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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Bons Ventos 2022

 



Vinho: Bons Ventos

Safra: 2022

Casta: Arinto, Fernão Pires, Vital, Rabo de Ovelha e Chardonnay

Região: Lisboa

País: Portugal

Produtor: Casa Santos Lima

Teor Alcoólico: 12,5%

 

Análise:

Visual: entrega um amarelo palha, brilhante, com reflexos esverdeados.

Nariz: aromas exóticos e exuberantes de frutas tropicais, cítricas, com destaque para nuances de limão, de laranja e um discreto floral.

Boca: é fresco, jovem, saboroso, com as notas frutadas em evidência, com boa acidez e um final de média persistência.

 

Produtor:

Maestrale Brut Rosé

 



Vinho: Maestrale Brut Rosé (Método Tradicional)

Safra: Não safrado

Casta: Merlot 50%/Cabernet Sauvignon 40%/ Chardonnay 10%

Região: São Joaquim, Santa Catarina

País: Brasil

Produtor: Vinícola Sanjo

Teor Alcoólico: 12,5%

Adquirido: Empório Augusta

Valor: R$ 82,90

Estágio: 2ª Fermentação: Tradicional na garrafa 22 meses em contato com as borras

 

Análise:

Visual: apresenta uma sedutora cor rosa salmão, cereja, com tons “enferrujados”, com perlages discretos e finos.

Nariz: aromas frutados, cítricos, com notas intensas de fermentação, de pão com manteiga, devido ao longo contato com as suas borras finas, com as flores vermelhas trazendo a sensação de frescor e leveza.

Boca: fresco, mas com alguma estrutura e volume de boca, graças a predominância da Cabernet Sauvignon, bem como a untuosidade, a cremosidade garantida pelo contato com as “lias”, com as notas frutadas, dando destaque para a cereja, morango e framboesa, dando complexidade ao espumante. Final longo, cheio.

 

Produtor:

http://sanjo.com.br/


segunda-feira, 3 de junho de 2024

Roche Mazet Chardonnay 2021

 



Vinho: Roche Mazet

Casta: Chardonnay

Safra: 2021

Região: Languedoc-Roussillon

País: França

Produtor: Roche Mazet (Maison Castel)

Teor Alcoólico: 12,5%

Adquirido: Evino

Valor: R$ 54,90

Estágio: Parte do lote estagiou por alguns meses em barricas de carvalho (Não informado o tempo de passagem pelo produtor).

 

Análise:

Visual: traz amarelo palha brilhante, com discretos reflexos esverdeados, além de lágrimas finas e rápidas em pequena quantidade.

Nariz: apresenta um elegante aroma de frutas brancas, tropicais, de caroço, como pera, amêndoas, maçã verde, além de um toque floral e mineral que traz uma agradável sensação de frescor.  

Boca: é aveludado, fresco, leve, com alguma untuosidade, em virtude da curta passagem por barricas de carvalho, além de toque discreto de baunilha, frutado, com acidez média e um final de média persistência.

 

Produtor:


quarta-feira, 15 de maio de 2024

Marco Luigi Brut Blanc de Blanc

 



Vinho: Marco Luigi Brut Blanc de Blanc (Método Tradicional)

Casta: Chardonnay

Safra: Não safrado

Região: Vale dos Vinhedos, Serra Gaúcha

País: Brasil

Produtor: Vinícola Marco Luigi

Teor Alcoólico: 12%

Adquirido: Site Duarte Vinhos

Valor: R$ 75,90

Estágio: Fermenta em caves de terra natural permanecendo em autólise por aproximadamente 15 meses.

 

Análise:

Visual: revela um belíssimo amarelo palha com tendências douradas e reflexos esverdeados, com perlages finas e abundantes.

Nariz: aromas exuberantes de frutas tropicais, de caroço, com destaque para amêndoas e avelãs, envoltos em notas de pão tostado, de fermento e panificação.

Boca: é equilibrado, fresco e leve, mas que, ao mesmo tempo, se apresenta estruturado, com personalidade, complexa e com a untuosidade, a cremosidade esperada. Tem um final cheio, frutado e elegante.

 

Produtor:


quarta-feira, 6 de março de 2024

Momentum Gran Reserva Chardonnay 2020

 



Vinho: Momentum Gran Reserva

Casta: Chardonnay

Safra: 2020

Região: Vale do Colchagua

País: Chile

Produtor: Sem informação

Teor Alcoólico: 14%

Adquirido: Supermercado Princesa

Valor: R$ 32,90

Estágio: 6 meses em barricas de carvalho francês

 

Análise:

Visual: apresenta um amarelo palha brilhante com reflexos esverdeados, além de lágrimas grossas e lentas e em profusão.

Nariz: traz aromas cítricos e de frutas tropicais, com leve madeira perceptível, com um toque de mineralidade, denotando frescor e alguma complexidade.

Boca: é fresco, tem uma razoável estrutura agregada, com notas frutadas, com destaque para o pêssego, baunilha discreta, acidez média.

 

Produtor:

Sem informação


Pedrucci Blanc de Blancs brut

 



Vinho: Pedrucci blanc de blancs brut

Casta: Chardonnay, Riesling Itálico, Trebbiano e Glera

Safra: Não safrado

Região: Garibaldi, Serra Gaúcha

País: Brasil

Produtor: Casa Pedrucci

Teor Alcoólico: 12%

Adquirido: Wine

Valor: R$ 82,90

Estágio: 12 meses em contato com as leveduras (Método tradicional)

 

Análise:

Visual: amarelo palha brilhante com reflexos esverdeados, com perlages finos, delicados e em profusão.

Nariz: com aromas intensos de frutas brancas tropicais e cítricas, com destaque para abacaxi, melão, maçã-verde, com nuances florais que traz a sensação de frescor e leveza.

Boca: é agradável, fresco, harmônico, com discretas notas untuosas, com algo de panificação bem discreta, que traz alguma complexidade. As notas frutadas são percebidas, a acidez é refrescante e o final de média persistência.

 

Produtor:

https://www.casapedrucci.com.br/

 

 

 

 

 

 


domingo, 25 de junho de 2023

Quinta dos Bárrios bruto

 

Quando nos lembramos de espumante é impossível não referenciá-los aos nossos rótulos brasileiros! Inegavelmente os nossos espumantes está em um patamar altíssimo, sem discussões ufanistas.

E além da qualidade, da tipicidade dos nossos espumantes, a melhor harmonização com os espumantes é o nosso clima, quente, tropical, é o clima de calor humano que somente o povo brasileiro possui.

Assim é o espumante brasileiro! Um dos melhores borbulhas do mundo, extremamente solar e descontraído, mesmo que, alguns rótulos, algumas propostas descortinem vinhos complexos e de grande longevidade.

E falo com todo o devido respeito aos nossos “concorrentes”, tais como o Prosecco italiano, os cavas espanhóis, o famosíssimo Champagne etc. Coloco, sem medo de errar, que os nossos espumantes podem figurar entre esses ícones aqui mencionados.

Mas já que falei dos grandes borbulhantes espalhados pelo globo terrestre, hoje, pelo que denuncia, não degustarei um espumante brasileiro, falei deles apenas por uma referência, por serem tão especiais, mas de um espumante lusitano! Sim, um espumante português!

Não podemos nos deixar enganar e pensar que não tenha grandes espumantes produzidos na terrinha, pois tem sim, e os grandiosos vêm da bela e necessária Bairrada, que fica no coração de Portugal.

A terra da casta Baga, que também desfila em protagonismos em alguns espumantes feitos por lá, fazem bebidas borbulhantes extremamente vibrantes, de grande acidez e de marcante personalidade. Lembro-me do meu primeiro espumante bairradino que degustei com sete anos de garrafa, sim, sete anos!

E estava vivo, pleno e intenso em seus aromas e sabores. Falo do Bom Caminho Baga 2013 e que, depois de algum tempo, de um longo tempo, finalmente irei degustar o meu terceiro espumante português, mas dessa vez, oriundo do Beira Atlântico, onde a Região Demarcada da Bairrada está.

