Eu nunca entendi o motivo pelo qual eu degustava apenas
varietais argentinos! Talvez seja uma informação totalmente irrelevante e até
sem sentido, mas observei isso há pouco tempo.
Não era algo intencional, isso eu defendo ardorosamente,
talvez uma mera e simples coincidência. Porém passei a degustar alguns, poucos
é bem verdade, blends e que me chamaram muito a atenção!
E o mais importante: O Valle de Uco! Ah como essa região, que
fica em Mendoza, vem me ganhando a cada dia que passa, a cada experiência, a
cada rótulo degustado. E vem ganhando notoriedade, respeito e ela foi
“descoberta” apenas nos anos 1990! Pasmem!
E mais um rótulo, mais uma experiência será colocada em taça!
A história é viva e latente e a taça cheia traz sempre à tona o Valle de Uco. E
o vinho de hoje traz uma vinícola que não degustava há algum tempo e tem a sua
história em Mendoza, construindo a sua vitivinicultura: Falo da Família
Zuccardi, a vinícola Santa Júlia.
E este rótulo traz um blend sensacional com as castas mais
representativas da Argentina, aquelas que fazem sucesso nos terroirs dos
Hermanos: Carbernet Sauvignon, a icônica Malbec e a Syrah.
O vinho que degustei e gostei veio do Valle de Uco, em Mendoza,
e se chama Magna composta pelas já informadas castas Cabernet Sauvignon (50%),
Malbec (40%) e Syrah (10%) da safra 2016. O vinho, no auge dos seus 6 anos de
vida teria muitos e muitos anos pela frente, mas está tão elegante, tão macio,
tão complexo...
Mas antes de entrar nos detalhes do vinho, vamos, para
variar, com as histórias que permeiam o vinho, vamos de Valle de Uco e a sua
importância para a Argentina.
Valle de Uco
Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram
o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo
de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais,
graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia.
No século XVI, a chegada dos conquistadores espanhóis das
terras chilenas e peruanas marca as primeiras explorações em terras habitadas
por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os huarpes. Daquela época vem a
palavra "Uco", que se refere ao nome do cacique Cuco. Além disso, é
traduzido como uma nascente de água, elemento fundamental da região.
Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no
vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de
Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo
com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para
empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru.
Em várias ocasiões, ele se encontrou com nativos na área
antes da expedição de libertação. Também com o militar argentino Manuel de
Olazábal quando retornou à sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no
que hoje é conhecido como Manzano Histórico.
Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas
referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso
chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de
vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards
no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de
enólogos.
O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola
nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos
Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com invernos
rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é uma área
realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude térmica
(pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700 metros de
altitude.
Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos rolados
misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco férteis.
Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com depósitos de
cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde vêm saindo
alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice pluviométrico é
baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por gotejamento com água
de degelo das montanhas.
O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de
divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San
Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três
departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas,
uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que
o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo
tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.
O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010, a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e também construir novas plantas na região.
Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas,
especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir,
com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre
as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há
vinhos com Viognier e Torrontés.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
halos granada e com muito brilho, reluzente, com lágrimas finas, lentas e em
profusão.
No nariz traz a marcante presença de frutas pretas bem
maduras, com destaque para cerejas, amoras e ameixas e da madeira, porém em
incrível sinergia, bem integrados, com ambos protagonizando, entregando notas
de baunilha, café, torrefação e chocolate, graças aos 10 meses em barricas de
carvalho.
Na boca é estruturado, intenso, com alguma robustez, mostrando-se
cheio, volumoso, mas ao mesmo tempo se mostra sedoso, elegante e equilibrado. A
marcante presença das frutas pretas é evidente, como no aspecto olfativo, com
aquele toque amadeirado que proporciona um chocolate, torrefação. Tem taninos
presentes, mas domados, acidez média e um final longo e persistente, com
retrogosto frutado.
Celebração, experiências, história, rótulos, tudo se mescla e
se resumem no prazer pela degustação de um grande rótulo do Valle de Uco, um
belo e necessário mendocino. Personalidade, a tipicidade de suas castas que,
mesmo em corte, são evidentes, as percepções, as experiências sensoriais ganham
relevância, ganham força, ganham vida. Degustar Valle de Uco tem sido uma ode à
celebração que, a cada momento, desafia a nossa humildade e simplicidade
perante a décadas de história a serviço do nosso deleite líquido, da nossa
poesia líquida, o bom e velho vinho. Magna traz tudo isso e reflete na altivez
do seu nome a personificação de seu terroir! Grande! Tem 14,3% de teor alcoólico.
Sobre a Bodega Santa Júlia:
Julia é filha única de José Zuccardi. Criada em sua
homenagem, a Santa Julia representa o compromisso da Família Zuccardi em
atingir os mais altos níveis de qualidade, por meio de práticas
sustentáveisque contribuam para o cuidado com o meio ambiente e sejam úteis à
comunidade em que se instalaram.
Em 1950 Alberto Zuccardi começa a fazer experiências com
novos sistemas de irrigação em Mendoza. Em 1963 Ele instala um vinhedo na
região de Maipú para mostrar aos produtores da região a funcionalidade de um
sistema de irrigação criado por ele. Em 1982 decidiu-se ter como objetivo a
produção de castas de alta qualidade. Júlia nasce. Em 1990 as primeiras
exportações da marca Santa Julia acontecem. Ruben Ruffo se junta como enólogo
da Santa Julia e se torna responsável pelo desenvolvimento e crescimento dos
vinhos. No vinhedo Santa Rosas se plantam vinhedos com variedades não
tradicionais na Argentina: Caladoc, Ancellotta, Graciano, Bourbulenc, Aglianico,
Albariño, Falangina, etc.
Em 2001, a Bodega Santa Julia foi a primeira vinícola a abrir
um centro de visitantes com restaurante próprio. Hoje o projeto é dirigido por
Julia Zuccardi. Foi uma década de início de novos projetos. Aos quais as novas
gerações da Família gradualmente se juntaram. O projeto dos espumantes começa a
ser desenvolvido. Um novo desafio que, hoje, acompanha a linha de vinhos. Em
2004, com o objetivo de produzir vinhos da forma mais natural possível,
consegue-se a primeira certificação de vinha orgânica. Em 2013 Duas das
principais vinhas da família Zuccardi são certificadas pela Fair For Life. Isso
permite um desenvolvimento mais justo das atividades socioeconômicas de nossos
trabalhadores.
Mais informações acesse:
Referências:
“Welcome Argentina”: https://www.welcomeargentina.com/valle-de-uco/historia.html
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-o-vale-do-uco-local-que-reune-grandes-vinhos-argentinos_11401.html