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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Idolo Airén 2022

 

Um dos encantos que o mundo do vinho pode nos proporcionar, simples mortais enófilos, além da degustação em si, é claro, são as grandes novidades, novas experiências.

Novos rótulos, novas vinícolas, novas cepas que nos permite viajar a regiões diferentes, até então por nós desconhecidas, abrangendo o nosso leque de opções, nos fazendo fugir da sedutora, mas pouco salutar, zona de conforto.

O vinho nos suscita uma boa aula de geografia e de tradição e cultura vitivinífera, personificado em doses generosas de degustação, com as taças cheias. Mas como todo bom apreciador de vinho, não me limito a deixar o vinho tomar o nosso tempo no momento em que o degustamos, nós respiramos essa bebida nobre o tempo inteiro, lemos, buscamos a informação, tornando-o tangível em conhecimento.

E foi assim que descobri a curiosa história da casta branca, autóctone da Espanha, a Airén. Ela se materializou em minhas leituras por acaso e fui a busca de vinhos com essa casta. O meu primeiro rótulo foi o Señorio de los Llanos, da Bodega Los Llanos, que pertence a gigante J. García Carríon.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Castilla La Mancha, a maior produtora, em volume, da Espanha e se chama Idolo, um 100% Airen da safra 2022. Então para não perder o costume vamos de história, vamos de Castilla La Mancha e de Airén.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno.

Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas.

A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñas.

Castilla La Mancha


As sub-regiões

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

Valdepeñas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

Airén

A Airén pode ser chamada de Forcallat, Manchega, Valdepeñas ou Lairén, é a mesma variedade, a mais utilizada na Espanha, que representa mais de 30% do total da uva e está localizada principalmente em Castilla La Mancha.

Ao contrário do que muitos possam pensar, a casta mais cultivada em todo o mundo não é a Cabernet Sauvignon e nem a uva Merlot (que ocupa o segundo lugar) e sim a casta branca espanhola Airén, que possui mais de 280.000 hectares plantados em todo território mundial. Acredita-se que a cepa é uma das mais antigas utilizada na elaboração de vinhos brancos espanhóis.

Apesar de ser uma casta pouco conhecida por conta da grande parte de sua produção ser destinada a elaboração de destilados, sendo o principal ingrediente do reverenciado e conhecido Brandy Espanhol, a casta Airén pode originar vinhos brancos bastante originais e interessantes.

Airén

Sua maior área de cultivo encontra-se na Espanha, ocupando cerca de 32% dos vinhedos do país. Sendo uma variedade muito produtiva, a casta branca possui forte resistência a pragas, além de excelente facilidade de adaptação a climas bastante quentes e secos, características predominantes dos vinhedos onde a uva encontra-se em maior proporção, na região sul do país espanhol.

A cepa é encontrada principalmente em Castilla La Mancha, mas é cultivada também, em menores proporções, na região de Valencia, Madrid e em alguns locais de Andalucia.

Os vinhos elaborados a partir da Airén possuem coloração bastante clara, com leve presença de tons esverdeados. Os rótulos elaborados com a uva Airén são excelentes opções para serem degustados e apreciados sozinhos, entretanto, os originais e interessantes vinhos brancos acompanham muito bem mariscos, pescados e massas, exaltando os aromas que a cepa é capaz de proporcionar aos maravilhosos e agradáveis vinhos brancos espanhóis elaborados a partir de sua casta.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um brilhante amarelo palha, límpido, com lágrimas médias e espaçadas.

No nariz aromas cítricos que lembram laranja, limão e maçã-verde. Algo de mineral que o torna, junto com o aspecto frutado pleno, muito frescor, com um discreto toque herbáceo.

Na boca é flagrante a leveza e o frescor, típico da variedade, com as notas frutadas protagonizando como no quesito olfativo, com uma acidez correta, leve e extremamente agradável e um final de média persistência.

