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sábado, 8 de janeiro de 2022

First Fill Red Blend 2015

 

Costumo dizer que é um grande prazer degustar vinhos sul africanos. E quando comecei a degusta-los, lembro-me vivamente, de que era muito difícil encontrar uma variedade de rótulos desse país e quanto menos oferta, maior eram os valores.

Mas com o tempo e a aceitação do mercado os vinhos da terra de Mandela foram ganhando um pouco mais de representatividade, as opções de rótulos se expandindo e os valores um pouco mais acessíveis. E digo que degustar rótulos da casta Pinotage é de um prazer sem igual. Os vinhos da casta Cabernet Sauvignon dessas terras são igualmente espetaculares. A rainha das uvas tintas ganhou uma nova majestade naqueles terroirs.

Mas retornando ao quesito preço, valor, sei que é um pouco relativo tratar desse assunto, até um pouco delicado, haja vista que valor pode ser maior ou menor de acordo com a realidade de cada um, é muito peculiar tudo isso. Mas eu fui arrebatado por um presente quando vi o valor de um sul africano em um desses aplicativos de venda de vinhos muito conhecidos e quase não acreditei.

Sempre quis degustar um vinho barricado da África do Sul. Já havia, até então, degustado alguns rótulos sem passagem por barrica, alguns mais básicos, de entrada, e já revelavam complexidade e personalidade. Então o que esperar de um barricado?

Estava ansioso por ter degustar um desses vinhos! E quando estava a navegar por esses aplicativos de vendas de vinhos, vi um com 12 meses de passagem por barricas de carvalho na bagatela de R$ 32,90! Não acreditando revi o valor: confirmado! Com a surpresa veio a apreensão, pois estava pronto para adquiri-lo: será que esse vinho está com algum problema na sua qualidade? Por que está tão barato? São aquelas perguntas que vem com a insegurança!

Mas comprei! Hesitei só por um pouco tempo! Ainda evoluiu por mais um ano, um ano e meio na adega até chegar ao momento da degustação: 7 anos de safra! 7 anos de vida! O que será que ele me espera?

É chegado o momento mais esperado. O dia chegou! A rolha se desprende do líquido que inunda a taça e... Que vinho especial! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Durbanville, Cape Town, na África do Sul, e se chama Durbanville Hills First Fill com um delicioso blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (70%), Merlot (20%) e Petit Verdot (10%) da safra 2015.

E que blend legal! Aquele blend bordalês, mas que de Bordeaux nada tem! Pois se trata de um vinho expressivo, de personalidade, pleno e vivo com seus 7 anos de vida, o que lhe confere a elegância esperada. Mas antes de falar do vinho, contemos a história das regiões, de Cape Town e de sua importância na produção de vinhos para a África do Sul.

Cape Town: A Cidade do Cabo

Com mais de 100 mil hectares cultivados em videiras e climas que se assemelham aos do Mediterrâneo, bafejadas por brisas marítimas constantes e dona de temperaturas mais frias pela noite e ao amanhecer, mas que esquenta durante o dia, a região do Cabo, onde os oceanos Atlântico e Índico se encontram, é moldurada por uma cordilheira que tem na Montanha de Mesa seu ápice geográfico e turístico.

Cape Town (Cidade do Cabo)

E, no epicentro dessa província, a Cidade do Cabo ou “Cape Town”, onde vivem 3,5 milhões de habitantes, é também chamada de “cidade-mãe” sul africana. Metrópole europeizada à beira mar em plena África, além da capital da Província do Cabo Ocidental, a capital legislativa do país.

Foi lá que, há séculos, os primeiros vinhedos do continente africano foram plantados e que floresceram outras cidades igualmente históricas, caso de Stellenbosch, Boeschendal, Franschoek e Paarl.

Na base da primeira colonização, que ocorreu no século 17, estavam protestantes de origem holandesa e huguenotes franceses, a quem se atribui o pioneirismo da indústria vinícola local.

Nem tão Novo Mundo assim, nem tampouco Velho Mundo, a Província do Cabo é uma região ideal para roteiros enograstronômicos. E, Stellenbosch é referência para quem vai atrás de bons vinhos e de comidas contemporâneas e típicas além das inusitadas paisagens da região.

Para a Cidade do Cabo, a indústria vitivinícola é quase tão simbólica as duas maiores atrações turísticas da região: A Montanha de Mesa, elevação de 1.088 metros, e o Cabo da Boa Esperança.

E foi bordejando essa região, em 1487, que a caravela do navegante português Bartolomeu Dias encontrou, quase sem perceber, a passagem entre os oceanos Atlântico e Índico, depois de uma tempestade de 14 dias.

Dez anos depois, em 1497, Dias refez a viagem na expedição do seu conterrâneo Vasco da Gama, a primeira, dobrando o cabo, chegou às Índias.

Encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente, o cabo, que era das Tormentas, antes de ser renomeado da Boa Esperança é um desses locais onde a história e a geografia se entrelaça.

No complexo universo vitivinícola da Província do Cabo, na África do Sul, o debate sobre a produção de vinhos mais clássicos ou ultracontemporâneos está em franca efervescência.

Usar as barricas de carvalho francês ou também as de carvalho americano? Fechar as garrafas com as tradicionais rolhas de cortiça ou as de rosca, as famosas “screw cap”? Priorizar as tintas tradicionais como a Pinotage ou investir em vinhos mais tradicionais produzidos a partir de varietais brancas? Todas essas discussões fazem com que a Cape Town cresça a olhos vistos e os seus vinhos ganhem em tipicidade e qualidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo vermelho rubi intenso, quase escuro com discretos reflexos violáceos que o torna brilhante, com lágrimas finas e abundantes que marcam o bojo do copo.

No nariz se destaca a explosão aromática com notas de frutas negras maduras como amora, ameixa e cereja negra, além de especiarias doces, baunilha e toques evidentes da madeira, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, intenso, complexo, estruturado, com volume de boca, mas, ao mesmo tempo, os seus 7 anos de vida entrega um vinho redondo, equilibrado e elegante. Tem taninos gordos, cheios, presentes, mas que não agride, sendo alcoólico, com uma incrível acidez média, com as notas amadeiradas e frutadas em harmonia, com a presença da tosta, do chocolate meio amargo e um final prolongado, persistente e frutado.

As brisas, as montanhas, o cenário da geografia entrelaçados com a história de seu povo e as suas identidades culturais constrói, de forma veemente e consistente, a história dos seus rótulos de vinhos. E assim é com o Durbanville Hills First Fill Red Blend. A ligação é tão forte que carrega em seu nome a região e as suas mais marcantes características. A força do terroir se faz presente, se faz forte e as castas francesas que compõe esse rótulo sul africano ganham um toque único, um tempero da região, o famoso apelo regionalista de que tanto gostamos. Segundo o cellarmaster da Durbanville Hills, Martin Moore, são as colinas que determinam quais vinhos serão engarrafados sob o rótulo Durbanville Hills. É com esse depoimento que se reforça, se corrobora a reverência a natureza, a cultura e a identidade natural e cultural dessa região. Um vinho elegante, mas estruturado, de personalidade, maduro, mas pleno e jovem, com os seus 7 anos de vida, mostrando uma boa evolução. Um vinho especial! Ah e mais uma curiosidade: o nome que carrega no rótulo, “Firs Fill” é devido a passagem do vinho por barricas francesas de primeiro uso. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Durbanville Hills:

A vinícola foi criada em 1990, em uma interessante parceria entre a gigante Distell (Licor Amarula, vinhos Nederburg, Plaisir de Merle, Fleur du Cap, Two Oceans e Obkwa, entre outros) e sete viticultores da região. O projeto foi bem sucedido e hoje os produtores associados à Distell são nove.

O winemaker Martin Moore destaca que a Durbanville Hills é marcada por forte atuação na área da sustentabilidade, voltada para os cuidados com o meio ambiente e desenvolvimento sócio-econômico das famílias de seus trabalhadores. Localizada a apenas 20 minutos de Cape Town e com vista espetacular para Table Mountain e Table Bay, a vinícola conta com dezesseis variações de vinho divididas em três linhas.

A empresa é adepta da chamada Produção Integrada nas práticas agrícolas e nas funções da adega. Por exemplo, atua na recuperação do solo, trata toda a água que utiliza e participa de ações para proteção dos principais biomas locais, como o Renosterveld, que abriga a vegetação nativa na zona do Cabo. No campo social, mantém creche para os filhos dos trabalhadores e oferece amplo apoio na área educacional.

Mais informações acesse:

https://www.distell.co.za/home/

https://durbanvillewine.co.za/discover-durbanville/durbanville-hills/

Referências:

“Folha”: https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2014/07/1479517-cidade-do-cabo-e-referencia-na-enogastronomia-na-africa-do-sul.shtml

“3 em 3”: https://3em3.com/cape-town-africa-do-sul-como-e-fazer-a-rota-dos-vinhos/

“Viva Mundo”: https://viva-mundo.com/pt/noticia/post/curiosidades-sobre-cape-town-segunda-maior-cidade-da-africa-do-sul

“Durbanville Wine Valley”: https://durbanvillewine.co.za/discover-durbanville/durbanville-hills/

“Brasil Vinhos”: http://www.brasilvinhos.com.br/2017/08/21/durbanville-hills-sabores-da-africa-do-sul/