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sábado, 9 de abril de 2022

Família Silotto Cabernet Sauvignon 2019

 

Eu comecei a me interessar mais ferozmente, de forma mais veemente, pelos vinhos de pequenos produtores recentemente e o meu olhar para eles, para os seus rótulos, se deu graças aos vinhos brasileiros! Sim! Os vinhos brasileiros!

E não apenas pelo aspecto romântico da coisa, ou seja, por serem produtores familiares, de poucos recursos, de produções limitadas, mas para desmistificar o conceito de que vinho idôneo é aquele produzido por grandes, gigantes vinícolas com características de indústria.

Acredito, depois dos meus primeiros contatos com esses vinhos, de que sim, é possível degustarmos grandes e surpreendentes vinhos de produtores pequenos e artesanais, de vinhos de qualidade, que possa te trazer positivas surpresas, agradáveis e inesquecíveis.

E em um passado não muito distante tive o privilégio, a alegria de degustar um vinho artesanal, que jamais esperava ter degustado em minha vida de enófilo, de uma região que não é tida como um polo de produção vitivinícola do Brasil, chamada Serra Negra, que ficou no interior de São Paulo.

Então sem mais delongas vamos às apresentações desse rótulo que, já de imediato, digo que é especial: O Silotto da casta Cabernet Sauvignon da safra 2019, da região de Serra Negra, São Paulo. O vinho pertence a uma pequena adega pertencente a Família Silotto, considerada sim, como tradicional em Serra Negra.

Eu vou contar, brevemente, a história de como cheguei a esse produtor, cuja experiência eu já tive com a variedade Merlot, o Silotto Merlot 2019. Eu estava navegando pelas redes sociais e, como sempre, por acaso, visualizei uma publicação de uma pessoa que havia degustado o Silotto Merlot 2019 e tecendo ótimos comentários a respeito do mesmo. Nesta publicação vi a informação de que o vinho era artesanal. Isso me chamou a atenção.

Li também o site que o sortudo degustador obteve o Silotto Merlot: A Pemarcano Vinhos. Claro o acessei para conferir detalhes do vinho. Tive a grata surpresa de que o vinho estava com um valor muito atraente para o meu bolso, na faixa dos R$ 40,00! O comprei com outros rótulos e o degustei e gostei e muito!

O dono do site, o amigo Luciano, leu em minhas redes sociais a descrição do Silotto Merlot e, carinhosamente decidiu me presentear com o Cabernet Sauvignon na versão “seco” e, mais uma vez, me surpreendi positivamente com o rótulo da Família Silotto! Espero que o amigo Luciano continue me presenteando com os rótulos da Silotto (risos)!

Antes de falar do Silotto Cabernet Sauvignon 2019, falemos um pouco da região inusitada para a produção de vinhos, Serra Negra, bem como da breve história do Brasil vitivinícola e do conceito de vinho artesanal.

Serra Negra, o circuito das águas.

Encravada na Serra da Mantiqueira a 150 quilômetros da capital, em uma região de 927 metros de altitude com picos de até 1.300metros está localizada a Estância Turística Hidromineral de Serra Negra.

A cidade é cercada por montanhas da Serra da Mantiqueira, a vegetação é exuberante, compondo um cenário de extraordinária beleza natural. Em meio ao Circuito das Águas Paulista, Serra Negra possui um ambiente seguro e agradável. Aqui a tranquilidade e qualidade de vida estão presentes por meio da boa estrutura turística.

Serra Negra

A cidade possui uma das maiores redes hoteleiras da região do Circuito das Águas Paulista e por isso pode abrigar milhares de pessoas que fazem a população de visitantes aumentar durante as férias e feriados oferecendo total comodidade e conforto.

Além da exuberante riqueza natural, a cidade possui diversidade e amplos tesouros culturais, como a produção rural e a produção artesanal de queijos e bebidas.

Quem procura uma experiência única a Rota do Café, do Queijo e do Vinho excelente e rica opção de passeio. São 8 km de extensão, a estrada leva os visitantes para conhecer as delícias tradicionais e artesanais produzidas na cidade. Cada sítio é especializado em um produto, seja ele café, queijos ou vinhos.

