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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Vinha Solo Merlot 2009

 

O vinho que degustei e gostei de hoje é um valoroso Merlot da Serra Gaúcha de um produtor novo que vem apostando em vinhos naturais, com o mínimo de intervenção humana e longevos. Falo da Vinha Solo Merlot da safra 2009, da vinícola Vinha Solo. Sim! Um valoroso Merlot da Serra Gaúcha com 14 anos e com muita vida, complexidade, plenitude e integridade.

A Vinha Solo é um projeto de dois amigos que desejavam produzir vinhos naturais, o arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore que escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Plantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiaridades características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha

Na localidade de Fazenda Souza a altitude chega a 890 metros e os ventos são generosos. O solo de estrutura argilo arenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma linda biodiversidade. Inclusive tais animais estampam os rótulos dos seus vinhos, no caso do Merlot é o quero-quero.

A propósito o primeiro nome dado a região de Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes naquela localidade. Inclusive um dos nomes do vinho da Vinha Solo carrega o antigo nome da região que já era explorada, sob o aspecto da agricultura, antes de 1790, época do Brasil Colônia.

O vinho, no auge dos seus 14 anos de garrafa, mostrou-se pleno, íntegro, complexo e capaz ainda de evoluir bem em garrafa por mais alguns anos. Evolução! Essa é a palavra inaugural para definir esse belo vinho. Um visual granada, já com nuances bem evidentes de um lindo atijolado e lágrimas espessas, lentas e grossas.

O nariz se mostrou complexo, gozando de um destaque fabuloso, com notas de terra molhada e algo de flores, um instigante floral. Frutas secas são percebidas, há algo de frutas vermelhas também, couro e especiarias, algo de pimenta, cassis. O aroma, mesmo com a taça vazia, teimava em lá permanecer.

Na boca é elegante, macio, afinal o tempo lhe tornou gentil e amável na boca. As frutas secas e vermelhas protagonizam, como no aspecto olfativo. Apesar do veludo, ainda se revela com média estrutura, ainda entrega alguma personalidade, corroborando o seu longo tempo em garrafa. Tem taninos amáveis e domados e com uma acidez média, o que encanta pelo seu tempo de vida. Tem final longo, cheio e persistente.




sábado, 15 de outubro de 2022

Vinha Solo Zênite 2009

 

Como mensurar o ápice em uma degustação de vinhos? Será que seria tão simples responder dizendo que é a degustação propriamente dita? Será que podemos mensurar, detalhar o motivo pelo qual chegamos ao cume da degustação?

Eu trago a alegria verbalizada, textualizada, dos meus ápices de degustação. As experiências sensoriais se materializam em minha voz e nos meus singelos textos, mas todos carregados da minha mais completa e incorruptível verdade.

Regiões, castas, propostas e características mais peculiares dão voz e reações aos momentos mais sublimes das degustações. E tem sido, atualmente, uma torrente de grandes emoções! Algumas sensações novas, alguns auges importantes pelo simples fato da novidade.

A novidade que, por sorte, tem se revelado relevantes e consistentes, com degustações soberbas, lindas e arrebatadoras. Degustação é vida, é saúde! E quando sabemos o que degustamos, torna-se indubitavelmente especial.

O rótulo que eu escolhi traz um misto de tantas emoções gratificantes que tenho vivido ultimamente no universo do vinho que, juntos, conspiraram para o tal momento sublime, para o tão falado ápice.

A começar que se trata de um vinho com “certa idade”! Aqui o tempo, a idade parece contar positivamente e se torna um privilégio degustar vinhos que resistem ao tempo e com qualidade, expressando ainda toda a sua tipicidade, a realidade de seu terroir. Depois o corte, o blend que é um verdadeiro clássico: o bordalês, que é simplesmente o meu favorito e depois a característica, de um vinho natural, sem o mínimo de intervenção humana.

Uma soma de fatores que nos colocam em um pedestal, não travestido de arrogância ou indulgência, mas de um estado de prazer, de celebração, de ápice. Eu estou, insistentemente, mencionando “auge”, “ápice” e derivados porque o nome do vinho nos remete a isso, nos remete ao auge de se degustar um vinho ou “o” vinho, alheio a questões científicas.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Brasil, em um local chamado Fazenda Souza, e se chama Zênite, um corte das castas Merlot (70%), Cabernet Sauvignon (20%) e Cabernet Franc (10%) da safra 2009. Lembrando que tive um “estágio anterior” de auge quando degustei o Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009. Vamos às histórias então!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Vêneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar. 