Um vinho fresco, jovem e despretensioso, que carrega a expressão de um terroir com todas as suas características, mesclada a cultura e tradição de vinificação e os recursos tecnológicos que faz desse vinho simples, mas honesto, correto entregando mais do que valeu. Um vinho de excepcional custo X benefício. A Airén sempre teve uma história de subjugação, com produção de rótulos subvalorizados, mas com o advento da tecnologia de ponta nas vinícolas, rótulos dessa variedade tão importante para a história da Espanha, hoje podemos desfrutar de vinhos simples sim, mas saborosos e despretensiosos ideais para os dias quentes de nossas terras brasileiras. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Yuntero:

Em 20 de março de 1954, a Cooperativa Jesús del Perdón foi fundada como resultado da necessidade de um grupo de 102 viticultores da região para produzir e comercializar os produtos obtidos em suas fazendas e defender-se da especulação a que foram submetidos. Inicialmente para moer 6.000.000 quilos.

Em 1960 ocorre a 1ª e 2ª expansão com a fusão por absorção da Cooperativa San Isidro e com a compra de mais terras. Em 1969 começam a engarrafar os seus primeiros vinhos.

Em 1974 são registradas as marcas Yuntero Pálido Manzanares e Yuntero Tinto Fino, um ano depois são feitas reformas na destilaria para poder carregar granéis com RENFE. Nesta década a adega integra-se na DO Mancha e os escritórios são transferidos para as instalações do armazém.

Em 1980, prosseguem as ampliações de armazéns com a construção de um novo jaraíz e a criação de uma seção de cereais. As exportações para a Europa e EUA iniciam-se com o lançamento dos vinhos em importantes cadeias alimentares.

Em 1990, ocorre a fusão por absorção com a Cooperativa El Porvenir. Em 1992, o primeiro vinho orgânico de Castilla La Mancha é feito sob a marca "Mundo de Yuntero". Inicia-se a mudança das cubas para inox e aumentando consideravelmente o estoque de barricas. No final desta década abre a loja de vinhos no centro da vila.

Na década de 2000 começa com uma nova fusão por absorção, com a Cooperativa El Progresso. Ocorre o grande crescimento da vinícola, adequando-a às necessidades do setor. Em 2004 celebraram os 50 anos da adega com um evento emblemático que contou com a presença de inúmeras figuras públicas.

Mais informações acesse:

https://yuntero.com/en/

Referências:

“La Mancha Wines”: https://lamanchawines.com/airen-la-nuestra/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/airen

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/






sábado, 11 de abril de 2020

Señorio de los Llanos Airén


Um dos encantos que o mundo do vinho pode nos proporcionar, simples mortais enófilos, além da degustação em si, é claro, são as grandes novidades, novas experiências. Novos rótulos, novas vinícolas, novas cepas nos faz viajar a regiões diferentes, até então por nós desconhecidas, abrangendo o nosso leque de opções, nos faz fugir da sedutora, mas pouco salutar zona de conforto. E hoje o vinho suscitou uma boa aula de geografia e de tradição e cultura vitivinífera, personificado em doses generosas de degustação, com as taças cheias. Mas como todo bom apreciador de vinho, não me limito a deixar o vinho tomar o nosso tempo no momento em que o degustamos, nós respiramos essa bebida nobre o tempo inteiro, lemos, buscamos a informação, tornando-o tangível em conhecimento. E foi assim que descobri a curiosa história da casta branca, autóctone da Espanha: Airén. Ela se materializou em minhas leituras por acaso e fui a busca de vinhos com essa casta. Contudo antes de apresentar e falar sobre o rótulo que escolhi, vamos falar sobre a Airén.

Sobre a Airén:

Essa uva, dominante na região central da Espanha, mais precisamente nas áridas áreas de La mancha e Valdepeñas, região esta que veio meu vinho e que logo falarei também, tem grande resistência ao clima seco e quente e lida bem com os solos pobres da região. Trata-se de uma cepa bem antiga, que também é conhecida como Lairén, nome este usado até hoje na região de Córdoba. Ela aparece em uma obra intitulada Agricultura General, escrita em 1513 pelo agrônomo Gabriel Alonso de Herrera (1470-1539). A Airén não goza de muita credibilidade, mas foi a uva vinífera mais plantada no mundo, até 1990. Isso porque ela é muito utilizada na produção de destilados na Espanha, bem como na produção de vinhos, é claro. Então por que é tão difícil ouvir falar na Airén e por que também é difícil encontrar rótulos da mesma no Brasil, por exemplo? Porque, além dos destilados, os espanhóis a utilizam mais para a produção de baratos vinhos de mesa, que não se enquadram em nenhuma denominação de origem, e que visam o consumo local, não sendo objeto de exportação. E também porque a Airén era a mais cultivada em termos de área ocupada, e não em número de videiras. Ou seja, Airén era a variedade que ocupava mais espaço no mundo, mas nem por isso era a uva mais colhida do mundo! Mas lendo algumas descrições de vinícolas que produzem rótulos com a Airén, pude observar que as mesmas investem em tecnologia, sobretudo nos processos de vinificação entregando vinhos de qualidade e muitos deles ostentam a DO (Denominação de Origem) da região de Valdepeñas. Fonte: “Tintos & Tantos” (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/1049-airen) e “Vinho Perfeito” (http://vinhoperfeito.com/2017/02/01/airen-branca-numero-1/).

