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quinta-feira, 21 de março de 2024

Chianti Orgânico Sorelli 2019

 



Vinho: Chianti Orgânico Sorelli

Casta: Sangiovese, Canaiolo e Colorino

Safra: 2019

Região: Toscana

País: Itália

Produtor: Cantine Sorelli

Teor Alcoólico: 12,5%

 

Análise:

Visual: traz coloração rubi com tons acobreados, com lágrimas finas e rápidas.

Nariz: apresenta um ataque aromático de frutas vermelhas, com destaque para amora, cereja vermelha, framboesa e morango, com toques de especiarias, como pimenta e hortelã.

Boca: é equilibrado, macio e elegante, com taninos marcados, mas generosos e dóceis, com acidez média e um final longo.

 

Produtor:

https://www.cantinasorelli.com/?lang=en


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Castellani Chianti Riserva 2018

 



Vinho: Chianti Riserva

Casta: Sangiovese (80%), Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (10%)

Safra: 2018

Região: Toscana

País: Itália

Produtor: Castellani

Teor Alcoólico: 12,5%

Estágio: 24 meses em barricas de carvalho

 

Análise:

Visual: mostra um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: discreta nota amadeirada, algo de defumado, terra molhada, couro, tabaco, estrebaria, especiarias, frutas vermelhas maduras.

Boca: é intenso, apresentando média estrutura, com as notas frutadas replicadas como no aspecto olfativo, madeira discreta em sinergia com a fruta, especiado, defumado, entregando ainda chocolate e leve tostado, final médio.

 

Produtor:

https://www.castelwine.com/


segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Castellari Chianti Riserva 2018

 

O vinho que degustei e gostei de hoje é um clássico italiano! Falando em clássicos do vinho a Itália dispara na preferência dos mais exigentes paladares enófilos. Falo do Chainti, falo do Castellani Chianti Riserva da igualmente tradicional vinícola Castellani.

O vinho é composto pela tradicional Sangiovese, que predomina em 85% do blend, uma regulamentação do DOCG da região de Chianti, que segue com Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2015.

A Castellani foi estabelecida em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu a começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

Várias adegas foram adquiridas ao longo dos anos, como a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola, bem como a aquisição da vinha Poggio al Casone, além da Fazenda Campomaggio.

Falando um pouco de Chianti, a região é montanhosa e se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem cinco rios que cruzam e definem a área como os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses, nascendo a lenda Gallo Nero, que serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico.

Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano. Para maiores detalhes sobre a história de magnífica região segue o link de leitura do Blog “História com Gosto”.

O vinho, é um belo representante da bela Toscana e a sua pérola Chianti, mostra, no aspecto visual, um rubi intenso, quase escuro com halos granada, evidenciando algum tempo em garrafa, cerca de cinco anos, mas também pelos longos 24 meses que estagiou em barricas de carvalho.

No nariz apresenta discreto toque amadeirado, algo de terra molhada, couro, tabaco e baunilha, bem complexo, como já era de se prever de um chianti riserva. As notas frutadas se apresentam também, algo de frutas vermelhas como framboesa, cereja e até morangos e finaliza com especiarias, defumado. A rusticidade da casta predominante, a Sangiovese, se faz presente.

Na boca é intenso, com média estrutura para mais, evidenciado por taninos marcados, presentes, mas domados, com uma acidez vivaz, também típica da Sangiovese, bem como o álcool com alguma proeminência no início, acalmando ao longo da degustação. A madeira se mostrou discreta, porém entregou um leve chocolate e tostado, as notas frutadas protagonizam. Não evoluiu muito bem ao longo da degustação, mas se mostrou íntegro até o fim.

 


 




sexta-feira, 19 de maio de 2023

Poggio Al Casone Chianti Superiore 2019

 

Definitivamente a Itália é o país dos vinhos clássicos! Não há nenhum outro centro vitivinícola que produz, em larga escala e com tanta qualidade, vinhos do naipe de um Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Ripasso e tantos outros. 

Vinhos longevos, vinhos de marcante personalidade, vinhos potentes, poderosos e de plenitude jamais vista, jamais sentida em taça. Incluiria entre esses nomes, porém fora da Itália, Bordeaux.

Vinhos que não precisam de demasiadas apresentações, tanto que muitos deles carregam o nome de sua região, típico do Velho Mundo. Não há a apresentação das suas clássicas castas, não há detalhes, não há quase nada, apenas as regiões ostentando em letras garrafais o seu nome, a sua tradição.

Porém atualmente, atendendo aos anseios do mercado consumidor, alguns produtores dessas regiões divulguem nos seus rótulos ou em seus sites e redes sociais as castas que compões seus clássicos, entre outras informações que nunca foram, em seus rótulos, divulgados.

Mas diante desse exército de clássicos que a Itália tem em seu front há outro, igualmente importante, que até hoje não goza de tanta reputação quanto os Brunellos e Barolos da vida. Falo do Chianti.

Percebo como difícil definir o motivo pelo qual exista essa rejeição, mas acredito que seja pelo fato, entre outras definições, da diversidade de valores de várias “versões” que temos do Chianti, que vai no simples rótulo de entrada aos “Riservas”, “Superiore” e o “Gran Selezione”.

