O natal é um ótimo período do ano para harmonizar vinhos! São
tantas opções, são tantos pratos, dos mais diversos que você pode escolher
vinhos de todas as propostas: dos mais doces aos mais encorpados, dos secos aos
frutados. A lista é grande! Porém, contudo, entretanto, todavia, a diversidade
é tamanha que às vezes geram dúvidas e questionamentos quanto às famosas
harmonizações enogastronômicas.
Digo isso porque, confesso não ser muito bom nas
harmonizações, o mínimo que sei são as harmonizações com os queijos e olha lá,
fazendo, muita das vezes, com o apoio de informações coletadas na grande rede.
Quando chega o período natalino e de ano novo é sempre aquele
dilema, aquela dúvida recorrente de qual vinho escolher para harmonizar com
essa infinidade de comidas que a nossa mãe ou a nossa avó, exageradas como são,
faz e entope as mesas faltando espaço na maior parte das vezes, na mesa e na
barriga também.
Depois de alguns erros, equívocos da minha parte, ao escolher
determinados rótulos, e digo isso não porque há algo estabelecido por
formadores de opinião que determina que o prato “A” é perfeito para o vinho “B”,
pois sempre escolhi os vinhos que achavam ser interessante para alguns pratos
natalinos, eu encontrei um denominador comum, um vinho versátil, um coringa
para essas ocasiões festivas. E bingo! Foram os rótulos da casta Pinot Noir.
Pinot Noir, uma casta frutada, delicada, leve tem tudo a ver,
pelo menos para mim, com o período natalino, a começar pelo tempo: No natal
estamos no verão e nada mais adequado degustar um Pinot Noir mais refrescado,
até geladinho. É interessante também com os tradicionais pratos, como: Peru,
Chester, as aves, carne branca. Essa conclusão eu cheguei, modéstia à parte,
sozinho, com todo respeito aos profissionais da área, como os somelliers, tão
importantes nessa hora.
Então naquele natal de 2019, olhei para a adega sem a dúvida
dos natais passados, com aquele pergunta cheia de drama e dilema: Que vinho
degustar nesse natal? Resolvi olhar com mais carinho para os Pinots!
E escolhi um nacional, de uma região que naquela época, pelo
menos para mim, era nova do Rio Grande do Sul, mais precisamente da cidade de
Campos de Cima da Serra. O vinho que degustei e gostei se chama Fazenda Santa
Rita e a casta é a Pinot Noir da safra 2017. Tudo era novo: a região, o rótulo
que eu havia conhecido em um evento de degustação famoso, então o momento foi
singular.
Então já que falei de novidades, vamos contar um pouco a
história de Campos de Cima da Serra e do crescimento exponencial dessa região
para o cenário vitivinícola do Brasil e depois o vinho e as minhas impressões
que foram das melhores possíveis.
Campos de Cima da Serra
Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à
sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o
clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de
grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa
temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em
diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as
uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que
se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes
rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.
A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é
recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde
2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem
indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de
crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos
Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs,
sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua
mesa!", um slogan bem conhecido localmente.
Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um
pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos
vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e
bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).
Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a
temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de
2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a
região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da
Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente,
dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!
Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas
tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma
maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de
15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom
equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.
Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido
bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais
cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de
melhor potencial de qualidade, a Viognier.
As videiras estão situadas principalmente em três municípios:
Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e
Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes)são muito cultivadas na
região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das
baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam
mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do
outono.
Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra
aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a
diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por
sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a
contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos
consumidores.
E agora o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi de pouca intensidade, típico
dos vinhos da casta Pinot Noir, mas com um excepcional brilho, que exaltam os
tons violáceos com algumas poucas finas e lágrimas que logo se dissipavam das
paredes do copo.
No nariz a predominância das frutas faz do vinho leve, fresco,
mas intenso, marcante, graças a essa qualidade aromática, predominando as notas
de morango, framboesa e aquele toque floral, de flores vermelhas.
Na boca é um vinho leve, fresco, equilibrado, delicado,
elegante, as notas frutadas se repetem, com uma excelente e instigante acidez
que corrobora a sua condição de frescor, com taninos redondos e domados, quase
imperceptíveis, com um final frutado e prolongado.
Um vinho harmônico, saboroso, que enche a boca, mas que se
revela delicado e muito elegante como todo e qualquer rótulo que ostente a
casta Pinot Noir. Um vinho de excelente custo x benefício, especial, que caiu
como uma luva nas harmonizações natalinas. Consegui degustar tudo com um único
vinho e ficou maravilhoso, fantástico. Um vinho versátil e delicioso. Que venham
vários natais e vários Pinots celebrando esse momento familiar e celebrando
também a degustação de grandes rótulos. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a vinícola Família Lemos de Almeida
“Somos Raízes, somos
Família. Enaltecendo nossas origens lusitanas, agora somos a Vinícola Família
Lemos de Almeida. Na cidade de Muitos Capões, estruturados em uma encantadora
Vila Açoriana, atuamos com excelência na produção de vinhos finos de castas
francesas e portuguesas”.
Foi em 2005, vislumbrando o terroir da região, favorável
devido ao solo e clima, que iniciaram a implantação da infraestrutura para
produção de uvas. No ano de 2009, plantaram as primeiras mudas de origem
Francesa, que deram início à primeira vinificação em 2012.
Conduzida pelo seu fundador e proprietário, Agamenon Lemos de
Almeida, juntamente com a filha Bibiana Lemos de Almeida, a Vinícola mantém sua
característica de propriedade familiar. Única vinícola com características
açorianas no Brasil, a Família Lemos de Almeida aposta na inovação. Focada no
enoturismo, e instalada em uma encantadora Vila Açoriana celebra a arte, a
arquitetura, a história e a cultura açorianas e recebe seus visitantes em uma
área de 12 hectares onde são cultivadas variedades de uvas francesas e
portuguesas.
Hoje, a Vinícola Família Lemos de Almeida, produz 100% dos
seus vinhos a partir de vinhedos próprios e atinge 100 mil garrafas por ano,
tornando-se notória pela premiada qualidade.
Mais informações acesse:
http://www.familialemosdealmeida.com.br/
Referências:
“Enovirtua”: https://www.enovirtua.com/enoturismo/vinicola-fazenda-santa-rita/
“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/
“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra