Os vinhos verdes, na sua concepção mais tradicional, mais
difundida, ou seja, na sua proposta mais leve, com aquele típico frescor e a
famosa “agulha” e a informalidade, definitivamente caiu no gosto dos
brasileiros. São vinhos que tem tudo a ver com as características tropicais e o
nosso verão, está inserido em nossa cultura, em nosso DNA. Juntamente com os
alentejanos, os vinhos da emblemática e famosa região dos Vinhos Verdes são os
que mais vendem no Brasil, não há como questionar a sua popularidade em terras
tupiniquins. Atualmente, para trazer diversidade e até sofisticação aos vinhos
verdes, encontramos rótulos mais complexos, com passagens por barricas de
carvalho e tudo o mais. Há quem diga que existe uma preocupação da instituição
que rege, cuida e certifica os vinhos verdes quanto a má associação dos frescos
vinhos verdes e os seus preços atrativos com má qualidade o que é um verdadeiro
absurdo, afinal propostas precisam ser respeitadas e os tais vinhos verdes mais
complexos também precisam ser entendidos e recebidos com mais uma proposta.
Melhor do que a proposta, do que o frescor ou ainda da
complexidade dos mais diversos rótulos que abrilhantam esse rico terroir
lusitano é o forte apelo regionalista que acompanham seus vinhos. É
inacreditável que, mesmo não ter colocado os pés na região dos Vinhos Verdes,
quando você inunda desses líquidos a sua taça, você tem a nítida sensação de
que está degustando um típico vinho verde, claro, primeiramente por suas
características marcantes o que, claro, define seu terroir, sua tipicidade, mas
pelas suas sub-regiões, suas castas autóctones e pouco conhecidas, na maioria
dos casos.
As expressões sensoriais parecem te transportar a região, te faz trafegar por cada viela, cada canto de toda a região, se sente familiar a cultura, a região, ao seu povo, o vinho é muito mais do que a degustação, é apreciar a cultura, a história, viva e pulsante, de um povo ávido pelo vinho, o vinho como identidade, como referência. Falo com tanto fervor e entusiasmo porque vinho verde faz parte de minha história enófila há pelo menos 20 anos! E apesar do Brasil ser um consumidor de vinhos verdes, tais rótulos chegam caros em nossas gôndolas de supermercado. Altos impostos, custo Brasil, tudo implica, mas ainda há esperanças, pois encontramos alguns bons vinhos verdes com preços bem convidativos por aí.
Eu tive a sorte de encontrar um e, como sempre sem querer, da forma mais inesperada possível! Estava eu fazendo a minha costumeira compra de vinhos e me dirigindo para o local de pagamento quando avistei, em um lugar de destaque um vinho verde rosé, que também não é sempre, com o surpreendente valor de R$ 19,00! Não tive dúvidas em tomar uma garrafa em minhas mãos e, apesar de não constar nenhuma informação relevante como safra e castas, decidi arriscar e levar um rótulo. Mas, para não ficar no escuro, encontrei o site do produtor e pedi informações do vinho. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região dos Vinhos Verdes e se chama Moura Basto, um vinho verde rosé, DOC, não safrado com um inusitado blend das castas Espadeiro (50%), Borraçal (30%) e Padeiro (20%). A vinícola, Caves Moura Basto, está situada na sub-região de Amarante o que deduz que esse rótulo é oriundo dessa região interiorana. Falemos de Vinhos Verdes, Amarante e dessas regionais castas pouco conhecidas do grande público.
Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho
Originariamente demarcada a 18 de Setembro de 1908, a Região
Demarcada dos Vinhos Verdes estende-se por todo o noroeste de Portugal, na zona
tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho. Tem como limites a Norte o
rio Minho, que estabelece parte da fronteira com a Espanha, a Sul o rio Douro e
as serras da Freita, Arada e Montemuro, a este as serras da Peneda, Gerês,
Cabreira e Marão e a Oeste o Oceano Atlântico. Em termos de área geográfica é a
maior Região Demarcada Portuguesa, e uma das maiores da Europa.
As condições naturais desta Região são as ideais para a
produção de excelentes vinhos brancos, assim como espumantes e aguardentes. Os
espumantes de Vinho Verde têm revelado uma qualidade surpreendente, ao que não
será alheio o fato da Região produzir grandes vinhos que, pela sua frescura
natural e baixo teor alcoólico, mostram enorme potencial para produção de bons
espumantes. Já o teor em acidez natural dos bagaços e vinhos da Região, bem
como as suas características organolépticas, mostram condições técnicas
excelentes para a produção de grandes aguardentes bagaceiras, a partir da
destilação dos bagaços, e de excelentes aguardentes de vinho, fruto da
destilação dos vinhos.
Orograficamente, a região apresenta-se como "um vasto
anfiteatro que, da orla marítima, se eleva gradualmente para o interior"
(Amorim Girão), expondo toda a área à influência do oceano Atlântico, fenômeno
reforçado pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de
nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. Esta
influência atlântica, os solos na sua maioria de origem granítica, o clima
ameno e elevada precipitação, traduzem-se na frescura, leveza e elegância dos
vinhos desta região.
