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sábado, 15 de abril de 2023

Sanjo Maestrale Cabernet Sauvignon 2007

 

Eu já contei a minha história, o meu depoimento sobre os vinhos catarinenses e convém contar novamente, mesmo que seja breve, para ilustrar mais um rótulo que irei degustar agora que defino no mínimo como especial.

Sempre encarei os rótulos de santa Catarina como inalcançáveis. Os valores de alguns vinhos estavam distantes das minhas pretensões de compra, sempre estiveram distante do meu reles bolso. Talvez faltassem opções, locais de compras que pudessem me proporcionar um leque de opções e uma alternativa de uma compra mais acessível, justa.

Até que com um “boom” de e-commerces de vinhos, sobretudo os brasileiros, seguindo essa onda de qualidade dos nossos rótulos, tem se descortinado diante de meus olhos e “cliques” um bom número de opções de vinhos de Santa Catarina, somando a isso a fama que a sua principal região, a fria São Joaquim, vem ganhando ultimamente.

Com isso surgiram alguns rótulos que entregam preços simplesmente avassaladores no preço e o exemplo é a Sanjo Cooperativa. Conhecida por ser uma das maiores produtoras de maçãs do Brasil, quiçá da América Latina, a Sanjo, a cerca de 20 anos, vem se aventurando na produção de vinhos, com uma linha vasta e de ótima relação custo X benefício.

E posso falar com segurança e satisfação de que o custo X benefício é evidente, pois já tive a alegria de degustar alguns dos seus rótulos mais vendidos a preços simplesmente atraentes, onde destaco a linha “Núbio”, com o Cabernet Sauvignon e a casta branca mais cultivada da região, a Sauvignon Blanc.

E outro detalhe mágico dos vinhos de altitude, como são conhecidos, é a longevidade. A guarda é um destaque à parte dos vinhos produzidos em Santa Catarina e degustar o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 20102012 foi algo de surpreendente, com vinhos evoluídos, que evoluem maravilhosamente, com vinhos no auge de sua plenitude e a um valor impecável e irresistível.

E hoje a experiência se renovará, mais uma linha especial da Sanjo inundará a minha humilde taça, trazendo a linha “Maestrale”. Então sem mais delongas vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio de São Joaquim, Santa Catarina, Brasil e se chama Sanjo Maestrale, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2007. E antes de tecer os merecidos detalhes desse rótulo especial, falemos um pouco da região, São Joaquim.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias.

 Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense

Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de junho de 2020.

A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.

Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos brasileiros.

A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas, preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a expressão plena da genética de cada variedade de uva.  Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas.  São vinhos com uma excelente expressão de sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.

Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.


E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um belíssimo vermelho rubi intenso, com algum brilho, o que é incrível com os seus 16 anos de garrafa, mas já tende para halos evoluídos, algo como granada, o famoso atijolado. Traz alguma viscosidade e lágrimas finas e ocasionais e que se dissipa rapidamente.

No nariz aromas complexos e intensos de chão de floresta, de terra molhada, como se esfregasse terra em meu nariz, com notas de frutas negras maduras ainda, arrisco dizer que traz frutas secas também, com toques herbáceos, de especiarias, com destaque a pimenta do reino e pimenta preta, amadeirados, como baunilha, torrefação e discreto chocolate, além de couro e tabaco. Muita complexidade e rusticidade.

Na boca é redondo, macio e elegante, não trazendo mais a impetuosidade, a estrutura de um típico Cabernet Sauvignon barricado por longos 18 meses em barricas de carvalho, com as notas frutadas ainda vívidas no paladar, como no aspecto olfativo e, claro, as notas amadeiradas também protagonizam entregando a baunilha, torrefação, café torrado, as notas especiadas também figuram com a pimenta, o pimentão, com taninos já domados, mas vivos, acidez baixa e um final com média persistência e amadeirado.

Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos 16 anos de vida, teria muitos anos pela frente e a evoluir fantasticamente. Um corpinho ainda jovial de debutante! Para aqueles que ainda duvidam de que os nossos vinhos não são capazes de ser longevos, de evoluir bem, aí está o exemplo do Sanjo Maestrale Cabernet Sauvignon! Ainda entrega aromas evoluídos, estrutura, complexidade, acidez presente e longa persistência. Não hesitaria em dizer que teria alguns bons anos na adega! Mais uma vez a Sanjo me proporciona degustar mais um belo vinho catarinense, a ótimo valor e de guarda. Que venham outros tantos! Teor alcoólico de 12,8%.


Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//



Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

“CafeViagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-conquistam-indicacao-geografica/#

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/63617903/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-nova-indicacao-geografica-na-regiao-mais-fria-do-brasil

 








sábado, 29 de outubro de 2022

Quinta Don Bonifácio Reserva Refosco 2007

 

O vinho definitivamente é um ser vivo, como alguns especialistas na poesia líquida costumam falar. E de fato é mesmo, não há nenhum exagero em dizer isso. Todo vinho nasce, na vindima e no processo de vinificação até ser engarrafado, cresce, evolui na garrafa quando está na nossa adega, se desenvolve ou não, decai e morre.

Cada uma dessas fases tem um tempo, que muda, varia de vinho para vinho e até mesmo de garrafa para garrafa, e nesse caso um dos principais fatores é a forma como ele está armazenado e também o fator sorte, pois mesmo acondicionando o vinho aceitavelmente há casos em que ele pode perecer antes do que se espera.

Há quem diga que temos de aproveitar sem muitas delongas, mas também o tempo faz com que o vinho só melhore, claro que para entender essas nuances é preciso, pelo menos buscar ajuda profissional ou buscar informações do rótulo junto ao produtor.

E entender o seu apogeu, potencial de guarda, o seu momento de decréscimo no seu período evolutivo pode parecer meio difícil e tenso para os enófilos e aí a pergunta surge: Será que o vinho está em seu ápice de degustação? Será que merece aguardar um pouco mais? São perguntas, questionamentos e dúvidas que nos faz perder o sono, porque um “erro de cálculo, um momento especial de degustação pode virar um pesadelo com um vinho avinagrado.

Mas é inegável quando, por exemplo, degustamos um vinho razoavelmente antigo e percebemos que ele está no auge ou que evoluiu maravilhosamente bem. É o ápice também para quem degusta.

Eu sigo nesse caminho pela busca e garimpo de alguns rótulos com pelo menos mais de 10 anos o que hoje é maravilhoso em um mercado onde os vinhos ligeiros e mais jovens imperam, afinal, quem quer bebe, bebe logo e isso tem feito com que os adeptos pelos vinhos “velhos” se tornem um gueto, um pequeno grupo.

E o vinho que degustarei hoje está debutando, com seus 15 anos de vida e que, por um ou dois anos, não sei ao certo, descansou em minha adega aguardando o momento de brindar a minha taça com celebração. E falando em celebração ele trará novidades, novidades de uma casta que, para mim, é nova: Refosco.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, Brasil, e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Refosco, safra 2007. O vinho está vivo, pleno! O tempo e a passagem por barricas de carvalho lhe deram complexidade e elegância. Mas não vou, pelo menos agora, falar do vinho, mas sim da Serra Gaúcha e do Refosco. Vale lembrar antes de que tive uma grande experiência com o Quinta Don Bonifácio Reserva Tannat 2007.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Refosco

A uva tinta Refosco teve sua origem nas regiões banhadas pelo mar Adriático, como a Eslovênia, Croácia e Friuili-Venezia Giulia (nordeste da Itália). Antigamente, era amplamente utilizada para a fabricação de vinhos mais simples, entretanto, hoje a uva Refosco tem suas características em evidência e participa da composição de exemplares complexos, vinhos que apresentam grande capacidade de envelhecimento.

Os vinhos que possuem a uva Refosco em sua composição são encorpados e frutados, apresentando elevada acidez e coloração escura e densa. Os aromas e sabores encontrados nesses exemplares remetem a ameixas e temperos apimentados, bem como sugerem sensação amendoada no palato. Com amadurecimento tardio, a uva Refosco, se colhida antes do tempo, pode elaborar vinhos de taninos agressivos.

