Sou um grande apreciador da simplicidade direta dos vinhos
regionais de Lisboa. É claro que gozam de personalidade, mesmo sendo vinhos
básicos, de entrada, cuja proposta é a maioria que temos disponíveis no mercado
brasileiro, mas muito bem feitos, corretos e que expressão com fidelidade o
terroir da capital lusitana, são efetivamente vinhos peculiares, de tipicidade.
Sempre os degustei e gostei. E a minha porta de entrada para os vinhos
lisboetas e, acredito que para muitos que apreciam rótulos dessa emblemática
região, foi com a tradicional Casa Santos Lima que goza de um imenso e
diversificado portfólio que conta, não apenas com vinhos de Lisboa, mas com
vários rótulos de outras importantes regiões de Portugal. Apesar disso, não são
muitos os vinhos disponíveis por aqui em terras brasileiras, mas com os poucos
que tive a oportunidade de degustar me propiciaram grandes e surpreendentes
experiências. E o rótulo escolhido para abordar teve a motivação da tradição da
Casa Santos Lima, foi o fator preponderante para a minha escolha. Porém outra
coisa me surpreendeu. Antes de efetivar a sua compra decidi acessar o site do
referido produtor para ler um pouco mais sobre o rótulo e eis que veio a grande
surpresa: o vinho foi ostentado com uma grande quantidade de premiações! Incrível
que, com tantos prêmios, um preço tão baixo, na faixa dos R$ 29,90! Mais um
fator estimulador para efetivar a aquisição. Arrisquei!
E não é que os seus prêmios corroboram a sua qualidade? Surpreendente
vinho, um belíssimo vinho lisboeta, da Casa Santos Lima que é o LAB tinto, um
blend das castas Castelão (35%), Tinta Roriz (25%), Syrah (25%) e Touriga
Nacional (15%) da safra 2015. E como sou um apreciador dos vinhos de Lisboa,
nada mais conveniente uma breve e substanciosa história dos vinhos regionais de
Lisboa.
Vinhos Regionais de Lisboa
Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura
nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e
pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade
de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em
pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por
Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima
é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os
Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais
frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade,
todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente
conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim,
iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a
reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas
castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não
em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa
relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas
portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da
Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria
incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e,
neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são
regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa),
Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e
Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
1| Encostas de Aire
2| Lourinhã
3| Óbidos
4| Torres Vedras
5| Alenquer
6| Arruda
7| Colares
8| Carcavelos
9| Bucelas
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito
importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da
capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas
nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz
vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente
elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro,
especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam
acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas
qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na
zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são
instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são
essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta
região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa
(Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos
na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de
novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas
tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga
Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a
Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre
outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto,
Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em
algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos
DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas
dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos
mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são
aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em
garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.
A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer
as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como
a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que
partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por
exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou
Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo
e intensidade. Fonte: Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901
Agora o vinho:
Na taça um lindo vermelho rubi com entornos violáceos
brilhantes com poucas e rápidas lágrimas.
No nariz tem um aroma rico e proeminente de frutos vermelhos
maduros, frutos silvestres, como ameixas e amoras, por exemplo, com notas
generosas de especiarias.
Na boca é seco, com alguma estrutura e bom volume de boca,
mas macio, fácil de degustar, com taninos presentes, mas sedosos, baixa acidez,
com um final de boca frutado, agradável e persistente.
Um vinho que sintetiza com fidelidade o terroir lisboeta,
sendo muito versátil, harmonioso e equilibrado, onde mesmo com o seu corpo
médio, mostra toda a sua maciez, diria até por ter tido um estágio parcial por
4 meses por barricas de carvalho. O percentual do vinho que estagiou em madeira
não foi especificado no site da vinícola. Tem 13% de teor alcoólico.
Prêmios conquistados pelo rótulo (safra 2015):
1- China Wine
& Spirits Awards Best Value 2017 - Duplo Ouro
2- Austrian
Wine Challenge 2017 - Ouro
3- Portugal
Wine Trophy 2016 - Ouro
4- Sélections Mondiales des Vins 2016 - Ouro
Sobre a Casa Santos Lima:
Casa Santos Lima foi constituída para dar seguimento à
atividade desenvolvida pela família Santos Lima há várias gerações. Esta
atividade foi iniciada por Joaquim Santos Lima, que, no final do século XIX,
era já um grande produtor e exportador de vinhos. Maria João Santos Lima e José
Luís Santos Lima Oliveira da Silva, neta e bisneto do fundador, relançaram a
empresa em 1990, tendo procedido à replantação de grande parte das vinhas,
melhorado o encepamento das vinhas e modernizando toda a estrutura produtiva. No
âmbito da atividade de engarrafamento de vinho de qualidade, a empresa
desenvolveu desde cedo uma estratégia multi-marca, privilegiando produtos de
excelente relação qualidade/preço. Em 1996 iniciou-se a comercialização dos
primeiros vinhos engarrafados – Quinta da Espiga, Quinta das Setencostas,
Palha-Canas e alguns varietais, que imediatamente tiveram grande sucesso nos
mercados nacional e internacional. Atualmente, cerca de 90% da produção total é
exportada para perto de 50 países nos 5 continentes. Esta grande vocação
exportadora deve-se fundamentalmente à excelente relação qualidade-preço dos
seus vinhos, parte integrante da atitude e filosofia da empresa. Tal facto tem
sido confirmado de forma sistemática pela atribuição de inúmeros prémios e
críticas favoráveis por parte da imprensa especializada e a atribuição de
referências “Best Buy”. Num passado mais recente a empresa cumpriu um plano de
alargamento para outras regiões como o Douro, Vinhos Verdes, Alentejo e Algarve
com aquisições de novas propriedades e sociedades ou parcerias com produtores
locais. A Casa Santos Lima tem agora uma oferta ainda mais completa e
diversificada pronta para responder às exigências dos mercados. A Casa Santos
Lima trabalha diretamente ou indiretamente nas regiões de Lisboa, Algarve,
Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. Desta forma e a partir de cerca de 400
hectares de vinha, a empresa produz vinhos conhecidos pela sua excelente
relação qualidade/preço e exporta cerca de 90% da sua produção total para perto
de 50 países nos 5 continentes. A Casa Santos Lima é também o maior produtor de
“Vinho Regional Lisboa” e “DOC Alenquer” e nos últimos anos tem sido um dos
mais premiados produtores portugueses nas principais competições nacionais e
internacionais de vinhos. Atualmente as principais instalações da empresa
(escritórios, loja e as adegas de maiores dimensões) estão situadas na Quinta
da Boavista em Alenquer, apenas a 45 km a Norte da cidade de Lisboa. Esta
Quinta pertence à família Santos Lima há mais de 4 gerações e oferece condições
ideais para a produção de vinho de qualidade. A Casa Santos Lima tem também
vinhas e adega própria situadas em Tavira no Algarve e ainda através de acordos
e parcerias com outras sociedades e produtores, explora também vinhas e adegas
nas regiões do Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. A Casa Santos Lima conta com um
portefólio muito alargado de vinho, produzindo todos os anos e em 5 regiões
diferentes vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes, frisantes, leves e
colheitas tardias. Este variado leque de opções permite à empresa grande
dinamismo no mercado nacional e internacional e tem permitido um crescimento
constante ano após ano. Neste momento a Casa Santos Lima é responsável pela
produção de cerca de 40% de todo o vinho certificado da Região de Lisboa e é um
dos principais exportadores de vinho português.
Mais informações acesse:
Degustado em: 2019