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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Cabo da Roca Reserva Especial Baga 2016

 



Vinho: Cabo da Roca Reserva Especial

Safra: 2016

Casta: Baga

Região: Bairrada

País: Portugal

Produtor: Casca Wines

Adquirido: Site Sonoma Market

Valor: R$ 97,90

Teor Alcoólico: 14%

Estágio: 12 meses em barricas de carvalho francês

 

Análise:

Visual: revela um rubi intenso, com reflexos granada, atijolados principalmente em seu entorno, denotando os seus oito anos de idade, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

Nariz: traz aromas complexos, com frutas vermelhas maduras, destaque para cereja, framboesa, notas evidentes de carvalho, porém muito bem integrados, que aporta baunilha, couro, tabaco. Especiarias são sentidas, algo como chá também.

Boca: é estruturado, intenso, característica típica desta cepa, mas macio, elegante. O tempo fez bem ao vinho, o tornou equilibrado. Ele é seco, frutado, amadeirado, trazendo notas de chocolate meio amargo, balas toffee, caramelo, carvalho, café tostado. Os taninos são marcantes, presentes, a acidez é pungente, o final é longo, cheio, persistente.

 

Produtor:

https://cascawines.com/


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Chateau des Aladères 2016

 



Vinho: Chateau Aladères  

Safra: 2016

Casta: Carignan (40%), Syrah (30%), Grenache (20%) e Cinsault (10%)

Região: Corbières, Languedoc-Roussillon

País: França

Produtor: Château de Lastours

Adquirido: Wine

Valor: R$ 59,90

Teor Alcoólico: 13,5%

Estágio: 6 meses em tanques de aço inoxidável com as borras.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi intenso, porém com traços acobreados, atijolados, denotando seus oito anos de garrafa. É viscoso, traz lágrimas finas, lentas e que mancham o bojo.

Nariz: entrega aromas agradáveis de frutas vermelhas maduras, como groselha, cereja e até framboesa, com notas de especiarias, com destaque para pimenta preta e um toque lácteo, arriscaria.

Boca: é intenso, com alguma estrutura, porém é elegante e macio, revelando-se equilibrado. Mostrou-se alcoólico no início, porém logo equilibrou-se, trazendo as notas frutadas, como no aspecto olfativo, taninos presentes, mas domados pelo tempo, acidez média e final persistente, de retrogosto frutado.

 

Produtor:

https://www.chateaudelastours.com/en/home/




segunda-feira, 10 de junho de 2024

Pueblo del Sol Crianza en Roble Tannat 2016

 



Vinho: Pueblo del Sol Crianza em Roble

Safra: 2016

Casta: Tannat

Região: Canelones

País: Uruguai

Produtor: Pueblo del Sol (Família Deicas)

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Wine

Valor: R$ 54,00

Estágio: 16 a 20 meses em barricas de carvalho francês e americano.

 

Análise:

Visual: revela um rubi vivo, escuro, fechado, com discretos halos granada, com viscosidade e lágrimas finas, coloridas, lentas e em profusão.

Nariz: aromas de frutas negras e maduras, lembrando “apassimento”, compotado, em geleia, com as notas amadeiradas evidentes, porém bem integradas, que aporta coco queimado, chocolate, tosta, baunilha, tabaco.

Boca: é expressivo, estruturado, tem personalidade, bom volume de boca, mas é elegante e macio, o tempo lhe conferiu essa condição. Replica-se as notas frutadas, com taninos, embora ainda presentes, extremamente dócil, redondo, com acidez na medida, amadeirado, final cheio e persistente.

 

Produtor:

https://familiadeicas.com/


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

CUMA Cabernet Sauvignon 2016

 




Vinho: CUMA

Casta: Cabernet Sauvignon

Safra: 2016

Região: Salta

País: Argentina

Produtor: Bodega La Rosa (Grupo Peñaflor)

Teor Alcoólico: 13,5%

 

Análise:

Visual: um rubi escuro, fechado, límpido, com reflexos violáceos, lágrimas em abundância, lentas e finas.