Essa é uma uva cheia de documentações, ao longo da história. Foi admirada e citada pelo escritor romano Caio Plínio II, conhecido como Plínio, o Velho. Consta, também, que era o vinho favorito de Lívia, esposa do primeiro imperador romano, Otávio Augusto. Estudos de DNA revelaram que a Refosco tem um parentesco com Marzemino, a uva que produzia o vinho favorito de Mozart.

A denominação de origem que elabora os mais reputados vinhos com a uva Refosco, de excelente combinação entre a mineralidade e o caráter frutado, é a italiana Colli Orientali del Friuli. Para uma boa harmonização, recomendam-se pratos elaborados com carnes de porco e peixes, como salmão e linguado, por exemplo.

Os vinhos elaborados com esse tipo de uva costumam ser consumidos pela população local, dificilmente saindo de sua região de origem. Entretanto, com o crescente interesse dos amantes de vinhos pela região de Friuli, os exemplares que levam a Refosco em sua composição cruzaram o oceano e chamaram a atenção da crítica estadunidense.

Na região fronteiriça da Eslovênia, a uva Refosco é conhecida como Refosk e, após sua colheita, passa por um período prolongado de maceração, fermentação e envelhecimento, resultando em vinhos extremamente ricos e saborosos.

Os aromas e sabores mais frequentemente associados a Refosco são os temperos apimentados escuros e as ameixas, além de uma sensação amendoada no palato, bem como um toque de amargor. O potencial de guarda pode ir de quatro a dez anos. No seu auge, ganha nuances florais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um intenso e profundo vermelho rubi com halos granada, denunciando os seus 15 anos de vida e/ou provavelmente pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade.

No nariz traz aromas de frutas pretas bem maduras, como ameixa e jabuticaba, bem como frutas secas, com notas amadeiradas, defumadas, de tabaco, couro, estrebaria, com toques terrosos, de terra molhada, folhas secas, revelando complexidade e intensidade.

Na boca é altivo, vivo, volumoso, suculento, mostrando uma ótima evolução com as frutas pretas maduras e secas sendo replicadas como no aspecto olfativo em perfeita sinergia com a madeira que ganha também protagonismo, afinal foram 16 meses em barricas de carvalho, com especiarias picantes, tosta, café, torrefação e um delicioso tom de chocolate meio amargo que lhe confere sabor, tudo isso graças a madeira. Taninos elegantes, domados, com uma acidez instigante, na medida certa com um final persistente, longo.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 15 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e o faço em um tom de celebração, vinho é celebração. Degustar, mais uma vez, um rótulo de um produtor, em sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Vinícola Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. É respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. Obrigado aos deuses do vinho por, mais uma vez, me proporcionar esse momento. Tem 12,6% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/625-refosco

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/refosco

 

 

 

  


 


sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quinta Don Bonifácio Tannat Reserva 2007

 

Sempre ao término do ano, na transição para o ano novo algumas metas são renovadas: sucesso profissional, emagrecer, ser mais tolerante e legal etc. Ano novo, intenções velhas. Velhos obstáculos, projetos... O ser humano é movido por metas e projeções para dar o mínimo de sentido a vida ou uma espécie de farol para ter um norte na vida.

Como um homem sistemático sempre serei a favor de método na vida, mas nunca se escravizar a eles. A vida precisa ser leve, principalmente transparente, respeitando a elas, buscando novidades para que ela siga dessa forma. Mas algumas tradições, por mais austeras que ela aparenta, podem trazer alguns prazeres.

E claro falo do vinho, do universo do vinho, o que nós tratamos por aqui, linhas de auto ajuda à parte. Decidimos por alguns anos consecutivos promover um churrasco em família para, dentro do possível, comemorarmos um novo ano.

E com ele veio também a decisão de um novo rótulo e como mencionei o quesito tradição veio à tona. Quando falamos em churrasco o que vem à mente? Vinhos encorpados, estruturados e com alguma complexidade.

Mas vinhos tintos com essa proposta em pleno verão de dezembro no Brasil? Será que há uma espécie de “incoerência” nessa escolha? Não sou um especialista, apenas um relés enófilo, mas penso que temos de ser regidos por nossa vontade, pelo que o coração nos diz. Talvez um espumante mais seco e com boa acidez possa ser uma escolha mais “decente”, mas dessa vez decidi pela tradição, pelo óbvio.

Mas o rótulo não é nem um pouco óbvio, mas uma escolha pouco ortodoxa e incomum e logo direi o motivo: Um vinho com 14 anos de vida! Sim! Um rótulo com seus longos 14 anos de vida, no auge de sua evolução. Bem se está no auge de sua evolução eu não sei ainda, mas eu sei que a decisão da escolha foi óbvia, mas o rótulo é sem dúvida arrojado.

Quando degustamos um vinho com algum tempo de safra sempre tem aquela dose de incerteza. Como ele estará? O que ele nos reservará? Pode estar no ápice de seu momento evolutivo, pode estar em declínio, é sempre um momento de apreensão, com um misto de privilégio, pelo fato de degustar um vinho com esse tempo de vida, mas de preocupação também, pelo fato do que irá encontrar.

Mas decidi ser o mais positivo possível projetando (olha a palavra aí novamente) as possibilidades que possibilitam que esse vinho possa estar em seu grande momento, mesmo que esteja quase debutando. Trata-se de um Tannat que, genuinamente, traz muitos taninos, o que viabiliza sua longevidade. A passagem por barricas de carvalho, que traz complexidade, estrutura ao rótulo.

O tempo poderá ser um mero detalhe a este vinho. O momento é chegado! A rolha, delicadamente se desprendeu da garrafa, parecia que ele nascia para o nosso deleite. A taça foi inundada de expectativas, os aromas timidamente se mostrando. Um buquê aromático aos poucos foi mostrando a que veio os famosos aromas terciários: toques balsâmicos, de café torrado mesmo, com frutas secas, couro, tabaco, especiarias. Uma loucura! Na boca ainda trazia a plenitude, a vivacidade das frutas, apesar de discreta, se fazia presente. Personalidade é o seu nome! Não vou entrar, pelo menos ainda, em detalhes sobre o vinho, mas não preciso dizer que o vinho é especial.

Mas de qualquer forma vou evocar a frase que dá nome a este humilde diário virtual. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e necessária Serra Gaúcha, no Brasil e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Tannat, da safra 2007. Nada como a austeridade da harmonização para te entregar alegria e deleite, a ode ao prazer. E para trazer um pouco de história e curiosidade, para não perder o costume, falemos um pouco da grande Serra Gaúcha e um pouco da história dele, do churrasco, tão importante e tradicional nas tradições gaúchas, argentinas, tendo a Malbec como protagonista e no Uruguai tendo o Tannat como carro chefe.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

As origens da Parilla: o famoso churrasco

Não existe referência exata sobre a origem do churrasco, mas presume-se que a partir do domínio do fogo na pré-história, o homem passou a assar a carne de caça quando percebeu que o processo a deixava mais macia.

Na América do Sul a primeira grande área de criação de gado foi o pampa, uma extensa região de pastagem natural que compreende parte do território do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, além da Argentina e Uruguai. Foi ali que os vaqueiros, conhecidos como gaúchos tornaram o prato famoso e típico.

A carne assada era a refeição mais fácil de preparar quando se passava dias fora de casa, bastando uma estaca de madeira, uma faca afiada, um bom fogo e sal grosso, ingrediente abundante e que é utilizado também como complemento alimentar do gado. A partir dali o costume cruzou as regiões e se tornou um prato nacional, multiplicando-se as formas de preparo, o que gera entre os adeptos muita discussão sobre o verdadeiro churrasco, como por exemplo, a utilização de lenha ou carvão, de espeto ou grelha, temperado ou não, com sal grosso ou refinado, de gado, suíno, aves ou frutos do mar. O correto é afirmar que não existe fórmula exata, uma vez que cada região desenvolveu um tipo diferente de carne assada, mas, sem dúvidas, a imagem mais famosa no Brasil é o churrasco preparado pelos vaqueiros, conhecidos pelo termo latino gaúcho, que se transformou na denominação dos cidadãos nascidos no estado do Rio Grande do Sul.

Na Argentina e no Uruguai o churrasco típico é chamado asado, e é o prato nacional de ambos os países. Tradicionalmente é feito na grelha com uso de lenha, mas também se usa carvão pela praticidade.

Os gaúchos alimentavam-se, sobretudo de churrasco no pão, que está na origem do asado rio-platense. Na Argentina o asado tradicional dos Pampas estendeu-se a toda a população, e hoje, devido á qualidade e ao preço baixo, é consumido por todas as classes sociais.

Aos finais de semana, as famílias se juntam nos pátios das casas para desfrutar um asado mais sofisticado que inclui, além de famoso bife, todo o tipo de achuras – órgãos menores como os rins, intestinos, estômago e ainda morcelas e vários tipos de embutidos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro com bordas de cor atijoladas, acastanhadas, mostrando evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas terciários, um envolvente bouquet que traduz em complexidade com frutas secas, frutas negras maduras, notas amadeiradas, couro, tabaco, um toque intrigante de terra molhada, floresta.

Na boca é estruturado, complexo, mas elegante graças aos seus 14 anos de vida, mostrando uma evolução correta e vagarosa, com taninos presentes, maduros, mas polidos e pelo tempo, o que lhe confere um bom volume de boca, com acidez vivaz, mas na medida, com as notas amadeiradas em evidência graças aos seus 16 meses de passagem por barricas de carvalho, com aquele toque de café, tostado e especiarias doce que o torna ainda mais atraente. Tem um final curto, de média persistência.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 14 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e fazê-lo em um momento de alegria com os seus, de celebração, de transição de um novo ano sem a preocupação de se cobrar, mas com a alegria de novos tempos, é de suma importância. Degustar, pela primeira vez, um rótulo de um produtor, a sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria e respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. E como está a harmonização com o churrasco? Maravilhoso! Especial! Nunca foi tão óbvio, nunca foi tão delicioso! Um vinho supreendente, que evoluiu muito bem e que entregou elegância, delicadeza, mas complexidade e a estrutura ou melhor a personalidade marcante do Tannat, com a assinatura do produtor brasileiro que, a cada ano, vem fazendo emblemáticos Tannats para o nosso deleite! Um viva a 2022 e que o vinho seja a nossa razão de ser! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Cabana Monte Fusco”: http://www.cabanamontefusco.com.br/a-origem-da-parrilla/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 




segunda-feira, 15 de junho de 2020

Ysern Tannat 2007 e Ysern Tannat Roble 2013


Eu sou um assíduo defensor das variadas propostas do vinho. Prefiro não aceitar que exista vinho ruim, de baixa qualidade ou aquele vinho superior, apenas propostas de vinhos que não podem ser comparadas, a não ser que seja dentro das próprias propostas. Explico: Você não pode comparar um vinho de entrada, mais básico da vinícola com um barricado, mais complexo. Beira a injustiça! Infelizmente ainda pensamos de uma forma pré-concebida, que os vinhos baratos são ruins e de má qualidade. Nem todos! Não se engane que os caros sempre agradarão! Não devemos, a meu ver, encarar o vinho como status ou “grife”, ou seja, quanto mais caro melhor. Não podemos negligenciar o fator orgânico, que varia de degustador para degustador. Falo tudo isso porque tive uma satisfatória experiência com uma mesma linha de rótulos, uma básica e outro um pouco mais complexo, de um mesmo produtor e vou falar dos dois ao mesmo tempo.

Os vinhos que degustei e gostei são: Ysern da casta Tannat, da safra 2007, um vinho mais básico da vinícola tradicional uruguaia chamada Bodegas Carrau, e um mais complexo, também da linha Ysern, da linha “Roble” (Com passagem por barrica de carvalho), da safra 2013. Ambos são considerados “Blends de regiões”, ou seja, um varietal, neste caso da casta Tannat, que veio de duas regiões: Cerro Chapéu, que fica em Rivera (25%) e da região de Las Violetas, em Montevidéo (75%). Veja no mapa estas e as outras principais regiões vitivinícolas do Uruguai.


Sobre os vinhos:

Ysern Tannat 2007:

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos com pouca incidência de lágrimas.

