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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Portal de S. Braz Branco

 


Eu já comentei em outros textos e inspirações com rótulos agradáveis que tenho dado prioridade a vinhos com um forte apelo regionalista principalmente no quesito “castas”. Nada como degustar um vinho que entrega, com fidelidade, as características mais intensas da sua região, da sua terra, onde a tipicidade se mostre forte e presente, o famoso “terroir”. Populares em seus países, mas não tão conhecidas ao redor do mundo, algumas castas, sejam brancas ou tintas, sobretudo em Portugal, merecem a nossa atenção e o meu rótulo de hoje revela, mesmo diante da sua simplicidade, a nobreza do regionalismo de uma região que tanto amo, que foi a minha porta de entrada para os vinhos lusitanos: Alentejo. Independentes das classificações que os vinhos carreguem, independente de nomes impactantes que esteja no rótulo, os brancos alentejanos sempre foram os meus preferidos na terra dos patrícios e os blends, os cortes, entregam o melhor destes vinhos: frescor, leveza e tipicidade. E não se enganem amigos leitores, vinho não é status, não deve ser encarados como posição social ou poder econômico, mas ligado a celebração, ao prazer da degustação simplesmente, ligado, a quem quiser, a educação cultural.

Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que, como disse, veio do Alentejo e se chama Portal de S. Braz, um branco das castas Arinto, Antão Vaz e Roupeiro, sem informação de safra. E já que falamos de regionalismo arraigado, de história e cultura, falemos um pouco das castas que compõe esse rótulo: Antão Vaz, Arinto e Roupeiro.

Arinto

Uma das mais clássicas castas brancas portuguesas, a Arinto é originária da região de Bucelas, mas seu cultivo se expandiu para diversas áreas, como a Bairrada e Vinho Verde. É uma casta versátil, presente na maioria das regiões vitícolas portuguesas, sendo reconhecida pelo nome Pedernã na região dos Vinhos Verdes.

Concelho de Loures e Bucelas ao norte

Dona de ótima acidez, a uva branca Arinto produz vinhos muito frescos, com atraentes aromas de frutas cítricas. Os melhores exemplos de vinhos elaborados com a casta ostentam mineralidade e possui fermentação realizada em baixas temperaturas, o que garante a alta qualidade dos vinhos da uva. Sendo considerada uma das melhores variedades portuguesas, a uva Arinto é utilizada na elaboração de rótulos nobres, inclusive os com maior grau de envelhecimento. Possuindo maturação tardia, a uva é facilmente reconhecida no vinhedo por suas características estruturais. Com bagos pequenos e cor verde amarelada, a uva Arinto possui difícil vinificação, além de possuir sensibilidade a falta de umidade em solos de cultivo. Seus vinhos possuem ótima acidez e podem ser achados vinificados no estilo varietal e em corte, com as uvas Chardonnay e a casta Verdelho. Com complexidade e elegância, acredita-se que a uva Arinto foi levada para a região de Bucelas na época das cruzadas, após o retorno de alguns cavalheiros para a região próxima de Lisboa.

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para torná-la incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos de Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo dourado e brilhante, um reluzente e bonito brilhante.

No nariz explode aromas de frutas brancas e cítricas, esta última garantida pela casta Arinto no corte, tais como maracujá, pera, maçã verde, abacaxi, além de notas florais.

Na boca é seco, elegante, com bom volume de boca, alguma expressividade e até mesmo estrutura, entregue pela Antão Vaz, com uma bela acidez que lhe confere jovialidade e frescor, com um final curto.

Esse passeio pelas histórias das castas, as suas características corroboram o que é o vinho que degusto: fresco, jovial, mas de personalidade e que ostenta a cultura de forma veemente e fiel do Alentejo e as suas castas mais tradicionais e populares, algumas delas que são cultivadas apenas nessa região, que sintetizam, personificam o apelo regionalista que faz do vinho especial. Simples sim, básico sim, mas especial. A polêmica fica para o nome “Private Collection” que, para muitos enófilos mais exigentes poderia colocar em xeque a qualidade do vinho: Será um equívoco um vinho básico levando um título, em seu rótulo com o nome de um vinho de alta gama? Talvez seja uma forma, um tanto quanto torta, de impulsionar o rótulo com um marketing exacerbado, mas é inegável que o vinho é surpreendentemente bom, um belo rótulo alentejano branco de que tanto gosto. Tem teor alcoólico de 13%.

Sobre a Adega Cooperativa da Granja (Granja Amareleja):

A Adega Cooperativa da Granja, com mais de 60 anos de história, beneficia das excelentes condições que o Alentejo oferece para a produção de vinhos de altíssima qualidade, apreciados em todo o mundo. O grande reconhecimento da qualidade dos vinhos aqui produzidos aconteceu em 1989 com a distinção de um vinho “Campeão do Mundo” num concurso que se realizou em Ljubljana, na ex-Jugoslávia e, desde 2007, a Adega tem vindo a evoluir com a modernização de toda a linha de produção, mantendo as tradições da região, nomeadamente com a produção de vinho de talha – tradição herdada do Império Romano – e a utilização das castas tão características da região.

Mais informações acesse:

https://www.granjaamareleja.pt/

Fontes de pesquisa:

Sobre a Arinto:

Portal “Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/arinto

Portal “Wikivinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/arinto/

Sobre a Antão Vaz:

Portal “Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

Sobre a Roupeiro:

Portal “Dfj Vinhos”: https://dfjvinhos.com/v/roupeiro

Portal “Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uvas-de-alentejo-em-portugal_11821.html

Portal “Enogourmet”: https://enogourmet.ne10.uol.com.br/posts/as-principais-castas-brancas-do-alentejo