Nariz: traz uma explosão de frutas pretas maduras, com destaque para a groselha negra, especiarias, ervas e pimenta preta.

Boca: estruturado, mas macio, frutado, com alguma complexidade, as cerejas se sobressaem, as especiarias são sentidas, com taninos presentes, mas domados e boa acidez, com final persistente e retrogosto frutado.

 

Produtor:

https://grupopenaflor.com.ar/es/bodega-larosa


sexta-feira, 30 de junho de 2023

Tormentoso Cabernet Sauvignon 2016

 

Definitivamente me tornou um apaixonado pelos rótulos da África do Sul! E paixão talvez não seja a palavra ideal para definir esse sentimento, afinal, paixão é efêmera e o meu “caso” com os vinhos da terra de Mandela são de intenso amor.

O que era no passado, a cerca de 20 anos atrás, aproximadamente, um cenário de difícil acesso desses rótulos e os poucos que ofertavam no nosso mercado consumidor, eram caros, hoje o cenário é totalmente distinto e para melhor, finalmente!

Coloco a África do Sul como uma das principais regiões vitivinícolas do Novo Mundo, por conta, claro, da tipicidade de seus vinhos, e sem dúvida também por conta do atraente custo X benefício dos seus rótulos que chegam em nossas terras.

E a Pinotage se tornou a casta emblemática do país e que difunde a vitivinicultura daquele país, mas não é apenas da variedade tinta manipulada em laboratório que faz a fama da África do Sul.

Há excelentes rótulos da casta Cabernet Sauvignon e Syrah, por exemplo, entre as tintas e Chenin Blanc, Sauvignon Blanc entre as cepas brancas. Há uma diversidade de castas atualmente sendo produzidas e com tipicidade na África do Sul.

E a vez hoje é da rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon! Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! Ele, como disse, é da África do Sul, da Região de Coastal, e se chama Tormentoso, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2016! Sim! Um vinho com seus sete anos de garrafa! O que esperar?

De acordo com algumas boas experiências que tive com os rótulos sul-africanos, sim eles evoluem bem com essa idade, sobretudo aqueles que estagiam por um razoável período em barricas de carvalho e claro dependendo também das características da cada cepa.

E há ainda outro detalhe que me chamou atenção, ou melhor dizendo, me animou: a região! Costal é tida como a “pedra fundamental” da produção de vinhos na África do Sul. Então para variar falemos um pouco da região e a sua importância para a cultura vitivinícola da África do Sul que está situada em Western Cape.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

Coastal Region

A indústria vitivinícola da África do Sul tem suas origens na Coastal Region, mais especificamente nas áreas de Constantia e Stellenbosch, onde se iniciou a história vitivinícola do país.

E foi Simon Van Der Stel, segundo governador do Cabo, quem cultivou pela primeira vez uma fazenda vitivinícola em Constantia, além de ser o responsável por fundar a cidade de Stellenbosch em 1679.

Coastal Region é uma referência na viticultura da África do Sul, graças à diversidade de áreas vitivinícolas, à perfeita adaptação das principais variedades e às condições de cultivo.

Essa região é considerada a mais importante em termos de cultivo de vinhedo. E tem uma longa história na elaboração de grandes e prestigiados vinhos. Trata-se de uma das 6 regiões vitícolas inclusas em Western Cape. Que ao mesmo tempo se subclassifica em 7 regiões: Cape Point; Darling; Paarl; Stellenbosch; Swartland; Tulbagh e Tygerberg.