No nariz tem aroma de frutas vermelhas como morango, amora com um toque de especiarias, como pimenta do reino.

Na boca é frutado, seco, de leve para médio, redondo, harmonioso, com taninos sedosos e acidez quase imperceptível, com um final agradável, frutado e saboroso. Com 13% de teor alcoólico.

Ysern Tannat Roble 2013:

Na taça tem um vermelho rubi profundo, escuro meio acastanhado nas bordas com abundância de lágrimas, finas, que demoravam a dissipar desenhando as paredes do copo.

No nariz é extremamente aromático, revelando frutas negras com toques de especiarias, um toque abaunilhado, de torrefação e madeira muito bem integrada ao vinho, graças aos 9 meses de passagem por barrica de carvalho.

Na boca reproduzem-se as impressões olfativas sendo estruturado e complexo, devido também à passagem por madeira com taninos gulosos, presentes, mas redondos, com boa acidez. Um vinho de marcante personalidade, equilibrado, mas muito fácil de degustar. Com 13,5% de teor alcoólico.

Uma grande e satisfatória experiência com vinhos, embora distintos, mas muito bem feitos, corroborando a história plena e altiva da produção uruguaia dos vinhos da casta Tannat. Ouvi de alguém, não me recordo quem, de que a melhor forma de confirmar se um produtor é idôneo e que produz, com excelência, seus vinhos, e degustar os seus vinhos, mas básicos, de entrada. Por isso que, quando adquiri o de entrada da linha “Ysern” e degustei e gostei, não hesitei em comprar a linha “Roble”. Se permita a degustar todos os vinhos em todas as suas propostas, indiscriminadamente.

Sobre a Bodegas Carrau:

A tradição secular de uma família em um panorama que fortalece o crescimento dos bons vinhos uruguaios em pleno andamento dia a dia. A presença da família Carrau é um fato indesculpável desse processo no quadro de uma longa história que começa na Catalunha. Bodegas Carrau estabelece a qualidade constante como objetivo principal. comércios nobres são muitas vezes alojados na tradição familiar dentro da prática repetida passada de pai para filho. Dos avós aos netos, uma longa carreira de perfeição um dia foi cumprida na antiga mídia comercial. Parte disso ainda subsiste no campo dos enólogos que se prezam. Por esse motivo, a Família Carrau ainda preserva como um documento precioso que afirma que, em 2 de abril de 1752, Dom Francisco Carrau Vehils comprou a primeira vinha da família na Catalunha. Em 6 de fevereiro de 1783, o notário declara que foi esse o caso e que a vinha está em Vilassar de Mar. Hoje incorporado no corpo de Barcelona. Em 1840, Juan Carrau Ferrés dedicou-se ao negócio do vinho e também aos livros de sua vinícola, que eram zelosamente guardados por seus atuais herdeiros. Seu neto Juan Carrau Sust, formado em vinicultura em Villa Franca del Penades, concorda com a transferência, um verdadeiro transplante de família no Uruguai. Em 1930 Juan Carrau Sust chega com sua esposa Catalina Pujol e cinco filhos no Uruguai, entre eles Juan Francisco Carrau Pujol . A Carrau Sust se une à fundação da Vinícola Santa Rosa, que entre 1930 e 1940. Cresce com a tecnologia fornecida pelo viticultor catalão, que também fornece ao Uruguai o método champenoise e outros vinhos especiais. Em 1976, fundou Bodegas Carrau,  um projeto de grande ambição, para o qual importou videiras livres de vírus de seleção clonal com critérios revolucionários para a época. O projeto em andamento foi declarado de interesse nacional em novembro de 1977, pois, entre outras razões, o objetivo era exportar e divulgar os vinhos uruguaios no mercado internacional. A importância desse empreendimento justifica o fato de ser considerado o ponto de partida de uma nova etapa na Viticultura Nacional. Para implementar adequadamente, além das vinhas Cerro chapeu, a nova empresa adquire a vinícola Pablo Varzi, fundada em 1887 e faz parte da contribuição italiana para a história do vinho uruguaio.

Mais informações acesse:


Ysern Tannat 2007 degustado em 2015

Ysern Tannat Roble 2013 degustado em 2016