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domingo, 24 de maio de 2020

Como ler um rótulo de vinho?


O rótulo é como o documento de identificação de um vinho e a forma mais fácil de conhecê-lo antes da degustação. Assim, para minimizar as chances de comprar um vinho que não corresponda às suas expectativas, é importante entender as principais informações contidas em seu rótulo. A quantidade de informações e o formato delas varia bastante entre os rótulos, que podem conquistar sua atenção também por suas cores e design, e assim gerar alguma confusão na hora da escolha.

Os elementos de um rótulo

Nem todos os rótulos apresentam a mesma qualidade de informação. Alguns são mais detalhados, outros mais genéricos. Mas existem algumas informações básicas, presentes em quase todos os vinhos finos. Via de regra, os elementos de um rótulo são sempre os mesmos: produtor e/ou nome do vinho, região de cultivo das uvas, país, classificação quanto à denominação de origem, variedade, safra, graduação alcoólica e volume. Claro que existem diferenças entre Novo e Velho mundo, países, regiões, denominações e até mesmo produtores.

São dois os tipos básicos de rótulo de vinho:

Rótulos de vinhos do novo mundo

Destacam principalmente o nome do vinho e a(s) uvas(s) que o compõem (Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, entre outras). É comum em vinhos de países como o Brasil, Argentina, Chile, África do Sul, Estados Unidos, Austrália, entre outros.

Rótulos de vinhos do velho mundo

Destacam o produtor e a região onde as uvas foram cultivadas (Bordeaux, Champagne, Rioja, Chianti, entre outras). É comum em vinhos de países como a França, Itália, Espanha, Portugal, entre outros.

Nome do vinho

O nome geralmente ganha grande destaque no rótulo, principalmente em vinhos do novo mundo. Muitas vinícolas possuem diversas linhas de vinhos e, para melhor identifica-las, cada linha recebe seu próprio nome. A vinícola chilena Concha y Toro, por exemplo, possui os vinhos Don Melchor, Marques de Casa Concha, Casillero del Diablo, entre outros.


Produtor

O nome do produtor muitas vezes aparece com destaque. Ele pode ser uma grande empresa ou uma pequena vinícola familiar. Alguns produtores não dão um nome específico aos seus vinhos, utilizando apenas o nome da própria vinícola, muitas vezes seguido pelo nome da uva e safra.


Uva(s)

Muitos vinhos (principalmente do novo mundo) apresentam no rótulo uma ou mais uvas que foram utilizadas em sua produção. Isto ajuda o consumidor a ter uma noção do estilo e sabor do vinho que está comprando, além, é claro, dos pratos que podem harmonizar com ele. Quando o vinho é produzido com apenas uma variedade de uva (ou uma grande porcentagem dela) é chamado de vinho varietal. Se produzido com duas ou mais uvas, é nomeado como vinho de corte ou assemblage.


Vinhos varietais

Exemplos:

Um vinho nacional feito com 100% da uva merlot. Um vinho argentino feito com 95% da uva malbec e 5% da uva bonarda. Repare que neste segundo exemplo, a quantidade da uva bonarda é bem inferior à malbec. Por que o enólogo utiliza uma quantidade tão pequena de outra uva para completar a bebida?

Se a intenção do enólogo é produzir um vinho varietal com duas ou mais uvas, ele deve, antes de qualquer coisa, atentar-se à legislação do seu país ou região. Alguns países e regiões determinam que seja utilizado um percentual mínimo da uva predominante para rotular um vinho como varietal.

Por exemplo:

No Brasil, Chile e Nova Zelândia, a legislação determina que um vinho varietal tenha, no mínimo, 75% da uva predominante.

Na Austrália e África do Sul, a predominância deve ser de 85% no mínimo.

Em algumas regiões dos Estados Unidos, a predominância deve ser de 90% no mínimo.

Mesmo variando de região para região, a predominância da principal uva sempre estará entre 75% e 90%.

Vinhos varietais ficaram famosos a partir dos anos 60 nos chamados países de novo mundo (Austrália, Nova Zelândia, Africa do Sul, Estados Unidos e nos países sul-americanos). O objetivo de destacar o nome da uva no rótulo era entrar em concorrência com vinhos das principais regiões vinícolas europeias, que ostentam o nome da região onde o vinho é produzido. Mesmo sendo um pequeno acréscimo, uma segunda variedade pode fornecer ao vinho maior estrutura, acidez e aromas, atingindo o resultado que o enólogo deseja.

Vinhos de corte, blend ou assemblage

Os vinhos produzidos com duas ou mais uvas são os chamados vinhos de corte, blend ou assemblage.
Exemplos:

O vinho Bordeaux tinto é um corte geralmente feito com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, podendo também entrar na mistura as uvas Cabernet Franc, Petit Verdot, Carménère e Malbec.

Um vinho tinto elaborado com determinada variedade de uva, porém, de safras diferentes, também é considerado um vinho de corte. Os vinhos de corte são geralmente encontrados na Europa, onde o objetivo dos produtores é conseguir um vinho mais equilibrado e completo, somando as características e qualidades individuais de cada uva. Desta forma, misturam-se, além de diferentes variedades, uvas de diferentes safras, vinhedos e condições de maturação.

