Tenho me aventurado, o que atualmente não é uma grande
novidade, pelos vinhos espanhóis, mas não apenas em uma ou duas regiões,
daquelas mais famosas e faladas pelos especialistas e influenciadores dos
vinhos, mas aquelas pouco desbravadas que geralmente são observadas com certo
preconceito, rejeição.
Principalmente quando se fala nos “vinhos de volume”! Talvez
esteja sendo inocente ou aquele que não quer olhar para uma suposta realidade
geralmente engendrada e construída por um segmento que tem forte influência no
vinho, mas o fato que já degustei alguns rótulos com essa concepção, muito
interessantes.
E uma dessas regiões na Espanha é Castilla La Mancha. É a
região que mais produz vinhos naquele país, e parece ser uma heresia falar de
vinhos dessa região por aqui no Brasil, só valendo se for Rioja, Priorat ou
Ribera del Duero. Mas será que somente esses são bons?
Evidente que são regiões emblemáticas, tradicionais,
importantes e que merecem seu lugar de destaque e importância, mas penso ser
uma temeridade negligenciar as outras tantas regiões da Espanha e olhe que são
muitas!
Castilla La Mancha traz vários terroirs divididos em algumas
microrregiões e uma vem ganhando alguma repercussão aqui em nossas terras, falo
de Valdepenãs. Acredito que a região teve o descortinar no Brasil por
intermédio da linha “Pata Negra”, lembro-me bem disso. Mas apesar do sucesso
desses rótulos a região ainda não tem aquela representatividade e credibilidade
no Brasil.
Porém atualmente temos tido algumas opções de rótulos da região
e o exemplo são os vinhos da Bodega Fernando Castro. Trata-se de uma das mais
antigas vinícolas administradas pela mesma família desde 1850 em toda Castilla
La Mancha. História tem e bons vinhos também. Degustei o El Artista Gran Reserva e Raíces Gran Reserva, ambos da safra 2012, e surpreenderam pela
elegância e complexidade.
E dessa vez mais um rótulo Gran Reserva e de idade: Um 2013!
Já com seus dez anos de garrafa! Mais um espanhol e com anos de garrafa, uma
combinação que confesso me excitar quando vou degustar e antes, na decisão de
compra. Não preciso dizer da animação em tê-lo em taça.
Dessa vez será um 100% Tempranillo! Adoro os vinhos que levam
essa variedade e que passam, estagiam por longo tempo em barricas de carvalho,
simplesmente, definitivamente a Tempranillo se dá muito bem com a madeira e
adquiri uma complexidade, estrutura e personalidade como poucas.
Então vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e
gostei veio de Valdepenãs, localizada na região espanhola de Castilla La Mancha,
e se chama Venta Real, um Gran Reserva da safra 2013, com a casta Tempranillo.
E para não perder o costume, vamos de história, vamos de Valdepenãs.
Valdepeñas
A D.O. Valdepeñas fica ao sul de Castilla La Mancha no centro
da Espanha. Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com
um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas
extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a
-10°C.
Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade,
obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se
fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que
são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de
coloração muito profunda.
Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade,
obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se
fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que
são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de
coloração muito profunda.
Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de
vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção
são destinadas à exportação da Espanha para outros países.
A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77%
deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de
Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%.
A notoriedade de Valdepeñas encontra sua origem em vinhos
rosés do passado, que foram lentamente dando lugar a tintos elegantes, sempre
aveludados e frutados, que podem ser jovens ou envelhecidos em barris de
carvalho.
A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a
Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas
autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet
Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo,
Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo.
Denominação de Origem e história
A Denominação de Origem Valdepeñas nasceu em 1932 conforme
consta do Estatuto do Vinho, a produção de vinho na região remonta ao século V
aC, como comprovam os estudos científicos do sítio ibérico "Cerro de las
Cabezas" localizado geograficamente dentro da área que hoje é a sua área
de produção.
Foi em 1968 que a Denominação de Origem Valdepeñas foi dotada
do seu primeiro regulamento, que durou até 2009, altura em que se constituiu
como Associação Interprofissional, criando o quadro de trabalho entre
produtores e adegas, pela qualidade diferenciada no processo de viticultura e a
produção e engarrafamento dos seus vinhos.
Apesar de ser mundialmente reconhecida como "Denominação
de Origem Valdepeñas", sua área de produção inclui dez municípios:
Valdepeñas, Alcubillas, Moral de Calatrava, San Carlos del Valle, Santa Cruz de
Mudela, Torrenueva, parte do distrito Torre de Juan Abad, Granátula de Calatrava,
Alhambra e Montiel.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um rubi intenso, quase escuro, com halos
granada, com lágrimas finas, lentas e em profusão que desenham o bojo do copo.
No nariz mostrou-se tímido nos aromas no início da
degustação, mas foi abrindo e ao volatizar mostrou notas discretas de frutas
maduras, já em compota, com a presença marcante da madeira, graças aos 18 meses
em barricas de carvalho, que entrega um tostado, especiarias, tabaco, couro e
algo de terra molhada.
Na boca revela maciez, elegância, mas dosada a uma boa
complexidade, garantindo alguma personalidade, uma boa evolução aos dez anos de
idade. A madeira protagoniza em convergência com as frutas maduras, com toques
de chocolate, de carvalho. Tem taninos com alguma presença, mas maduros,
domados, com acidez discreta e um final de média persistência.
O Venta Real Gran Reserva é um vinho complexo, a madeira
protagoniza, porém juntamente com as notas frutadas, o que é incrível aos 10
anos de vida. Um vinho macio, redondo, equilibrado, entregando a elegância
típica de vinhos como esse. Não esperem peso, estrutura ou algo que o valha,
afinal 18 meses de barricas de carvalho trará afinamento, trará complexidade e
estrutura, não peso. E o mais gratificante é degustar um vinho em uma faixa de
preço extremamente acessível. É possível sim degustar um Gran Reserva espanhol
com um valor competitivo e que atinja sim a todos os níveis sociaisl.
Democratizemos a cultura do vinho! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas Fernando Castro:
A Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a mais
antiga adega CLM sob a direção da mesma família. A família Castro começou a
produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas cultivadas na sua propriedade
em Santa Cruz de Mudela, seguindo os métodos tradicionais da região.
A adega Fernando Castro está localizada no centro nevrálgico
da Denominação de Origem Valdepeñas. Localizada no extremo sul do planalto
ibérico e bem delimitada pela planície de La Mancha a norte, os campos de
Montiel a leste, Calatrava a oeste e Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela
preserva o património cultural e gastronómico de A Mancha.
A região contém uma abundância de solos calcários, arenosos e
argilosos (avermelhados), atravessados pelo rio Jabalón e bronzeados pelo sol.
Terrenos com um clima continental marcado de temperaturas extremas e baixa
pluviosidade, onde as temperaturas podem ultrapassar os 40ºC e descer abaixo
dos -10ºC.
Viticultores por tradição familiar, Bodegas Fernando Castro
tem 380 hectares de vinhas aninhadas em torno da Finca Los Altos,
supervisionadas pessoalmente pela família Castro. Os seus vinhos expressam a
personalidade de uma região única, situada a 705 metros de altitude e com um
clima de temperaturas extremas, os seus solos são pobres em matéria orgânica e
de baixa fertilidade, condição ideal para o cultivo da vinha.
Mais de 2.500 horas de sol por ano se traduzem em uvas bem
maduras e vinhos com maior intensidade de cor, estrutura ideal e poder
aromático.
Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham juntas,
com o apoio inestimável de grandes profissionais que contribuem para a
produção, processamento, envelhecimento e comercialização dos seus vinhos,
utilizando instalações modernas, confortáveis e funcionais.
Na última década, alargaram a sua gama de produtos a setores
novos e emergentes como os vinhos espumantes, vinhos não alcoólicos, vinhos
Kosher, vinhos biológicos e até sangrias, garantindo os mesmos níveis de
qualidade e serviço nestes novos produtos.
Todos os anos os vinhos são premiados nos mais prestigiados
concursos internacionais do mundo, como Berliner Wein Thophy, Mundus Vini,
Sakura Japan Awards ou o Best Wine-in-Box da França.
Mais informações acesse:
https://bodegasfernandocastro.es/
Referências:
“Vinos Valdepeñas”: https://vinosvaldepenas.com/denominacion/
“Bardot Vinhos e Artes”: http://www.bardotvinhoseartes.com.br/2015/11/denominacion-de-origen-valdepenas.html