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terça-feira, 26 de julho de 2022

Fiuza Native Chardonnay e Arinto 2019

 

Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências sensoriais. Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar nessas novas percepções organolépticas, mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!

Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela poesia líquida. Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e nunca se encantou?

E quando temos um blend das principais castas brancas dos mais emblemáticos países produtores de vinhos do planeta? Apesar de serem variedades extremamente conhecidas, a primeira muito conhecida em seu país, Portugal, a outra, oriunda da França, é mundialmente conhecida e de fácil adaptabilidade em vários terroirs, em vários climas, ganhando contornos em suas características.

Falo da Arinto, portuguesa, que se adaptou em várias regiões emblemáticas de Portugal e a rainha das uvas brancas, a Chardonnay. E de uma região que não degustava há mais de um ano e que também traz a assinatura da tradição de Portugal: o Tejo.

Apesar de serem castas amplamente conhecidas, o blend me traz grandes novidades! Mesmo que apresentem tradição e uma grande capacidade de cultivo, logo expansão de rótulos ofertados, ainda há brechas para o novo, o novo pelo menos para mim, humilde e reles enófilo.

Então sem mais delongas apresentarei o vinho que degustei e gostei que veio da região emblemática do Tejo, de Almerim, que se chama Fiuza composto pelas castas Arinto e Chardonnay da safra 2019. E para não perder o costume vamos às histórias do Tejo, a sua sub-região, Almerim, de onde veio esse rótulo e depois as descrições desse rótulo que, claro, tinha que me surpreender positivamente.

Tejo



A história da Região do Tejo se confunde com a das suas Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima, trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.

A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.

Tejo

A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2009, seguindo-se a Rota dos Vinhos do Tejo.

Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.

O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.

Nos brancos, o perfil traduz-se em vinhos muito aromáticos, frescos e elegantes. Os tintos são muito equilibrados, frescos e com taninos distintos. No nariz, sobressai a fruta.  Já nos tintos de guarda a madeira revela-se de forma discreta. A região do Tejo produz também excelentes vinhos rosés, espumantes, frisantes, e ainda licorosos e colheitas tardias.

As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional, a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês. O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais refrescantes da região. Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e solos complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para produzir vinhos equilibrados com características de frutas ricas.

Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet Sauvignon e Merlot.

O terroir da região está profundamente ligado à influência que o rio Tejo inflige às margens, que muitas vezes inunda as vinhas em época de cheias. A sua força e amplitude influenciam o solo e o clima, gerando três áreas produtoras distintas:

Bairro: localizado a norte do rio Tejo, as suas terras altas são compostas por colinas e planícies, ricas em solos de calcário e argila e depósitos de xisto.

Charneca: na margem sul do Tejo, apresenta solos arenosos e temperaturas elevadas, o que leva a um amadurecimento mais rápido das uvas na região.

Campo: localizado nas margens do Tejo, a influência do rio faz-se sentir nas temperaturas mais amenas, resultando vinhos mais frutados, acidez e frescor.

A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90% são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC).

Almerim

Almeirim é uma cidade que está localizada no Ribatejo e que pertence ao distrito de Santarém, tendo cerca de 11.700 habitantes. Desde 2002 está integrada na região do Alentejo e na sub-região da Lezíria do Tejo, continua, no entanto, a fazer parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.

O município é limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo Cartaxo e a noroeste por Santarém.

A ocupação humana da atual área do concelho de Almeirim é muito antiga. Terão sido a proximidade do rio Tejo e a riqueza natural os fatores que terão contribuído para a instalação de homens nesta região.

Com as suas magníficas coutadas de caça, que se estendiam por uma grande extensão, a vizinhança de Santarém, as proximidades do Tejo e ainda de Lisboa, com fácil acesso, por via fluvial, Almeirim tornou-se, desde logo, no lugar preferido dos reis da II dinastia e a estância de Inverno frequentada por numerosos membros da Corte, de tal maneira que foi considerada a "Sintra de Inverno", no século XVI.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo e brilhante amarelo palha, límpido, diria, com alguma intensidade, com reflexos esverdeados.

No nariz explode em aromas de frutas brancas, frutas de caroço onde se destacam pera, melão, melancia, maçã-verde, abacaxi, com toques cítricos, sendo muito fresco, com um delicado floral.

Na boca é leve, saboroso, com o protagonismo, como no aspecto olfativo, das frutas brancas e cítricas, mas que traz alguma complexidade caracterizada por uma discreta untuosidade, com um acidez equilibrada e final cheio e persistente.

Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico. Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para quem ama a poesia líquida! E o Fiuza Native Arinto e Chardonnay trouxe um pouco de cada um: Castas tradicionais, a classe de suas características, a representatividade histórica da região, o corte arrojado e moderno conspiraram a favor deste belo e surpreendente rótulo de uma vinícola que tem, como filosofia, a junção de variedades autóctones e castas emblemáticas francesas. Um vinho fresco, leve, solar, mas que traz personalidade, sobretudo pelo seu blend. O frescor da Arinto, dada pela sua acidez e a estrutura da Chardonnay entrega esse vinho especial e versátil. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Fiuza & Bright:

A Família Mascarenhas Fiuza dedica-se à vitivinicultura há mais de um século. A empresa iniciou a sua atividade no início do Século XX. Joaquim Mascarenhas Fiuza, filho de D. Luísa Mascarenhas (irmã do 10º Marquês de Fronteira e 9º Marquês de Alorna) começou a produzir vinho com o seu tio nas propriedades da Família Mascarenhas Fiuza que há séculos que tem Quintas na região.

Em 1986, surge a parceria entre o produtor de vinhos Joaquim Mascarenhas Fiuza e o prestigiado enólogo australiano Peter Bright donde nasce a empresa Fiuza & Bright. Pioneira na produção das castas francesas em Portugal, a Fiuza & Bright produz nas suas duas quintas (Quinta da Requeixada e Quinta da Granja) as principais castas portuguesas como a Touriga Nacional, Aragonez, Arinto, Vital, Fernão Pires ou o Alvarinho e também algumas das principais castas francesas como o Alicante Bouschet, o Cabernet Sauvignon, o Merlot, Syrah, o Chardonnay ou o Sauvignon Blanc.

As suas vinhas situam-se na região do Tejo, na região demarcada de Santarém e de lá têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses, que são produzidos exclusivamente na sua Adega em Almeirim. Como consequência de todo esse trabalho e cuidado, a Fiuza têm recebido vários prémios e medalhas ao longo dos últimos anos.

Mas não só nos vinhos, Joaquim Mascarenhas Fiuza conquistou medalhas. De fato, o seu dia a dia dividia-se entre a atividade vitivinícola e o famoso desporto náutico, a Vela, na categoria "Star".

Enquanto atleta, protagonizando participações vitoriosas nas mais variadas provas e países, destacou-se sobretudo nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, de Londres em 1948 e em 1952, em Helsinque, tendo neste último ganho a merecida Medalha de Bronze. Nesse mesmo ano de 1952, em dupla com Rebelo Carvalho, conseguiu o quarto lugar no Campeonato do Mundo. Em 1957 e 1958, concretizou um sonho de ser Campeão da Europa. Por nove vezes foi ainda Campeão Nacional.

Mais informações acesse:

https://www.fiuzabrightpt.com/

Referências:

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/

“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao

“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo

“Wines of Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/