dúvida dos natais passados, com aquele pergunta cheia de drama e dilema: Que vinho degustar nesse natal? Resolvi olhar com mais carinho para os Pinots!

E escolhi um nacional, de uma região que naquela época, pelo menos para mim, era nova do Rio Grande do Sul, mais precisamente da cidade de Campos de Cima da Serra. O vinho que degustei e gostei se chama Fazenda Santa Rita e a casta é a Pinot Noir da safra 2017. Tudo era novo: a região, o rótulo que eu havia conhecido em um evento de degustação famoso, então o momento foi singular.

Então já que falei de novidades, vamos contar um pouco a história de Campos de Cima da Serra e do crescimento exponencial dessa região para o cenário vitivinícola do Brasil e depois o vinho e as minhas impressões que foram das melhores possíveis.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes)são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi de pouca intensidade, típico dos vinhos da casta Pinot Noir, mas com um excepcional brilho, que exaltam os tons violáceos com algumas poucas finas e lágrimas que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz a predominância das frutas faz do vinho leve, fresco, mas intenso, marcante, graças a essa qualidade aromática, predominando as notas de morango, framboesa e aquele toque floral, de flores vermelhas.

Na boca é um vinho leve, fresco, equilibrado, delicado, elegante, as notas frutadas se repetem, com uma excelente e instigante acidez que corrobora a sua condição de frescor, com taninos redondos e domados, quase imperceptíveis, com um final frutado e prolongado.

Um vinho harmônico, saboroso, que enche a boca, mas que se revela delicado e muito elegante como todo e qualquer rótulo que ostente a casta Pinot Noir. Um vinho de excelente custo x benefício, especial, que caiu como uma luva nas harmonizações natalinas. Consegui degustar tudo com um único vinho e ficou maravilhoso, fantástico. Um vinho versátil e delicioso. Que venham vários natais e vários Pinots celebrando esse momento familiar e celebrando também a degustação de grandes rótulos. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Família Lemos de Almeida

“Somos Raízes, somos Família. Enaltecendo nossas origens lusitanas, agora somos a Vinícola Família Lemos de Almeida. Na cidade de Muitos Capões, estruturados em uma encantadora Vila Açoriana, atuamos com excelência na produção de vinhos finos de castas francesas e portuguesas”.

Foi em 2005, vislumbrando o terroir da região, favorável devido ao solo e clima, que iniciaram a implantação da infraestrutura para produção de uvas. No ano de 2009, plantaram as primeiras mudas de origem Francesa, que deram início à primeira vinificação em 2012.

Conduzida pelo seu fundador e proprietário, Agamenon Lemos de Almeida, juntamente com a filha Bibiana Lemos de Almeida, a Vinícola mantém sua característica de propriedade familiar. Única vinícola com características açorianas no Brasil, a Família Lemos de Almeida aposta na inovação. Focada no enoturismo, e instalada em uma encantadora Vila Açoriana celebra a arte, a arquitetura, a história e a cultura açorianas e recebe seus visitantes em uma área de 12 hectares onde são cultivadas variedades de uvas francesas e portuguesas.

Hoje, a Vinícola Família Lemos de Almeida, produz 100% dos seus vinhos a partir de vinhedos próprios e atinge 100 mil garrafas por ano, tornando-se notória pela premiada qualidade.

Mais informações acesse:

http://www.familialemosdealmeida.com.br/