Região de origem

A região onde o vinho foi produzido ganha mais destaque em rótulos de vinhos do velho mundo, onde indica, muitas vezes, a qualidade superior de um vinho. Algumas regiões são conhecidas por terem o clima e solos propícios para o cultivo de determinadas uvas, como no caso da região de Chablis, na França, famosa pela produção de brancos da uva Chardonnay, ou Bordeaux, conhecida pelos seus tintos a base de Cabernet Sauvignon e Merlot.

Além da região de origem, muitos vinhos dão destaque às subregiões – áreas menores com solos e micro-climas de características particulares que encontram-se dentro de regiões maiores. Um exemplo é a comuna de Saint-Émilion, em Bordeaux, na França.

Geralmente, quanto mais específica a origem das uvas, podendo ser uma subregião ou até mesmo um determinado vinhedo, mais refinado o vinho e maior o seu preço.


Safra

A safra indica o ano em que as uvas foram colhidas. É uma informação muito importante, já que alguns vinhos podem melhorar com o tempo, enquanto outros perdem suas melhores características. 

De modo geral, a maioria dos vinhos brancos e rosés devem ser consumidos dentro de 2 ou 3 anos, enquanto a maioria dos tintos em até 5 anos. Existem também os vinhos de guarda, aqueles que podem evoluir por muitos anos e até mesmo décadas. Os vinhos que não apresentam a safra no rótulo, como a maioria dos vinhos espumantes e vinhos do Porto, são aqueles produzidos com uvas colhidas em diferentes anos.


Vinhos sem safra

Alguns vinhos, como são comuns nas garrafas produzidas na região do Douro (vinho do Porto), em Portugal, e em Champagne, na França, não apresentam ano da safra no rótulo. Isso acontece porque eles são produzidos a partir da mistura de uvas colhidas em anos diferentes.


Denominação de Origem

É uma espécie de selo de qualidade concedido por instituições governamentais de diversos países, principalmente do velho mundo. A certificação garante que o vinho foi elaborado dentro de uma região delimitada, respeitando todas as regras de produção impostas à esta região. Vinícolas que adquirem o selo têm sua reputação elevada e o consumidor ganha, pelo menos em teoria, a garantia de aquisição de um produto de qualidade.

Algumas Denominações de Origem mais comuns em rótulos de vinho são:

AOC – Appellation d’Origine Contrôlée (França)

DO – Denominación de Origen (Espanha) e Denominação de Origem (Brasil)

DOC – Denominação de Origem Controlada (Portugal) e Denominazione di Origine Controllata (Itália)

DOCG – Denominazione di Origine Controllata e Garantita (Itália)

QBA – Qualitätswein Bestimmter Anbaugebiete (Alemanha)


Região ou país de Origem

Algumas regiões são conhecidas por terem o clima e solos propícios para o cultivo de determinadas uvas, indicando vinhos de alta qualidade. Na dúvida, escolha um vinho pelas uvas mais conhecidas de cada país ou região:

Argentina – 5º maior produtor mundial e maior consumidor e produtor da América do Sul, a Argentina fabrica vinhos tintos feitos principalmente com uvas Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot, além de brancos com Chardonnay e a local Torrontés.

Alemanha – O forte da Alemanha são os vinhos brancos e de sobremesa, e as estrelas do país são as uvas Riesling e Gewurztraminer. Procure garrafas com a sigla “A.P.” no rótulo, que indicam vinhos produzidos segundo critérios nacionais de qualidade.

Austrália – Com destaque para os tintos produzidos com Pinot Noir, Merlot, Cabernet Sauvignon e a nacional Shiraz, a Austrália tem crescido no cenário mundial de produção de vinhos, sendo hoje a 6ª maior produtora do mundo.

Brasil – Apesar de ainda não ser estrela global, o Brasil também produz vinhos de boa qualidade. Os espumantes são os mais conceituados, mas tintos feitos com Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, assim como brancos de Riesling, Gewuztraminer, Sauvignon Blanc e Chardonnay também têm apresentado boas safras.

Espanha – No ranking como o 3º maior produtor do mundo, a Espanha brilha com uvas nacionais como as brancas Palomino e Maccabeo e as tintas Trempanillo e Garnacha.

Estados Unidos – Crescendo muito em produção, hoje o 4º maior produtor do mundo, as principais safras estadunidenses vêm da Califórnia e se inspiraram na região de Bordeaux, na França, produzindo uvas como Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Riesling.

França – Em 2º lugar no ranking de produção mundial, esse é o país que mais bebe vinho por habitante adulto no planeta. Por essas e outras é que a França é simplesmente sinônimo de tradição e qualidade quando o assunto são suas vinícolas. Os vinhos fabricados por lá são classificados por região, e não por uva, sendo as principais Alsácia; Bordeaux; Bourgonha; Champanhe; Loire; Rhônes; Languedoc-Roussillon ou Provença.