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Fazenda Souza, Caxias do Sul

O primeiro nome dado à localidade onde hoje é Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes o que comprova a exploração do local em data anterior a 1760, época do Brasil Colônia.

Nesta época muitos tropeiros passavam com seus cargueiros pelo local e costumeiramente instalavam-se na pousada de Inácio Souza Corrêa. Este, por sua vez, foi soldado da Guarda de Santo Antônio da Patrulha, conseguindo adquirir terras com suas economias e dedicando-se a criação de mulas. Anos depois, ao mudar-se para Uruguaiana, vendeu a colônia Pouso Alto a Inácio Ribeiro. Na venda das terras, realizada em 1º de setembro de 1790, a Colônia foi batizada de Fazenda Souza, assim chamada até hoje.

Fazenda Souza

Os primeiros italianos se estabeleceram nestas terras no ano de 1880, vindos da cidade de Feltre, na Itália. Como a região era rica em matas de araucárias, a exploração de madeira expandiu-se, fazendo com que surgissem as primeiras serrarias. Por volta de 1895, como a localidade já estava desmatada, as famílias de imigrantes acabaram desenvolvendo a criação de gado para leite e corte.

Antigamente, assim como Criúva, Fazenda Souza pertencia à cidade de São Francisco de Paula. Hoje, é um distrito de Caxias do Sul e está localizado a 18 km da sede administrativa municipal. Sua principal referência é o Instituto Leonardo Murialdo, conhecido como o Seminário de Fazenda Souza, onde encontram-se os restos mortais do Padre João Schiavo.

Este sacerdote veio da Itália no ano de 1931 e estabeleceu-se no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, trabalhou em diversas comunidades como as de Galópolis, Ana Rech e Fazenda Souza. Por meio de seus esforços foram fundados o Instituto Leonardo Murialdo e a Instituição Abrigo de Menores São José.

Sua economia se baseia nos hortifrutigranjeiros, com destaque para as culturas de maçã, pêssego, caqui e ameixa, além da apicultura e piscicultura. Porém vem se descobrindo na vitivinicultura, apesar de ser ainda embrionário, se destacando algumas vinícolas, como a própria Vinha Solo com os seus atuais 47 hectares.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho com entornos granada, atijolados, denunciando os seus 13 anos de garrafa, mas com algum brilho denotando alguma vivacidade, com lágrimas finas, lentas e em abundância.

No nariz os aromas de evolução já se desenham apresentando notas de frutas vermelhas maduras e em compota como cereja, groselha e morango, com frutos secos como avelã, além de especiarias trazendo pimenta e pimentão tudo envolto em uma incrível complexidade com toques de couro e terra molhada.

Na boca é seco, com alguma estrutura, mostrando um bom volume de boca, mas muito aveludado e elegante, graças a composição de seu blend e o tempo de vida. As frutas vermelhas maduras ganham uma parcela de protagonismo, entregando vivacidade ao vinho, bem como os seus taninos que ainda é marcante, mas contidos, com uma acidez média. O seu final, persistente, corrobora a sua plenitude.

“Zênite” é a linha imaginária que parte do observador e sempre aponta para o ponto mais elevado da abóbada celeste. E o título sintetiza o momento, a importância e o privilégio de degustar um vinho com 13 anos de vida e ainda pleno, intenso, complexo e com muita vida para oferecer. Assim é estar no ápice, sem parecer arrogante e indulgente, mas na simplicidade da degustação se contempla o apogeu. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinha Solo:

Dois amigos desejavam produzir vinhos naturais. A ideia amadureceu como um bom vinho. O arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Ali implantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiares características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha.

Então nasceu a Vinha Solo já com a missão de elaborar vinhos de altíssima qualidade com a mínima intervenção humana possível. Assim os vinhos são lapidados em seu estado natural mesclando a excelência dos frutos da vinha com as nuances de uma fermentação espontânea.

Os vinhos da Vinha Solo são a demonstração do terroir onde solo, clima, conhecimento e trabalho no manejo dos vinhedos são traduzidos em cada uma das garrafas.

A localidade de Fazenda Souza tem uma altitude que chega a 890 metros e onde os ventos são generosos. O solo de estrutura argiloarenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma bonita biodiversidade.

