As origens da variedade estão mesmo diretamente ligadas ao
norte do vale do rio Rhône, mais especificamente na área ao norte do rio Isère
e à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça, no
departamento de Isère.
Essa hipótese foi levantada devido a uma análise de DNA feita
em 1998 pela UC Davis e pelo INRA (instituto de pesquisas agronômicas) em
Montpellier, no sul da França. O levantamento surpreendeu os cientistas e
mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e
a Dureza, tinta. A Mondeuse, natural da região de Savóia, próxima ao Rhône, costumava
ser cultivada também em Ain e Isère. A Dureza, natural de Ardèche, logo a oeste
do rio Rhône, costumava ser cultivada em Drôme e também em Isère. Portanto, os
ampelógrafos concluíram que o nascimento da Syrah deve ter se dado em um local
em que essas duas variedades eram plantadas, portanto, mais provavelmente em
Isère por volta do século XII.
A data, porém, pode ser anterior, já que alguns estudiosos
acham que a Syrah pode ter sido citada pelos primeiros naturalistas romanos
como Columella e Plínio, o Velho, no século I da era cristã. Em seus escritos,
eles apontavam uma variedade chamada de Allobrogica, cultivada na terra dos
Alóbroges, que vai do lago de Genebra até Grenoble e do norte de Savóia até
Vienne, cidade que faz parte de Côte Rôtie, logo ao sul de Lyon. Essa uva era
usada para o picatum, um vinho resinoso feito perto de Vienne. Segundo Plínio,
era uma casta de maturação tardia cultivada em terras frias. Daí também poderia
ter surgido o nome Syrah, que seria uma derivação de Sérine, que viria do latim
“serus” (tardio).
A Syrah, por sinal, possui diversos nomes e não apenas a sua
variação mais comum Shiraz, que ficou famosa devido ao boom dos vinhos
australianos. Aliás, até mesmo na Austrália ela possui ainda outro nome e pode
ser chamada de Hermitage. Mas, suas variações mais comuns são: Sira, Sirac,
Sirah, Syra, Syrac, além de, como já foi visto, Sérine, que também apresenta
diversas possibilidades como: Sérène, Serine e Serinne. Ela também pode ser
chamada de Petite Sirrah (não confundir com Petite Sirah, que é outra casta),
Candive e Marsanne Noire.
A primeira citação conhecida sobre a Syrah é de 1781, pelo
geólogo e naturalista Barthélemy Faujas de Saint-Fond, que a chamou de “‘la
Sira de l’Hermitage”. Ele descreve: “produz um vinho agradável, generoso,
apetitoso e que pode envelhecer bem: nós podemos misturar com uma pequena
quantidade de uvas brancas, como é feito em Tain. Serine e Vionnier de Côte
Rôtie também seriam adequadas”.
Como se pode perceber, a variedade ganhou sua fama no norte
do vale do Rhône, especialmente em Hermitage e Côte Rôtie, onde serve de base
para os principais tintos, sendo muitos varietais, mas também contendo pequenas
parcelas de Roussanne e Marsanne (Hermitage), ou Viognier (Côte Rôtie). Nos
vinhos de Crozes-Hermitage e Saint-Joseph, a Syrah também é majoritária, e, em
Cornas, ela deve ser monovarietal.
Contudo, apesar de seu berço francês, a fama do nome Syrah,
mais precisamente Shiraz, deu-se com o boom dos vinhos australianos entre os
anos 1980 e 1990. Parte do prestígio veio com o Penfolds Grange Hermitage.
Lançado em 1952 pelo enólogo Max Schubert, este Shiraz tornou-se mundialmente
conhecido, ganhando o prêmio de vinho do ano da revista Wine Spectator em 1995
(já sem Hermitage no rótulo), e levou o nome da casta às alturas, tornando-a
tão conhecida quanto outras tintas já fartamente decantadas como Cabernet
Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, por exemplo.
A Syrah chegou à Austrália em 1832, com James Busby,
considerado o pai da indústria de vinhos no país. Ele teria trazido mudas em
Montpellier, que na época eram conhecidas como Scyras, e mais tarde se provaram
idênticas às de Tain, em Hermitage, daí o nome com que a uva ficou conhecida
(Shiraz e Hermitage) por lá.
Apesar de a França ter a maior quantidade de área plantada,
com quase 70 mil ha, a Austrália vem logo atrás com cerca de 42 mil ha. Os
outros principais produtores são: Espanha (20 mil ha), Argentina (12,8 mil),
África do Sul (10,1 mil), Estados Unidos (9,1 mil), Itália (6,7 mil), Chile (6
mil) e Portugal (3,5 mil).
Apesar de a Austrália ter ficado com a fama, um dos primeiros
lugares fora da França em que a variedade foi cultivada foi na África do Sul,
onde teria chegado em meados do século XVII. Todavia, ela permaneceu uma casta
pouco importante no cenário sul-africano até o boom dos anos 1980 promovido
pelos australianos. Em 1878, a cepa chegou aos Estados Unidos e, apesar de não
ter o mesmo sucesso da Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, levou um grupo de
viticultores a criar, nos anos 1980, a associação “Rhône Ranges”, para promover
as uvas do Rhône em solo norte-americano. A organização conta, hoje, com mais
de 170 membros.