Itália – Campeã mundial de produção, a Itália conta com 5 regiões produtoras diferentes, controles de qualidade rigorosos e diversas uvas nativas, como Prosecco, Barbera, Trebbiano, Sangiovese e Nero d’Avol.

Portugal – Com o Vinho do Porto como carro-chefe, Portugal também oferece a excelente uva Touringa Nacional.

Maturação e envelhecimento

Vinhos que tiveram algum cuidado especial durante a colheita, seleção de uvas, vinificação e que passaram por algum período de amadurecimento em barris de carvalho e envelhecimento na própria garrafa, geralmente estampam em seus rótulos os termos Riserva, Reserva e Gran Reserva. Entretanto, a utilização dos termos não é igual em todos os países, já que apenas regiões vinícolas da Espanha e Itália possuem regras específicas para utilização das nomenclaturas. Leia "Classificação dos vinhos espanhóis" aqui: Classificação dos Vinhos Espanhóis

Os demais países vinícolas não estão proibidos de utilizar os termos, porém, como não existe nenhuma regulamentação fora da Espanha e Itália, muitos produtores os utilizam sem muito critério.

Já o termo Reservado não quer dizer absolutamente nada. Os vinhos que carregam este título são, na maioria das vezes, vinhos de entrada de muitas vinícolas, isto é, os vinhos mais simples que o produtor elabora.


Graduação alcoólica

O álcool contribui para a longevidade do vinho. Quanto mais álcool tiver, mais tende a durar, seja fechado ou mesmo depois de aberto. Os vinhos com maior teor alcoólico se mostrarão mais quentes e pesados ao paladar. Vinhos fortificados são os que mais álcool possui, podendo chegar até 22% vol.


Demais informações encontradas em rótulos de vinho

A seguir você verá outras informações que podem ser encontradas em rótulos de vinho. Estas, não são tão comuns quanto as anteriores, mas merecem ser mencionadas.

Origem de engarrafamento

Esta informação atesta que o vinho foi produzido e engarrafado na própria vinícola ou château. Algumas empresas negociantes de vinhos compram uvas ou o próprio vinho de algumas vinícolas e fazem seu próprio engarrafamento e rotulagem.

Antigamente esta prática não era bem vista, já que não havia muito controle do que estas empresas faziam com o vinho após comprá-lo para revenda.

Como alguns destes vinhos chegavam aos consumidores com qualidade bem abaixo do esperado, muitas vinícolas começaram a destacar em seus rótulos que os vinhos eram produzidos em engarrafados na origem, isto é, na própria vinícola.

As menções sobre a origem do vinho mais comuns em rótulos são:

Mis en Bouteille au Château (França)

Mis em Bouteille à la Propriete (França)

Mis em Bouteille au domaine (França)

Embotellat a la Propietat (Espanha)

Imbottigliato all’origine (Itália)

Erzeugerabfüllung (Alemanha)


Idade das vinhas

Videiras antigas tendem a produzir frutos de sabores mais concentrados originando vinhos consideradas superiores. Para agregar maior valor ao vinho, alguns produtores evidenciam esta informação em seus rótulos, geralmente utilizando frases como:

Vinhas Velhas

Vieilles Vignes

Old Vines


Qualidade do terreno ou Reputação da vinícola (CRU)

O termo Cru foi criado na França, mais especificamente na Borgonha, de modo a identificar parte de um vinhedo cujo vinho apresenta determinadas características específicas, safra após safra. Os terrenos considerados de melhor qualidade, ganharam os nomes Grand Cru e Premier Cru.
Diferente da Borgonha, em Bordeaux o termo Cru é utilizado para identificar os Châteaux de maior reputação.


Como aparecem os métodos de cultivo das uvas no rótulo?

Orgânico/ Biológico

Método de cultivo das uvas livre do uso de defensivos agrícolas como pesticidades, herbicidas e fungicidas.

Biodinâmico

Diferencia-se do orgânico por ser um método de cultivo das uvas com base na antroposofia, ciência que estuda o conhecimento ancestral da humanidade. Além de não contar com defensivos agrícolas, os biodinâmicos orientam a fase do cultivo pelo sistema lunar.

Como aparecem os métodos de vinificação e filtração do vinho no rótulo?

Natural

Não existe uma classificação oficial para os vinhos naturais. Os poucos que estampam no rótulo indicam vinhos fermentados com as leveduras naturais da própria uva e, por vezes, que não contém conservadores como sulfito.

Sem clarificação/ sem filtração

O nome já diz tudo – são vinhos que não passam por processo de clarificação e/ou filtração. Estes processos consistem na retirada de partículas naturais do vinho que deixam a bebida com certa turbidez.

Sur lie

A palavra francesa significa que o vinho foi engarrafado com as borras (leveduras mortas que restaram da fermentação).

Como aparece o nome do produtor do vinho no rótulo?

Château

Traduzida do francês, a palavra significa castelo, que em Bordeaux é sinônimo de propriedade vinícola.

Domaine

A palavra francesa significa domínio, mas sobretudo na Borgonha refere-se a vinícola.

Weingut

Do alemão, significa produtor.



Fonte: