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sábado, 15 de janeiro de 2022

San Valentín Garnacha 2019

 

Sabe aquele conceito de tradição? Pode parecer meio antiquado e ortodoxo demais e claro, sempre fui simpático às novidades, sobretudo no universo do vinho, mas quando falamos de tradição é porque traz confiabilidade, qualidade, a certeza, pelo menos de acordo com as predileções de cada um, de que degustaremos um vinho que expresse absolutamente o terroir daquela região e eu tenho valorizado muito isso nos últimos tempos.

Embora seja pisar em terreno arriscado falar em terroir, um termo tão complexo ainda mais se tratando de um simplório enófilo como eu, é notório que, quando temos o mínimo de capacidade de observação e um pouquinho de “litragem”, conseguimos identificar as características mais marcantes, dada as especificidades de cada casta e vinho, claro, daquela região, daquele país, das suas castas emblemáticas, das suas cepas autóctones.

E falando em castas emblemáticas entramos no campo da tradição. Quando mencionamos a Tempranillo não há como deixar de associá-la a Espanha. De lá vem os grandes exemplares da casta que tem fácil adaptabilidade em outros cantos do mundo, como na Argentina, em Portugal, que é chamada de Tinta Roriz e Aragonez e até mesmo em nossas terras brasileiras.

Mas não podemos deixar da Garnacha! Casta essa capaz de nos entregar tanta versatilidade, complexidade, porém sendo, ao mesmo tempo, tão solar, tão divertida, tendo a fruta como protagonista, a fruta vermelha, a fruta madura.

E não há como não se render aos Garnachas espanhóis! Temos os exemplares franceses, mas os espanhóis são os melhores talvez pelo fato de ser tão versátil e gastronômica, ter tanta personalidade. E não se enganem de que apenas em uma ou outra região você tem ótimos rótulos de casta. Em todas as regiões a Garnacha reina soberanamente em termos de qualidade e rivaliza em iguais condições com a Tempranillo, em minha opinião.

Mais uma vez me ponho a sentir novas experiências com a Garnacha e a tradicional casta uniu-se a tradição de um produtor que ganhou o mundo em qualidade que é a Família Torres e essa junção foi arrebatadora.

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei vindo da região espanhola da Catalunha (DO) que se chama San Valentín Garnacha da safra 2019. Que vinho! Que vinho!! Tive, em um passado não muito distante, uma grata experiência com um rótulo dessa linha da Família Torres chamado San Valentín Tempranillo 2019 e foi igualmente arrebatadora, da região de Castilla La Mancha, outra área espanhola que tenho me divertido muito em degustar vinhos.

Contudo antes de falar do vinho contemos a história da região catalã para a produção de vinhos e um pouco da Garnacha, a artista do espetáculo, e também do Santo Valentim que dá nome ao vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país e que foi formalmente reconhecida em 1999 e também salvaguardar a tradição de produção de vinho na Catalunha, tão importante há mais de 2.000 anos. Foi criada também com o propósito específico de fornecer suporte comercial para mais de 200 vinícolas (bodegas), mas que não foram incluídos em outros DOP's específicos na Catalunha.

Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Não tem uma localização geográfica específica, mas é formado por mais de 40 km² de vinhedos individuais que estão dispersos por toda a Catalunha e permite a mistura de uvas de outros DOPs, ou seja, cerca de 4.000 hectares de vinha distribuídos por toda a região. De um modo geral, um clima mediterrâneo domina com muitas horas de sol, mas sem calor excessivo.

Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Mais precisamente em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do Cava, produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura.

Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo.

Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

Catalunha

Porém também abrange vinhos brancos, rosés e tintos, bem como licorosos tradicionais, mistela, vinhos maduros e doces naturais. Em geral, os vinhos são modernos e inovadores, com uma cor atraente, intensidade aromática média e acidez moderada. Os brancos são leves e frutados e os tintos são encorpados e equilibrados. Todos estes vinhos podem ser descobertos e experimentados durante a “Mostra de Vinhos i Caves de Cataluña” que acontece em Barcelona em meados de setembro.

Muitos dos vinhos com a Denominação de Origem da Catalunha são encontrados perto de mosteiros que remontam à Idade Média, como os de Montserrat, Santes Creus, Poblet ou Sant Pere de Rodes. Isso se deve ao fato de que em muitos casos os monges eram aqueles que tinham autorizações régias para produzir vinho. Da mesma forma, os vinhos com esta designação podem ser descobertos visitando as caves onde foram produzidos.

Garnacha

Garnacha, como é conhecida na Espanha, ou Grenache, na França, é ainda a Cannonau – típica na ilha da Sardenha, na Itália. Aliás, em solo italiano, ela ainda recebe outro nome: Tocai Rosso, no Vêneto. Na França, a Garnacha também pode levar o nome da região que primeiro a recebeu quando veio da Espanha, Roussillon.

Há quem acredite que o nome Cannonau tenha sido o primeiro usado para se dirigir à Garnacha, denotando uma possível origem italiana e não espanhola como se supunha até então. No entanto, as referências tanto a uma quanto à outra são muito próximas. Além disso, como a Sardenha foi colônia espanhola de 1479 a 1720 e a primeira menção ao nome Garnacha é de 1513, é de se supor que haja uma relação próxima.

É uma das mais plantadas em todo o mundo, ocupando cerca de 200.000 hectares, sendo 80% deles localizados na França e Espanha, regiões que possuem o maior cultivo da cepa. Se adaptando extremamente bem a regiões que possuam clima quente e seco, a uva Garnacha é utilizada na elaboração de diferentes tipos de vinhos, sendo encontrada em maravilhosos exemplares de vinhos tintos, vinhos roses e até mesmo vinhos de sobremesa.

Por possuir altas taxas de açúcar, os vinhos originados a partir da casta são, na maioria das vezes, exemplares com graduação alcóolica elevada, motivo pelo qual muitas vezes a uva Garnacha é utilizada em vinhos de corte.

Apesar da maior parte das vinhas da uva serem encontradas na França e Espanha, a casta Garnacha é também cultivada nos vinhedos da Itália, México, Estados Unidos, Austrália e Brasil. Com estrutura bem específica, a coloração da uva Garnacha é mais clara do que a habitual encontrada em cepas tintas, além de possuir frutos com pele bem fina.

Os exemplares de vinhos elaborados com a casta Garnacha são excelentes opções para acompanhar momentos gastronômicos, graças a sua riqueza de estilo e versatilidade. Os rótulos roses são perfeitos na companhia de pescados, já os vinhos tintos exaltam a complexidade da uva Garnacha quando acompanhados de frutos do mar ou legumes grelhados.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo.

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores.

Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente.

Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

Na taça revela um vermelho rubi vivo, intenso, mas com reflexos violáceos reluzentes, brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz explodem os aromas de frutas vermelhas e negras e se destacam amora preta, framboesas, cerejas, com notas florais, toques de especiarias, algo talvez como pimenta e um discreto tostado, embora não passe por barricas de carvalho.

Na boca é cheio, saboroso, com bom volume de boca, graças aos 4 meses de maturação sobre as suas borras finas entregando personalidade e média estrutura, porém fácil de degustar, graças ao frutado tão característico da Garnacha. Tem taninos presentes, mas polidos, baixa acidez e um final prolongado de retrogosto frutado.

Um autêntico e verdadeiro exemplar da Garnacha e está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a sua essência o que há de mais genuíno na cepa produzida em toda a Espanha, trazendo o caráter, a gênese de uma das mais populares e emblemáticas da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia).

No Chile, foi a primeira vinícola europeia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991.

Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade.

Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/catalunha

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/grenache-garnacha

“Catalunya.com”: https://www.catalunya.com/do-catalunya-23-1-43?language=en

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalunya_(DO)

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/grenache-garnacha-ou-cannonau-conheca-os-diferentes-nomes-dessa-casta_12604.html

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

 

 

 




 


sábado, 27 de março de 2021

San Valentín Tempranillo 2019

 

Os bons enófilos entenderão o que direi, o melhor, textualizarei, agora: é possível sim nos apaixonarmos por um vinho, digo mais, paixão é efêmero, é fugaz, mais criar um vínculo amoroso com um rótulo, com um produtor, com uma linha de rótulos a ponto de criarmos um vínculo safra por safra! Alguns poderão dizer que seria uma espécie de zona de conforto, se deixar escravizar pela conveniência da qualidade, não se permitindo degustar outros vinhos e se aventurar em outras experiências sensoriais. Ah talvez possamos, como bons versáteis que devemos ser, unir a conveniência do amor a um rótulo, a um produtor, a uma região, a uma casta e a aventura apaixonante das novas experiências, diversificando o nosso leque de opções.

Agora vem aquela pergunta que não quer calar: Por que falar tanto de amor, paixão e efemeridades? Bem tem tudo a ver com a nossa percepção para com essa poesia líquida que nos traz tanta inspiração quando falamos, conhecemos e, claro degustamos. Mas não é só isso, mas também um paralelo, muito do óbvio, do rótulo que degustarei e que terei um grande prazer em tecer algumas linhas, sobretudo pela sua casta, famosa na Espanha, como a mais emblemática: Tempranillo.

A Tempranillo, popularmente conhecida em Portugal como Aragonez e Tinta Roriz, sem sombra de dúvida é, com o perdão da analogia, uma casta apaixonante, que se ama facilmente e diria muito democrática: estruturada, complexo, sobretudo quando estagia por barricas de carvalho, básico, um vinho mais direto e de grande vocação gastronômica. Agrada a todos os níveis de paladar, do mais exigente e experiente aos iniciantes do mundo do vinho.

E nada mais autêntico como a Tempranillo. Retrata fielmente a tipicidade de cada região na Espanha, sendo de fácil cultivo, por isso é tão popular e se adequa a todos os terroirs, ganhando em singularidade. E quando falo de autenticidade, o rótulo que escolhi para degustar personifica, de forma exemplar, tal condição: Um Tempranillo como ele deve ser na sua essência, retratando as suas mais apaixonantes características. O vinho que degustei e gostei vem da região de Castilla La Mancha, um emblemático e fiel Tempranillo da emblemática e tradicional Vinícola Torres e se chama San Valentín da safra 2019. Ah já que falamos com tanto amor e aí está o motivo dessa palavra ser tão mencionada nesta resenha, por causa do santo que inspirou o dia dos namorados pelo mundo afora, mas também pelo apreço emocional que tenho, que todos têm pela Tempranillo, falemos então da casta.

Tempranillo

O nome Tempranillo é o diminutivo de “temprano”, que em espanhol significa cedo e, no contexto do mundo do vinho, quer dizer que essa variedade de uva amadurece antes que as demais. Na Espanha, que é um dos países onde essa uva é mais cultivada, ela amadurece algumas semanas antes que as outras uvas. É oriunda da Península Ibérica, mas devido sua fácil adaptação a diferentes climas e solos, no último século, tem sido muito cultivada em partes diversas do do mundo do vinho, do México à Austrália. Ela possui várias outras designações, dependendo do país de cultivo a Tempranillo pode ser conhecida como Aragonez ou Tinto Roriz (Portugal), Negretto (Itália), Valdepeñas (Estados Unidos) e, mesmo dentro do seu país originário, sua identificação muda substancialmente. Em geral, produz um vinho tinto com acidez e teor alcoólico de nível médio, textura macia e deliciosamente elegante.

Os povos fenícios foram provavelmente os introdutores dessa variedade de uva na Península Ibérica, através da cultura da vitis vinifera, trepadeira que deu origem a quase todas as castas de uvas existentes hoje. Segundo pesquisas científicas, a Tempranillo foi cultivada pela primeira vez há pelo menos 1.000 a.C, onde hoje é a província espanhola de Cádiz. Sua utilização na produção vinícola da Espanha, porém, permaneceu subdesenvolvida até o século XV, período pelo qual esteve o território espanhol sob o domínio mouro, cuja cultura religiosa não dá valor algum às bebidas alcoólicas. Portanto, durante muito tempo no país, a produção de vinho não ficou em primeiro plano, estagnando seu desenvolvimento. Após esse período, a Espanha teve seu florescimento no que diz respeito ao cultivo da uva e produção de diferentes tipos de vinhos, chegando hoje a corresponder ao terceiro maior mercado produtor. À frente dessa produção está a Tempranillo, que, devido sua influência e predominância, tornou-se símbolo dos melhores vinhos do país.

Curiosamente, apesar de o sabor do vinho elaborado com a Tempranillo ser comparado, algumas vezes, com o da Cabernet Sauvignon, elas diferem em relação à adaptabilidade, assim como em relação à resistência as pragas e as intempéries climáticas. Nesses três quesitos a Cabernet Sauvignon apresenta maior resistência. Em relação ao clima, por exemplo, apesar da Tempranillo atualmente ser cultivada em diversas regiões do mundo (não tantas quanto a Cabernet Sauvignon) e de tolerar climas quentes, especialistas afirmam que os melhores vinhos são aqueles produzidos com uvas cultivadas em regiões mais frias e com maior altitude. Por outro lado, os estudiosos também reconhecem que, para aumentar o teor de açúcar e “engrossar” a casca (o que faz com que o vinho tenha uma cor mais intensa), é preciso que o local de cultivo tenha temperaturas mais altas. A conclusão, portanto, é que o clima ideal para o cultivo dessa variedade é o continental.

De forma geral, pode-se dizer que o vinho Tempranillo tem taninos médios, acidez média para alta e cor vermelho escura. É considerado como um vinho de corpo leve a médio. Se jovem, seus aromas remetem a frutas vermelhas; se envelhecido, apresenta aromas de couro e de folhas frescas de tabaco. Quando o vinho é envelhecido, ele fica mais encorpado e com aromas de carvalho, mesmo que a aparência não mostre isso. Isso porque o bago dessa uva é grande e tem casca fina, razão pela qual, quando o vinho está no copo, pode parecer mais translucido do que outros vinhos de corpo médio.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. 

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores. Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente. Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos muito brilhantes com lágrimas finas e em abundância, que teimam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz apresenta uma intensidade de aromas, muito frutado, que vai de frutas vermelhas como groselha, cereja e framboesa a frutas negras como amora, ameixa além de um toque floral muito agradável.

Na boca é estruturado, intenso, carnudo, logo com um ótimo volume de boca, mas por outro lado, macio e aveludado, apesar de o início se revelar alcoólico, pela sua impetuosidade, um jovem vinho, mas logo se equilibrou, com uma acidez equilibrada, de média intensidade corroborando a sua jovialidade, com taninos pronunciados e presentes, com final persistente.

Um autêntico e verdadeiro exemplar de Tempranillo está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a essência da Tempranillo expressando o terroir de La Mancha, mas com o caráter, a gênese da casta mais popular e emblemática da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, no seu auge, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia). No Chile, foi a primeira vinícola européia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991. Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade. Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

Blog “Vinhosite”: http://blog.vinhosite.com.br/tempranillo-a-uva-que-os-espanhois-mais-cultivam/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tempranillo-a-nobre-uva-da-espanha/

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2020/07/01/vinhos-de-julho-miguel-torres-san-valentin-parellada-tempranillo-e-garnacha-todos-2018/

 

 




segunda-feira, 29 de junho de 2020

Viña Brava Parellada e Garnacha Blanca 2014


Estava eu em uma das minhas inúmeras incursões aos supermercados para garimpar algum vinho interessante cujo preço não impacte tanto no bolso já combalido. Na realidade estava querendo alguma novidade também em termos de proposta de vinho. Algo novo e diferente em meu simples e humilde currículo de enófilo, talvez uma casta pouco conhecida, uma região pouco comentada, um vinho que me entregasse algo pouco usual tão comum nos supermercados. E, olhando um pouco mais de detalhe achei, jogado na parte mais baixa da gôndola, entregue a própria sorte, um vinho empoeirado, com um preço até atrativo, em torno dos seus R$ 19,00 e, nesse quesito já me chamou a atenção. Tomei o mesmo em minha mãos e olhando um pouco mais percebi que era de uma vinícola tradicional da Espanha, de uma região que nunca havia degustado um vinho sequer e duas castas que nunca tinha ouvido falar. Pronto! Era tudo o que eu precisava! Atendia as minhas necessidades de momento! Levei!

Não demorei muito para abri-lo e quando o desarrolhei fiquei preocupado, receoso, afinal, a safra era um tanto quanto “antiga” para um vinho, 2014, talvez se justificasse o preço por esse motivo, mas quando o servi na taça e levei à boca me surpreendi de uma forma que jamais esperaria! Fantástico vinho, incrível rótulo! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da Espanha, da região da Catalunha, e se chama Viña Brava um corte das castas Parellada e Garnacha Blanca. Mas antes de falar entusiasticamente do vinho, falarei um pouco dessas castas “novas” para mim, bem como da região da Catalunha.

Parellada

A uva Parellada, nativa da Catalunha, é cultivada exclusivamente em sua região de origem e participa da composição do prestigiado vinho espumante Cava. Conhecida também como Montonec ou Montonega, essa variedade de uva é cultivada nas montanhas do Alto Penedès, a 600 metros acima do nível do mar. A Parellada atinge o ápice qualitativo quando cultivada em grandes altitudes, onde as baixas temperaturas favorecem sua acidez natural e necessita de um período maior de tempo para desenvolver todos os seus compostos aromáticos. Essa variedade é utilizada, principalmente, na fabricação de alguns dos melhores espumantes espanhóis, o Cava, ao lado das uvas Xarel-lo e Macabeo. A Parellada, considerada a uva mais elegante e refinada entre as três variedades, é responsável por adicionar acidez e frescor aos exemplares. Os vinhos elaborados a partir da uva Parellada apresentam aromas florais e cítricos, além de serem exemplares extremamente delicados, ricos em acidez, aromáticos, com coloração brilhante e contam com a presença de um baixo teor alcoólico.

Garnacha Blanca

Nativa do norte da Espanha, a Grenache Blanc é mais conhecida por fazer parte da composição de excelentes vinhos brancos franceses, em especial, o tradicional vinho Chateauneuf-du-Pape. Conhecida como Garnacha Branca na Espanha, ela é uma variante branca da casta Grenache Noir e já foi uma das castas mais importantes da França, até perder o posto de quarta uva mais plantada no país para a Sauvignon Blanc (atrás da Ugni Blanc, Chardonnay e Sémillon). Essa variedade dá origem a vinhos com coloração dourada e está sendo cada vez mais utilizada na elaboração de excelentes varietais, no entanto, encontramos a Grenache Blanc com maior facilidade em blends, por ser uma uva extremamente aromática, exibindo aromas frutados de maçã verde e melão e adicionando características típicas do ambiente em que foi cultivada ao resultado final de qualquer vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país. Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Consequentemente, os vinhos elaborados na região possuem coloração tinta profunda, excelente textura e taninos finos.

Catalunha

É em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do famoso Cava, vinho espumante produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura. Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo. Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo com reflexos dourados, vivo e brilhante com pouca incidência de lágrimas.

No nariz, apesar da safra “antiga” para um vinho branco com essa proposta, ainda estava pleno e vivo, apresentando frescor e muito frutado, com notas de abacaxi, maça verde e pera.

Na boca é muito fresco, com notas joviais e muita elegância, se mostrando redondo e equilibrado, reproduzindo a fruta com evidência para maçã verde e abacaxi, com acidez correta e um final longo e persistente.

Um vinhaço muito bem produzido e mostrando a relevância tradicional da Família Torres na Espanha. Harmoniza muito bem com carne branca, peixes e frituras ou simplesmente sozinho. Um vinho descontraído, informal e ainda muito jovem. Acho que o degustei no tempo certo. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Familia Torres:

Falar da vinícola Torres é falar de um império que impõe respeito no mundo dos vinhos. Com mais de 1.300 hectares de território plantado, a Torres é hoje a maior vinícola da Espanha. Sua reputação lhe conferiu inúmeras premiações, como a de melhor vinícola européia do ano, promovida pela revista “Wine Enthusiast” em 2006. A Família Torres administra também a Miguel Torres no Chile e a Marimar Estate nos Estados Unidos. Fundada em 1870, em Penedés, a nordeste da Espanha, a vinícola Torres nasceu de uma parceria entre dois irmãos de uma família que desde o século XVII cultivava vinhas, mas sem apelo comercial. Jaime Torres era o irmão que dominava o comércio com as Américas, enquanto Miguel Torres dominava a produção de vinhos. Juntos começaram o negócio familiar focados no mercado externo, vendendo seus vinhos em barris, sem imaginar a dimensão que a Torres tomaria. A vinícola logo começou a ganhar visibilidade e recebeu ilustres visitas em sua sede, como a do rei Afonso XIII em 1904. Poucos anos depois, já na segunda geração da família, nasceu a primeira marca da Família Torres: a Coronas, marca que deu fama mundial à vinícola e que é reconhecida até os dias de hoje. Essa mesma geração foi também responsável pelo início da produção de brandies, o vinho fortificado da Torres. Tamanha fora sua aceitação e sucesso no mercado externo que tornou a Torres a maior exportadora de brandy do país. Os negócios iam bem, até que veio a guerra civil espanhola e em 1939 a vinícola foi parcialmente destruída por um bombardeio. Ao fim da guerra, iniciou-se a reconstrução da vinícola e os vinhos passaram a ser vendidos pela primeira vez em garrafas. Nos anos seguintes, nasceram marcas como Sangre de Toro, produto de entrada da Torres produzido a partir de Garnacha e Cariñena, e Viña Sol, feito a partir das castas Parellada e Garnacha Blanca com uma proposta de frescor. Próximo ao centenário, a vinícola aderiu à vitivinicultura moderna, começou a cultivar variedades estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay e a utilizar tanques de inox para a fermentação. Em 1979, a Torres expandiu seus negócios para outros territórios. Nasceu a Miguel Torres no Chile e alguns anos depois, a Marimar Estates em Sonoma, nos Estados Unidos. Seus vinhos traduzem a tradição e o conhecimento da família aliados à riqueza do terroir dessas regiões. Na Espanha, a Torres ampliou seu negócio para outras terras e está hoje em regiões como Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda, Priorato e Penedés, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Sua produção chega a atingir mais de 40 milhões de litros por ano e seus vinhos estão presentes em mais de 140 países. Reputação deste império que é a vinícola Torres a tornou um ponto turístico muito procurado por amantes do vinho de diversos países, chegando a receber mais de 130.000 visitantes por ano somente na sede de Penedés. Se você estiver na Espanha e tiver a oportunidade de visitar, vale gastar algumas horas desfrutando de seus vinhos, ampliando seu conhecimento sobre esta marca histórica e apreciando a natureza incrível no entorno de suas sedes. São três os locais que permitem visitação: a sede de Penedés (Parcs Del Penedés), principal local de visitação, a vinícola de El Lloar no Priorato e o Castelo de Milmanda, em Conca de Barberà.
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Fontes pesquisadas sobre as castas e a região:

Mistral, em:


Degustado em: 2019