Depois me aventurei no meu segundo espumante lusitano, dessa vez da Região do Beira atlântico, onde a Região Demarcada da Bairrada está. Falo do Colinas de Ançã bruto. Mais uma experiência incrível! Esse é da Adega de Cantanhede, vinícola cooperativada muito famosa em nossas terras por trazer rótulos da Bairrada e do Beira Atlântico a preços competitivos.

Agora partirei para o meu terceiro espumante português, também do IG Beira Atlântico, mas da Casa de Sarmento, vinícola que, nos anos 1980 começou como um restaurante especializado em leitão assado, na região bairradina da Mealhada e logo adquiriu terras na própria Bairrada e Alentejo.

O vinho que degustei e gostei veio, como disse, do Beira Atlântico e se chama Quinta dos Barríos bruto (brut) composto pelas castas Maria Gomes, Bical e Chardonnay e não é safrado.

Antes de falar, com requintes de detalhes, do vinho, para não perder o costume falemos um pouco de história e de alguns conceitos que, de alguma forma, pode nos descortinar algumas propostas e percepções do vinho degustado em questão. Falemos do método tradicional e da região do Beira Atlântico.

O método natural do espumante ou champenoise

O método tradicional consiste principalmente em uma dupla fermentação do mosto, a primeira em grandes recipientes, e a segunda em garrafas, dentro das caves ou adegas, fazendo o processo de remuage (rotação das garrafas) regularmente.

A primeira fermentação, chamada fermentação alcoólica, é idêntica à que ocorre com os vinhos comuns, ou seja, os “não efervescentes”, ditos tranquilos. O vinho básico costuma ser vinificado em tanques de concreto, aço inoxidável ou madeira, mas alguns produtores preferem fazer a vinificação em barricas de carvalho (com muitos anos de uso).

No momento de engarrafar, a esse vinho básico, é acrescentado um composto denominado liqueur de tirage, uma solução de vinho adoçado com açúcar (de cana ou beterraba) ou suco de uva concentrado (aproximada 24 g/l de açúcar) e leveduras selecionadas, para iniciar a segunda fermentação.

Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.

A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao mercado.

Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos automatizados, como os giropalets.

Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.

Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva), açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut (até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre 17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.

Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.

Nature

O Nature passa pelo método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é adicionado na bebida.

O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é importante que seja feito com perfeição.

Para ganhar o título de Nature, a bebida precisa conter até 3 gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode conter entre 6 e 15 gramas por litro. Por isso, o sabor do espumante é mais seco. O tempo de maturação do vinho também é maior, o que resulta em um volume de boca considerável. Ou seja: é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente as variedades utilizadas para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot Noir.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo dourado, com reflexos esverdeados, brilhantes, com prolíficas quantidades de perlages bem finas e incríveis manifestações de lágrimas finas e rápidas que desenham grande parte do copo.

No nariz traz abundantes aromas citrinos, de frutas de polpa branca, frutas maduras, como pêssego, pera, toranja, laranja, limão, tangerina e agradáveis notas de panificação, de inusitados tostados, de pão, fermento, além de um delicado floral. O método clássico trouxe complexidade no aroma. Algo de especiarias e mineral são percebidos também.

Na boca é seco, fresco, intenso, de volumosa personalidade, um espumante cheio, untuoso, saboroso, porém leve, frutado e extremamente gastronômico, se mostrando muito versátil e equilibrado, com destaque para a acidez instigante e poderosa, que faz salivar e pedir por comida. Tem um final frutado, longo e de muita persistência.

E mais uma vez, me surpreendo, deliciosamente, com um espumante português! Não é a toa que os melhores espumantes de Portugal estão concentrados na Bairrada e no Beira Atlântico. Com apelo regional que é muito vívido nos rótulos portugueses enalteço também a tipicidade desse espumante que entrega vivacidade, frescor, mas personalidade, notas frutadas, juntamente com uma acidez envolvente, instigante, com um corte delicioso de Maria Gomes, Bical e da francesa Chardonnay, mostrando que os lusitanos produzem bons espumantes. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Casa de Sarmento:

A história da Casa de Sarmento começa em 1980, no coração da Região Demarcada da Bairrada, com a abertura de um restaurante especializado em leitão assado. Ao longo de 36 anos de dedicação, o restaurante chamado Meta dos Leitões deu origem a uma cadeia de restauração com vários espaços em diversos pontos do país.