Sub-região de Amarante
Integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses. Localizada
no interior da Região, a sub-região de Amarante encontra-se protegida da
influência do Atlântico e a uma altitude média elevada, pelo que as amplitudes
térmicas são superiores à média da Região e o Verão mais quente. Estas
condições favorecem o desenvolvimento de algumas castas de maturação mais
tardia: Azal e Avesso (brancas), Amaral e Espadeiro (tintas). O solo é
granítico, tal como na maior parte da Região. Os vinhos brancos apresentam
habitualmente aromas frutados e um título alcoométrico superior à média da
Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região de Amarante, uma vez que
as condições edafo-climáticas referidas favorecem uma boa maturação das uvas,
sobretudo da casta Vinhão, o que permite obter vinhos com cor carregada e muito
viva, apreciada pelo consumidor regional.
As castas
Espadeiro
A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar
origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem,
também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole.
No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva
Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades
completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos
arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é um casta que apresenta
boa resistência ao ataque de pragas e doenças.
A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região
vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva
tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os
principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como
toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.
Borraçal
Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos
vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois
é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem
muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além
da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa,
com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica. É uma
casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também
lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho
Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por
Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.
Padeiro
Casta de pouca expansão na região dos Vinhos Verdes, sendo
cultivada particularmente na sub-região de Basto, aparecendo também nas
sub-regiões do Ave e do Cávado, tendo aqui como sinónimos “Tinto Matias”,
“Tinta Cão” ou ainda “D. Pedro”. Casta de vigor médio e pouco rústica. Com um
índice de fertilidade médio, com uma a duas inflorescências por ramo, dá cachos
grandes e frouxos, o que torna esta casta muito produtiva. Pouco sensível à
podridão dos cachos, mas sensível ao stress hídrico. Produzem mostos
naturalmente ricos em açúcares e pouco ácidos, dando vinhos de cor vermelha
rubi a granada, de aroma e sabor à casta que lembram frutos vermelhos (morango
e framboesa) e na boca revelam-se harmoniosos e saborosos. Utilizada em vinhos
tintos de lote e em rosados estremes.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um lindo rosado claro, límpido,
transparente, um rosé salmão, mas muito brilhante.
No nariz é uma explosão aromática de frutas frescas, frutas
vermelhas como melancia, framboesa e morango, nota-se também maçã, um toque
floral que entrega delicadeza, entrega frescor e jovialidade.
Na boca é leve, elegante, extremamente saboroso, um vinho
muito frutado também no paladar, reproduzindo as impressões olfativas, enche a
boca com seu frescor, bem marcante, com um discreto adocicado, sem ser
enjoativo, uma boa acidez e um final longo e persistente.
A cada rótulo que degustamos de um vinho verde é uma nova e
grata surpresa, independente de seus valores monetários e de suas propostas. E
apesar dessa diversidade de castas, de propostas e peculiaridades, algo parece
ser consensual: o apelo regionalista. É muito forte, é muito intenso e mesmo
diante da pretensa simplicidade dos vinhos verdes, de seu frescor, de sua
leveza e delicadeza torna-se, por outro lado muito expressivo pela sua
tipicidade, por entregar o que há de melhor do seu terroir. Moura Basto Rosé é
expressivo, tem marcante personalidade por conta disso, mesmo sendo fresco,
leve, informal e despretensioso, afinal, da simplicidade vem a nobreza, a
nobreza de uma terra fértil e que entrega o melhor de sua história, de sua
cultura. E falando em entrega esse rótulo o faz muito além do seu baixo valor.
Que vinho verde! Teor alcoólico de 10,5%.
Sobre as Caves Moura Basto:
Moura Basto é o nome de uma nobre e tradicional família
Portuguesa, originária do Norte de Portugal, região onde Portugal deu os seus
primeiros passos como nação. Por essa altura, e num trabalho árduo de expansão
de território para as atuais fronteiras de Portugal, muitas batalhas foram
travadas e muitos cavaleiros foram chamados em auxílio dos Reis para ajudar
nessa dura e nobre tarefa.
A família Moura Basto tem ligações a esse período,
representadas no seu brasão, presente nos rótulos dos vinhos Moura Basto, cujos
elementos remetem para a união e as vitórias alcançadas na conquista das terras
portuguesas, bem como o amor e fidelidade juradas à Família e ao País. Uma
imagem forte que transmite valores como tradição e prestígio patentes na
utilização dos acabamentos (ouro e papel especial) e, ao mesmo, tempo moderna,
sofisticada e elegante.
Mais informações acesse:
https://enoport.pt/marcas/moura-basto/
Referências:
“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/regiao-demarcada
https://viticultura.vinhoverde.pt/pt/casta-padeiro
“CIPVV”: https://www.cipvv.pt/pt/mapa-regiao/amarante/
https://www.cipvv.pt/pt/castas/padeiro-padeiro-de-basto/
“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/
“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/
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