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domingo, 27 de outubro de 2024

Otto Nodi Nero di Troia 2022

 



Vinho: Otto Nodi

Safra: 2022

Casta: Nero di Troia

Região: Canosa di Puglia e Minervino Murge (Barletta-Trani), Puglia

País: Itália

Produtor: Vinícola Alibrianza

Adquirido: Site Casa Palla

Valor: R$ 59,90

Teor Alcoólico: 13%

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi intenso, escuro, fechado, com lágrimas densas, grossas, lentas e em profusão, com alguma viscosidade que mancha a taça.

Nariz: aromas de frutas vermelhas maduras, com destaque para cerejas, framboesas, morangos, além de notas especiadas que lembra ervas e um floral que remete a violetas, que traz uma sensação agradável de frescor.

Boca: entrega alguma estrutura, persistência e bom volume, mas ainda assim é macio e elegante. Os taninos, pela característica da casta, são marcados, presentes, a acidez é vibrante. As frutas ganham em evidência, como no olfato, e o final frutado e longo.

 

Produtor:

https://www.alibrianza.it/en/


domingo, 30 de abril de 2023

Rocca Nero di Troia 2019

 

E continuo pela minha agradável saga pela busca de novas experiências de degustações, de rótulos pouco badalados, de castas pouco populares em terras brasileiras, afinal novas percepções de aromas e sabores só enriquece o ato da degustação, fazendo desta algo prazeroso e agradável e não algo mecânico e banal.

Há algum tempo venho investindo em regiões e castas novas para mim, sobretudo aquelas castas que, embora muito popular em suas regiões autóctones, no Brasil ainda é pouco conhecida.

E assim você varia a sua adega, amplia seu conhecimento, exercita suas análises organolépticas. Enfim, muitos fatores no processo de degustação são positivamente impactados e, aliando isso tudo, a preços extremamente convidativos a seu bolso, em tempos bicudos e de incertezas, torna-se também essencial.

E a casta de hoje é da Itália e quando levantei referências sobre ela, descobri que até naquele país ela é pouco badalada, raramente vem em monovarietal, ou seja, somente ela protagonizando. E cá estou a degustar esse rótulo especial de um produtor igualmente importante e significativo, falo da Rocca Vini.

A propósito há algum tempo atrás, tive uma excelente, surpreendente experiência com a degustação do Rocca Trebbiano d’Abruzzo muito fresco, leve, saboroso, frutado, com uma agradável mineralidade.

E hoje será um “nero”, um tinto, um “rosso”! Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região famosa de Puglia e se chama Rocca da casta Nero di Troia (100%) da safra 2019. O que dizer de degustar um Nero di Troia em sua versão varietal? Não preciso dizer do quão especial esse vinho foi, a cada taça servida.

Mas antes de tecer quaisquer comentários acerca do vinho, precisamos ser inundados de história, então vamos falar um pouco de Puglia e da casta Nero di Troia.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.

Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. A Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).


Nero di Troia

Engana-se quem pensa que essa casta vem da mesma cidade da história do cavalo, o de Troia. A antiga cidade grega que levava esse nome, onde ocorreu a Guerra de Troia descrita na Ilíada, fica na Turquia. E o assunto aqui é uma uva considerada nativa da Itália, a Nero di Troia. O nome da uva vem da cidade de Troia, que fica na província de Foggia, em Puglia e que tem cerca de 7.000 habitantes.

Província de Foggia

Segundo a lenda, a cidade foi fundada pelo herói grego Diomedes, que lutou na Guerra de Tróia (e, que segundo a Eneida, de Virgílio, estava dentro do cavalo) e saiu e sagrou-se vencedor.

Claro que também existe sempre uma vasta confusão taxonômica com nomes que a todo instante mudam conforme os tempos e localidades, como:

·         Sumarello;

·         Uva di Canosa;

·         Uva di Barletta;

·         Tranese;

·         Uva della Marina.

A primeira vez que o termo Uva di Troia aparece em documentos oficiais está nos estudos ampelográficos do Professor Giuseppe Frojo em 1875. Ele era Diretor da Cantina Sperimentale di Barletta e era admirador da cultura neoclássica. Então Frojo rebatizou o então chamado Vitigno di Canosa como Uva di Troia. Depois o “Nero” foi incorporado ao nome.