A aquisição de duas propriedades no Alentejo, Avis e Castelo de Vide, e uma na região da Bairrada, Mealhada, permite tornar a Casa de Sarmento autossuficiente na produção de vinhos e espumantes, de azeite e na produção agrícola e pecuária.

Atualmente, mais de 80% do que se consome em cada um dos restaurantes passa pela produção própria, garantindo qualidade e segurança desde a origem até à mesa – dos leitões criados nas melhores terras alentejanas aos produtos hortícolas produzidos nas abundantes terras da região da Bairrada.

Para a produção de vinhos e espumantes a Casa de Sarmento apostou em duas frentes, tão distintas como complementares. Vinhas no coração da Região Demarcada da Bairrada e vinhas no Alentejo, na sub-região de Portalegre. Na Bairrada, as vinhas com solos argilo-calcários e o clima influenciado pelo Atlântico são o local perfeito para que as castas Touriga Nacional, Baga, Jean, Merlot e Cabernet Souvignon proporcionem tintas com características especiais e diferenciadas.

Para vinhos brancos frescos e espumantes de eleição se aposta nas castas Bical, Maria Gomes e Chardonnay. No Alentejo, na sub-região Portalegre, em vinhas cuidadosamente tratadas, as castas Aragonês, Trincadeira Preta, Periquita, Alicante Bouschet e Touriga Nacional, permitem criar vinhos com alma e carácter, encorpados e ao mesmo tempo suaves, que tão bem evidenciam as características de um bom vinho Alentejano.

A Herdade da Defesa de Barros, localizada no concelho norte alentejano de Avis, pertenceu à histórica Ordem de Avis, organização de natureza religiosa e militar inicialmente dependente da Ordem espanhola de Calatrava e que em 1211 se autonomizou quando D. Afonso II doou aos freires o lugar de Avis para que aí erguessem um castelo e o povoassem.

O seu primeiro mestre foi Fernão de Anes (1196-1219), a quem se deve a edificação da vila e do castelo e o último, Fernão Rodrigues de Sequeira, que morreu em 1433 e repousa no interior da igreja conventual. A grande personalidade da Ordem seria D. João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I, elevado ao trono de Portugal por vontade do seu povo após o interregno de 1383-1385. 

O nome da Ordem ficou para sempre ligado à Dinastia de Avis, a mais notável das dinastias portuguesas, a quem se deve toda a estratégia que levou Portugal a optar por uma vocação de expansão atlântica que culminaria nos Grandes Descobrimentos. Os membros da Ordem usavam um manto branco com cordões até aos pés e uma cruz verde rematada com flores de lis, insígnia da Ordem.

Mais informações acesse:

https://www.facebook.com/CasadeSarmento

Referências:

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html

Gaúcha ZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/bebidas/noticia/2017/10/nature-um-espumante-puro-ckboenhcu004dmmslca2k2gtc.html

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/




 









sábado, 24 de dezembro de 2022

Lírica Crua Nature

 

De uma coisa eu e, acredito que muitos brasileiros enamorados pelo vinho de nossas terras atualmente, de que os nossos espumantes estão entre os melhores “borbulhas” do planeta. E não é um discurso ufanista carregado de ódio que rejeita todos os produtores e rótulos de outros países, mas uma condição concreta, de que os nossos vinhos são especiais e a tendência é que cresça a cada dia.

Há alguns dias atrás eu li uma informação de que um espumante, de método charmat, simples, básico, que custa na faixa dos R$30,00, ficou entre os melhores espumantes do mundo, em um concurso, pasmem, da França, a terra dos champagnes!

Ganhou medalha de ouro e ficou no top 10 do Effervescents du Monde 2022 (Leia aqui) e se chama Conde de Foucauld brut, da grande Vinícola Aurora, além de outros dois espumantes, como o Salton Prosecco e o Nero Live Celebration, da Famiglia Valduga.

