Definitivamente o Alentejo é a minha região preferida de
produção vitivinícola de Portugal. E não é apenas a predileção, tem também um
aspecto sentimental, histórico em minha vida enófila. Conheci os vinhos
portugueses pelo Alentejo. Foi a minha porta de entrada para os vinhos
lusitanos. E lembro-me bem dos meus primeiros vinhos. O que deveria ser uma
espécie de “ensaio” em meu primeiro contato com as autóctones castas
portuguesas, bem como os seus rótulos, com vinhos mais básicos ou simples das
vinícolas eu comecei com uma “prova de fogo”: com vinhos mais robustos e
amadeirados. Talvez por esse motivo tenha sido marcante em minha vida de imediato.
O impacto que, para muitos aspirantes do mundo do vinho, poderia ser um tanto
quanto insólito e desastroso, para mim foi arrebatador, foi único. E hoje tive
o prazer de rememorar os momentos fantásticos de outrora dos meus primeiros
contatos com o Alentejo e suas castas e tipicidade com um belo e surpreendente
rótulo que um grande amigo adquiriu e que me convidou, gentilmente, em sua
casa, para degustarmos o mesmo. Melhor que ter amigos é ter amigos que nos
presenteia e gosta de vinhos.
Então o vinho que degustei e gostei, como disse, veio da
abençoada terra do Alentejo, em Portugal, se chama Real Grei composto pelas
castas Alicante Bouschet e Trincadeira da safra 2018. Esse misto de castas
autóctones e estrangeiras vem sendo adotada em Portugal e revela um mix muito
interessante, trazendo personalidade aos vinhos e um caráter mais moderno, mas
respeitando seus aspectos mais tradicionais. Então, já que falamos sobre
tradição e terrior, falemos um pouco, antes de descrever o vinho, um pouco
dessa fantástica região: Alentejo.
Alentejo
A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de
Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a
época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo
encontrar provas da civilização fenícia existente à 3000 anos atrás. Fenícios,
celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de
Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição
caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante,
escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos,
mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona
deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas. Após os romanos e
os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da
reconquista, que chegou com a construção de inúmeros castelos, alguns deles
construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger
a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o
Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na
agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século
até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.
Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana,
com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de
forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas
mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam
condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas
vínicas.
Alentejo
As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º,
observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a
ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do
sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima,
sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos
bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos
caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de
"Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de
"Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora",
"Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo",
"Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8
sub-regiões da DOC "Alentejo".
E finalmente falemos do vinho!
Na taça tem um vermelho rubi escuro, profundo, até um pouco
caudaloso, o que se deve a participação da Alicante Bouschet, cuja
característica, entre outras, é de uma casta muito escura, predominantemente
escura. Uma profusão de lágrimas, grossas e que teimava em desenhar as paredes
do copo.
No nariz é extremamente complexo, aromático, trazendo notas
de frutas maduras, como figo, ameixa preta e frutas secas também. Apresenta um
toque amadeirado, um discreto toque de baunilha, diria também um defumado,
graças aos 9 meses de passagem por barricas de carvalho.
Na boca vem a percepção clara da fruta madura, das frutas
secas, das notas de especiarias, de ervas, com a madeira em evidência, mas que,
em nenhum momento, descaracterizou as castas, mostrando estrutura, corpo,
graças ao Alicante Bouschet, tendo a Trincadeira com a missão de “abrandar” o
vinho. Tem taninos presentes e gordos, mas domados, devido a passagem do vinho
por madeira, com uma acidez correta. Um final particularmente agradável, com um
toque de chocolate e muito persistente.
Um vinho robusto, ainda jovem, poderíamos degusta-lo em 5 a 8
anos tranquilamente, tinha vocação de guarda, mas foi uma experiência única e
fantástica ter degustado esse rótulo com apenas dois anos de safra. O álcool estava
na primeira taça um pouco desequilibrado, afinal, é um vinho jovem e de
robustez etílica, com 14,5% de teor alcoólico, mas que logo na segunda taça,
após um tempo com o vinho respirando logo ficou equilibrado, com o seu teor
alcoólico equilibrado. É o que o vinho é: equilibrado, gastronômico,
harmonioso, poderoso e saboroso, muito saboroso. Só tenho a agradecer o meu
amigo Paulo por ter me convidado em sua casa e ter proporcionado a mim esse
belo rótulo. E como curiosidade o nome do vinho, “Real Grei” é uma homenagem ao
rei ao seu povo. Santo Povo ou Santa Nação é a sua benção.
Sobre a Carmin Reguengos:
CARMIM – Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz – foi
criada em 1971 por um grupo de 60 viticultores com o objetivo de produzir e
comercializar vinho, a partir da uva de um grupo de viticultores da região.
Contando hoje com cerca de 850 associados, a que correspondem
3.600 hectares de vinha, a CARMIM tem construído, ao longo destes anos de
história, vinhos e azeites de qualidade CARMIM, os quais passaram a ser
sinónimo de excelência. A empresa lidera o mercado nacional no segmento dos
vinhos de qualidade. A CARMIM possui atualmente cerca de 900 associados e
produz 74 referências de vinhos: dos brancos aos tintos, dos jovens aos
reservas, passando pelos licorosos, rosé e espumantes. A CARMIM também produz
aguardente e azeites de reconhecida qualidade. Os vinhos da CARMIM têm sido
distinguidos com mais de 600 prémios em vários concursos nacionais e
internacionais. Entre as marcas de vinho da CARMIM destacam-se o Monsaraz
Premium, Espumante Monsaraz, Garrafeira dos Sócios, Bom Juiz, Régia Colheita,
Monsaraz Millennium, Monsaraz, Reguengos, Terras d’el Rei e Olaria. Existem
ainda os vinhos Monsaraz monovarietais – Gouveio, Touriga Nacional, Alicante
Bouschet, Cabernet Sauvignon e Syrah – bem como a Aguardente Terras d’el Rei, o
Reguengos Licoroso, a Aguardente Vínica Velha e ainda o Vinho Licoroso Edição
Comemorativa dos 40 Anos da CARMIM. Para além do vinho, a CARMIM também produz
azeites de qualidade nas gamas Terras d’el Rei e Monsaraz. A qualidade da
matéria-prima, oriunda de uma região de denominação de origem, é uma das
mais-valias desta Cooperativa, a par do capital humano e de um complexo
agroindustrial de 8 hectares, onde se destacam as adegas, uma para vinhos
regionais, outra para vinhos DOC e o pavilhão de engarrafamento, dotados da
mais alta tecnologia. Aqui podem ser vinificados 1.500.000 quilos de uva por
dia, engarrafadas 21.000 garrafas por hora e armazenados até 33 milhões de
litros. A CARMIM é a maior adega do Alentejo e uma das maiores do País, sendo
um dos principais motores de desenvolvimento socio-económico da região de
Reguengos de Monsaraz, funcionando como suporte essencial para as empresas
agrícolas associadas e respetivas famílias. A Carmim possui uma das tecnologias
mais avançadas da Península Ibérica, ao nível da produção e engarrafamento de
vinhos, sendo uma adega de excelência em Portugal. O Grupo CARMIM aposta no mercado nacional com a empresa
Monsaraz Vinhos S.A., responsável por toda a comercialização e distribuição no
canal Horeca, já a empresa ENOFORUM é responsável pela exportação do Grupo
CARMIM, exportando atualmente para mais de 34 países. As duas empresas,
juntamente com a CARMIM, constituem o Grupo CARMIM.
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