Embora hoje existem muitos clones disponíveis da Nero di Troia, dois biótipos muito diferentes entre si são geralmente identificados hoje, a versão Barletta ou Ruvo e a versão Canosa. A Barletta tem cachos e bagos de grande porte, enquanto a Canosa traz bagos cilíndricos e menores.

A segunda possui cultivo mais complexo, principalmente graças ao longo período e maturação, que a deixa com o risco de ficar exposta a situações climáticas adversas. Por causa disso, a dificuldade do plantio tem propiciado uma, cada vez maior, escassez desta uva. É necessária muita paciência, paixão e recursos para conseguir produzir uma bebida de qualidade.

Mas a Nero di Troia é bastante resistente a uma ampla variedade de pragas comuns nos vinhedos. Ela é muito adaptada ao clima quente e seco da Puglia, mas está sendo cada vez menos cultivada. Muitos produtores, nos últimos anos, têm substituído seus vinhedos, plantando Negroamaro e Primitivo, consideradas mais rentáveis comercialmente.

Além disso, entre as três, a Nero di Troia é a que demora mais para amadurecer. Para dar um exemplo, por volta do ano 2000, a área cultivada era um quinto do que era dos anos 70, com cerca de 1700 hectares plantados.

Os aromas mais encontrados nos vinhos produzidos com esse tipo de uva são os de cereja preta madura, amora, tabaco, cacau, cassis, anis e notas florais de violetas.

Vinhos que utilizam a Uva di Troia em sua elaboração são vinhos profundos, complexos, de cor viva e rico em polifenóis, especialmente, os taninos.

Já os vinhos de corte produzidos com ela apresentam certa adstringência, típica, atenuada, que se evidencia, por exemplo, nos rótulos com a participação da uva Montepulciano. Outros tipos de uva utilizados com bastante frequência junto à Uva di Troia são as variedades Bombino Nero e Sangiovese.

Atualmente existe uma tendência de vinificar a Nero di Troia em vinhos varietais, em geral notáveis. E como que os enólogos lidam com tantos taninos, em vinhos varietais? Com temperaturas moderadas, com macerações mais curtas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo rubi com halos granada, com alguma viscosidade e lágrimas grossas, lentas e em profusão que mancham as bordas do copo.

No nariz um ataque de frutas vermelhas e pretas bem maduras, em compota. Trouxe também no início algo doce, meio caramelizado, com alguma intensidade, depois se equilibrando no transcorrer da degustação, tendo ainda toques de terra molhada, tabaco doce, especiarias, muita rusticidade.

Na boca é cheio, volumoso, estruturado, alcoólico, mas macio e elegante, fácil de degustar dado o seu equilíbrio, com um residual de açúcar que não compromete. As notas frutadas, como no aspecto olfativo, também protagoniza, com discretos toques amadeirados, graças aos 15% do lote que passou cerca de 4 meses em barricas de carvalho, trazendo ainda algo de chocolate e especiarias. Tem taninos marcados, presentes, mas domados, com acidez pouco elevada, baixa e um final longo.

Notas do produtor: “Cerca de 15% do nosso Nero di Troia estagiou em barricas de carvalho por alguns meses, o restante em tanques de aço inox. O objetivo enológico da empresa é dar uma leve nota de baunilha picante, delicada e não muito invasiva”.

Um vinho volumoso, carnudo, intenso e complexo, mas que privilegiou cada característica da Nero di Troia e que valeu cada centavo! E que singular degustar uma casta, no formato varietal, que sequer na Itália, em Puglia, é popular, muito mal em blends. Apelo regional, cultural de uma casta nativa que entrega o que há de melhor em Puglia. Nada melhor que se aventurar em novas castas, novas percepções, novas experiências sensoriais. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Rocca:

Antes de tudo na história da vinícola, ela começa no final do século XIX, iniciada por Francesco Rocca. Em seguida seu filho, Angelo, aprimora a produção em 1936 e finalmente a transforma em adega em Nardò, Apúlia.

Posteriormente, na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Angelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a marca Rocca.

Depois que houve a compra de uma fazenda em Leverano em 1999, uma década mais tarde a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e produtivas.