Mesmo sendo seu clima descrito como principalmente mediterrâneo, os ventos dos oceanos Atlântico e Índico, junto com a influência da montanha, combinam-se para produzir condições algo extremas em algumas áreas da região, aproximando mais sua viticultura de um modelo de clima frio, como o da Nova Zelândia ou o do norte da Europa, ampliando a gama de mesoclimas na região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, escuro, com halos atijolados denotando os sete anos de garrafa, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas envolventes de frutas pretas maduras, com destaque para amoras, ameixa preta, quase em compota, com as notas amadeiradas em evidência, mas muito bem integrada, graças aos 15 meses em barricas de carvalho, que entregam chocolate, defumado, leve tosta, com o herbáceo, o pimentão, típico da Cabernet Sauvignon.

Na boca é seco, macio, elegante, graças aos sete anos de garrafa, mostrando-se redondo, mas com muita personalidade, revelando equilíbrio. As notas frutadas são perceptíveis, como no aspecto olfativo, com a madeira protagonizando, trazendo taninos amáveis e domados, mas gulosos, com acidez incrivelmente proeminente e salivante e um final de média persistência e de retrogosto frutado.

“Tormentoso” faz referência ao Cabo da Boa Esperança que, primitivamente era conhecido como “Cabo das Tormentas”, sendo batizado por Bartholomeu Dias, devido as várias tempestades (tormentas) que aconteciam e ainda, claro, acontecem nesse ponto no Sul da África do Sul. Tudo indica que a Rainha de Portugal não gostou do nome, mudando para o que conhecemos hoje. Mais uma vez a prova cabal de que a história anda de mãos dadas com o vinho, a cultura não é só da vinificação. Um vinho macio, elegante, complexo, com notas frutadas, de frutas maduras, como tem de ser os bons sul-africanos com essa característica. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a MAN Family Wines:

"Tudo começou como um plano simples: fazer um vinho que adoraríamos comprar", assim começa a história da MAN Family Wines com a missão dos irmãos Tyrrel e Philip Myburgh, além de José Conde, que começaram a fazer vinho juntos em 2001.

Eles também são apoiados por um grupo de viticultores da região de Agter-Paarl. Das primeiras 300 caixas feitas em um galpão de trator, a empresa cresceu para produzir mais de 175.000 caixas por ano e exportar para 25 países. Seus vinhos mais vendidos são Chenin blanc e Cabernet Sauvignon, mas a área também é conhecida por Shiraz e Pinotage.

Depoimentos dos fundadores:

Como jovens produtores de vinho em 2001, às vezes lutávamos para encontrar vinhos decentes que pudéssemos pagar. Meu irmão Philip e eu estávamos envolvidos com a vinícola de nossa família (Joostenberg Wines) e José estava ocupado com a dele (Stark-Condé Wines).

Não estávamos procurando garrafas de rockstar que custam uma fortuna. Mas tínhamos padrões bastante elevados (em nossa opinião) e queríamos vinhos que pudéssemos desfrutar com nossos amigos, a maioria dos quais também trabalhava na indústria do vinho.

Nós éramos geeks do vinho que precisavam de um vinho todos os dias. Vimos um nicho no mercado e começamos a trabalhar, mas primeiro tivemos que pensar em um nome para este novo projeto. Para manter a paz nas famílias, pegamos as iniciais de nossas esposas (cada um de nós tem uma esposa!) — e foi assim que explicamos a Marie, Anette e Nicky que estaríamos “ocupados” na maioria dos fins de semana. "É para você!" Nós dissemos a eles. Imediatamente começamos a trabalhar em um antigo galpão de trator e naquele primeiro ano fizemos um total de 600 caixas de Pinotage.

Tyrrel Myburgh, co-fundador.

Desde o início, nos concentramos em buscar as melhores uvas. Nunca se tratou de um equipamento novinho em folha ou de uma adega sofisticada. Tyrrel e eu costumávamos passear olhando os vinhedos todo fim de semana, conversando com os viticultores.

Na verdade, foi Tyrrel quem fez a maior parte das primeiras negociações - fiquei para trás no caminhão porque, como um americano com sotaque forte, não era a pessoa mais adequada para convencer os fazendeiros de que merecíamos suas uvas. Era importante ganhar sua confiança se quiséssemos ganhar seus melhores frutos.

Quando finalmente encontramos nosso fundamento, o projeto MAN tornou-se uma colaboração com os produtores de uva, e hoje eles são acionistas de nossa empresa. Temos muita sorte de estar em parceria com agricultores experientes que cultivam coletivamente algumas das melhores vinhas velhas de Chenin Blanc do país. Estou muito otimista sobre o potencial dos vinhos sul-africanos no mercado mundial.

José Conde, co-fundador.

Mais informações acesse:

https://manwines.com/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_da_Boa_Esperan%C3%A7a

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2017/02/coastal-region-origem-da-viticultura-na-africa-do-sul/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/regioes-12-Coastal-Region

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/quais-sao-principais-areas-vinicolas-da-africa-do-sul_11990.html

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Wine ZO”: https://wine.co.za/wine/wine.aspx?WINEID=41878

 

 

 

  




sexta-feira, 12 de maio de 2023

Expresión Reserva Bobal 2016

 

A Espanha possui a maior área cultivada de vitis vinífera do planeta, embora em volume de produção ocupe a terceira posição. Ou seja, uma região que tem a maior área cultivada de uvas finas do mundo merece desbravar, nós merecemos buscar aquelas regiões pouco badaladas e não ficar naquela temível zona de conforto com as famosas Rioja e Ribera del Duero, por exemplo.

Trata-se de um amplo território o qual nos presentei, ano após ano, com vinhos exuberantes e de grande personalidade. E nesses últimos quatro ou cinco anos aproximadamente venho descobrindo, redescobrindo, conhecendo “novas” regiões na Espanha me possibilitando, a cada rótulo degustado, novos prazeres sensoriais e histórias de tirar o fôlego.

É que muitas regiões ainda preferem manter uma espécie de “anonimato”, dedicando a sua produção ao consumo regional, porém outras regiões dedicam esforços incansáveis no sentido de promoção, de difusão de seus vinhos, de seu terroir, com suas castas autóctones, com a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo e um exemplo latente é Utiel-Requena.

Atualmente nosso mercado tem sido “invadido” por rótulos dessa região, sendo ofertado nos principais e-commerces do país com valores extremamente atraentes, causando, lamentavelmente certas rejeições, afinal ainda existe um terrível preconceito entre os enófilos de que vinhos baratos estão associados à baixa qualidade.

Mas como comprar vinhos é sempre assumir riscos eu decidi investir em vinhos dessa região e tenho tido excelentes surpresas, rótulos muito bons, de tipicidade, de qualidade mesmo, a relação custo X benefício vem imperando nas aquisições.

A casta tinta que predomina além, é claro, da Tempranillo é a Bobal. Ainda é pouco conhecida no Brasil, mas também existe um ceticismo em aceita-la ou ao menos experimentá-la. Como tenho, como disse, desbravado o universo vasto do vinho e mais precisamente dos vinhos espanhóis que vinha negligenciando há alguns anos, me permiti experimentar.

A minha primeira experiência foi com o vinho Bobal de SanJuan da safra 2016 e já de imediato me conquistou pela sua vivacidade, elegância, frescor, intensidade aromática e personalidade. Evidente que não iria parar por aqui e decidi continuar em busca de novos rótulos que levasse a Bobal.

Veio a Bobal dividindo o protagonismo com a Tempranillo do belíssimo Valtier Reserva da safra 2013, que degustei com oito anos de garrafa e estava maravilhoso, com plenitude e vivacidade, que certamente teria alguns anos mais em evolução.

Depois segui com mais uma nova experiência com a Bobal protagonizando solitária, com um vinho de abordagem mais jovem, frutada de um produtor que adoro chamado Murviedro, o DNA Murviedro Bobal 2018. O nome entregou firmemente o seu terroir que já se estabelecia em minhas predileções sensoriais.

E hoje decidi subir alguns degraus de características e propostas e, mais uma vez, degustar a Bobal solitariamente, porém com passagens por barricas de carvalho. É uma nova abordagem da Bobal que não preciso dizer o quão estou animado para ter em minha humilde taça.

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, claro, da região espanhola de Utiel-Requena e se chama Expresión Bobal, um reserva da safra 2016. E para a minha alegria o rótulo também é da vasta linha de vinhos da Bodega Murviedro, algo mais para abrilhantar essa degustação espetacular. Mas antes de tecer, com requintes de detalhes, comentários do vinho, vamos de história, vamos de Utiel-Requena e da Bobal.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molón

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura nos arredores de Chera

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidad Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito frescos no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada em cerca de 12% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, talvez pelo tempo de garrafa, sete anos, ou pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em profusão com alguma viscosidade.

No nariz é muito aromático e entrega aromas de frutas negras e vermelhas maduras com destaque para cereja, framboesa, morango, bem compotado, com notas amadeiradas evidentes, graças aos doze meses em barricas de carvalho, mas muito bem integrado, com toques de coco queimado, baunilha, chocolate e algo de herbáceo, de grama cortada.

Na boca é seco, mas saboroso, intenso, complexo, estruturado, cheio, bom volume de boca, alcoólico, com as frutas maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas, em destaque, mas em plena convergência com a fruta mostrando equilíbrio. Os taninos são presentes, marcados, imponentes, mas domados, maduros, com acidez incrivelmente vívida, salivantes o que surpreende no auge dos sete anos de garrafa. O chocolate, tostado, a baunilha também aparecem, com um final de média persistência.

Definitivamente o nome do vinho expressa fielmente o que o vinho entrega na taça: “Expresión”. A Murviedro foi muito feliz e tocada pela inspiração ao conceder tal nome a este rótulo complexo, de um vinho de explosão aromática, com as notas frutadas gritando, com notas amadeiradas bem integradas ao vinho, com o paladar guloso, cheio, poderoso, cheio de personalidade, mas elegante, austero e macio. A Bobal pode proporcionar versatilidade com notas complexas e de personalidade, mas ser fácil de degustar, agradável. O céu é o limite para a Bobal, para Utiel-Requena que, a cada experiência, se torna agradável e especial. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Murviedro:

Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou uma das vinícolas mais importantes da região.

A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o início de um dos principais pilares da marca: a exportação.

Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas mais renomadas.

A vinícola, desde que começou as suas atividade, sempre teve acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um amplo portfólio de estilos de vinho.

A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.

Mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 

 














quinta-feira, 6 de abril de 2023

Velharia Reserva Syrah 2016

 

O que faz de um vinho especial? Embora a pergunta seja objetiva, direta, ela carrega certa complexidade. Sim! A resposta é muito pessoal, afinal o vinho que pode ser especial para você, pode não significar nada para o outro e os motivos são infindáveis: dinheiro, experiências sensoriais, regiões, castas etc.

Mas há certas coisas que faz do vinho especial e acredito que possa ser unanimidade entre os enófilos e foge um pouco do “óbvio” dos motivos acima elencados, como, por exemplo, método de vinificação, safras especiais, condições climáticas que influenciam diretamente no cultivo etc.

Embora seja algo mais voltado para questões técnicas, digamos, evidentemente que degustar um rótulo que é produzido em safras especiais, concebidos em anos excepcionais traz algo mais especial a degustação.

E a degustação, o rótulo de hoje é especial, principalmente pelo que pude apurar acerca da sua história, curta, mas significativa exatamente no que tange a questões de safras especiais.

E aí vem também, no “rabo do cometa”, os demais motivos que faz com que o vinho seja especial, pelo menos para mim, como a região de Lisboa, ser um varietal, o que não é habitual em se tratar de vinhos lusitanos etc.

O vinho em questão apesar de trazer um nome que denota algo antigo, meio datado, digamos, é recente no mercado, tendo a sua primeira safra, apenas em 2006. É um reserva que, desde esse ano, é concebido apenas em safras excepcionais, em anos de qualidade acima da média e que raramente aparece no ano a seguir da vindima, apesar de ter tido uma em 2008 e 2009.

Então é por essas e por outras que um vinho é especial e não se enganem, preço não compra tudo, valor não compra tudo, nem mesmo um momento especial. Não precisa de tanto, vide o vingo em questão que custou na faixa, pasmem, dos R$30 em um popular supermercado de minha cidade, Niterói.

Sem mais delongas vamos às apresentações! O surpreendente vinho que degustei e gostei veio da emblemática região de Lisboa e se chama Velharia Reserva Syrah da safra 2016. Exatamente a primeira vindima desse rótulo. Especial, não? Então para não perder tempo, vamos também às histórias de Lisboa.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Lisboa

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.

Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

Lisboa DO

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

DO Lisboa

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

Agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho intenso, quase escuro, com entornos granada, talvez denotando os seus sete anos de garrafa ou pela passagem por barricas de carvalho, alguma viscosidade, com lágrimas finas, lentas e em profusão entregando o seu teor alcoólico.

No nariz é levemente aromático, mas elegante e complexo, com notas de frutas vermelhas bem maduras, com a madeira sentida de forma plena, mas muito bem integrada, em convergência com a fruta, trazendo ainda o aporte da baunilha, do couro, do tabaco, do cedro, do defumado, das especiarias, a pimenta típica da cepa.

Na boca traz bom corpo, alguma estrutura, alcoólico, mas a maciez e elegância, adquiridas pelo tempo de garrafa, entrega um vinho equilibrado, as notas frutadas, como no aspecto olfativo, apresenta protagonismo, bem como o amadeirado, devido aos 12 meses em barricas, além da baunilha, das especiarias, a terra molhada, o toque herbáceo, um discreto chocolate, com taninos maduros e sedosos, acidez correta e um final de média persistência.

Um vinho, aos sete anos de garrafa, está pronto, polido, elegante, mas que apresenta personalidade inerente a casta e as propostas do enólogo quis retratar com seu engenhoso trabalho. Fruta em sinergia com a madeira, tudo conspirando a favor de um vinho harmonioso, vivo, pleno. São nuances que retratam o quão esse vinho é especial e que mesmo com o valor baixo e ter sido adquirido em supermercados, preconceitos à parte. O vinho que você gosta sempre fará da degustação e do momento especial. Tem 14% de teor alcoólico.


Sobre a Adega Cooperativa Labrugeira:

Os vinhos do alto concelho de Alenquer são referidos em vários escritos ao longo de séculos, pela sua qualidade e pelo fato de serem vinhos escolhidos para servirem a Casa Real Portuguesa e para outras casas distintas.

No entanto, foi no século XIX que Camilo Castelo Branco no seu livro “A filha do Regicida” página 131 refere: “ … e saindo pelos moinhos de vento, pelo vale da Anunciada até Andaluzes, isso é que é lindo, principalmente se um homem lançou a fateixa na tasca do vesgo e com duas mãos de carneiro, faz lastro a dois tragos bons de vinho da Labrugeira. São os meus passeios ao Domingo”.

Assim se prova que desde sempre os vinhos da Labrugeira eram conhecidos e apreciados. Foi, porém, em 1973, que um grupo de 85 viticultores do Alto Concelho de Alenquer, na aldeia da Labrugeira, se uniram e organizaram numa única adega – Adega Cooperativa da Labrugeira.

Assim se deu um grande passo para potencializar a boa qualidade das uvas para a produção de grandes vinhos da região. A pouco e pouco se foram juntando novos associados com vinhas situadas na zona norte do concelho de Alenquer, no sopé sul e oeste da serra de Montejunto, com uma área de influência que cobre as freguesias de Ventosa, Olhalvo, Cabanas de Torres e Abrigada e Vila Verde dos Francos.

Esta região de meias encostas, com terrenos argilo-calcários e protegida do clima marítimo da zona litoral oeste, pelas serras que seguem por Vila Verde dos Francos e serra de São Julião, produz grandes vinhos tintos e brancos com boa estrutura e graduação acima da média geral. Desde a sua fundação até hoje, a Adega tem vindo a obter centenas de prémios e distinções, nacionais e internacionais, nomeadamente em 1990 quando foi distinguida com o 1º Prémio no Concurso Nacional de Vinhos da Junta Nacional do Vinho, com o vinho tinto colheita 1990, concurso que premiava a nível nacional apenas três vinhos tintos e três brancos.

Desde então, a Adega recebeu centenas de medalhas de ouro, prata e bronze em concursos nacionais e internacionais, nomeadamente no Concurso de Vinhos de Lisboa, Concurso do Crédito Agrícola, Concurso do Festival Nacional de Vinho e nos Concursos da Viniportugal. Em 2020 recebeu uma medalha de ouro em França, na Vinalies Internationales-”Concours des Enologues de France” com o vinho “Velharia” Reserva 2014.

Atualmente a Adega da Labrugeira comercializa uma vasta gama de vinhos engarrafados e acondicionados, brancos, tintos, rosés, vinhos leves, aguardentes bagaceiras e vinho espumante, com a certificação Regional Lisboa (IGP) e DOP Alenquer. Distribui no mercado português, no mercado Europeu e exporta para Países Terceiros. A sua produção anual cifra-se em cerca de 4 milhões de litros.

Mais informações acesse:

http://www.adegalabrugeira.pt/index.html

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

 










sábado, 28 de janeiro de 2023

Estampa Gran Reserva 2016

 

Arte, inspiração, poesia líquida etc. Alguns adjetivos parecem personificar o vinho. Ambos se enlaçam em uma convergência, a necessidade de um complementar o outro para entender, sentir as suas nuances, evocar os seus terroirs. Assim costumo enxergar, perceber o vinho, mesmo que por um aspecto lúdico.

Algumas vinícolas costumam imprimir essa filosofia aos seus vinhos, que vai desde a vinificação até na concepção estética de seus rótulos, por exemplo. É claro que traz todo um aspecto mercadológico por detrás dessa concepção, afinal aliar um rótulo, uma linha de vinhos a esses quesitos pode ser viável comercialmente, mas não é só a estética e o conceito, mas também como método de vinificação.

Quando descobri uma vinícola de nome “Estampa” eu logo me lembrei, ou melhor, associei à tecidos. Sim! Roupas, tecido, a arte de costurar roupas, criar uma vestimenta a partir de fragmentos de tecidos.

E acredito que seja isso mesmo, pequenos fragmentos que formam um todo! E “viajando” um pouco mais em seu site, com o intuito de buscar respostas para o que percebi, no que tange às propostas dos vinhos, observei que todos os vinhos do produtor ou que pelo menos estavam expostos no site, são cortes, formados por blends.

Creio que aí está a resposta: pequenos tecidos, estampas que juntas formam um todo, tendo como alicerce o terroir, as características das regiões onde se encontram as vinhas. Embora traga algo meio “romantizado”, na prática é perfeitamente concebível levando em conta a metodologia imposta pela vinícola.

As variedades (castas) são vinificadas separadamente, são vindimadas em datas distintas, tudo conspira para esse fato, para esta observação. E cada detalhe como esses inspira, requer competência e sensibilidade do enólogo que precisa para que o vinho entrega tipicidade, entregue qualidade.

E com base nisso comprei um rótulo desse produtor que, além da inspiração, trouxe também o atrativo valor: na faixa dos R$58! E melhor: para um “Gran Reserva”! Decidi, claro, “assumir o risco” e comprar o rótulo.