Mais informações acesse:

https://www.vinhasolo.com.br/


Referências:

“Caxias do Sul”: https://caxias.rs.gov.br/noticias/2022/07/fazenda-souza-retoma-a-festa-do-agricultor

“Vinhos e Vinhos”: https://www.vinhosevinhos.com/vinha-solo-cabernet-sauvignon-2009.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 


sábado, 20 de agosto de 2022

Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009

 

Modismos ou não, atualmente há, no ar, as discussões sustentáveis, o consumo correto (O que seria correto para cada um no mundo?) e a busca, por parte do mercado, de produtos que estejam atrelados a essas práticas.

Não quero, pelo menos por enquanto, entrar nas minúcias desta complexa questão, pois a prática sustentável traz várias concepções dependendo da visão de vida e mundo de cada um e a sua busca pela tal qualidade de vida que para outras pessoas, que podem estar, direta ou indiretamente envolvidas na promoção da mesma na vida de outros, ser destrutivas para muitos tantos.

 Acredito que essas questões, essas nuances existenciais que permeiam no conceito, um tanto quanto diverso e as vezes engessado da sustentabilidade, podem ser aplicadas no universo do vinho.

Hoje alguns formadores de opinião, especialistas, jornalistas, críticos e alguns especialistas oriundos de redes sociais defendem e enaltecem os vinhos naturais, os famosos “naturebas”, dizendo, inclusive, com certa euforia, que são vinhos diferenciados e que é o futuro da vitivinicultura.

Se são diferenciados, eu não sei, no auge da minha incapacidade, dizer, haja vista que, confesso, não ter percebido diferenças entre os vinhos tradicionais, naturais e orgânicos, mas o fato é que já é uma realidade esse nicho que, a cada dia, vem ganhando corpo no mercado. E se é o futuro eu também não sei dizer, embora o cenário seja propício para a vinificação de tais vinhos, mas digo que o futuro, como dizia aquela música famosa, repetiu o passado.

Vinhos naturais seguem, a meu ver, basicamente, a proposta dos vinhos que eram produzidos em um passado remoto e vejo com certo entusiasmo o revisitar dessas propostas. Vinhos com o mínimo de intervenção humana, sem pesticidas e agrotóxicos, a saúde agradece e a qualidade, idem. Mas a boa intervenção humana também melhora o vinho. Então digo que dosar pode ser a proposta mais adequada, valorizando a sinceridade dos vinhos em todas as suas nuances e propostas.

Mas eu, como um bom e velho interessado pelo vinho e suas regiões, castas e propostas, de um modo geral, não desprezo nenhum vinho e tenho buscado, com certo interesse, os vinhos que eu, claro, ainda não degustei e os naturais me interessam também.

Estava eu a navegar pela grande rede e acessei um site importante de vendas de vinhos brasileiros e vi que estavam lançando em seu portfólio novos rótulos que, de imediato, me chamou a atenção de cara pelas safras: 2009! Outro detalhe que vem atiçando o meu interesse: vinhos velhos.

E ao acessar o link li a proposta do produtor e vi que faz manejos sustentáveis e rótulos naturais sem o mínimo de intervenção humana e com preços altamente atrativos e competitivos. A adesão foi instantânea: a compra de dois! Um Cabernet Sauvignon e outro blend, o clássico corte bordalês.

Optei por degustar o Cabernet Sauvignon! Não demorei muito para degustar, pois julguei, pelos seus 13 anos de vida que está mais do que no auge para uma agradável degustação. E lá vamos nós a mais uma degustação que projeto ser especial. A abertura do vinho foi feita, mais uma vez o ritual seguido e o vinho está fantástico! A Serra Gaúcha ainda traz os seus atrativos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de um distrito conhecido como Fazenda Souza, em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha e se chama Vinha Solo, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2009. Antes de entrar na história vale uma curiosidade sobre o rótulo do vinho. Este traz estampado o gavião, uma ave presente em no bioma daquela região e que traz característica da casta Cabernet Sauvignon, que vem do termo francês “sauvage”.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves. 

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Vêneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Fazenda Souza, Caxias do Sul

O primeiro nome dado à localidade onde hoje é Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes o que comprova a exploração do local em data anterior a 1760, época do Brasil Colônia.

Nesta época muitos tropeiros passavam com seus cargueiros pelo local e costumeiramente instalavam-se na pousada de Inácio Souza Corrêa. Este, por sua vez, foi soldado da Guarda de Santo Antônio da Patrulha, conseguindo adquirir terras com suas economias e dedicando-se a criação de mulas. Anos depois, ao mudar-se para Uruguaiana, vendeu a colônia Pouso Alto a Inácio Ribeiro. Na venda das terras, realizada em 1º de setembro de 1790, a Colônia foi batizada de Fazenda Souza, assim chamada até hoje.

Fazenda Souza, Caxias do Sul, Serra Gaúcha

Os primeiros italianos se estabeleceram nestas terras no ano de 1880, vindos da cidade de Feltre, na Itália. Como a região era rica em matas de araucárias, a exploração de madeira expandiu-se, fazendo com que surgissem as primeiras serrarias. Por volta de 1895, como a localidade já estava desmatada, as famílias de imigrantes acabaram desenvolvendo a criação de gado para leite e corte.

Antigamente, assim como Criúva, Fazenda Souza pertencia à cidade de São Francisco de Paula. Hoje, é um distrito de Caxias do Sul e está localizado a 18 km da sede administrativa municipal. Sua principal referência é o Instituto Leonardo Murialdo, conhecido como o Seminário de Fazenda Souza, onde encontram-se os restos mortais do Padre João Schiavo.

Este sacerdote veio da Itália no ano de 1931 e estabeleceu-se no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, trabalhou em diversas comunidades como as de Galópolis, Ana Rech e Fazenda Souza. Por meio de seus esforços foram fundados o Instituto Leonardo Murialdo e a Instituição Abrigo de Menores São José.

Sua economia se baseia nos hortifrutigranjeiros, com destaque para as culturas de maçã, pêssego, caqui e ameixa, além da apicultura e piscicultura. Porém vem se descobrindo na vitivinicultura, apesar de ser ainda embrionário, se destacando algumas vinícolas, como a própria Vinha Solo com os seus atuais 47 hectares.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi pouco brilhante e com tons acobreados, atijolados, denunciando os seus 13 anos de garrafa, com lágrimas grossas e lentas e em média intensidade.

No nariz é delicadamente aromático e impressiona que ainda os aromas terciários não estejam presentes, com as notas frutadas ainda sentidas, inclusive, notas de frutas vermelhas maduras, como morango e groselha, além de terra molhada, de folhas secas, de bosque, floresta e especiarias.

Na boca é elegante, redondo, equilibrado, o tempo lhe foi gentil, mas com complexidade, volume, diria, com um bom corpo, as frutas vermelhas maduras se apresentam como no aspecto olfativo corroborando a sua vivacidade e altivez, com curiosos toques de caramelo e chocolate, embora não passe por barricas de carvalho, com taninos aveludados e acidez média. Tem final longo e persistente.

Degustando os vinhos naturais da Vinha Solo, pude constatar, apenas com esse rótulo, o Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009, que com a mínima intervenção tem-se a máxima expressão do terroir, a concepção do vinho como ele é, nas características essenciais da variedade. E todo o conceito do Bioma local é sintetizado, inclusive em seu rótulo, em uma espécie de homenagem à biologia, a vida que, de forma latente, reina absoluta naquela região. Discussões oportunistas à parte em detrimento de segmentações, o resgate do conceito natural do vinho é só mais uma oportunidade para o enófilo degustar a poesia líquida em suas várias encarnações e nuances. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinha Solo:

Dois amigos desejavam produzir vinhos naturais. A ideia amadureceu como um bom vinho. O arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Ali implantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiares características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha.

Então nasceu a Vinha Solo já com a missão de elaborar vinhos de altíssima qualidade com a mínima intervenção humana possível. Assim os vinhos são lapidados em seu estado natural mesclando a excelência dos frutos da vinha com as nuances de uma fermentação espontânea.

Os vinhos da Vinha Solo são a demonstração do terroir onde solo, clima, conhecimento e trabalho no manejo dos vinhedos são traduzidos em cada uma das garrafas.

A localidade de Fazenda Souza tem uma altitude que chega a 890 metros e onde os ventos são generosos. O solo de estrutura argiloarenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma bonita biodiversidade.

Mais informações acesse:

https://www.vinhasolo.com.br/



Referências:








quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Tyrrell's Old Winery Syrah 2009

Tem certas castas que ganham identidade fora de seu berço de origem. Embora tenham algumas peculiaridades, de acordo com os terroirs espalhados pelo mundo determinadas castas são lembradas, sobretudo no quesito qualidade e credibilidade com determinados países e terras lendárias e emblemáticas na produção do vinho.

Já degustei alguns rótulos que quando pensamos em comprar sempre vem à tona determinados países e quando falamos da grande Syrah não podemos negligenciar a importância da Austrália.

Não posso sequer negligenciar a Syrah australiana da minha enófila vida. Lembro-me dos meus primeiros Syrahs da Austrália, só não consigo lembrar-me como descobri a importância da Syrah australiana. Os primeiros Syrahs que degustei foram os chilenos, os próprios franceses, alguns poucos desse país e quando me vi estava com a taça cheia do Shiraz australiano.

Acredito que foi com a intenção de descobrir os próprios vinhos australianos e não como dissociar a Shiraz da Austrália. E de algo eu posso lembrar com grande nitidez: Quando estava à procura de alguns bons vinhos australianos me recomendaram uma casa no Rio de Janeiro, vizinha da minha querida cidade de Niterói que gozava de alguma popularidade e tradição na venda de rótulos pouco usuais, difíceis de encontrar em qualquer lugar a preços convidativos. E lá fui!

Lá cheguei e logo um senhor, muito simpático e prestativo, me perguntou se tinha algum vinho em especial que procurava e logo disse que gostaria de alguns rótulos australianos com um bom custo X benefício.

Ele olhou com um olhar meio perdido, a princípio e disse: “Meu filho não é fácil encontrar um australiano assim, mas é possível”! E de fato, lembro-me que, em tempos de outrora, era difícil encontrar um bom rótulo australiano com um bom preço, a maioria era muito cara e ainda o é, mas essa situação está, mesmo que vagarosamente, revertendo.

Ele andou para o lado, para o outro, demorou um pouco para encontrar um vinho que pudesse contemplar os meus anseios e finalmente encontrou um e o tomou em suas mãos e logo me entregou. Disse que era um bom vinho e contemplava de forma singular o Syrah australiano.

Olhei e hesitei um pouco: seria um papo de vendedor? Sabe como é, para vender falam qualquer coisa sem sequer se preocupar com os anseios daquele que vai degustar o vinho.

Mas à época achei um bom preço, “pagável” e decidi levar, literalmente paguei para ver. Não levei muito tempo para degusta-lo e logo escolhi o dia tão importante para degustar aquele Syrah australiano. E não é que o vinho era maravilhoso? Espetacular vinho! Então sem mais delongas apresento o vinho: O vinho que degustei e gostei é um Syrah australiano e oriundo de várias regiões emblemáticas da Austrália, um blend de Syrah, um blend de regiões da Austrália e se chama Tyrrell’s Old Winery Syrah da safra 2009. E já que falamos, até aqui, tanto da Syrah e da sua aventura na Austrália, falemos também da história da casta.

No século XIII, o cavaleiro Gaspard de Stérimberg, retornou das Cruzadas e estabeleceu-se ao sul da cidade de Lyon, perto do entroncamento dos rios Rhône e Isère. Lá, ergueu uma capela para São Cristóvão e viveu como ermitão, isolado do mundo. Acredita-se que ele ou talvez outros cruzados, ao retornarem para a França depois das batalhas no Oriente Médio, teriam trazido consigo mudas de vinhas da cidade de Shiraz (ou Chiraz), na Pérsia, então um importante centro comercial da antiguidade.

Outra lenda dá conta de que os imigrantes gregos da cidade de Foceia (atualmente Foça, na Turquia) teriam criado relações comerciais no Mediterrâneo e também fundado portos e cidades, entre elas Massalia (Marselha). Assim, eles teriam trazido as mudas adquiridas em Shiraz, na Pérsia, e as implantado na região ainda no século VI a.C. Há chances ainda de a variedade ter sido originada no mar Egeu, numa das ilhas gregas das Cíclades chamada Siro (ou Syra).

No entanto, alguns acreditam que a origem da uva Syrah no Rhône é ainda anterior, remontando a 310 a.C. Na época, Agathocles, tirano que reinava na ilha siciliana de Siracusa (Syracusa) teria trazido consigo mudas de vinhas quando esteve no Egito. Da ilha, as vinhas teriam se espalhado pelo sul da França.

Agathocles

Outros ainda cogitam a ideia de que, nos primeiros anos depois de Cristo, Plínio, o Velho, filósofo e naturalista romano, teria descrito a variedade Syriaca, uma versão escura da uva Aminea, que crescia na Síria, como uma ancestral da Syrah. Há quem sugira que São Patrício, patrono da Irlanda, foi quem plantou as primeiras mudas de Syrah no Rhône quando fazia seu trajeto para a abadia de Lérins, na ilha de Saint-Honorat, perto de Cannes.

Plínio, o velho

São Patrício

Já os viticultores albaneses creem que a Syrah tenha se originado em suas terras. Lá, cresce uma variedade tinta chamada Serina e Zezë e outra dita Shesh i zi, que teriam parentesco com a Syrah. Sérine, por sinal, é um dos nomes pela qual a variedade é conhecida.

As origens da variedade estão mesmo diretamente ligadas ao norte do vale do rio Rhône, mais especificamente na área ao norte do rio Isère e à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça, no departamento de Isère.

Essa hipótese foi levantada devido a uma análise de DNA feita em 1998 pela UC Davis e pelo INRA (instituto de pesquisas agronômicas) em Montpellier, no sul da França. O levantamento surpreendeu os cientistas e mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta. A Mondeuse, natural da região de Savóia, próxima ao Rhône, costumava ser cultivada também em Ain e Isère. A Dureza, natural de Ardèche, logo a oeste do rio Rhône, costumava ser cultivada em Drôme e também em Isère. Portanto, os ampelógrafos concluíram que o nascimento da Syrah deve ter se dado em um local em que essas duas variedades eram plantadas, portanto, mais provavelmente em Isère por volta do século XII.

A data, porém, pode ser anterior, já que alguns estudiosos acham que a Syrah pode ter sido citada pelos primeiros naturalistas romanos como Columella e Plínio, o Velho, no século I da era cristã. Em seus escritos, eles apontavam uma variedade chamada de Allobrogica, cultivada na terra dos Alóbroges, que vai do lago de Genebra até Grenoble e do norte de Savóia até Vienne, cidade que faz parte de Côte Rôtie, logo ao sul de Lyon. Essa uva era usada para o picatum, um vinho resinoso feito perto de Vienne. Segundo Plínio, era uma casta de maturação tardia cultivada em terras frias. Daí também poderia ter surgido o nome Syrah, que seria uma derivação de Sérine, que viria do latim “serus” (tardio).

A Syrah, por sinal, possui diversos nomes e não apenas a sua variação mais comum Shiraz, que ficou famosa devido ao boom dos vinhos australianos. Aliás, até mesmo na Austrália ela possui ainda outro nome e pode ser chamada de Hermitage. Mas, suas variações mais comuns são: Sira, Sirac, Sirah, Syra, Syrac, além de, como já foi visto, Sérine, que também apresenta diversas possibilidades como: Sérène, Serine e Serinne. Ela também pode ser chamada de Petite Sirrah (não confundir com Petite Sirah, que é outra casta), Candive e Marsanne Noire.

A primeira citação conhecida sobre a Syrah é de 1781, pelo geólogo e naturalista Barthélemy Faujas de Saint-Fond, que a chamou de “‘la Sira de l’Hermitage”. Ele descreve: “produz um vinho agradável, generoso, apetitoso e que pode envelhecer bem: nós podemos misturar com uma pequena quantidade de uvas brancas, como é feito em Tain. Serine e Vionnier de Côte Rôtie também seriam adequadas”.

Como se pode perceber, a variedade ganhou sua fama no norte do vale do Rhône, especialmente em Hermitage e Côte Rôtie, onde serve de base para os principais tintos, sendo muitos varietais, mas também contendo pequenas parcelas de Roussanne e Marsanne (Hermitage), ou Viognier (Côte Rôtie). Nos vinhos de Crozes-Hermitage e Saint-Joseph, a Syrah também é majoritária, e, em Cornas, ela deve ser monovarietal.

Contudo, apesar de seu berço francês, a fama do nome Syrah, mais precisamente Shiraz, deu-se com o boom dos vinhos australianos entre os anos 1980 e 1990. Parte do prestígio veio com o Penfolds Grange Hermitage. Lançado em 1952 pelo enólogo Max Schubert, este Shiraz tornou-se mundialmente conhecido, ganhando o prêmio de vinho do ano da revista Wine Spectator em 1995 (já sem Hermitage no rótulo), e levou o nome da casta às alturas, tornando-a tão conhecida quanto outras tintas já fartamente decantadas como Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, por exemplo.

A Syrah chegou à Austrália em 1832, com James Busby, considerado o pai da indústria de vinhos no país. Ele teria trazido mudas em Montpellier, que na época eram conhecidas como Scyras, e mais tarde se provaram idênticas às de Tain, em Hermitage, daí o nome com que a uva ficou conhecida (Shiraz e Hermitage) por lá.

Apesar de a França ter a maior quantidade de área plantada, com quase 70 mil ha, a Austrália vem logo atrás com cerca de 42 mil ha. Os outros principais produtores são: Espanha (20 mil ha), Argentina (12,8 mil), África do Sul (10,1 mil), Estados Unidos (9,1 mil), Itália (6,7 mil), Chile (6 mil) e Portugal (3,5 mil).

Apesar de a Austrália ter ficado com a fama, um dos primeiros lugares fora da França em que a variedade foi cultivada foi na África do Sul, onde teria chegado em meados do século XVII. Todavia, ela permaneceu uma casta pouco importante no cenário sul-africano até o boom dos anos 1980 promovido pelos australianos. Em 1878, a cepa chegou aos Estados Unidos e, apesar de não ter o mesmo sucesso da Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, levou um grupo de viticultores a criar, nos anos 1980, a associação “Rhône Ranges”, para promover as uvas do Rhône em solo norte-americano. A organização conta, hoje, com mais de 170 membros.

A Syrah é uma uva de personalidade forte. Os vinhos feitos a partir dela normalmente apresentam bom corpo, são potentes e cheios de sabor. Suas notas mais características variam entre frutas negras (como mirtilos e amoras), violetas e azeitonas pretas, além de especiarias picantes, muitas vezes pimenta preta, às vezes branca. Com o tempo, esses aspectos aromáticos evoluem e costumam surgir notas terrosas ou mesmo de carne – alguns associam ao defumado, couro e trufas.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi escuro, profundo, mas com um intenso e lindo brilho, com lágrimas finas, lentas e em profusão, prevendo o corpo e a estrutura.

No nariz prevalecem as notas frutadas, de frutas negras maduras tais como groselha, amora, com toques discretos, em perfeita sincronia com a fruta, da baunilha, de chocolate, de notas amadeiradas, graças a uma curta passagem por madeira, não informado pelo produtor.

Na boca prevalecem as notas frutadas em abundância, com estrutura, um vinho cheio, de bom volume de boca, mas com um frescor evidente, muito típica da Syrah australiana: complexidade e frescor garantido pela fruta. É expressivo, marcante, de taninos presentes, gordos, mas equilibrados, com boa acidez que corrobora o frescor e um final longo e prolongado.

Quando falamos em terroir e tipicidade torna-se algo meio comum, meio clichê no universo dos vinhos, mas para este caso, para este rótulo merece, pois tem muita tipicidade, entrega grandemente as características genuínas de um Syrah australiano. Um vinho voluptuoso, carnudo, com aquela picante típico da casta, com o frescor, a maciez e elegância, mostrando-se um vinho versátil e fácil de degustar, apesar da sua excelente estrutura. Que a Austrália se revele sempre com os seus rótulos para o mundo, para a minha mesa. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Tyrrell’s Wines:

Em 1889, aos 18 anos, Edward George “Dan” Tyrrell, o filho mais velho entre os dez filhos de Edward Tyrrell, assume como enólogo. Carinhosamente conhecido como “Tio Dan”, ele iria oficiar mais de 69 safras surpreendentes. Seus esforços são auxiliados por seu irmão mais novo, Avery, cuja abordagem meticulosa da gestão dos vinhedos fornece os frutos excepcionais que constituem a espinha dorsal dos vinhos de Dan e dos vinhos que a Tyrrell's faz hoje.

Em 1959 Murray Tyrrell, filho de Avery, assume as funções de vinificação na Tyrrell's, após ter servido na Segunda Guerra Mundial e administrado um negócio de gado. Ele rapidamente formaliza os esforços para construir o valor dos vinhos da Tyrrell, ao mesmo tempo em que promove visitas à vinícola para degustação e venda, abrindo caminho para a Cellar Door como a conhecemos hoje. Em 1961, cria o sistema Private Bin, onde os frutos dos melhores blocos de vinha são amadurecidos em barricas ou cubas individuais de carvalho, sendo os vinhos resultantes os nomes das cubas de onde provêm. Quatro anos depois, com a ajuda da lenda do vinho australiano Len Evans, ele cria a linha Winemaker's Selection, que representa os melhores vinhos de cada safra, começando com o Vat 5 e o Vat 9 Shirazes, o Vat 8 Shiraz Cabernet e o Vat 11 Dry Red .

Em 1961 o Private Bin Club da Tyrrell, o primeiro clube de vinho da Austrália por correspondência, abre para negócios. Após tempestades de granizo devastadoras em 1958 e 1960, que destruíram a maior parte da safra, Murray começa a providenciar para que as pessoas visitem a vinícola, provem os novos vinhos em barris e os pré-encomendem. Esse processo acabou dando origem ao Private Bin Club, por meio do qual os membros passaram a ter acesso a vinhos de pequena produção disponíveis apenas na vinícola.