Isso gera certo questionamento quanto a qualidade dos rótulos que ostentam “Chianti”. Mas temos que entender que as propostas, as características existem, afinal é muito bom, muito relevante ter Chiantis para todos os bolsos. Não temos que nos equivocar e esquecer que esses questionamentos vêm desde os primórdios da bebida.

Eu me recordo, contudo, que, como o Barolo e Brunello di Montalcino, por exemplo, jamais teria acesso a um rótulo de Chianti por ser também um clássico italiano, sequer entendia dessa escala de propostas desse tipo de vinho, nos mais variados preços, pois criei uma espécie de barreira, colocando um empecilho para tê-los em minha adega.

Até quando tive o prazer de comprar o meu primeiro Chianti, o Castellani Chianti Riserva 2015. E o comprei a um valor incrivelmente baixo para um “Riserva”, cerca dos R$ 45,00! Não podia hesitar, o comprei. E ficou por alguns anos na adega, precisava degusta-lo em um momento importante, especial. E que vinho espetacular! A Sangiovese em seu estado mais genuíno, não é à toa que é a mais emblemática cepa da Itália.

Mas eu não queria ficar apenas nesse rótulo e busquei outras alternativas que pudesse aliar preço e qualidade e descobri outro também da Castellani, mas que ostenta outro termo, o “Superiore”. Embora essas nomenclaturas tragam certa confusão, principalmente entre os iniciantes no universo do vinho, as diferenças entre “Riserva”, “Superiore” e “Gran Selezione”, a diferença se dá basicamente no tempo em que os vinhos passam por barricas de carvalho. No caso do “Superiore”, indica que o vinho passou doze meses por madeira e apresenta graduação alcoólica maior que o típico do Chianti, sendo vinhos mais encorpados, com acidez mais macia.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região italiana da Toscana e se chama Poggio al Casone, um Chianti Superiore, composto pelas castas Sangiovese (90%) e Cannaiolo (10%) da safra 2019. Para não perder o costume, vamos de história, vamos de Chianti.

Chianti, Toscana

Desde a queda de Roma até o Risorgimento, por volta de 1850, o esfacelamento dos estados italianos em pequenas repúblicas e reinos ditou a vida de sua população e também o tom de seus vinhos. Foi nesse longo período conturbado que nasceu um dos vinhos mais famosos da Itália, o Chianti.

Geograficamente falando, Chianti é uma terra montanhosa que se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem 5 rios que cruzam e definem a área com: os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses. Acredita-se que, um dia, cansados de guerrear, os governantes das duas cidades decidiram por um outro tipo de disputa para estipular sob qual bandeira ficaria a região. Assim, concordaram que dois cavaleiros sairiam ao cantar do primeiro galo da madrugada, um partindo de Firenze em direção à Siena e o outro no sentido contrário. Onde eles se encontrassem, seria demarcado o limite dos domínios.

Assim nasceu a lenda do Gallo Nero, o galo negro que até hoje serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico. Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano.

Primeira Denominação de Origem

As primeiras documentações que tratam do vinho de Chianti remontam a 1398 e o descrevem como um vinho branco vendido pelo comerciante Francesco di Marco Datini. No entanto, o nome do vinho ficaria definitivamente gravado na história a partir de 1716, quando Cosimo III de Médici, o penúltimo de sua família a ser Grão-Duque da Toscana, apontou que as três cidades da Lega del Chianti, mais uma parte da vila de Greve, estavam aptas a produzir o vinho de nome Chianti.

Francesco di Marco Datini

Esta teria sido a primeira demarcação territorial, ou seja, a primeira Denominação de Origem, conhecida no mundo (os portugueses, porém, alegam que a primeira DO teria sido instituída pelo Marquês de Pombal em 1756, quando estabeleceu os marcos pombalinos na região que produzia o Vinho do Porto).

Apesar de o reinado de Cosimo III ter sido desastroso para a região, que se viu diante de uma enorme crise econômica e social, a demarcação durou até 1932, quando a área foi gradualmente expandida (a última expansão seria em 1967).

No entanto, mesmo demarcado, sabe-se que o vinho de Chianti obedecia a poucas regras. Historiadores apontam que, na época, uma das principais uvas usadas na produção do vinho era a Canaiolo, a mais cultivada na região, juntamente com a Sangiovese, Mammolo e Marzemino. Seria somente durante o Risorgimento italiano no século XIX, que o vinho tomaria uma forma, muito próxima do que tem hoje.

O grande nome por trás do estabelecimento de Chianti e também um dos principais responsáveis pela unificação italiana em 1961 foi o barão Bettino Ricasoli, cuja origem familiar remonta aos tempos de Carlos Magno. O “Barão de Ferro” (alcunha ganha por sua intransigência moral e econômica) foi um dos grandes pilares da unificação de seu país com sua atuação política no Ducado da Toscana. Não à toa, ele chegou a ser primeiro ministro italiano quando o rei Vitório Emanuele assumiu o poder.

Bettino Ricasoli

Além de ser a criadora do Chianti, a família Ricasoli produz vinhos desde o ano 1141, quando adquiriu o legendário Castello de Brolio. Essa longa história faz da Barone Ricasoli a vinícola mais antiga da Itália e a segunda mais antiga do mundo. O Castello de Brolio estava em ruínas na época.

Determinado a dar novos rumos à produção local, o Barão de Ricasoli viajou para a França e a Alemanha, onde aprendeu novas maneiras de cultivo, além de importar variedades e experimentar maquinários. Assim, em 1872, ele teria criado a “fórmula” do Chianti e assim escreveu:

“Os resultados obtidos já nas primeiras experiências confirmam que o vinho recebe do Sangioveto a principal dose de seu perfume (o que eu particularmente procuro) e um certo vigor de sensação; do Canajuolo, a amabilidade que tempera a dureza do primeiro, sem tolher em nada seu perfume; a Malvagia, a qual se pode colocar menos nos vinhos destinados a envelhecer, tende a diluir o produto das duas primeiras uvas, não acrescenta sabor, e o torna mais leve e mais prontamente usável na mesa cotidiana”.

A “fórmula do Chianti” escrita na famosa carta endereçada ao professor Cesare Studiati da Universidade de Pisa, na qual exaltava os aromas e a estrutura da Sangiovese, a maciez da Canaiolo e a tendência da Malvasia a diluir o vinho, fez com que o Barão sugerisse que esta uva não fizesse parte do corte dos vinhos de guarda da sua região. A receita do Barão era 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia Bianca. Em 1967, sua “fórmula” foi ratificada pela regulamentação da DOC (com acréscimo da Trebbiano).

Renascimento

O Chianti então surgiu como uma versão do “clarete” francês – sem variedades internacionais, contudo. Foi durante o Risorgimento que ele alcançou a glória, quando Firenze se tornou capital da Itália e Ricasoli primeiro ministro. No entanto, apesar dos esforços do barão, com o tempo, a fama do vinho tornou-se ruim, muito devido às condições econômicas precárias da região, especialmente depois das pragas que chegaram à viticultura em meados do século XIX e também muito devido ao contrato de uso das terras entre agricultores e os donos das propriedades.

A mezzadria (sistema feudal em que os camponeses dividiam a sua colheita com os senhores de terras) e a agricultura promiscua (diversas culturas em um mesmo terreno) perdurou na Toscana até praticamente os anos 1970 e atrasou o desenvolvimento do vinho na região – já que a colheita ia ser dividida, era melhor, para o agricultor, plantar mais quantidade do que pensar em qualidade.

Clante

A origem do nome Chianti é incerta. Para alguns, ela vem de clangor, que nada mais é do que o som dos instrumentos metálicos, mais especificamente das trombetas. No entanto, também pode designar o atrito entre objetos de metal, como espadas. Daí, acredita-se que o nome possa ter surgido devido a esse barulho das trombetas de caça ou então das batalhas. Outra possibilidade, muito mais aceita, é o termo ter vindo da palavra etrusca clante, que significaria água (abundante na região) ou então seria apenas um nome de família muito comum na área.

O movimento dos vinhos “Super Toscanos” fez com que Chianti aprimorasse suas normas. Nos anos 1960, alguns produtores estavam desapontados com os rumos que Chianti havia tomado. Apesar de a DOC ter finalmente estabelecido uma regra para seus vinhos em 1967 (e talvez por isso também), muitos passaram a experimentar com novas variedades, especialmente as francesas, no intuito de produzir um vinho melhor e mais caro (desde o fim da II Guerra Mundial, Chianti era considerado um vinho simples e barato).

Assim, entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970, duas poderosas famílias decidiram fazer vinhos mesclando Sangiovese com variedades francesas. Tanto o Marquês Mario Incisa della Rochetta quanto seu sobrinho, Piero Antinori, lançaram respectivamente Sassicaia e Tignanello, os primeiros Super Toscanos de que se tem notícia, vinhos que mudariam para sempre o cenário na região.

O fenômeno houve novas mudanças nas regras, com a introdução de variedades francesas no blend de Chianti. Dez anos depois, as variedades brancas foram proibidas em Chianti Classico, que já passava a aceitar Sangiovese “in pureza”, ou seja, 100%. Hoje, além do Classico, Chianti possui outras sete sub-regiões, cada uma com regras específicas. As mudanças de regras foram constantes nos últimos 40 anos. As últimas modificações em Chianti Classico, por exemplo, ocorreram em 2013, quando, entre outras coisas, criou-se uma nova classificação, com um nível qualitativo acima dos Riserva: os Gran Selezione.

Os diferentes Chianti

O simples termo “Chianti” diz muito pouco sobre o vinho. Muito resumidamente, indica que se trata de um tinto italiano, produzido na região da Toscana, em uma área que se estende entre as cidades de Florença e Siena, a partir de, principalmente, Sangiovese. Ainda que Chianti seja uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) e, portanto, existam regulamentações tratando de sua produção, a variedade é grande.

Além da “denominação genérica” Chianti DOCG, há outras denominações específicas que levam em consideração a proveniência geográfica das uvas: Chianti Classico (a mais antiga, famosa e tradicional), Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli e Chianti Rufina. Também, os termos Chianti Superiore (não permitido para Chianti Classico) e Chianti Riserva servem para nomear vinhos que tenham atendido períodos de envelhecimento determinados, dentre outros fatores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo rubi intenso, brilhante, reluzente, com reflexos violáceos tendendo para o grená, com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.

No nariz traz a exuberância das frutas vermelhas maduras, bem frescas com destaque para a groselha, cereja, framboesa e morango, com as notas amadeiradas que desponta de forma bem discreta, mas que entrega baunilha e um agradável defumado e mentolado, com toques de tabaco, couro e especiarias, algo de pimenta preta, diria. A rusticidade da Sangiovese se mostra.

Na boca tem corpo médio, tem vivacidade, personalidade, mas traz elegância, maciez e muito equilíbrio, pois traz o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo, em total convergência com a madeira, graças aos doze meses em barricas de carvalho. Tem taninos doces e domados, com acidez vibrante, abundante que faz salivar a boca a cada degustação. Tem um final guloso, com média persistência.

Tradição, história, mesmo que ao custo de guerras, sangue, mortes, disputas pelo poder político e econômico. As redenções pavimentadas por todos esses eventos e intenções. O vinho foi e é um veículo de tais manifestações da sociedade, independente do contexto e cronologia. O que nos resta, no entanto, é permitir contemplar e entender esses momentos históricos com o olhar crítico, mas separando-os do prazer, do deleite em degustar um bom e velho vinho, porque é um elixir ao corpo e a alma, sobretudo daqueles que o ama. Toscana e a sua região mais importante em todos os aspectos, é sinônimo de renome no mundo todo por causa de Chianti e de suas grandes e espetaculares histórias que, de uma forma ou de outra, corroboraram na sua importância e qualidade que até hoje busca a excelência. O Poggio al Casone Chianti Superiore foi produzido nas vinhas que circundam a casa de Pierlugi Castellani e é um vinho encorpado, mas elegante, dada a sua complexidade atribuída ao “Sangue de Júpiter”, chancelando Chianti como um dos mais emblemáticos vinhos da história. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli.

Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. Durante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Blog História com Gosto”: https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/11/a-regiao-do-chianti-classico-toscana.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/todos-os-chianti_10196.html

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/chianti/#:~:text=Chianti%20%C3%A9%20um%20tipo%20de,Chianti%20Cl%C3%A1ssico%20a%20mais%20famosa












sábado, 10 de dezembro de 2022

Governo All' Uso Toscano Loggia dei Sani Sangiovese e Canaiolo 2020

 

Quando você fala ou apenas lembra da Itália, de seus vinhos, qual casta vem à mente? Não há discussões quando a Sangiovese, a velha “Sangue de Júpiter”, é lembrada. É sinônimo de tradição, de história.

A Sangiovese praticamente é cultivada em todas as regiões da Itália, das mais emblemáticas às menos conhecidas. Segue, assume várias encarnações, várias propostas, de vinhos mais leves, de entrada aos mais complexos, longevos.

Os clássicos italianos têm na Sangiovese como a sua principal casta, vide os Chiantis, os Brunellos di Montalcino, por exemplo. Não há como questionar a sua representatividade, como também a sua qualidade, a sua tipicidade, as suas mais marcantes personalidades com um forte apelo regional.

Por que falo, de forma tão ardorosa, da Sangiovese nesse momento? Porque simplesmente vou degusta-la novamente! Gostaria de degustar mais vinhos dessa cepa e oportunidades não faltam, afinal são tantos os rótulos ofertados em nosso mercado. Uma falha, sou réu confesso.

Inclusive tive a alegria, o privilégio de degustar o meu primeiro Chianti, um Riserva, da Famiglia Castellani, da safra 2015, com a predominância da Sangiovese e que experiência única, singular! Quanta elegância e complexidade em um vinho!

E o vinho de hoje também traz alguns contornos especiais, com novidades! E pensar que, diante de uma massiva oferta de rótulos da Sangiovese por aí em nosso mercado, não teriam mais novidades, eis que me surge uma que, no primeiro contato, me pareceu estranho, mas tentador.

O vinho que degustei e gostei veio da icônica Toscana, na Itália, e se chama Governo All’Uso Toscano Loggia Dei Sani Rosso da safra 2019. Mas o que significa “Governo All’Uso”?

"Governo all uso Toscano” é um método similar ao ripasso do Veneto, que consiste numa fermentação secundária do vinho, obtida pela adição de uvas levemente passas. Muito bem feito para o estilo, mostra frutas vermelhas maduras e em compota seguidas de notas florais, terrosas, de ervas secas e de especiarias doces.

E diante dessa apresentação, no mínimo instigante, torna-se um aditivo para a já queridinha Sangiovese e as suas atraentes características, mas antes de falar propriamente do vinho, vamos às histórias da Toscana, uma das mais representativas regiões vinícolas da Itália.

Toscana

A Toscana é uma região, no centro da Itália, rica em história, artes, turismo, uvas, queijos e vinhos. É o sexto produtor italiano de vinhos, com um percentual de DOCs bem acima da média do país: 40%. Tem onze classificados na categoria mais alta (DOCG); e quarenta e um DOC. Destaca-se ainda pela grande quantidade de “vini da tavola” de alto nível.

Toscana

O desenvolvimento desta região está ligado à história da civilização etrusca, aos romanos, ao Renascimento no final da Idade Média, às artes, à cultura, ao turismo e à produção, principalmente, de vinhos. Há registros da civilização etrusca desde 1700 a.C. Eles dominaram toda a Toscana e parte da Úmbria, Lazio, incluindo algumas ilhas no Mediterrâneo, como a Ilha de Elba. Eram muito evoluídos. Foram os primeiros a dominar a extração e utilização do minério de ferro.

A maioria das cidades importantes da Toscana foi construída pelos etruscos. Volterra era a capital, por ter minas de ferro, sal e alabastro. A partir de 283 a.C., aliaram-se aos romanos e com o tempo foram incorporando sua cultura. Estes, por sua vez, aprenderam a dominar a utilização do minério de ferro na construção de armamentos e artefatos de guerra e tornaram-se poderosos. As armas de bronze utilizadas pelas outras civilizações eram mais frágeis e se rompiam nas batalhas.

Durante a aliança, dois generais etruscos comandaram legiões romanas. Aos poucos a civilização etrusca foi sendo absorvida pela cultura romana e desapareceu. O alfabeto, semelhante ao grego, nunca foi decifrado. Sua história ficou sem registros, perdida no tempo, restando os cemitérios, as tumbas, os sarcófagos e museus. Os mais importantes ficam em Chiusi, Cortona e, principalmente, Volterra.

Os etruscos já produziam vinhos quando da aliança com os romanos. Coube a estes incrementar a qualidade. A uva Sangiovese, casta principal dos vinhos da Toscana, talvez tenha sido trazida pelos romanos de suas conquistas no Oriente Médio. Existe uma teoria que tenha sido trazida por Anibal, o Conquistador. O nome Sangiovese foi dado pelos romanos, e significa “sangue de jovem”. Ao espremer as uvas nas mãos acentuava a cor vermelha. Era também chamada de sangue de Júpiter – sangue dos Deuses.

A Sangiovese é o esteio da produção regional e está presente nos vinhos finos da Toscana. É a única uva admitida na produção do Brunello di Montalcino e Rosso di Montalcino, sendo a base da produção dos vinhos Chianti, Montepulciano e a maioria dos vinhos toscanos superiores mais modernos ("Super Toscanos"). Quando usada isoladamente exige muito esforço para produzir um vinho de sabor apurado e consistente. Por esta razão é geralmente misturado a outras uvas viníferas, principalmente a Cabernet Sauvignon.

A uva vinífera Trebbiano forma a base dos vinhos brancos produzidos na Toscana. É cultivada largamente devido a sua grande produtividade e por conservar sua acidez mesmo em regiões quentes. De paladar geralmente neutro, só é utilizada isoladamente na fabricação de vinhos inferiores vendidos em garrafões. De regra, é usada como uma base neutra em conjunto com outras uvas, como a malvasia.

Mais recentemente muitos produtores estão mostrando interesse em outras variedades viníferas como a Chardonnay e a Sauvignon Blanc, especialmente nas áreas mais altas onde a Sangiovese amadurece com dificuldade.

O vinho mais importante produzido na região da Toscana são os populares Chianti e Chianti Clássico. A maioria destes vinhos pertence ao consórcio Clássico e traz o símbolo do gallo nero (galo preto) estampado no rótulo. Este é de produção da tradicional família que carrega o sobrenome Tuscan, ou Toscano.

Uma nova safra de vinhos tintos são os Super Tuscans, que são fabricados seguindo um padrão internacional com a utilização de uvas viníferas francesas como Cabernet Sauvignon e Merlot. Outros importantes vinhos toscanos são Montalcino, Montepulciano, Bolgheri, Carmignano e Maremma. A produção de vinhos brancos é mais concentrada na área de San Gimignano.

Ao sul da Toscana, se produz o tradicional e poderoso Brunello de Montalcino, que, juntamente com o Barolo, é o mais aclamado – e geralmente mais caro – vinho tinto italiano. A região da Toscana onde se produz este vinho é uma das poucas a levar a classificação mais alta na hierarquia das regiões vinícolas italianas – a DOCG (Denominação de Origem Controlada Garantida). O Brunello é produzido com uma única uva, a Sangiovese grosso, um potente clone da Sangiovese.

Como a paisagem da Toscana é ondulada, com muitas colinas, os vinhedos situados nas encostas em pontos relativamente altos fornecem a maioria dos vinhos de qualidade superior da Toscana. Isto porque nestas altitudes há concentração da luz do sol pelo tempo necessário para favorecer o correto amadurecimento das uvas.

Outro fator valorizado pelos produtores é a significativa variação de temperatura entre dia e noite nas zonas mais altas. O clima da Toscana é classificado como mediterrâneo e ali os invernos são rigorosos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, quase escuro, com halos granadas e lágrimas finas e lentas que mancham o bojo.

No nariz traz aromas de intensidade média com um primeiro ataque de frutas pretas, como ameixas, cerejas pretas, diria sutis aromas de frutas vermelhas, envoltos em um toque floral, de violetas, com especiarias ao fundo, notando-se a pimenta, além de couro, tabaco.

Na boca é seco, de médio corpo a encorpado, com bom volume de boca, alcoólico, mas harmonioso, equilibrado, graças às notas frutadas que protagonizam, com algo terroso. Tem taninos presentes, marcados, boa acidez e um final extremamente prolongado e persistente.

Um roteiro histórico, métodos tradicionais de vinificação, apelos regionais aflorados.... Tudo conspira a favor dessa especial degustação e entrega, além do prazer sensorial, a alegria de viajar pela história por intermédio de generosas taças cheias, a história de séculos, milênios cabem em uma garrafa. Grata experiência de um vinho que, mesmo diante de uma tradicional história da Toscana, ainda é capaz de me proporcionar novidades! Que venham outras e outras pela frente. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Conti Sani:

A Conti Sani representa a paixão e o profissionalismo com que os seus viticultores cuidam das vinhas e vinhos todos os dias. As uvas produzidas e criteriosamente selecionadas são transportadas para as adegas de última geração para uma produção total de mais de 100 milhões de garrafas por ano. Na Itália, a Conti Sani está entre os líderes em varejo moderno.

A Conti Sani foi fundada em Verona em 1991 a partir da união estratégica de algumas das realidades mais importantes do setor vitivinícola das regiões vinícolas mais conhecidas da Itália.

Até à data, a Conti Sani pode ostentar uma vasta área de produção, uma das maiores do setor vitivinícola, podendo contar com uma área de vinha de: 2.600 hectares na Toscana, 840 hectares no Veneto, 420 hectares na Puglia, 340 hectares na Sicília, 240 hectares no Piemonte, 800 hectares na Emilia Romagna e 200 hectares em Abruzzo.

Mais informações acesse:

https://contisani.it/

Referências:

“ABS-Rio”: https://abs-rio.com.br/src/uploads/2019/05/apostila.pdf

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhos_da_Toscana

 

 






sábado, 30 de julho de 2022

Famiglia Castellani Chianti Riserva 2015

 

Clássico! Quando degustamos história engarrafada! Quando degustamos o mais puro e genuíno conhecimento. A cultura e o vinho andando juntas em prol do deleite humano. Merecemos? Me conduzo à reflexão, às vezes, e me pergunto se merecemos degustar vinhos tão especiais que trafegam pela história em seus enredos mais tenebrosos, sombrios, solares em outros momentos.

Quis o tempo ser benfeitor comigo, apesar de longo e por vezes tortuoso, para me proporcionar a degustação de um clássico italiano que atravessou o tempo e que personifica a cultura vitivinícola de um país tido como referência da produção de vinhos do planeta, então, o vinho de hoje definitivamente é sinônimo de vinho!

Não há como negligenciar que somente a Itália consegue a proeza de produzir verdadeiros clássicos! Nomes de peso que reverencia o conceito da poesia líquida no mundo. Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Valpolicella Ripasso...

A lista parece ser infindável, bem como as suas castas, as suas variedades autóctones, que sintetiza, de forma singular, cada pedaço de terra, cada terroir. A tipicidade se faz viva e plena e narra a história da Itália.

Sempre olhei com reverência a esses vinhos, mas com uma distância quase que intransponível, algo nos separava, talvez a questão financeira fosse o fator primordial, predominante, porém não era apenas isso. Não sei, nunca soube traduzir em palavras os motivos pelas quais jamais conseguiria degustar os clássicos italianos: a incapacidade de entende-los, de descrevê-los, de inseri-los, por consequência, em minha realidade de simples e humilde enófilo.

Teria eu me subestimado? Será que a gente, com a preocupação de “institucionalizar” determinados rótulos e propostas de vinhos e regiões, busca afirmação e entendimento demasiado de algo tão heterogêneo no que tange às percepções? Da diversidade busca-se a avidez pela particularidade, para entender.

Conhecer, entender não é demérito para ninguém, pelo contrário, mas transformar disso em obsessão, beira, penso, ao patológico. Acredito que tenha superado esse obstáculo, embora a razão ou pelo menos uma das razões de ser deste blog seja a descrição organoléptica de cada rótulo degustado, mas nunca criar um muro por achar que determinados rótulos, sejam eles excepcionais, simples, complexos, entre outros, não sejam possíveis de inundar as nossas taças.

Depois de superado esse obstáculo, me coloquei a garimpar e busquei aqueles mais conhecidos, populares, apesar de clássico: CHIANTI.

Com o transborde de opções de Chianti que temos ofertados no Brasil a minha missão parecia ser impossível para encontrar aquele rótulo que me arrebatasse, mas sem destruir o meu orçamento. Continuei a buscar, o caminho era longo e árduo, mas a oportunidade surgiu da forma, como sempre, mais despretensiosa possível. E veio um Chianti Riserva! Há cerca de dois anos, no Brasil, como qualquer produto, inflaciona, sobretudo o vinho, o rótulo escolhido, de um produtor emblemático, encontrei um Chianti Riserva, pasmem, a R$ 44,90 com alguns cupons de desconto e fretes grátis.

Claro que, de imediato, vem a incredulidade da procedência, mas não hesitei muito e fiz a tão aguardada aquisição. Mas mais aguardada era a degustação! Descansou por mais dois anos na adega e gostaria que ficasse um pouco mais, mas a ansiedade gritou mais alto!

E o dia tão esperado chegou! O ápice de um momento tão aguardado, o rompimento de alguns tabus particulares, fantasmas exorcizados. O vinho inunda a taça, o ritual se faz e que maravilha! Que especial! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e tradicional Toscana, da região de Chianti, e se chama Famiglia Castellani Chianti Riserva composto pelas castas Sangiovese (85%), Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2015. E como não pode faltar história e Chianti transborda história, vamos à viagem para a região de Chianti.

Chianti, Toscana

Desde a queda de Roma até o Risorgimento, por volta de 1850, o esfacelamento dos estados italianos em pequenas repúblicas e reinos ditou a vida de sua população e também o tom de seus vinhos. Foi nesse longo período conturbado que nasceu um dos vinhos mais famosos da Itália, o Chianti.

Geograficamente falando, Chianti é uma terra montanhosa que se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem 5 rios que cruzam e definem a área com: os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.


Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses. Acredita-se que, um dia, cansados de guerrear, os governantes das duas cidades decidiram por um outro tipo de disputa para estipular sob qual bandeira ficaria a região. Assim, concordaram que dois cavaleiros sairiam ao cantar do primeiro galo da madrugada, um partindo de Firenze em direção à Siena e o outro no sentido contrário. Onde eles se encontrassem, seria demarcado o limite dos domínios.

Assim nasceu a lenda do Gallo Nero, o galo negro que até hoje serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico. Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano.

Primeira Denominação de Origem

As primeiras documentações que tratam do vinho de Chianti remontam a 1398 e o descrevem como um vinho branco vendido pelo comerciante Francesco di Marco Datini. No entanto, o nome do vinho ficaria definitivamente gravado na história a partir de 1716, quando Cosimo III de Médici, o penúltimo de sua família a ser Grão-Duque da Toscana, apontou que as três cidades da Lega del Chianti, mais uma parte da vila de Greve, estavam aptas a produzir o vinho de nome Chianti.

Francesco di Marco Datini

Esta teria sido a primeira demarcação territorial, ou seja, a primeira Denominação de Origem, conhecida no mundo (os portugueses, porém, alegam que a primeira DO teria sido instituída pelo Marquês de Pombal em 1756, quando estabeleceu os marcos pombalinos na região que produzia o Vinho do Porto). Apesar de o reinado de Cosimo III ter sido desastroso para a região, que se viu diante de uma enorme crise econômica e social, a demarcação durou até 1932, quando a área foi gradualmente expandida (a última expansão seria em 1967).

No entanto, mesmo demarcado, sabe-se que o vinho de Chianti obedecia a poucas regras. Historiadores apontam que, na época, uma das principais uvas usadas na produção do vinho era a Canaiolo, a mais cultivada na região, juntamente com a Sangiovese, Mammolo e Marzemino. Seria somente durante o Risorgimento italiano no século XIX, que o vinho tomaria uma forma, muito próxima do que tem hoje.

O grande nome por trás do estabelecimento de Chianti e também um dos principais responsáveis pela unificação italiana em 1961 foi o barão Bettino Ricasoli, cuja origem familiar remonta aos tempos de Carlos Magno. O “Barão de Ferro” (alcunha ganha por sua intransigência moral e econômica) foi um dos grandes pilares da unificação de seu país com sua atuação política no Ducado da Toscana. Não à toa, ele chegou a ser primeiro ministro italiano quando o rei Vitório Emanuele assumiu o poder.

Barão Bettino Ricasoli

Além de ser a criadora do Chianti, a família Ricasoli produz vinhos desde o ano 1141, quando adquiriu o legendário Castello de Brolio. Essa longa história faz da Barone Ricasoli a vinícola mais antiga da Itália e a segunda mais antiga do mundo. O Castello de Brolio estava em ruínas na época. Determinado a dar novos rumos à produção local, o Barão de Ricasoli viajou para a França e a Alemanha, onde aprendeu novas maneiras de cultivo, além de importar variedades e experimentar maquinários. Assim, em 1872, ele teria criado a “fórmula” do Chianti e assim escreveu:

“Os resultados obtidos já nas primeiras experiências confirmam que o vinho recebe do Sangioveto a principal dose de seu perfume (o que eu particularmente procuro) e um certo vigor de sensação; do Canajuolo, a amabilidade que tempera a dureza do primeiro, sem tolher em nada seu perfume; a Malvagia, a qual se pode colocar menos nos vinhos destinados a envelhecer, tende a diluir o produto das duas primeiras uvas, não acrescenta sabor, e o torna mais leve e mais prontamente usável na mesa cotidiana”.

A “fórmula do Chianti” escrita na famosa carta endereçada ao professor Cesare Studiati da Universidade de Pisa, na qual exaltava os aromas e a estrutura da Sangiovese, a maciez da Canaiolo e a tendência da Malvasia a diluir o vinho, fez com que o Barão sugerisse que esta uva não fizesse parte do corte dos vinhos de guarda da sua região. A receita do Barão era 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia Bianca. Em 1967, sua “fórmula” foi ratificada pela regulamentação da DOC (com acréscimo da Trebbiano).

Renascimento

O Chianti então surgiu como uma versão do “clarete” francês – sem variedades internacionais, contudo. Foi durante o Risorgimento que ele alcançou a glória, quando Firenze se tornou capital da Itália e Ricasoli primeiro ministro. No entanto, apesar dos esforços do barão, com o tempo, a fama do vinho tornou-se ruim, muito devido às condições econômicas precárias da região, especialmente depois das pragas que chegaram à viticultura em meados do século XIX e também muito devido ao contrato de uso das terras entre agricultores e os donos das propriedades.

A mezzadria (sistema feudal em que os camponeses dividiam a sua colheita com os senhores de terras) e a agricultura promiscua (diversas culturas em um mesmo terreno) perdurou na Toscana até praticamente os anos 1970 e atrasou o desenvolvimento do vinho na região – já que a colheita ia ser dividida, era melhor, para o agricultor, plantar mais quantidade do que pensar em qualidade.

Clante

A origem do nome Chianti é incerta. Para alguns, ela vem de clangor, que nada mais é do que o som dos instrumentos metálicos, mais especificamente das trombetas. No entanto, também pode designar o atrito entre objetos de metal, como espadas. Daí, acredita-se que o nome possa ter surgido devido a esse barulho das trombetas de caça ou então das batalhas. Outra possibilidade, muito mais aceita, é o termo ter vindo da palavra etrusca clante, que significaria água (abundante na região) ou então seria apenas um nome de família muito comum na área.

Movimento dos vinhos “Super Toscanos” fez com que Chianti aprimorasse suas normas. Nos anos 1960, alguns produtores estavam desapontados com os rumos que Chianti havia tomado. Apesar de a DOC ter finalmente estabelecido uma regra para seus vinhos em 1967 (e talvez por isso também), muitos passaram a experimentar com novas variedades, especialmente as francesas, no intuito de produzir um vinho melhor e mais caro (desde o fim da II Guerra Mundial, Chianti era considerado um vinho simples e barato).

Assim, entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970, duas poderosas famílias decidiram fazer vinhos mesclando Sangiovese com variedades francesas. Tanto o Marquês Mario Incisa della Rochetta quanto seu sobrinho, Piero Antinori, lançaram respectivamente Sassicaia e Tignanello, os primeiros Super Toscanos de que se tem notícia, vinhos que mudariam para sempre o cenário na região. “O fenômeno houve novas mudanças nas regras, com a introdução de variedades francesas no blend de Chianti. Dez anos depois, as variedades brancas foram proibidas em Chianti Classico, que já passava a aceitar Sangiovese “in pureza”, ou seja, 100%. Hoje, além do Classico, Chianti possui outras sete sub-regiões, cada uma com regras específicas. As mudanças de regras foram constantes nos últimos 40 anos. As últimas modificações em Chianti Classico, por exemplo, ocorreram em 2013, quando, entre outras coisas, criou-se uma nova classificação, com um nível qualitativo acima dos Riserva: os Gran Selezione.

Os diferentes Chianti

O simples termo “Chianti” diz muito pouco sobre o vinho. Muito resumidamente, indica que se trata de um tinto italiano, produzido na região da Toscana, em uma área que se estende entre as cidades de Florença e Siena, a partir de, principalmente, Sangiovese. Ainda que Chianti seja uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) e, portanto, existam regulamentações tratando de sua produção, a variedade é grande.

Além da “denominação genérica” Chianti DOCG, há outras denominações específicas que levam em consideração a proveniência geográfica das uvas: Chianti Classico (a mais antiga, famosa e tradicional), Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli e Chianti Rufina. Também, os termos Chianti Superiore (não permitido para Chianti Classico) e Chianti Riserva servem para nomear vinhos que tenham atendido períodos de envelhecimento determinados, dentre outros fatores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e brilhante vermelho rubi com tons granada, conferido pela longa passagem por barricas de carvalho, com lágrimas em profusão, finas e lentas.

No nariz traz as frutas vermelhas maduras, com destaque para ameixa e cereja, mas discretamente, além de um toque terroso, de terra molhada, algo de folhas secas, com notas de especiarias (pimenta preta) e amadeiradas, percebendo o tabaco, couro e café, afinal os longos 24 meses em barricas de carvalho atestam tais características.

Na boca toda a pujança da Sangiovese no blend, com a fruta vermelha madura igualmente discreta, como percebida no aspecto olfativo, sendo ainda seco, volumoso, cheio e quente, garantido pela presença do álcool, mas sem agredir e pela acidez vivaz, com taninos marcantes, mas domados e integrados, com a madeira, embora discreta, protagonizando entregando notas de chocolate, torrefação, de defumado e caramelo. Tem um final longo e persistente.

Tradição, história, mesmo que ao custo de guerras, sangue, mortes, disputas pelo poder político e econômico. As redenções pavimentadas por todos esses eventos e intenções. O vinho foi e é um veículo de tais manifestações da sociedade, independente do contexto e cronologia. O que nos resta, no entanto, é permitir contemplar e entender esses momentos históricos com o olhar crítico, mas separando-os do prazer, do deleite em degustar um bom e velho vinho, porque é um elixir ao corpo e a alma, sobretudo daqueles que o ama. Toscana e a sua região mais importante em todos os aspectos, é sinônimo de renome no mundo todo por causa de Chianti e de suas grandes e espetaculares histórias que, de uma forma ou de outra, corroboraram na sua importância e qualidade que até hoje busca a excelência. O Chianti Riserva da Famiglia Castellani definitivamente carrega esses preceitos, como um produtor de igual tradição e história. Um vinho encorpado, de personalidade, dada a sua complexidade atribuída ao “Sangue de Júpiter” chancelando Chianti como um dos mais emblemáticos vinhos da história. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli.

Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. Durante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Blog História com Gosto”: https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/11/a-regiao-do-chianti-classico-toscana.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/todos-os-chianti_10196.html

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/chianti/#:~:text=Chianti%20%C3%A9%20um%20tipo%20de,Chianti%20Cl%C3%A1ssico%20a%20mais%20famosa