Cidade de Serra Negra vista de cima

Breve história do Brasil vitivinícola e o conceito de vinho artesanal

O Brasil foi descoberto pelos Portugueses em 1500, e em 1532 Martim Afonso de Souza chegou com as primeiras mudas de videiras vitis viníferas que foram plantadas na Capitania de São Vicente, porém sem sucesso em função do clima e do solo. Mas Brás Cubas membro da expedição de Martim Afonso de Souza transfere as plantações do litoral para o Planalto Atlântico e em 1551 consegue elaborar o primeiro vinho brasileiro, mas sem muito sucesso, sua iniciativa não teve sequência devido as condições de solo e clima não serem adequados ao cultivo das videiras.

Em 1626 os Jesuítas chegaram à região das Missões e impulsionam a vitivinicultura no Sul do Brasil. O Padre Roque Gonzales de Santa Cruz recebeu os créditos pela introdução das videiras no Rio Grande do Sul, com ajuda dos Índios foi elaborado vinho utilizado nas celebrações religiosas.

Em 1640 foi promovida a primeira degustação no Brasil. A intenção foi de melhorar os vinhos comercializados no país. Em 1732, os Portugueses da Região do Açores, povoaram o litoral do Rio Grande do Sul e formaram-se colônias em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, plantaram mudas de videira provenientes do Açores e da Ilha da Madeira, mas as plantações não se desenvolveram adequadamente.

Em 1789 a corte portuguesa percebeu o grande interesse do Brasil pela vinicultura e proibiu o cultivo de uva no país, como forma de proteger a sua produção em Portugal. A medida inibiu a comercialização da bebida nas colônias e restringiu a atividade ao âmbito familiar.

Em 1808, quando da transferência da coroa portuguesa para o Brasil é derrubada à proibição ao cultivo da uva e são estimulados os hábitos no entorno do vinho, inclusive degusta-lo junto às refeições, encontros sociais e festas nas comunidades religiosas.

Em 1817, os gaúchos são considerados pioneiros na vinicultura e esse pioneirismo se materializa no lendário Manoel Macedo, produtor da cidade de Rio Pardo, até o ano de 1835 todo o vinho que produzia era documentado, em um dos anos ficou registrado a elaboração de 45 pipas, o que lhe rendeu a primeira carta patente para a produção da bebida no país.

Em 1824 tem início a colonização alemã e os mesmos tinham muito interesse em vinhos. Na mesma época o italiano João Batista Orsi se estabelece na Serra Gaúcha e recebe de Dom Pedro I a concessão para o cultivo de uvas europeias, torna-se um dos precursores do ramo na região.

Em 1840 pelas mãos do inglês Thomas Messiter, são introduzidas no Rio Grande do Sul as uvas Vitis Lambrusca e vitis Bourquina, de origem americana que são mais resistentes a doenças. Inicialmente foram plantadas na Ilha dos Marinheiros, na lagoa dos Patos e logo se espalharam pelo Estado.

Em 1860 a uva Isabel, uma das variedades americanas introduzidas no Rio Grande do Sul, ganha rapidamente a simpatia dos agricultores. Há registros de que, por volta de 1860 a uva Isabel formava vinhedos nas cidades de Pelotas, Viamão, Gravataí, Montenegro e municípios do Vale dos Sinos.

Em 1875 ocorre o grande salto na produção nacional de vinhos em função da chegada em massa dos imigrantes italianos, pois, trouxeram de sua terra natal o conhecimento técnico de elaboração dos vinhos e a cultura do consumo, os italianos elevaram a qualidade da bebida e conferem importância econômica à atividade.

Em 1881 foi elaborado 500 mil litros de vinho na cidade de Garibaldi no Rio Grande do Sul, este número consta em um relatório feito em 1883 pelo cônsul da Itália, Enrico Perrod, após sua visita à região. Em 1928 é criado o Sindicato do Vinho, essa iniciativa foi articulada por Oswaldo Aranha, então secretário estadual do Governador Getúlio Vargas.

Em 1929 o associativismo é adotado pelos agricultores e em um período de 10 anos, 26 cooperativas são fundadas, algumas como a Cooperativa Garibaldi atuam até hoje. O modelo da competitividade entre os pequenos produtores os direciona a uma situação de equilíbrio, tal equilíbrio é alcançado na década seguinte.

Em 1951 a vinícola Georges Aubert é transferida da França para o Brasil e marca o início de um novo ciclo. O interesse de empresas estrangeiras no país se consolida na década de 70 e trouxe novas técnicas para os vinhedos e para as cantinas, além de ampliar as áreas de cultivo da uva.

Em 1990 temos as vinícolas melhoradas, pois ao longo da década de 80 os vinhedos passaram por uma tremenda reconversão, e à partir da abertura econômica do Brasil a produção de vinho ganha impulso. O acesso a diferentes estilos de vinhos e a concorrência com os importados levaram os produtores a melhorar a qualidade.

Em 2002 a vitivinicultura está consolidada em diferentes regiões, do Sul ao Nordeste do país, cada zona produtiva investe no desenvolvimento de uma identidade própria. O pioneiro é o Vale dos Vinhedos, que conquista a Indicação de Procedência em 2002.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, com reflexos arroxeados, com lágrimas grossas e em profusão que desenham, marcam as paredes do copo.

No nariz explodem em aromas de frutas pretas e vermelhas bem maduras, onde se destacam cereja preta, amora e framboesas. A madeira figura discretamente, graças ao estágio de 6 meses em barricas de carvalho.

Na boca é seco, jovem, com média estrutura, a fruta madura em evidência, como no aspecto olfativo, tem taninos presentes, ótima acidez que saliva a boca e estimula a degustação, notas de terra molhada e madeira bem integrada, com final prolongado e frutado.

Sempre quis degustar um vinho artesanal! Esse longa distância se encurtou com o esforço, o interesse que, mesmo diante de olhar pessimista que nutri, ele veio de forma despretensiosa, de uma formal atípica, mas que construí com base no interesse que sempre pautou a minha enófila. A história desse rótulo, da Família Silotto é a personificação da rica, da prolífica história do Brasil dos imigrantes, do Brasil sofrido, de seu povo batalhador que, em um intercâmbio histórico, edificou a sua história vinífera. Degustar o Família Silotto Cabernet Sauvignon é como se estivéssemos degustando a história do Brasil e seus desdobramentos vínicos, mas com os pés calcados no presente, vislumbrando um olhar no futuro. Há sim lugar para os vinhos artesanais, para os vinhos produzidos por pequenos produtores que, apesar de pequenos, são gigantes para a construção de uma indústria do vinho em ascensão. Família Silotto Cabernet Sauvignon entregou as características mais essenciais da cepa, com os aromas de frutas vermelhas e pretas bem maduras, as notas especiadas, taninos presentes, boa acidez, um vinho redondo, equilibrado, porém com certa personalidade que a casta confere. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Silotto:

A História da família Silotto em Serra Negra começou quando o italiano da região de Treviso, Pietro Silotto, comprou suas terras no bairro das Três Barras, pois achou muita semelhança com as terras da Itália.

Neste bairro se iniciou a cidade de Serra Negra (O bairro das Três Barras seria inicialmente o centro de Serra Negra, porém pela região extremamente montanhosa, subiram a serra até chegar a um local mais plano, onde é o centro atual).

Veio acompanhado de seus irmãos, Fortunato, Ângela e Henrique. Aqui construiu sua família com treze filhos, dez homens (Basílio, Ermínio, José, Olívio, Quinto, Atílio, aqui todos lavoravam. Cada filho criou sua família, sempre juntos morando na casa acima construída em 1934 por Pietro Silotto. Já mais velho resolveu dividir suas terras entre seus filhos, sendo assim, cada um teve seu sítio e sua casa. Continuou aqui onde tudo começou Quinto Silotto, seu 5º filho.

Pietro viveu aqui até o final de seus dias, deixando a sede para Quinto Silotto. Quinto também trabalhou muito, teve dez filhos, sete mulheres (Nera, Maria Inês, Dalva, Maria Alice, Elza, Julietta, Bertina) e três homens (Décio, mais conhecido como Neno, Alfeu e José Carlos);

Dois de seus filhos começaram a trabalhar na lavora com sete anos e continuam até os dias de hoje. Cuidam das terras com muito amor, pois foi esse amor que veio desde o começo.

Aqui cuidam da videira centenária plantada por Pietro Silotto, do cultivo da cana e do café e da produção de bebidas artesanais, com a mesma tradição e dedicação de seus antepassados. Tudo isso com muito suor e orgulho.


Mais informações acesse:










domingo, 24 de outubro de 2021

Família Silotto Merlot 2019

 

Nessas minhas andanças na estrada do vinho eu já degustei muitos rótulos! Viajei, por intermédios das taças cheias da poesia líquida, por regiões, países, histórias, naveguei por muitas culturas e comportamentos que impactaram nas tipicidades de muitos vinhos, mas para alguns rótulos em especial eu sempre mantive uma postura de distanciamento, algo intransponível, difícil de ter em minha mesa, em minha taça.

Claro que em algum momento de nossa vida podemos ter a alegria de degustar aquele vinho caro, de uma região que sempre quis ter em nossa taça, aquela proposta de vinho raro, difícil de encontrar por aí. Talvez seja um pessimismo da minha parte dizer que um vinho seja inalcançável para mim, mas a impressão é essa para mim, quando olho alguns rótulos e um exemplo eram os vinhos artesanais.

Sempre vi alguns especialistas eufóricos falar dos vinhos artesanais, caseiros mesmo, naturais, biodinâmicos, entre outros e eu sempre pensei: Nossa nunca terei acesso a esses vinhos, parece ser difícil encontra-los, de tê-los em minha adega, devem ser caros demais!

Como deve ser bom degustar um vinho de pequeno produtor, que produz vinhos em baixa escala. Que legal deve ser valorizar os pequenos produtores que ajudam e muito a alavancar a nossa cultura vitivinífera e que geralmente são esses pequenos produtores, esses produtores de vinhos artesanais que personificam a história vinífera do Brasil com os imigrantes italianos e portugueses, que são os pilares, o sustentáculo de nossa ainda nova indústria do vinho.

E o rótulo, especial, de hoje é um vinho artesanal que descobri da forma mais despretensiosa do mundo! Estava eu navegando pelas redes sociais, sem nenhum tipo de pretensão, olhando as publicações de forma aleatória sem a pretensão de achar nada e vi uma publicação de um produtor artesanal expondo o seu rótulo da casta Merlot e aquilo me fez parar e olhar com mais atenção.

Olhei de cara que era um vinho artesanal, que estava estampado no rótulo, e que vinha de uma cidade chamada Serra Negra, em São Paulo. Aquilo já me contaminou de interesse incontido! Mas esbarrei em uma questão: onde comprar? Comentei na publicação sobre detalhes do vinho e também perguntei onde poderia compra-lo e com um link de site eu tive a resposta: Pemarcano Vinhos.

Logo acessei o site, mas com aquele sentimento de incredulidade, pensando em encontrar valores demasiadamente altos, mas acessei mesmo assim. Lá estava o vinho e pasme, ele custava R$ 35,00! Não acreditei, não esperava que fosse encontrar um vinho artesanal por esse preço. Há sim vinhos artesanais com esse valor. Depois fui descobrindo, emaranhando nos vinhos da região de São Paulo, do interior desse estado, e descobri que há várias adegas artesanais e pequenas que produzem e vendem seus vinhos artesanais e coloniais a preços muito competitivos.

Então vamos às apresentações: O vinho que eu degustei e gostei veio do Brasil, da região de Serra Negra, São Paulo, e se chama Família Silotto da casta Merlot e a safra é 2019. O vinho é muito bem feito, saboroso, como um Merlot brasileiro tem de ser e faz com se desaba quaisquer preconceitos que possa existir com os vinhos artesanais e este rótulo é um grande representante desta quebra de paradigma. Mas antes de falar do vinho falemos um pouco da região de Serra Negra e também da breve história do Brasil vitivinícola que nos ajudará e muito a entender o conceito do vinho artesanal.

Serra Negra, o circuito das águas.

Encravada na Serra da Mantiqueira a 150 quilometros da capital, em uma região de 927 metros de altitude com picos de até 1.300metros está localizada a Estância Turística Hidromineral de Serra Negra.

A cidade é cercada por montanhas da Serra da Mantiqueira, a vegetação é exuberante, compondo um cenário de extraordinária beleza natural. Em meio ao Circuito das Águas Paulista, Serra Negra possui um ambiente seguro e agradável. Aqui a tranquilidade e qualidade de vida estão presentes por meio da boa estrutura turística.

Serra Negra

A cidade possui uma das maiores redes hoteleiras da região do Circuito das Águas Paulista e por isso pode abrigar milhares de pessoas que fazem a população de visitantes aumentar durante as férias e feriados oferecendo total comodidade e conforto.

Além da exuberante riqueza natural, a cidade possui diversidade e amplos tesouros culturais, como a produção rural e a produção artesanal de queijos e bebidas.

Quem procura uma experiência única a Rota do Café, do Queijo e do Vinho excelente e rica opção de passeio. São 8 km de extensão, a estrada leva os visitantes para conhecer as delícias tradicionais e artesanais produzidas na cidade. Cada sítio é especializado em um produto, seja ele café, queijos ou vinhos.