Essa é a prova contundente para mostrar, corroborar a qualidade e a tipicidade de nossos vinhos espumantes. É bem verdade que não degustamos prêmios ou medalhas, degustamos vinhos, mas quando vinhos tão baratos e básicos conquistam prêmios dessa magnitude, são laureados dessa forma, merece, no mínimo, atenção e logo reverência.

Então hoje decidi, na noite de natal, com uma celebração em família, abrir um espumante, decidi celebrar com um vinho brasileiro, celebrar com o carro chefe de nossa vitivinicultura: o espumante.

E além da escolha por um espumante, será o espumante, pois esse será o segundo rótulo que degustarei no método tradicional, no método champenoise, um espumante nature que, até pouco tempo atrás, eu nunca tinha degustado, o que ainda, mesmo degustando espumantes há tempos, tenho espaços para novidades, gratas novidades.

A minha primeira experiência fora com o Don Giovanni Nature e foi simplesmente arrebatadora a degustação, com momentos singulares. E agora mais uma página na minha história que será ilustrada com espumantes complexos, de estrutura e marcante personalidade.

E ainda tem mais: Será meu primeiro espumante de uma região, não só nova para mim, como para muitos enófilos brasileiros. Uma região que vem ganhando alguma visibilidade e ganhando também credibilidade, falo da Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul.

Acredito fielmente que não poderia haver melhor momento para degusta-lo! Porém eu o conheci, bem como o seu produtor, em um evento que seus rótulos foram homenageados, falo da Vinícola Hermann.

O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Serra do Sudeste e se chama Lírica Crua, um Nature composto por Chardonnay (80%), Pinot Noir (10%) e Gouveio (10%), que também é conhecida como Verdelho e Godello, sem safra informada. E antes de entrar na história da região e falar do vinho, que é simplesmente espetacular, há uma curiosidade que rodeia o Lírica Crua. Ele foi o primeiro espumante brasileiro a ser vendido sem o processo de dégorgement.

Mas o que é dégorgement? Depois do processo completo de remuage, que consiste num trabalho cuidadoso em girar a garrafa no pupitre para que as leveduras se direcionem ao gargalo da garrafa, é feito o dégorgement, para limpar a bebida. O gargalo da garrafa é congelado para solidificar os sedimentos que ficam após a segunda fermentação nos espumantes feitos pelo método Tradicional. A garrafa, então, é aberta e a pressão expele o “gelo”. Depois ela volta a ser arrolhada.

No caso do Lírica Crua isso não acontece e as leveduras ficam na garrafa, patrocinando ao vinho uma incrível complexidade e cremosidade, dando-lhe personalidade e uma incrível capacidade de longevidade. Mas espere também frescor, leveza, como todo bom espumante brasileiro.

O método natural do espumante ou champenoise

O método tradicional consiste principalmente em uma dupla fermentação do mosto, a primeira em grandes recipientes, e a segunda em garrafas, dentro das caves ou adegas, fazendo o processo de remuage (rotação das garrafas) regularmente.

A primeira fermentação, chamada fermentação alcoólica, é idêntica à que ocorre com os vinhos comuns, ou seja, os “não efervescentes”, ditos tranquilos. O vinho básico costuma ser vinificado em tanques de concreto, aço inoxidável ou madeira, mas alguns produtores preferem fazer a vinificação em barricas de carvalho (com muitos anos de uso).

No momento de engarrafar, a esse vinho básico, é acrescentado um composto denominado liqueur de tirage, uma solução de vinho adoçado com açúcar (de cana ou beterraba) ou suco de uva concentrado (aproximada 24 g/l de açúcar) e leveduras selecionadas, para iniciar a segunda fermentação.

Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.

A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao mercado.

Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos automatizados, como os giropalets.

Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.

Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva), açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut (até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre 17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.

Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.

Nature

O Nature passa pelo método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é adicionado na bebida.

O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é importante que seja feito com perfeição.