Por conseguinte, Paolo, Marco, Luca e Matteo (filhos de Ernesto), compartilhando deveres e responsabilidades, administram os negócios da família, que inclui também uma empresa de construção e uma importante fazenda de cavalos de trote.

Por fim Emanuele e Ernesto Jr., filhos de Luca e Marco, respectivamente, representam hoje orgulhosamente a quinta geração do mundo do vinho.

Em outras palavras, em cinco gerações a família transmite a paixão pelo envelhecimento de vinhos em barris de carvalho, que hoje toca uma vinícola que exporta a produção para mais de 40 países.

Mais informações acesse:

https://roccavini.com/en/

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/761-nero-di-troia

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/259-uva-nero-di-troia-a-sulista-da-terra-da-bota

“Blog dos Vinhos”: https://blogdosvinhos.com.br/conheca-a-uva-nero-di-troia/

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/rocca-nero-di-troia-puglia-2019/

 

 














sábado, 25 de março de 2023

Nero Reale Primitivo di Manduria 2018

 

Alguns vinhos são considerados como clássicos! Tradição, respeitabilidade de seus terroirs, suas tipicidades, sua história, seu povo, sua cultura, enfim, muita coisa, creio, influencia decisivamente no sucesso de um rótulo, de uma região, de uma casta, tudo se complementa e forma um bloco de tradição e respeito comercial.

E definitivamente a Itália desponta nesse quesito, de clássicos, em qualidade e quantidade também, a começar por Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Valpolicella Ripasso, entre tantos outros.

Temos outros rótulos que são emblemáticos em uma combinação entre casta e região. Sabe quando falamos de uma cepa, nos vêm, imediatamente, a região? Pois é, somente a Itália, diria também, claro, a França, consegue proporcionar isso.

E essa casta tem uma força e representatividade como pouco se vê por aí: falo da boa e velha Primitivo! E quando você fala dela, quem lembramos? Manduria. O sucesso é tamanho que quando falamos de um, falamos de outro como se fora uma coisa só.

Alguns rótulos dessa região italiana já se aproveitaram e se aproveitam, sob o aspecto comercial e estampa em seus rótulos o famoso “Primitivo di Manduria” porque exporta para o mundo esse nome pesado no universo da vitivinicultura.

E falando em sucesso, a Primitivo, também conhecida como Zinfandel nos Estados Unidos, também goza de muito sucesso na terra do Tio Sam, sendo talvez a mais popular cepa tinta daquele país, brilhando em regiões como a Califórnia, por exemplo. Vejam o tamanho da popularidade da Primitivo!

Apesar desse sucesso todo tenho que admitir que poucos rótulos degustei da casta, menos do que eu gostaria, mas, evidente, estou disposto a mudar esse cenário, com a “árdua” tarefa de degustar o máximo que puder. Então comecemos por um que adquiri em um site de renome especializado em vendas de vinhos e a um preço imbatível, principalmente pela proposta que o rótulo entrega. Claro que apareceu um cupom de desconto que não poderia deixar de usar.

O vinho repousou tranquilamente na adega por pelo menos, acho, dois anos e aos cinco anos de garrafa achei que estaria na plenitude de sua degustação. Então lá vamos nós com as devidas apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Manduria, na Itália e se chama Nero Reale da casta Primitivo safra 2018. E para não perder o costume vamos de história! Vamos de Puglia, Manduria e Primitivo.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.


Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. O Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).

Manduria

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália.

As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.

Primitivo

A Primitivo é uma uva muito comum no sul da Itália, mais precisamente na região de Puglia, também conhecida como o salto da bota. Ali, principalmente no IGP de Salento, e especialidade das regiões de Manduria e Gioia del Colle, ela passou de uma casta considerada secundária a uma das mais importantes variedades da região, dando origem a vinhos perfumados e encorpados que estão ganhando o mundo.

A vinícola Pugliese San Marzano foi uma das pioneiras no renascimento da Primitivo, em grande parte devido ao vinho San Marzano Sessant’Anni Primitivo di Manduria, que foi responsável por tornar a uva mais famosa e conhecida.

Um dos motivos dessa revolução é que a uva é perfeita para quem gosta de vinhos de estilo mais carnudo, concentrados e com bastante fruta, mas com acidez mais baixa e taninos leves. Enquanto em climas mais quentes os sabores predominantes são de frutas vermelhas, em regiões de climas mais frios se sobrepõem as frutas pretas e uva passa. Em Manduria, onde os vinhos de Primitivo são mais concentrados, também é comum encontrar a uva em corte com outra cepa regional, a Negroamaro.

Seu nome é uma referência à sua época de colheita. A Primitivo é uma uva precoce, o que significa que é a primeira casta tinta a ser colhida, em meados de agosto, enquanto as outras são colhidas em outubro. E, por isso, costumam ter bastante açúcar residual, o que significa um potencial de produzir vinhos com alto teor alcoólico.

Embora tenham sido encontradas rastros da cepa na Itália pelo menos desde o século XVIII, existem evidências que o vinho Primitivo tenha sido comercializado em Veneza nos anos 1400. No entanto, um estudo genético mostrou que suas raízes são, na verdade, croatas, onde ela é chamada de Tribidrag. E, para a surpresa de muitos enólogos, ela é geneticamente idêntica à outra uva, a Zinfandel, considerada por muito tempo como uma cepa originalmente californiana.

A história que se tem notícia é, em meados do século XIX, imigrantes europeus trouxeram mudas da uva para os Estados Unidos. E, chegando na Califórnia, ela se desenvolveu surpreendentemente, mostrando uma incrível adaptação natural ao terroir da região.

Quando os viticultores perceberam que mais ninguém no mundo plantava essa variedade, pensou-se que a Zinfandel fosse uma uva tipicamente indígena norte-americana. De fato, os vinhedos são os mais antigos do país, principalmente na região de Lodi, alguns deles chegando a mais de 100 anos de idade! Não à toa, seu cultivo rapidamente se espalhou por ter sido a primeira casta replantada após a praga Filoxera chegar à Califórnia.

Até então, o vinho tradicional produzido a partir dela era um rústico tinto seco de cor rubi intensa, com frutas marcantes, principalmente de compota de amora, framboesa e ameixa.

Foi no ano de 1972, no entanto, que a uva foi utilizada pela primeira vez para fazer um vinho rosé claro, resultado de um processo de vinificação que removia as cascas das uvas antes que elas ficassem em contato com o mosto. Este vinho, produzido até hoje com o nome de White Zinfandel é mais leve e doce do que se espera da casta.

Hoje, ela é considerada uma uva extremamente versátil da região americana, sendo utilizada para a produção de variedades muito diferentes de vinhos, do branco ou rosé claro aos tintos no estilo do vinho do Porto. Para se ter uma ideia, apenas 15% dos vinhos de Zinfandel californianos são tintos. Suas principais regiões produtoras nos EUA são as montanhas de Napa, Sonoma, Paso Robles e Sierra Foothills.

O vinho tinto da Primitivo é, geralmente, bem denso e frutado. Os aromas que mais se acentuam nele são os de frutas vermelhas e negras. Exemplares mais evoluídos já trazem algumas notas de especiarias doces. Na boca, mostra-se fácil de beber, com essa pitadinha de açúcar bem fácil de reconhecer e que também ajuda a "amaciar" o líquido.

E agora finalmente o vinho!

Na taça evidencia o vermelho rubi intenso, escuro, porém com halos granada, um tanto quanto atijolado, talvez pelo tempo de garrafa ou pela passagem por madeira, com lágrimas grossas, em profusão, que lentamente desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas bem maduras, quase em geleia, com destaque para framboesa, cereja e amora, talvez mirtilos, com notas discretas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem em barricas de carvalho, que entregam baunilha, tabaco, couro, um agradável mentolado e especiarias doces, sobressaindo um herbáceo.

Na boca revela bom corpo, estrutura média, persistente, cheio, volumoso, com muita complexidade, como no aspecto olfativo, trazendo a fruta vermelha madura, as notas amadeiradas mais evidentes, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com toques de chocolate e um residual de açúcar bem agradável, um dulçor que não incomoda, logo alcoólico, com taninos presentes, marcados, mas domados, com acidez vivaz, mas equilibrada. Final longo de retrogosto frutado.

Símbolo, tradição, reverência e tudo começa com incertezas, com questionamentos e a abnegação de seus produtores, de seu povo, fez e ainda faz da Primitivo uma casta de suma importância para a região de Puglia e Manduria. Vários nomes, nomenclaturas, mas uma só realidade: qualidade e tradição. Nero Reale Primitivo entregou plenamente as características, a essência de Puglia, de Manduria, a essência daquela palavra que se tornou sinônimo de vinho: terroir! Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Rocca:

A família Rocca trabalha no ramo de vinhos desde 1880, quando Francesco, o ancestral fundou a “Vinícola Rocca”, iniciando seus negócios históricos com vinho a granel. Em 1936, seu filho Ângelo aprimorou a produção de vinho e construiu uma adega em Nardò, Apúlia.

Na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Ângelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a marca Rocca. Em 2009, a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e produtivas.

Em 1999, apaixonado por Apúlia, ele comprou uma fazenda em Leverano, no coração de Salento. A tradição, a paixão por vinhos merecedores, juntamente com a dedicação à viticultura e à produção de vinho, foi fortemente afirmada pela Família durante essas cinco gerações.

A Companhia cresceu ao longo do tempo e desenvolveu uma abordagem internacional, prestando muita atenção às necessidades do mercado, mas sempre cuidando e respeitando o terroir e a tipicidade dos produtos.

Rocca é uma realidade dinâmica e flexível, ao mesmo tempo, extremamente ligada às suas raízes e hoje inclui uma fazenda de prestígio na Apúlia, uma vinícola moderna em Agrate Brianza, perto de Milão, e tem o controle da vinícola histórica Dezzani no Piemonte. Os vinhos Rocca são apreciados nos mercados mais exigentes em mais de 40 países do mundo.

Mais informações acesse:

https://roccavini.com/en/

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Blog Grand Cru”: https://blog.grandcru.com.br/conheca-a-primitivo-a-uva-que-e-considerada-a-ponte-entre-o-novo-e-o-velho-mundo-do-vinho/

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/

 

 

 

 


 








quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Conte di Campiano Appassimento Negroamaro 2016

 

Tenho desbravado, de forma incansável, “novos mundos” no universo do vinho! Ah como é vasto, há muito a se descobrir nessa galáxia selvagem e intocada. E diante de tantas castas novas, regiões improváveis, terroirs únicos, produtores “undergrounds”, há ainda espaço para novas e gratas descobertas e dentre elas os métodos e processos de vinificação, por exemplo.

Embora pareça e de certa forma é, algo meio técnico e que requer, para entendimento, de pessoas tarimbadas, com expertise para tal, os humildes e mortais enófilos, como eu, tem um aliado importante como a internet, a grande rede, que nos permite ter acesso a inúmeras informações que, independentemente de ser ou não fidedignas, podem nos inundar de u arcabouço teórico satisfatório para ao menos entender minimamente alguns processos que, evidentemente, impactam na degustação do nosso vinho de cada dia.

E a degustação de hoje promete! A degustação de hoje trará um processo de vinificação novo para mim, embora já tenha visto o nome estampado em alguns rótulos que, confesso, são bem caros, pelo menos para mim: APPASSIMENTO, “pacificação” traduzindo livremente para o português. O termo é italiano, pois nasceu nas terras férteis da Itália.

E falando em valores caros esse, em especial, eu encontrei, claro, em um supermercado na faixa dos R$75,00 e, comparando com os valores praticados no mercado, de vinhos com essa proposta, definitivamente esse era o vinho a ser adquirido.

E a casta não deixa de ser um tanto quanto atípica também, falo da Negroamaro. Embora muito popular nas terras italianas, sobretudo em Puglia, a mesma ainda não está tão massificada no Brasil, como a Sangiovese e a Primitivo, por exemplo. Então as novidades serão grandes e espero saborosas.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região italiana de Puglia e se chama Conte di Campiano da casta Negroamaro, um “appassimento” da safra 2016.

E aqui cabe uma história, no mínimo pitoresca e poética acerca do nome que ostenta o vinho e que foi extraído da página na internet do produtor:

“Há muito tempo, um Conde de terras muito distantes viajou em seu belo corcel pelas terras de Val Tramigna e subiu ao planalto de Monte Crocetta. O Conde sentou-se numa pedra para descansar um pouco e por acaso notou que a paisagem dali era esplêndida. A luz do dia acariciava as colinas, banhava o perfil de um castelo, os telhados inclinados das pequenas e escuras casas, os caminhos brancos e os terrenos cultivados, e dispersava-se no vento leve que alcançava a quietude do céu. A paisagem, o leve cheiro de mosto que lhe chegava às narinas, a serenidade que sentia naquele momento, sugeriam que encontrasse naquelas terras a sua morada definitiva. E foi assim que a partir desse dia para os locais ele ficou conhecido como o CONDE DE CAMPIANO...”

E já que começamos com história, sigamos com ela, falando sobre a região de Puglia, o processo de “appassimento” e também um breve histórico da excelente Negroamaro.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.

Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. O Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).

DOs Puglia

Appassimento: Passificação

Produtores das mais variadas regiões vinícolas, no Velho e Novo Mundo, lançam mão de um processo natural de desidratação parcial das uvas, chamado de pacificação, appassimento, em italiano.

O objetivo é atingir um nível mais alto de açúcar, assim como maior concentração de aromas, cores e sabores, além de acrescentar uma tipicidade indefectível a seus vinhos.

A passificação adiciona mais um estágio, de desidratação, no processo que define a vitivinicultura destas regiões: terminada a colheita, há ainda o tempo de ressequir.

Passito

Diante da atual valorização da “mínima intervenção humana” no cultivo das vinhas e na produção do vinho, o processo de appassimento – cuja tradição antecede o colapso do Império Romano, não deveria ser interpretado senão como mera decisão humana pelo prosseguimento do ciclo natural da fruta.

A passificação das uvas é normalmente iniciada após a colheita, e antecede o desengace, o esmagamento e a prensagem das uvas: os cachos são levados a salas arejadas e são depositados em suportes de madeira onde podem ficar secando por até 120 dias.

História

A técnica de passificação das uvas não é algo utilizado há muitos anos. Há registros que, desde o primeiro século depois de Cristo, os romanos deixavam que os frutos secassem para que perdessem líquido e concentrassem seu dulçor.

Entretanto, os vinhos passito, da forma como conhecemos, só surgiram recentemente, na região italiana da Valpolicella – e por um acidente. Reza a lenda que, no início do século XX, um barril de vinhos Recioto della Valpolicella (que tem por característica o sabor doce) teria sido esquecido dentro da adega.

Ao abri-lo para conferir seu conteúdo, os produtores se depararam com uma bebida mais seca, alcoólica e meio amarga. A partir daí, começaram a buscar pelo melhor método para tentar repetir o feito.

Atualmente o método ainda preserva sua forma tradicional, mas com algumas inovações. As uvas são colhidas no tempo certo de maturação e colocadas em esteiras ou penduradas em varais para secar durante os meses de outono. Assim, os cachos perdem cerca de 30% de água, concentrando açúcares e muito sabor.

No passado, as uvas eram penduradas de cabeça para baixo nos tetos dos celeiros ou das casas. Hoje, elas ficam em esteiras de palha ou de bambu em salas específicas projetadas para isso. Para evitar que os cachos se deteriorem, a circulação do ar é fundamental.

O processo de appassimento é regulamentado pelo Consorzio Tutela Vini Valpolicella, com regras e exigências rígidas. Os vinhos elaborados com essa técnica, o Recioto e o Amarone, vêm de Valpolicella, no Vêneto. As uvas utilizadas são Corvina, Rondinella e Molinara.

Além da Itália, algumas vinícolas dos Estados Unidos têm implementando o appassimento como técnica de vinificação. Mas ainda de forma experimental.

Negroamaro

A uva tinta Negroamaro tem acidez moderada e coloração densa. Seu nome é a união de “black”, que em inglês significa “preto” e de “amaro”, que em italiano quer dizer “amargo”. Essa variedade de uva garante taninos médios e macios aos vinhos que origina, assim como aromas que remetem à canela, cravo e pimenta da Jamaica.

Antigamente, a Negroamaro era utilizada para dar cor aos vinhos produzidos no norte da Itália, hoje, essa uva origina vinhos tintos profundos, intensos e de coloração arroxeada. Nativa da Península Salentida, a tinta Negroamaro é amplamente cultivada na região da Puglia, importante área vinícola italiana. A fim de garantir maior complexidade de aroma e paladar aos vinhos, a uva Negroamaro é frequentemente utilizada em blend com as uvas Malvasia, Nera, Montepulciano e Sangiovese.

O clima quente, com médias anuais elevadas, favorece o cultivo da uva Negroamaro, garantindo à fruta excelente grau de maturação. Adaptando-se facilmente à escassez de chuvas – comum em locais de clima mediterrâneo – a Negroamaro pode ser encontrada também em vinhedos dos Estados Unidos e Austrália, em regiões que apresentam condições climáticas similares às da região da Puglia. A uva Negroamaro pode ser encontrada com diferentes grafias, entre as quais estão Negro Amaro ou Neroamaro.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, profundo, mas com reflexos granadas, talvez pelo tempo de vida do vinho, com seis anos, lágrimas em profusão, lentas e grossas.

No nariz traz aromas medianos de frutas vermelhas bem maduras, onde se destacam groselha, cereja e algo de ameixa cozida, com toques de especiarias e discretas notas de baunilha.

Na boca é seco e estruturado, alguma complexidade, bom volume de boca, garantido pelo alto teor alcoólico, mas bem integrado as notas frutadas, que se revela discreta, como no aspecto olfativo, além de um curioso toque de uva passa. Tem taninos maduros, mas macios, com acidez média e um final persistente com algo de chocolate e avelãs.

Potente, único, expressivo, definitivamente um vinho de caráter, mas elegante, graças aos seus 6 anos de garrafa. Um vinho que trouxe as gratas novidades de um universo tão sedutor e inexplorado do vinho e que se abre diante dos meus olhos e inunda a minha taça de forma avassaladora. Um vinho para se guardar na memória, um vinho para abrir o mundo do “appassimento” e da Itália que teima em insistir em nos surpreender positivamente. Avante com mais e mais vinhos da velha bota. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Conte di Campiano:

Há muito tempo, um Conde de terras muito distantes viajou em seu belo corcel pelas terras de Val Tramigna e subiu ao planalto de Monte Crocetta.

O Conde sentou-se numa pedra para descansar um pouco e por acaso notou que a paisagem dali era esplêndida.

A luz do dia acariciava as colinas, banhava o perfil de um castelo, os telhados inclinados das pequenas e escuras casas, os caminhos brancos e os terrenos cultivados, e dispersava-se no vento leve que alcançava a quietude do céu.

A paisagem, o leve cheiro de mosto que lhe chegava às narinas, a serenidade que sentia naquele momento, sugeriam que encontrasse naquelas terras a sua morada definitiva.

E foi assim que a partir desse dia para os locais ele ficou conhecido como o CONDE DE CAMPIANO...

Mais informações acesse:

https://www.contedicampiano.com/it

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Wineshop”: https://www.wineshop.it/it/blog/appassimento-delle-uve-significato-e-tecniche.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/passificacao-o-que-e-o-processo-que-da-mais-aroma-e-sabor-ao-vinho_13092.html

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/08/voce-ja-ouviu-falar-em-appassimento/

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/appassimento-vinho/#:~:text=Afinal%2C%20o%20que%20%C3%A9%20%E2%80%9Cappassimento,de%20serem%20levadas%20%C3%A0%20prensagem

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/negroamaro

 

 

    










domingo, 6 de junho de 2021

Grifone Sangiovese 2018

 

O que vem a cabeça quando falamos dos vinhos italianos, da cultura vitivinícola italiana? Na realidade muita coisa, muitas castas, muitos tradicionais rótulos e regiões vêm à mente, mas não há como não se lembrar da Sangiovese! Um enófilo que se preze não pode passar pela vida e degustar um rótulo que leve a Sangiovese, seja no clássico Brunello de Montalcino, nos grandes Chiantis ou aqueles vinhos mais jovens e diretos que traz um aroma frutado, perfumado.

Não há dúvida de que temos várias outras cepas importantes que faz da Itália um polo importante da história mundial do vinho, mas a Sangiovese é um “produto” de exportação do país para todo o planeta, não há como dissocia-los. Em todos os cantos da Itália a Sangiovese figura, mas é na Toscana que ela reina absoluta. Mas foi em outra emblemática região italiana, terra das castas Negroamaro e Primitivo, que eu decidi degustar o meu primeiro rótulo da Sangiovese: Puglia ou Apúlia.

E nada foi pensado, nada foi milimetricamente refletido para chegar a esse rótulo da tradicional e centenária família Castellani. Estava eu, mais uma vez, fazendo as minhas incursões pelos supermercados e, olhando despretensiosamente as gôndolas dos vinhos, sem muita expectativa de encontrar um rótulo atraente, sobretudo no quesito custo X benefício, quando avistei um rótulo vermelho, mas discreto e austero remetendo as tradições italianas e, quando tive a garrafa em minhas mãos, observei que era um Sangiovese italiano da região de Puglia.

Logo pensei: Deve ser caro, afinal um famoso Sangiovese da Velha Bota, deve doer ao bolso, mas, talvez com um pouco de esperança decidi averiguar o preço, que no primeiro olhar, tive dificuldades de encontrar. Localizei e quando olhei com mais detalhe percebi o excelente valor de R$ 29,90! Certamente estava na promoção e me senti na obrigação de fazer a aquisição. Sem contar que, ainda no local, descobri que se tratava de um rótulo da Castellani o que facilitou, ainda mais, pois já havia degustado um vinho do referido produtor da famosa linha Ziobaffa, o Ziobaffa Sangiovese e Syrah da safra 2015, entre outros rótulos que abrilhantam a minha humilde adega que, espero em breve, ter o prazer de degusta-los.

O vinho que degustei e gostei, como disse, veio da excelente região de Puglia e se chama Grifone, da casta Sangiovese (100%) da safra 2018. E para não perder o ritmo, já que mencionei Puglia e Sangiovese, região e casta que compõe esse surpreendente e belo vinho, falemos um pouco da história de ambos.

Sangiovese: a rainha italiana

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento.

Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos.

Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos.

A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

os vinhos produzidos com a Sangiovese são tintos, com estrutura tânica de média a forte e corpo médio.

A uva Sangiovese também é conhecida por proporcionar uma boa expressão de frutas (como morangos, mirtilo, ameixas e cerejas, por exemplo), especiarias e notas herbáceas e nos grandes vinhos envelhecidos a baunilha e o tabaco. Possuem acidez elevada, equilíbrio e os taninos firmes garantem um final elegante ao sabor.

Puglia: Uma das gigantes da Itália

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia, Itália

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

Puglia DO

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos. Uma cor muito brilhante, reluzente e vívido, com média concentração de lágrimas, mas que demora a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz um “mix” de frutas vermelhas maduras e frutas pretas tais como framboesa, cereja, ameixa, além das especiarias, o toque da pimenta, algo picante, diria.

Na boca é seco, de leve para médio, a personalidade da Sangiovese, mesmo com uma proposta jovem se faz presente, graças aos toques de couro, ouso dizer até de tabaco, aquela participação rústica típica da cepa, com a reprodução das notas frutadas percebidas no aspecto olfativo, com taninos discretos, macios, com uma alta acidez. Um final de média persistência.

Na terra da Primitivo e Negroamaro a Sangiovese também se revelou neste belíssimo e surpreendente rótulo. Puglia ainda é capaz de me entregar grandes surpresas, grandes rótulos e eternas e doces novidades. Um terroir digno de reverências e que entrega a Sangiovese um mix muito interessante de frutas vermelhas, pretas e silvestres, com notáveis toques de especiarias, de pimenta, um discreto toque terroso, que faz deste exemplar de Sangiovese da região de Puglia, das minhas preferidas da Itália, um vinho de personalidade marcante, mas muito macio e fácil de degustar. Um clássico Sangiovese italiano, que traz toda a tipicidade de suas terras, mas que traz também um conceito bem contemporâneo de um vinho jovem, informal e despretensioso. Belo vinho com a cara e o DNA da Itália. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana. 

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/

“ViaVini”: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/uva-sangiovese-conheca-os-segredos-da-rainha-dos-vinhos-italianos/