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sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017

 

O natal é um ótimo período do ano para harmonizar vinhos! São tantas opções, são tantos pratos, dos mais diversos que você pode escolher vinhos de todas as propostas: dos mais doces aos mais encorpados, dos secos aos frutados. A lista é grande! Porém, contudo, entretanto, todavia, a diversidade é tamanha que às vezes geram dúvidas e questionamentos quanto às famosas harmonizações enogastronômicas.

Digo isso porque, confesso não ser muito bom nas harmonizações, o mínimo que sei são as harmonizações com os queijos e olha lá, fazendo, muita das vezes, com o apoio de informações coletadas na grande rede.

Quando chega o período natalino e de ano novo é sempre aquele dilema, aquela dúvida recorrente de qual vinho escolher para harmonizar com essa infinidade de comidas que a nossa mãe ou a nossa avó, exageradas como são, faz e entope as mesas faltando espaço na maior parte das vezes, na mesa e na barriga também.

Depois de alguns erros, equívocos da minha parte, ao escolher determinados rótulos, e digo isso não porque há algo estabelecido por formadores de opinião que determina que o prato “A” é perfeito para o vinho “B”, pois sempre escolhi os vinhos que achavam ser interessante para alguns pratos natalinos, eu encontrei um denominador comum, um vinho versátil, um coringa para essas ocasiões festivas. E bingo! Foram os rótulos da casta Pinot Noir.

Pinot Noir, uma casta frutada, delicada, leve tem tudo a ver, pelo menos para mim, com o período natalino, a começar pelo tempo: No natal estamos no verão e nada mais adequado degustar um Pinot Noir mais refrescado, até geladinho. É interessante também com os tradicionais pratos, como: Peru, Chester, as aves, carne branca. Essa conclusão eu cheguei, modéstia à parte, sozinho, com todo respeito aos profissionais da área, como os somelliers, tão importantes nessa hora.

Então naquele natal de 2019, olhei para a adega sem a dúvida dos natais passados, com aquele pergunta cheia de drama e dilema: Que vinho degustar nesse natal? Resolvi olhar com mais carinho para os Pinots!

E escolhi um nacional, de uma região que naquela época, pelo menos para mim, era nova do Rio Grande do Sul, mais precisamente da cidade de Campos de Cima da Serra. O vinho que degustei e gostei se chama Fazenda Santa Rita e a casta é a Pinot Noir da safra 2017. Tudo era novo: a região, o rótulo que eu havia conhecido em um evento de degustação famoso, então o momento foi singular.

Então já que falei de novidades, vamos contar um pouco a história de Campos de Cima da Serra e do crescimento exponencial dessa região para o cenário vitivinícola do Brasil e depois o vinho e as minhas impressões que foram das melhores possíveis.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes)são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi de pouca intensidade, típico dos vinhos da casta Pinot Noir, mas com um excepcional brilho, que exaltam os tons violáceos com algumas poucas finas e lágrimas que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz a predominância das frutas faz do vinho leve, fresco, mas intenso, marcante, graças a essa qualidade aromática, predominando as notas de morango, framboesa e aquele toque floral, de flores vermelhas.

Na boca é um vinho leve, fresco, equilibrado, delicado, elegante, as notas frutadas se repetem, com uma excelente e instigante acidez que corrobora a sua condição de frescor, com taninos redondos e domados, quase imperceptíveis, com um final frutado e prolongado.

Um vinho harmônico, saboroso, que enche a boca, mas que se revela delicado e muito elegante como todo e qualquer rótulo que ostente a casta Pinot Noir. Um vinho de excelente custo x benefício, especial, que caiu como uma luva nas harmonizações natalinas. Consegui degustar tudo com um único vinho e ficou maravilhoso, fantástico. Um vinho versátil e delicioso. Que venham vários natais e vários Pinots celebrando esse momento familiar e celebrando também a degustação de grandes rótulos. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Família Lemos de Almeida

“Somos Raízes, somos Família. Enaltecendo nossas origens lusitanas, agora somos a Vinícola Família Lemos de Almeida. Na cidade de Muitos Capões, estruturados em uma encantadora Vila Açoriana, atuamos com excelência na produção de vinhos finos de castas francesas e portuguesas”.

Foi em 2005, vislumbrando o terroir da região, favorável devido ao solo e clima, que iniciaram a implantação da infraestrutura para produção de uvas. No ano de 2009, plantaram as primeiras mudas de origem Francesa, que deram início à primeira vinificação em 2012.

Conduzida pelo seu fundador e proprietário, Agamenon Lemos de Almeida, juntamente com a filha Bibiana Lemos de Almeida, a Vinícola mantém sua característica de propriedade familiar. Única vinícola com características açorianas no Brasil, a Família Lemos de Almeida aposta na inovação. Focada no enoturismo, e instalada em uma encantadora Vila Açoriana celebra a arte, a arquitetura, a história e a cultura açorianas e recebe seus visitantes em uma área de 12 hectares onde são cultivadas variedades de uvas francesas e portuguesas.

Hoje, a Vinícola Família Lemos de Almeida, produz 100% dos seus vinhos a partir de vinhedos próprios e atinge 100 mil garrafas por ano, tornando-se notória pela premiada qualidade.

Mais informações acesse:

http://www.familialemosdealmeida.com.br/