Sobre a Denominação de Origem (DO) de Valdepeñas:


A região demarcada de Valdepeñas localiza-se no sul da comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que fica no centro da Espanha.Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C. Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de coloração muito profunda. Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção é destinada à exportação da Espanha para outros países. A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77% deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%. A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo. Fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/804-valdepenas.

Então finalmente vamos ao vinho que surpreendeu positivamente, que entregou bem a que se propôs: Señorio de los Llanos, da casta branca Airén, da tradicional espanhola Bodegas Los Llanos, da região de Valdepeñas, não safrado.

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, diria translúcido, brilhante.

No nariz tem notas evidentes e agradáveis florais, de flores brancas, sendo também muito frutado, um prenúncio de muito frescor.

Na boca é seco, toques generosos de frutas brancas como melão e abacaxi, acidez moderada, com um retrogosto frutado, sendo muito delicado e equilibrado.

Um vinho fresco, jovem e despretensioso, que carrega a expressão de um terroir com todas as suas características, mesclada a cultura e tradição de vinificação e os recursos tecnológicos que faz desse vinho simples, mas honesto, correto entregando mais do que valeu. Um vinho de excepcional custo X benefício. Pasmem, custou R$ 24,90. Arrisquem, se permitam descobrir novas experiências. Tem 11% de teor alcoólico. Harmonizou muito bem com umas fatias de pizza bem gordurosa e depois um prato com bacalhau e batata.

Sobre a J García Carrión:

Na escuridão de um barril de vinho, começou a história de uma família burguesa que desde 1875 produzia vinho em suas adegas em Valdepeñas. A "Bodega Carabantes" conhecia todos os segredos e possibilidades oferecidas pelas uvas que cresciam nessa área. Esse conhecimento tornou-se propriedade da "Cosecheros Abastecedores" quando esta empresa moderna adquiriu a empresa familiar de Valdepeñas, denominada Bodega Los Llanos. A sabedoria de ambos, unida e anos depois, deram frutos com o lançamento de algumas marcas no mercado que agrupavam vinhos sofisticados, com potencial de envelhecimento, os reservas e gran reservas e que continuam a obter sucesso hoje: “Señorío de los Llanos” e” Pata Negra”. Hoje, a primitiva Bodega de 1875 é um dos museus de vinho mais prestigiados da Espanha. Em 2008, a Família García Carrión adquiriu a Bodega Los Llanos que detém hoje o posto de maior produtor europeu em volume (e quarto maior do mundo). Atualmente, Bodegas los Llanos tem uma capacidade de embalagem de 100 milhões de litros e uma capacidade de fabricação de 60 milhões de quilos. Está equipado com as mais avançadas técnicas enológicas para elaborar, produzir e engarrafar vinhos de alta qualidade. As vinícolas possuem uma das maiores cavernas subterrâneas do país, com capacidade para 30.000 barris, onde os vinhos atingem sua plenitude com doze metros de profundidade em carvalho, para garantir as melhores condições nesse processo delicado. A Bodega los Llanos, também chamada de Grupo de Bodegas Vinartis, mantém viva a tradição artesanal dos excelentes vinhos Valdepeñas em seus produtos, tais como: Señorío de los Llanos, Pata Negra, Armonioso, Torneo e Don Opas. Por muitos especialistas são sinônimo dos melhores padrões desta Denominação de Origem. Seus vinhos foram premiados em reconhecidas competições nacionais e internacionais de vinhos.

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