Para ganhar o título de Nature, a bebida precisa conter até 3 gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode conter entre 6 e 15 gramas por litro. Por isso, o sabor do espumante é mais seco. O tempo de maturação do vinho também é maior, o que resulta em um volume de boca considerável. Ou seja: é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente as variedades utilizadas para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot Noir.

Serra do Sudeste

Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está chegando ao seu limite de plantio. Como área de procedência certificada, as regras que controlam sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras das vinícolas, incluindo suas adegas.

Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.

Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a Serra do Sudeste.

Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos. Essa região faz divisa com outra importante área vinícola brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com o Uruguai.


Serra do Sudeste

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos.

O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).

Em grande parte se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.

As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.

A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a sapidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc e Malvasia.

Se for verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha intenso e com algum brilho e reflexos esverdeados, apesar de uma discreta turbidez, devido as leveduras, com perlages finos e intensos, persistentes.

No nariz traz aromas que, evidentemente, nos remete as leveduras, com toques de panificação, de pão tostado em tom delicado, com um ataque, em seguida, de frutas cítricas, como laranja, limão, tangerina, abacaxi e logo depois frutas de polpa branca, como pera e algo floral, de flores brancas que entrega frescor e leveza.

Na boca é vivaz, altivo, intenso, complexo e de textura deliciosa, saborosa, cheio, untuoso, cremoso, com notas de pão, de fermento, pão com manteiga, mas, ao mesmo tempo é elegante, fresco, como todo bom espumante. As borras, as leveduras lhe conferem a suavidade e que equilibra a acidez, que é excelente, que faz salivar, com um final frutado e prolongado.

Sim, os nossos espumantes estão entre os melhores do mundo! Sim, expressam o que há de melhor de nossos terroirs! Sim, temos de vinhos básicos aos mais complexos e longevos! Não, isso não é discurso ufanista! É um discurso, carregado de orgulho que pode parecer passional, mas que vem repleto de argumentos fortes e contundentes. Estamos presenciando, diante dos nossos olhos, a revolução dos espumantes brasileiros, de bebidas que não estão imitando os chilenos, os argentinos, mas revelando a sua tipicidade, mostrando o nosso DNA! E como não há dia melhor para celebrar com a sua família em um dia de natal, façamos com reverências, respeito e, sobretudo muito prazer e privilégio por degustar um vinho como esse! Tem 11,8% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hermann:

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil.

Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolahermann.com.br/

Referências:

“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33

“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html

Gaúcha ZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/bebidas/noticia/2017/10/nature-um-espumante-puro-ckboenhcu004dmmslca2k2gtc.html

“Garibaldi Blog”: https://www.garibaldiblog.com.br/post/degorgementperlageremuage

“A Gazeta”: https://www.agazeta.com.br/hz/gastronomia/espumante-brasileiro-de-r-30-e-eleito-um-dos-melhores-do-mundo-1222







 





sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Monte Carlo Chardonnay 2020

 

Eu já mencionei em um de meus textos de outros vinhos que degustei e gostei das minhas “viagens” para novas experiências sensoriais, mesmo com produtores, regiões ou castas já familiarizadas por mim, em minhas andanças enófilas.

Muito ainda se pode tirar de novidade em algo que, em tese, para você não seja novo. E tenho buscado essa condição, de trazer o novo no vasto e pouco explorado universo do vinho. Temos de nos permitir viver esses momentos e nunca deixar cair na tentação silenciosa da zona de conforto com os seus rótulos preferidos.

E uma região brasileira vem me ganhando de forma incondicional: São Roque, em São Paulo! E um bom amigo vem me proporcionando isso, me agraciando com rótulos de presente, o amigo Luciano Feliputti, proprietário da Pemarcano Vinhos, um e-commerce que enaltece os pequenos produtores da região de são Roque e afins.

A missão de falar de tais vinhos me traz a novidade e o saboroso desafio de analisar as suas nuances, as suas características, além, é claro, de estimular sempre o prazer pela degustação, a celebração pelo ritual e pela nobre simplicidade por tais atos.