A Syrah é uma uva de personalidade forte. Os vinhos feitos a
partir dela normalmente apresentam bom corpo, são potentes e cheios de sabor.
Suas notas mais características variam entre frutas negras (como mirtilos e
amoras), violetas e azeitonas pretas, além de especiarias picantes, muitas
vezes pimenta preta, às vezes branca. Com o tempo, esses aspectos aromáticos
evoluem e costumam surgir notas terrosas ou mesmo de carne – alguns associam ao
defumado, couro e trufas.
E agora o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi escuro, profundo, mas com um
intenso e lindo brilho, com lágrimas finas, lentas e em profusão, prevendo o
corpo e a estrutura.
No nariz prevalecem as notas frutadas, de frutas negras
maduras tais como groselha, amora, com toques discretos, em perfeita sincronia
com a fruta, da baunilha, de chocolate, de notas amadeiradas, graças a uma
curta passagem por madeira, não informado pelo produtor.
Na boca prevalecem as notas frutadas em abundância, com
estrutura, um vinho cheio, de bom volume de boca, mas com um frescor evidente,
muito típica da Syrah australiana: complexidade e frescor garantido pela fruta.
É expressivo, marcante, de taninos presentes, gordos, mas equilibrados, com boa
acidez que corrobora o frescor e um final longo e prolongado.
Quando falamos em terroir e tipicidade torna-se algo meio comum,
meio clichê no universo dos vinhos, mas para este caso, para este rótulo
merece, pois tem muita tipicidade, entrega grandemente as características
genuínas de um Syrah australiano. Um vinho voluptuoso, carnudo, com aquela
picante típico da casta, com o frescor, a maciez e elegância, mostrando-se um
vinho versátil e fácil de degustar, apesar da sua excelente estrutura. Que a
Austrália se revele sempre com os seus rótulos para o mundo, para a minha mesa.
Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Tyrrell’s Wines:
Em 1889, aos 18 anos, Edward George “Dan” Tyrrell, o filho
mais velho entre os dez filhos de Edward Tyrrell, assume como enólogo.
Carinhosamente conhecido como “Tio Dan”, ele iria oficiar mais de 69 safras
surpreendentes. Seus esforços são auxiliados por seu irmão mais novo, Avery,
cuja abordagem meticulosa da gestão dos vinhedos fornece os frutos excepcionais
que constituem a espinha dorsal dos vinhos de Dan e dos vinhos que a Tyrrell's
faz hoje.
Em 1959 Murray Tyrrell, filho de Avery, assume as funções de
vinificação na Tyrrell's, após ter servido na Segunda Guerra Mundial e
administrado um negócio de gado. Ele rapidamente formaliza os esforços para
construir o valor dos vinhos da Tyrrell, ao mesmo tempo em que promove visitas
à vinícola para degustação e venda, abrindo caminho para a Cellar Door como a
conhecemos hoje. Em 1961, cria o sistema Private Bin, onde os frutos dos
melhores blocos de vinha são amadurecidos em barricas ou cubas individuais de
carvalho, sendo os vinhos resultantes os nomes das cubas de onde provêm. Quatro
anos depois, com a ajuda da lenda do vinho australiano Len Evans, ele cria a
linha Winemaker's Selection, que representa os melhores vinhos de cada safra,
começando com o Vat 5 e o Vat 9 Shirazes, o Vat 8 Shiraz Cabernet e o Vat 11
Dry Red .
Em 1961 o Private Bin Club da Tyrrell, o primeiro clube de
vinho da Austrália por correspondência, abre para negócios. Após tempestades de
granizo devastadoras em 1958 e 1960, que destruíram a maior parte da safra,
Murray começa a providenciar para que as pessoas visitem a vinícola, provem os
novos vinhos em barris e os pré-encomendem. Esse processo acabou dando origem
ao Private Bin Club, por meio do qual os membros passaram a ter acesso a vinhos
de pequena produção disponíveis apenas na vinícola.
Em 1968 Murray planta as primeiras vinhas Chardonnay na
propriedade da Tyrrell usando estacas da vinha HVD de propriedade da Penfolds.
O vinho resultante, Vat 47 Chardonnay, se torna o primeiro Chardonnay comercial
da Austrália quando é lançado três anos depois. A Tyrrell's envia sua primeira
remessa de exportação para os EUA - um contêiner de 1.000 dúzias. Hoje, a
Tyrrell's exporta 17.000 caixas de dúzia de garrafas para mais de 30 países a
cada ano.
Em 1974, Bruce Tyrrell, filho de Murray, ingressou na empresa
aos 23 anos, graduado em Economia Agrícola pela University of New England no
ano anterior. Em 2000, ele substitui seu pai como diretor administrativo da
Tyrrell's.
Em 1979 A Tyrrell's vence a primeira Olimpíada do Vinho em
Paris, organizada pela revista francesa de gastronomia e vinhos Gault-Millau. O
1976 Vat 6 Pinot Noir é aclamado o melhor vinho do mundo, superando cerca de
330 vinhos de 33 países. O prêmio é uma justificativa particular, pois a
Tyrrell's foi pioneira na variedade na Austrália, plantando dois acres de Pinot
Noir em 1972 - entre as primeiras plantações comerciais da variedade na região
de Hunter.
Mais informações acesse:
https://tyrrells.com.au/
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sinonimos_10240.html
Degustado em: 2016