Visual:
um rubi escuro, fechado, límpido, com reflexos violáceos, lágrimas em
abundância, lentas e finas.
Nariz:
traz uma explosão de frutas pretas maduras, com destaque para a groselha negra,
especiarias, ervas e pimenta preta.
Boca:
estruturado, mas macio, frutado, com alguma complexidade, as cerejas se
sobressaem, as especiarias são sentidas, com taninos presentes, mas domados e
boa acidez, com final persistente e retrogosto frutado.
Não é muito fácil para nós, enófilos brasileiros, encontrar
vinhos brancos estruturado, com corpo. O nosso mercado, até também pelas
características climáticas, consome brancos mais leves, jovens e diretos, para
rápida degustação. Claro que são propostas, seria imprudente fazer comparações
de qualidade entre os brancos encorpados e leves, ficando apenas no campo
monetário, afinal, os brancos mais encorpados são mais caros que os leves,
certamente pelo fato dos primeiros passarem por barricas de carvalho
encarecendo o produto, além, é claro, com os altos tributos que incidem sobre o
vinho no Brasil. Contudo há castas e rótulos que entregam ao fiel e bom
degustador dessa poesia líquida, vinhos de estrutura e com um bom custo,
permitindo o investimento sem doer no bolso. Falo da Torrontés! Não há como não
ter um legítimo Torrontés argentino na adega. É como a Malbec entre as tintas. A
qualidade desta cepa precede a fama da Argentina.
O vinho que degustei e gostei é o excelente Crios da casta
Torrontés (100%) da Susana Balbo Wines (Dominio del Plata) da safra 2013, que
veio das regiões de Salta, em Cafayate e em Mendoza, no Vale do Uco, sendo um “corte
de Torrontés, pois veio de duas regiões distintas, apesar de ser um vinho
varietal. A região de Mendoza é mais famosa e emblemática, onde a Argentina é
exportada, mas Salta é pouco comentada entre nós brasileiros, então, vamos,
antes de falar do vinho, traçar um breve histórico da região.
Salta
Salta é uma sub-região da região do Norte. Tem uma área de
vinhos que equivale, em hectare, a 2.919,10, com altitude de seus vinhedos de
1.280 a 3.005 msnm. Suas principais localidades são: Cachi, Molinos (Colomé), Angastaco,
San Carlos, Yacochuya e a mais conhecida, Cafayate.
A produção de vinhos em Cafayate é antiga, e a cidade ficou
famosa desde 1950 pela qualidade dos seus Torrontés. Essa uva tem uma tendência
de produzir um amargor no paladar devido à presença de potássio no solo, e
exatamente os solos da região de Cafayate são pobres em potássio, evitando essa
característica indesejável nos vinhos de Torrontés. A altitude e as noites
frias típicas do local contribuem então para um estilo elegante e delicado dos
Torrontés de Salta. Na altitude de Salta o clima desértico oferece intensa luz
ultravioleta ao longo do dia e uma importante diferença de temperatura durante
a noite, uma variação de mais de 25ºC, constituindo um clima único e especial
para a vinicultura. Em algumas localidades não chove nada ao longo do ano,
então as águas dos rios de degelo são fundamentais para a vinicultura e para
outras culturas locais. Salta teve produção de vinhos desde o século 19, apesar
das dificuldades de transporte na região montanhosa e árida. O Torrontés local
mereceu especial atenção dos produtores por suas qualidades típicas.
Vamos ao vinho!
Na taça exibe um amarelo ouro, muito brilhante e reluzente
com algumas finas lágrimas já denunciando certa estrutura, mas que logo se
dissipa.
No nariz um exuberante aroma de flores brancas, com toques
generosos de frutas brancas, onde se nota abacaxi, maçã verde, pêssego.
Na boca é untuoso, estruturado, pois é conservado por três
meses sobre as borras, mas muito fresco, jovem, frutado, com toques cítricos,
rica acidez e um final persistente e agradável.
Um Torrontés que alia complexidade, estrutura, mas que não
renuncia seu frescor, jovialidade, sendo macio, fácil de degustar e muito
versátil, sobretudo no quesito harmonizações que vai de massas como pizza a
carnes brancas. Tem 13% de teor alcoólico. Vale uma curiosidade sobre o nome da
linha de vinhos “Crios”: Susana Balbo decidiu, ao criar essa linha de vinhos
mais jovens da vinícola, seus filhos que na época, eram crianças, daí o nome “crios”
que significa “criança”.
Sobre a enóloga Susana Balbo:
Nascida em uma família tradicional e desafiando as convenções
sociais da era Susana, ela decidiu se profissionalizar na produção de vinho.
Dessa forma, em 1981, recebeu seu Bacharelado em Enologia como a melhor
pós-graduação, tornando-se a primeira enóloga feminina na Argentina. Em 2012,
ela foi a única argentina reconhecida pela revista Drinks Business como uma das
mulheres mais influentes do mundo do vinho. Em 2015, a mesma publicação
reconheceu a "Mulher do ano" (Mulher do ano de 2015 pela The Drinks
Business) e, posteriormente em 2018, a nomeou como uma das "As 10 mulheres
mais influentes do mundo da veio”. Sua experiência começou em Cafayate, Salta,
responsável pela vinícola Michel Torino Sucession, especializada na produção de
Torrontés. Depois, trabalhou em vinícolas muito importantes, como Martins e
Catena Zapata. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Susana teve a
oportunidade de atuar como consultora em importantes vinícolas internacionais
em várias regiões vinícolas, o que lhe permitiu estar sempre na vanguarda das
tendências do mercado e estilos de vinho. Ela também foi Presidente da Wines of
Argentina (WOFA) três vezes (2006-2008, 2008-2010 e 2014-2016) e assumiu o
cargo de vice-presidente de 2010 a 2012, tornando-se um ícone da indústria
vinícola argentina e mundial.
Sobre a Susana Balbo Wines:
Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao
aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola,
Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para
que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após
mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro
sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis
(Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de
Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à
equipe Susana Balbo WInes. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam
duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional,
demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI:
segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.