E o rótulo de hoje traz São Roque representado pela rainha das uvas brancas: Chardonnay. Da mesma forma que a Merlot praticamente me iniciou no mundo dos vinhos, das cepas vitis viníferas, sendo a minha casta tinta preferida por muitos anos, a Chardonnay me fez perceber que vinho branco é bom e que merece atenção e espaço nas adegas dos brasileiros.

Sempre notei que os brancos foram e ainda são vistos com certo preconceito pelo enófilo no Brasil. Sempre percebi que existe uma visão pré-concebida, e sem razões muito fortes para tal percepção triste e equivocada.

Hoje o cenário está melhor, mais favorável para os brancos ditos “tranquilos” e os espumantes que é a porta de entrada para o vinho brasileiro no mundo, a nossa “marca”! Não há, contudo, razão para que tenhamos essa visão torta dos vinhos brancos. Eu tinha essa percepção que logo foi rompida graças a Chardonnay!

Um Chardonnay de São Roque, a terra do vinho, e de um pequeno produtor! Não é um discurso romântico, sem força, mas sim a condição necessária para que, de uma vez por todas, possamos enaltecer o pequeno produtor brasileiro que, sufocada pelo poderio financeiro das grandes indústrias e o lobby dos ditos “formadores de opinião” só torna tais produtores pequenos coadjuvantes em um tão esperado processo de disseminação da cultura do vinho neste país.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei que veio da cidade tradicional na produção de vinhos do Brasil, São Roque, e se chama Monte Carlo, claro da casta Chardonnay da safra 2020. Não é, portanto, a minha primeira vez com os vinhos da Vinícola Sorocamirim, eu degustei um rótulo da casta Seibel, o Classic Sorocamirim Seibel. Antes de tecer com requintes de detalhes o vinho, vamos, para não perder o costume, a história de São Roque e a sua importância para a vitivinicultura nacional.

São Roque: A terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo amarelo palha, translúcido, brilhante com discretos reflexos esverdeados e algumas lágrimas finas e lentas.

No nariz traz um aroma extremamente frutado, de frutas brancas e cítricas e um toque delicadamente floral que nos dá uma sensação de levez e frescor.

Na boca corrobora a refrescância e leveza, bem como as notas frutadas, com um leve dulçor que não é enjoativo, em virtude da fermentação interrompida pelo produtor, dando-lhe um paladar de um “demi-sec”. Traz uma untuosidade e cremosidade, uma madeira no fundo, graças aos 5 meses que passou em barricas de carvalho com um final persistente.

Mais uma vez e como sempre me sinto um privilegiado por degustar rótulos de São Roque e sempre com novidades, afinal há muito a se explorar na “terra do vinho”, uma região tradicional e mesmo com a queda de sua força vitivinícola, é sustentado pela sua história e produtores pequenos com ideias e determinação grandes em continuar a disseminar o terroir desta região e a força dos pequenos produtores. E por falar em produtores, estive conversando com os representantes da Vinícola Sorocamirim para buscar detalhes do Monte Carlo Chardonnay e eles me falaram que a fermentação dele foi interrompida, dando-lhe um paladar de um “demi-sec”. O que muito surpreendeu, mostrando leveza, sabor, mas entregando alguma personalidade e até mesmo complexidade, graças a curta passagem por barricas de carvalho. Que venham mais e mais gratas novidades de São Roque. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Sorocamirim:

A Vinícola Sorocamirim foi fundada no dia 27 de julho de 1956, com 58 anos de muitas conquistas e histórias, sendo considerada uma das vinícolas mais artesanais de toda a região de São Roque.

Seus vinhos são elaborados a partir de uvas selecionadas, garantindo um excelente sabor. Entre os vinhos mais apreciados estão o "Monte Carlo" tinto meio Seco, e o tinto seco, armazenados em barris de carvalho francês e americano.

Entre os clássicos estão a linha dos vinhos "Sorocamirim", tinto seco, licoroso rosado, e muitos outros. A vinícola está localizada em uma região serrana, com clima propício para fabricação de vinhos.

Toda a produção dos vinhos Sorocamirim é feita de maneira artesanal, com a combinação de processos de fabricação tradicionais.

Mais informações acesse:

https://www.facebook.com/Vinhos-Sorocamirim-742876082473899

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque