Deixam de ser novidade sim, mas não deixam de ter o encanto,
não deixam de ter gratas novidades sempre que degustamos um novo rótulo. A
minha percepção sempre muda, ou melhor, sempre agrega novidades quando degusto
aquele vinho que, a princípio, possa apresentar similaridades ou coisa do tipo.
Nunca será o mesmo, independente de ser do mesmo produtor, da
mesma casta ou de blends parecidos, nunca serão os mesmos! A safra entrega um
período climático diferente, dias mais quentes, mais frios e isso influencia,
claro, diretamente no comportamento da variedade.
Safras, castas, regiões, novidades, o que deixou de ser
novidade... O que estou querendo dizer com isso? Digo que graças a um produtor,
castas e regiões, que jamais sabia da existência de descortinou diante dos meus
olhos! Falo da Adega de Cantanhede que me revelou castas como a Baga, por
exemplo, e regiões como o Beira Atlântico que jamais pensei em conhecer e que
não goza de tanta popularidade em terras brasileiras. Ah e sem deixar de falar
da Bairrada, mais famosa, que está no centro, no coração do Beira Atlântico.
Regiões que trouxeram e trazem grandes vinhos, surpreendentes
relações qualidade x preço ou custo x benefício, um forte apelo regionalista
com castas, variedades extremamente populares nessas regiões e em toda
Portugal.
E, mais uma vez, sinto-me feliz, privilegiado por ser
submetido a mais uma experiência sensorial com os vinhos do Beira Atlântico e
com as principais castas que lá são produzidas e a Baga, como na Bairrada,
reina absoluta, e apresenta longevidade aos vinhos e um caráter totalmente
inusitado, pouco ortodoxo, graças as suas características, aos rótulos,
tornando-a especial.
Então já que falei da Adega de Cantanhede e do Beira
Atlântico, sinaliza-se mais uma nova experiência com um rótulo que já não é
novidade, mas que me trouxe muitas alegrias com os seus brancos, o Moinho de Sula Colheita Selecionada 2017 e o Moinho de Sula Reserva Arinto 2017 e desta
vez será um tinto.
O vinho que degustei e gostei vem, claro, do Beira Atlântico,
de Portugal, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada composto pelas
castas Baga (50%), Touriga Nacional (30%) e Castelão (20%) da safra 2016. Então
antes de tecer os comentários sobre o vinho falemos um pouco da região do Beira
Atlântico e da casta que brilha por lá: Baga.
Beira Atlântico
A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos,
fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares
antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D.
João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção
para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e
econômica.
A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso
Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de
ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a
Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e
multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque
e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC
"Bairrada".
Beira Atlântico
Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os
terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com
frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de
natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os
Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior
frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.
A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra,
delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras
do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia
maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de
altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima
temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e
temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os
terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem
diversos consoantes à predominância de cada elemento.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição
indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.
Baga
A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é
capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Conhecida também
como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, a Baga demonstra muita
classe e estrutura, sendo única no seu valor e possui um fantástico potencial
de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua
fabricação.
A uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade,
dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo
na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais
prestigiadas regiões produtoras de Portugal. Além de refinados e inimitáveis,
os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e
distinção.
No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na
produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca
concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o
“revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva
Baga foi “domesticada”. Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta
desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada.
Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a
variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.
O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o
amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos
argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de
cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz
preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo
complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos
concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.
A uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas
portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada
no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita
personalidade, altamente interessantes e únicos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com alguns
reflexos violáceos e com um discreto atijolado denotando tempo de garrafa, além
de lágrimas finas e em profusão.
No nariz intenso para frutas vermelhas bem maduras, com as
notas amadeiradas em perfeita sinergia, com toques de especiarias, de baunilha,
de couro, tabaco e ainda um leve tostado, graças aos 6 meses de passagem por
barricas de carvalho, garantindo-lhe também alguma complexidade.
Na boca revela média estrutura, porém é macio e elegante,
afinal o tempo e a passagem por barrica trouxeram equilíbrio ao vinho, além de
um defumado e toque terroso e de pimenta. É alcoólico, o que o torna cheio,
volumoso, tem taninos vivos, mas polidos, com acidez quase que imperceptível.
Final persistente, prolongado.
Quando degustei este vinho, com seus seis anos de vida,
graças a capacidade de longevidade da Baga, que predomina neste blend, observei
que a novidade não está definida, entendida, na primeira vez, mas a cada
momento. Cada momento é novo, pois traz singularidades, traz nuances diferentes
e únicas. O Moinho de Sula Colheita Selecionada a mim entregou tudo o que eu
venho buscando atualmente em meus garimpos por novas experiências: apelo
regionalista, vinhos com caráter, expressividade, simplicidade, novas regiões.
A Adega de Cantanhede me proporcionou e ainda proporciona parte disso ou tudo
isso e o mais importante: trazendo todas essas experiências com valores
possíveis, justos e com qualidade. O Moinho de Sula Colheita Selecionada tinto
está entre as mais novas experiências importantes pelas quais venho sendo
docemente impactado. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na
Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e
Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e
singularidade que este património confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde –
França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por
diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses
concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em
2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ –
Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas.
Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes
pela imprensa especializada.
Mais informações acesse:
https://www.cantanhede.com/
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga
“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/