Levei algum tempo para degusta-lo! Repousou calmamente na adega por pelo menos dois ou três anos! E hoje, no auge dos 7 anos, mostrou-se vivaz, pleno e altivo. O vinho que degustei e gostei veio da região chilena de Marchigue DO, no emblemático Vale do Colchágua, e se chama Estampa Gran Reserva com um corte das castas Carmènére (85%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2016.

Castas que ganharam destaque no Chile e que estão juntas oferecendo um arrebatamento sensorial, uma salutar experiência que só os chilenos podem proporcionar. Mas antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais relevante do que aflar um pouco do Vale do Colchágua.

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale de Colchágua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso, quase negro, vermelho rubi, com contornos granada e uma linda profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz mostrou-se tímido no início, mas logo se revelou frutado, frutas negras maduras, como ameixa preta, amora e cereja em total sinergia com as perceptíveis notas amadeiradas, graças aos seus 14 meses em barricas de carvalho, com toques levemente tostados, de baunilha, com especiarias, com destaque para pimenta preta e um agradável herbáceo.

Na boca mostrou o destaque, entregando um vinho, aos sete anos de garrafa, muito elegante, com as notas frutadas em convergência com a madeira, replicando as impressões olfativas, mas ainda assim cheio, volumoso e saboroso. O carvalho traz também um delicioso chocolate meio amargo e torrefação. Os taninos estão macios e amáveis, com acidez discreta e uma persistência longa com retrogosto tentador que investe em mais e mais taças.

O conceito, a filosofia, o método, o terroir, o vinho. Quando costumamos falar da cultura de um povo que é expressada dentro de uma garrafa de vinho, é exatamente nesse preceito que a Vinícola Estampa se baseia para apresentar seus rótulos. Criação, inovação, inspiração enológica são nomes bem pertinentes para personificar o trabalho da Estampa em seus belos vinhos. A “versão” Gran Reserva, com a predominância da casta icônica do Chile, Carmènére, é bem preponderante para a qualidade dos rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Estampa:

Há mais de um século, Don Manuel González Dieguez, imigrante espanhol, comprou um moinho de trigo em Santiago, Chile, e nomeou-o, Estampa. O moinho de grãos original ainda está em operação, mas a última geração de descendentes de D. Manuel, a família González-Ortiz, iniciou uma nova expansão do negócio. Construíram a primeira vinícola no Chile, dedicada aos vinhos de “Assemblage” e a nomearam Estampa, mantendo a tradição familiar para honrar o avô, fundador da empresa.

A Viña Estampa foi fundada em 2001 pelo empresário e visionário Miguel González Ortiz, que descende de uma família que há cem anos dedica-se a indústria agroalimentar. Nascido no Chile, ele escolhe Palmilla, na Rota do Vinho do Vale do Colchagua para estabelecer esse magnífico projeto vitivinícola.

A arquitetura exuberante da sede já diz muito sobre a própria essência da empresa que tem como características a inovação, ousadia e o primor no que faz e produz nesse maravilhoso segmento do mundo dos vinhos. Tem capacidade de produção de 700 mil garrafas ao ano, possui uma sala de barrica com 700m2 e foram pioneiros na América Latina a utilizarem microvinificação com Ânforas.

Possuem cerca de 400 hectares divididos em três terroirs do Vale do Colchagua, Palmilha onde está a sua sede, e em Paredones e Marchigüe onde foi uma das pioneiras em plantação de vinhas com microclimas tão peculiares. Especializaram-se na produção de vinhos blends, e o que vemos é diversidade de inúmeras castas plantadas em cada vinhedo.

Mais informações acesse:

https://estampa.com/

Referências:

“Dayane Casal”: https://dayanecasal.com/vina-estampa-uma-expressao-do-espirito-de-inovacao-no-chile/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/vinicolas-1644-Estampa

“Clube dos Vinhos”: “Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/