Serra Negra vista de cima

Breve história do Brasil vitivinícola e o conceito de vinho artesanal

O Brasil foi descoberto pelos Portugueses em 1500, e em 1532 Martim Afonso de Souza chegou com as primeiras mudas de videiras vitis viníferas que foram plantadas na Capitania de São Vicente, porém sem sucesso em função do clima e do solo. Mas Brás Cubas membro da expedição de Martim Afonso de Souza transfere as plantações do litoral para o Planalto Atlântico e em 1551 consegue elaborar o primeiro vinho brasileiro, mas sem muito sucesso, sua iniciativa não teve sequência devido as condições de solo e clima não serem adequados ao cultivo das videiras.

Em 1626 os Jesuítas chegaram à região das Missões e impulsionam a vitivinicultura no Sul do Brasil. O Padre Roque Gonzales de Santa Cruz recebeu os créditos pela introdução das videiras no Rio Grande do Sul, com ajuda dos Índios foi elaborado vinho utilizado nas celebrações religiosas.

Em 1640 foi promovida a primeira degustação no Brasil. A intenção foi de melhorar os vinhos comercializados no país. Em 1732, os Portugueses da Região do Açores, povoaram o litoral do Rio Grande do Sul e formaram-se colônias em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, plantaram mudas de videira provenientes do Açores e da Ilha da Madeira, mas as plantações não se desenvolveram adequadamente.

Em 1789 a corte portuguesa percebeu o grande interesse do Brasil pela vinicultura e proibiu o cultivo de uva no país, como forma de proteger a sua produção em Portugal. A medida inibiu a comercialização da bebida nas colônias e restringiu a atividade ao âmbito familiar.

Em 1808, quando da transferência da coroa portuguesa para o Brasil é derrubada à proibição ao cultivo da uva e são estimulados os hábitos no entorno do vinho, inclusive degusta-lo junto às refeições, encontros sociais e festas nas comunidades religiosas.

Em 1817, os gaúchos são considerados pioneiros na vinicultura e esse pioneirismo se materializa no lendário Manoel Macedo, produtor da cidade de Rio Pardo, até o ano de 1835 todo o vinho que produzia era documentado, em um dos anos ficou registrado a elaboração de 45 pipas, o que lhe rendeu a primeira carta patente para a produção da bebida no país.

Em 1824 tem início a colonização alemã e os mesmos tinham muito interesse em vinhos. Na mesma época o italiano João Batista Orsi se estabelece na Serra Gaúcha e recebe de Dom Pedro I a concessão para o cultivo de uvas europeias, torna-se um dos precursores do ramo na região.

Em 1840 pelas mãos do inglês Thomas Messiter, são introduzidas no Rio Grande do Sul as uvas Vitis Lambrusca e vitis Bourquina, de origem americana que são mais resistentes a doenças. Inicialmente foram plantadas na Ilha dos Marinheiros, na lagoa dos Patos e logo se espalharam pelo Estado.

Em 1860 a uva Isabel, uma das variedades americanas introduzidas no Rio Grande do Sul, ganha rapidamente a simpatia dos agricultores. Há registros de que, por volta de 1860 a uva Isabel formava vinhedos nas cidades de Pelotas, Viamão, Gravataí, Montenegro e municípios do Vale dos Sinos.

Em 1875 ocorre o grande salto na produção nacional de vinhos em função da chegada em massa dos imigrantes italianos, pois, trouxeram de sua terra natal o conhecimento técnico de elaboração dos vinhos e a cultura do consumo, os italianos elevaram a qualidade da bebida e conferem importância econômica à atividade.

Em 1881 foi elaborado 500 mil litros de vinho na cidade de Garibaldi no Rio Grande do Sul, este número consta em um relatório feito em 1883 pelo cônsul da Itália, Enrico Perrod, após sua visita à região. Em 1928 é criado o Sindicato do Vinho, essa iniciativa foi articulada por Oswaldo Aranha, então secretário estadual do Governador Getúlio Vargas.

Em 1929 o associativismo é adotado pelos agricultores e em um período de 10 anos, 26 cooperativas são fundadas, algumas como a Cooperativa Garibaldi atuam até hoje. O modelo da competitividade entre os pequenos produtores os direciona a uma situação de equilíbrio, tal equilíbrio é alcançado na década seguinte.