Em 1968 Murray planta as primeiras vinhas Chardonnay na propriedade da Tyrrell usando estacas da vinha HVD de propriedade da Penfolds. O vinho resultante, Vat 47 Chardonnay, se torna o primeiro Chardonnay comercial da Austrália quando é lançado três anos depois. A Tyrrell's envia sua primeira remessa de exportação para os EUA - um contêiner de 1.000 dúzias. Hoje, a Tyrrell's exporta 17.000 caixas de dúzia de garrafas para mais de 30 países a cada ano.

Em 1974, Bruce Tyrrell, filho de Murray, ingressou na empresa aos 23 anos, graduado em Economia Agrícola pela University of New England no ano anterior. Em 2000, ele substitui seu pai como diretor administrativo da Tyrrell's.

Em 1979 A Tyrrell's vence a primeira Olimpíada do Vinho em Paris, organizada pela revista francesa de gastronomia e vinhos Gault-Millau. O 1976 Vat 6 Pinot Noir é aclamado o melhor vinho do mundo, superando cerca de 330 vinhos de 33 países. O prêmio é uma justificativa particular, pois a Tyrrell's foi pioneira na variedade na Austrália, plantando dois acres de Pinot Noir em 1972 - entre as primeiras plantações comerciais da variedade na região de Hunter.

Mais informações acesse:

https://tyrrells.com.au/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sinonimos_10240.html

Degustado em: 2016

 

 





 

quinta-feira, 19 de março de 2020

Finca Martha Gran Malbec 2009



Vinhos especiais são para sempre! Há o período nobre e ritualístico do dia que o desarrolhamos e degustamos, mas quando é especial, parece se prolongar, uma eterna persistência na nossa lembrança, no nosso coração, nas nossas vidas! Torna-se inclusive uma referência para outros vinhos que degustamos, quando escolhemos um rótulo, quando buscamos suporte para escolher um rótulo que está em nosso radar. E, embora seja um vinho de uma região emblemática, de uma casta conhecida, que poderia sugerir algo sem novidade, diria banal, que não reforçaria o meu entusiasmo neste texto inicial, o vinho é especial. Um vinho que retrata com fidelidade a tipicidade de uma região apaixonante e apaixonada, enamorada pelo vinho.

O vinho veio de Mendoza, de vinhedos das regiões de San Rafael e Valle de Uco, na Argentina, e é um Malbec, clássico, tradicional, austero e se chama Finca La Martha Gran Malbec, da safra 2009. E aqui cabe uma história rápida: quando o vi nas gôndolas, logo me interessei pois estava a procura de um vinho, de um argentino Malbec com uma proposta de um vinho amadeirado, estruturado, potente, um gran reserva maiúsculo. Mas fiquei receoso, talvez pelo desconhecimento ou faltasse informação, por conta da safra e do tempo de vida do mesmo. Considerando que o comprei e o degustei no ano de 2017, o vinho tinha 8 anos de safra! Mas o Finca Martha era um corpulento gran reserva, apresentava as credenciais fortes para a longevidade e quando o abri a grata surpresa se revelou.

Na taça um vermelho rubi intenso, profundo e brilhante, típico da Malbec, com lágrimas em abundância, finas e que, como uma teia, se entrelaçava tingindo as paredes do copo.

No nariz já revela grande intensidade, notas de frutas vermelhas maduras, com toques evidentes de baunilha e chocolate, provenientes da passagem por 12 meses por barricas de carvalho.

Na boca é frutado, estruturado, expressivo, encorpado, mas macio, equilibrado, taninos suaves, álcool bem integrado, boa acidez, apresentando toque agradável da madeira e chocolate. Final frutado e persistente.

Um vinho estruturado, complexo, encorpado, contudo equilibrado, abrandado pelos 8 anos de safra! O tempo lhe foi gentil, trouxe a harmonia ao conjunto do vinho. Melhor resposta que o vinho trouxe aos meus receios, as minhas dúvidas. Com 13,5% de teor alcoólico. Harmoniza muito bem com o nosso churrasco, massas condimentadas, carnes e queijos maduros.

Sobre a Finca Martha Viñedos y Bodegas:

A Bodega La Soñada é uma das vinícolas do centenário de San Rafael, Mendoza, Argentina, comprada, recuperada e reconquistada pela família Barale em 2001. Os vinhos Finca Martha são provenientes de uvas colhidas nesta propriedade. A elaboração desses vinhos é um trabalho que a família realiza sem pressa, com carinho e fundamentalmente com paixão.

Mais informações acesse:

http://fincamartha.com/

Degustado em: 2017