Não há como negar que, apesar de ainda não ser muito famosa
em nossas terras, como Alentejo, como a Região dos Vinhos Verdes, a Bairrada e
o Beira Atlântico tem a sua importância em Portugal, principalmente pela
excelência de seus espumantes e da casta emblemática tinta, a Baga.
Depois que Luis Pato, experiente e importante homem do vinho
da região bairradina, domou a casta que era rústica ao extremo, a Baga vem
atingindo algum status de importância, de reverência, principalmente, claro,
por conta dos seus rótulos.
Os poucos vinhos dessa região, hoje nem tanto, que chegam ao
mercado brasileiro de vinhos, a Baga reina entre as tintas, sejam em blends,
que predomina, ou na versão monovarietal.
E para alguns especialistas do vinho um rótulo de Baga, dada
as devidas características ou propostas para se equiparar, em termos de
longevidade, a um Barolo! Sim! A um Barolo, desses que são tidos como de
“entrada”, que tem potencial de guarda de cerca de 20 anos, aproximadamente.
O fato é que realmente rótulos que ostentam a casta Baga
definitivamente têm guarda, tem longevidade e não duvidaria que pudesse se
equiparar a um Barolo. De fato é incrível que vinhos como esse possam durar
tantos anos!
Quando comecei a degustar vinhos da Bairrada e do Beira
Atlântico a Baga veio até a mim em cortes, em blends, mas quando tive a
oportunidade que ela me viesse por inteiro veio o rótulo do Beira Atlântico,
não da Bairrada. Mas nem por isso a minha alegria e privilégio foram baixos,
pelo contrário, estava radiante pelo momento.
E quando degustei o Moinho de Sula Reserva Baga 2014 em 2022,
ou seja, com oito anos de garrafa, confesso que senti algum receio em como iria
encontrar o vinho. Será que estaria morto? Não! O vinho estava vivo, pleno e
sem nenhum destaque de aromas terciários, de evolução mais evidente! Certamente
teria muitos anos ainda pela frente.
E graças a Adega de Cantanhede eu pude ter acesso aos vinhos
da Bairrada e do Beira Atlântico, pois são vinhos de excelente custo X
benefício, haja vista que os que aqui chegam, que nos ofertam, ainda estão,
confesso, pouco acessíveis pelo alto valor praticado.
E com isso claro continuei desbravando os rótulos
monovarietais de Baga e, mais uma vez, a Adega de Cantanhede me proporcionou
esse momento, agora com o Conde de Cantanhede Reserva 2015, agora um DOC
Bairrada, degustado também com oito anos de garrafa! As impressões foram às
mesmas que o Moinho de Sula Reserva! Que vinho estupendo e cheio de
personalidade. A Baga realmente me fisgou por inteiro, não deixou rastros de
dúvidas em minha predileção.
Decidi continuar a minha caminhada e em um belo dia quando
fazia as minhas já costumeiras incursões em mercados, avistei ao longe, meio
discreto, sem nenhum destaque um vinho, que tinha um belo rótulo.
Averiguei, já com ele em minhas mãos, cada detalhe, para
saber um pouco mais sobre ele, e as informações salpicaram em minhas mãos. Era
um Baga 100%! Só por isso já estava animado, era da Adega de Cantanhede, não o
conhecia. Era do Beira Atlântico. E estava em um valor extremamente atraente,
cerca de R$ 55!
Não hesitei muito e pelo que tinha de informações em mãos, me
bastava para tê-lo em minha adega, o comprei. E não demorou tanto para
degusta-lo, ficou cerca de um ano nela e hoje, com cinco anos de garrafa, é
chegado o momento de viver novas emoções com a Baga.
O vinho está maravilhoso, mais uma vez a Baga revela ser uma
das mais representativas castas tintas de Portugal e, sem mais delongas, irei
apresenta-lo. O vinho que degustei veio da região portuguesa do Beira Atlântico
e se chama Chão do Conde Reserva, um 100% Baga, da safra 2018. Antes de tecer
comentários detalhados do vinho, vamos de história, vamos de Beira Atlântico e
vamos de Baga.
Beira Atlântico
A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos,
fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares
antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D.
João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção
para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e
econômica.
A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso
Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de
ser dada uma quarta parte do vinho produzido.
Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma
região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena
propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus
vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".
IG Beira Atlântico
Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os
terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com
frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de
natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os
Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior
frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.
A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada
a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do
Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia
maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de
altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima
temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e
temperaturas médias comedidas.
Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos
argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos
consoantes à predominância de cada elemento.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição
indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição
indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.
Baga
A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é
capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando
muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e
possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na
garrafa durante anos após sua fabricação.
A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa
central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na
região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas,
além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo.
Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive
alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas
terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.
A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua
pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além
disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter
adstringente em alguns vinhos.
Baga
A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer
classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés
e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os
vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.
No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na
produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca
concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o
“revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva
Baga foi “domesticada”.
Luis Pato
O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando em que o
amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos
argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de
cultivo.
Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga
produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos,
garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os
vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.
Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou
Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas
portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada
no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita
personalidade, altamente interessantes e únicos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um rubi intenso, porém não escuro, com halos
granada, límpido, até cristalino, com lágrimas finas, lentas e em abundância.
No nariz predominam os aromas de frutas vermelhas maduras,
com destaque para morangos, cerejas, ameixas e framboesas, com notas
amadeiradas em total consonância com a fruta, muito bem integrada, com nuances
de tosta, de baunilha. Tem algo de couro, terra molhada e tabaco.
Na boca é macio, elegante, equilibrado, fresco, mas tem
marcante personalidade, com notório volume de boca, com álcool em evidência,
mas sem agredir. As notas frutadas também ganham protagonismo, como no aspecto
olfativo, com toques amadeirados, graças aos 6 meses em barricas de carvalho,
com taninos domados e salivante acidez. Tem final persistente e amadeirado.
Claro que o nome me trouxe curiosidades! Por que “Chão do
Conde”! O produtor, como sempre muito gentil e atencioso, me informou que “Chão
do Conde” é o nome de uma área de terrenos onde existe muita vinha dos seus
associados. O nome vem de tempos remotos, quando boa parte das terras do Concelho
de Cantanhede estava na posse da família Meneses, que detinha o título
nobiliárquico de Conde de Cantanhede, daí aquelas terras ficarem conhecidas
como “Chão do Conde”. A história é linda, carrega cultura e delineia as
características marcantes desse belo Baga, deste belo vinho! Cultura harmoniza
com vinho, vinho harmoniza com cultura e prazer! Que venham outras histórias,
que venham outros Bagas, que venham outras grandes experiências. Tem 13,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional
e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais
moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas portuguesas que encontram na
Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e
Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e
singularidade que este património confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde –
França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por
diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses
concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região.
Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais,
pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas
Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em
Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.
Mais informações acesse:
https://www.cantanhede.com/
Referências:
“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga
“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/