Em 1951 a vinícola Georges Aubert é transferida da França para o Brasil e marca o início de um novo ciclo. O interesse de empresas estrangeiras no país se consolida na década de 70 e trouxe novas técnicas para os vinhedos e para as cantinas, além de ampliar as áreas de cultivo da uva.

Em 1990 temos as vinícolas melhoradas, pois ao longo da década de 80 os vinhedos passaram por uma tremenda reconversão, e à partir da abertura econômica do Brasil a produção de vinho ganha impulso. O acesso a diferentes estilos de vinhos e a concorrência com os importados levaram os produtores a melhorar a qualidade.

Em 2002 a vitivinicultura está consolidada em diferentes regiões, do Sul ao Nordeste do país, cada zona produtiva investe no desenvolvimento de uma identidade própria. O pioneiro é o Vale dos Vinhedos, que conquista a Indicação de Procedência em 2002.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, mas com brilhantes reflexos violáceos, com lágrimas finas que marcam no bojo do copo e em razoável intensidade.

No nariz se destacam os aromas frutados, frutas vermelhas e pretas maduras, tais como framboesa, ameixa, amora, morango, as notas amadeiradas se destacam também, mas em sinergia com a fruta e um delicado e agradável toque floral.

Na boca é leve, redondo, equilibrado, a madeira se destaca também no paladar, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, a fruta também está em evidência, a acidez é equilibrada e dita o frescor do vinho, com taninos aveludados e um final curto.

Mais um sonho atingido com êxito! Sempre quis degustar um vinho artesanal! Esse longa distância se encurtou com o esforço, o interesse que, mesmo diante de olhar pessimista que nutri, ele veio de forma despretensiosa, de uma formal atípica, mas que construí com base no interesse que sempre pautou a minha enofilia. A história desse rótulo, da Família Silotto é a personificação da rica, da prolífica história do Brasil dos imigrantes, do Brasil sofrido, de seu povo batalhador que, em um intercâmbio histórico, edificou a sua história vinífera. Degustar o Família Silotto Merlot é como se estivéssemos degustando a história do Brasil e seus desdobramentos vínicos, mas com os pés calcados no presente, vislumbrando um olhar no futuro. Há sim lugar para os vinhos artesanais, para os vinhos produzidos por pequenos produtores que, apesar de pequenos, são gigantes para a construção de uma indústria do vinho em ascensão. Família Silotto Merlot traz as frutas maduras no aroma e no paladar, traz as notas amadeiradas, com taninos maduros, mas domados, traz personalidade, traz história de um povo que sabe sim fazer vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Silotto:

A História da família Silotto em Serra Negra começou quando o italiano da região de Treviso, Pietro Silotto, comprou suas terras no bairro das Três Barras, pois achou muita semelhança com as terras da Itália.

Neste bairro se iniciou a cidade de Serra Negra (O bairro das Três Barras seria inicialmente o centro de Serra Negra, porém pela região extremamente montanhosa, subiram a serra até chegar a um local mais plano, onde é o centro atual).

Veio acompanhado de seus irmãos, Fortunato, Ângela e Henrique. Aqui construiu sua família com treze filhos, dez homens (Basílio, Ermínio, José, Olívio, Quinto, Atílio, aqui todos lavoravam. Cada filho criou sua família, sempre juntos morando na casa acima construída em 1934 por Pietro Silotto. Já mais velho resolveu dividir suas terras entre seus filhos, sendo assim, cada um teve seu sítio e sua casa. Continuou aqui onde tudo começou Quinto Silotto, seu 5º filho.

Família Silotto

Pietro viveu aqui até o final de seus dias, deixando a sede para Quinto Silotto. Quinto também trabalhou muito, teve dez filhos, sete mulheres (Nera, Maria Inês, Dalva, Maria Alice, Elza, Julietta, Bertina) e três homens (Décio, mais conhecido como Neno, Alfeu e José Carlos);

Dois de seus filhos começaram a trabalhar na lavora com sete anos e continuam até os dias de hoje. Cuidam das terras com muito amor, pois foi esse amor que veio desde o começo.

Aqui cuidam da videira centenária plantada por Pietro Silotto, do cultivo da cana e do café e da produção de bebidas artesanais, com a mesma tradição e dedicação de seus antepassados. Tudo isso com muito suor e orgulho.


Mais informações acesse:


Referências:

“Clube do Vinho Artesanal”: https://clubedovinhoartesanal.com.br/vinho-caseiro

“Em algum lugar do mundo”: https://emalgumlugardomundo.com.br/o-que-fazer-em-serra-negra/