Estágio:
36 meses em barricas de carvalho francês e americano, além de 3 anos em garrafa
antes de sair da vinícola.
Análise:
Visual:
revela um rubi, ainda intenso, apesar dos seus doze anos de vida, mas já com
evidentes atijolados, com profusão de lágrimas finas e lentas.
Nariz:
é complexo e traz aromas de frutas vermelhas e pretas maduras, quase em
compota, arrisco também frutas secas. As notas amadeiradas são evidentes, mas
muito bem integrado ao conjunto do vinho. E a madeira traz o aporte de
chocolate, coco queimado, cacau, carvalho. As especiarias entregam algo
picante, talvez pimenta preta. As notas terrosas, de terra molhada são
perceptíveis, o couro, caixa de charuto e tabaco.
Boca:
traz boa estrutura e complexidade, porém o tempo lhe conferiu maciez e
elegância. A madeira, igualmente percebida, como no aspecto olfativo, entrega o
carvalho, chocolate, baunilha. Tem bom volume de boca, mostrando personalidade,
taninos ainda presentes, mas polidos pelo tempo de garrafa, acidez com alguma
proeminência e um final longo, cheio e persistente.
Estágio:
36 meses em barricas de carvalho americanas e francesas.
Análise:
Visual:
nítida coloração granada, os traços acastanhados denunciam seus doze anos de
garrafa, com lágrimas finas, lentas e em abundância.
Nariz:
os aromas terciários já dominam os aromas entregando couro, frutas vermelhas e
negras em compota, algo também de frutas secas, especiarias como pimenta,
alcaçuz. O couro também é sentido, a madeira vivamente, mas não desequilibra,
mantendo-se integrado.
Boca:
é macio, elegante, complexo. As notas frutadas são replicadas no paladar, as
notas amadeiradas idem, mas, como no aspecto olfativo, se equilibram com as
notas frutadas. Percebe-se baunilha, cacau, chocolate, mentol, leve e discreta
tosta, taninos macios, domados e acidez média. Final cheio e persistente.
Casta:
Tempranillo (86%) e Cabernet Sauvignon (14%)
Safra:
2012
Região:
Catalunha
País:
Espanha
Produtor:
Vinícola Torres
Teor
Alcoólico: 13,5%
Adquirido:
Supermercado Extra (Grupo Pão de Açúcar)
Valor:
R$ 30,00 (Em promoção - Valor normal: R$ 65,90)
Estágio:
9 meses em barricas de carvalho francês e americano
Análise:
Visual:
revela um rubi de média intensidade, com halos granadas, quase um atijolado,
denotando o tempo de garrafa, com lágrimas finas e lentas em profusão.
Nariz:
entrega aromas de frutas negras e vermelhas maduras, quase em compota, além de
notas florais, de especiarias, algo especiado, além de terra molhada e couro,
com discreto carvalho.
Boca:
é correto e ainda consistente, apesar do tempo de garrafa, mas macio e
elegante, confirmando as notas frutadas, taninos médios, acidez média e um
final persistente.
Visual:
um rubi vivo e intenso, com halos violáceos com muito brilho, apesar dos seus
12 anos de garrafa, viscoso, além de lágrimas grossas, lentas e em profusão.
Nariz:
notas de frutas negras maduras, bem como frutas secas, já denotando a sua
idade, com destaque para ameixas pretas, com evidencia do carvalho, mas bem
integrado, que aporta tabaco, couro, chocolate amargo e terra molhada.
Boca:
é macio, sedoso e sedutor, em virtude de seus doze anos de garrafa, mas
revela-se ainda estruturado e com personalidade. As notas frutadas são
evidentes, bem como o carvalho que entrega baunilha, chocolate, torrefação, com
taninos domados, mas marcados, acidez baixa e final cheio, longo.
Não existe aquele ditado popular que diz: “Um raio não cai
duas vezes no mesmo lugar”. Olha que, segundo especialistas, um raio não só
pode cair em um mesmo lugar duas vezes como muitas e muitas vezes e eu acho,
melhor, tenho certeza que essa questão, com metáforas à parte, pode se aplicar
ao universo do vinho! O que quero dizer com isso?
Simples! Um vinho pode sim ser degustado várias outras vezes!
Aquele vinho de mesmo rótulo, porém de safras diferentes ou de mesmo rótulo e
também de safras iguais. Aprendi, com um conhecido especialista e jornalista do
vinho, chamado Didu Russo, que podemos comprar o mesmo vinho, da mesma safra,
degustar um de forma imediata e deixar o outro guardado por alguns anos e fazer
as devidas comparações entre eles.
Mas confesso que essa máxima cairá hoje por terra e a
ansiedade é a resposta para isso. E o rótulo em questão é o da linha “Núbio” da
Vinícola Sanjo, de São Joaquim, em Santa Catarina. Mais precisamente do
Cabernet Sauvignon da safra 2012.
Tive o prazer e a alegria de ter degustado o Núbio Cabernet Sauvignon 2012 no último réveillon de 2022 para 2023 em companhia mais do que
recomendada de um churrasco com aquela carne sangrando. Nada melhor que
harmonizar um belo Cabernet Sauvignon com um churrasco.
A intenção era guardar uma nova garrafa que adquiri, em uma
bagatela de R$ 55 (pasme) para um vinho de guarda e decidi degustar a que já
possuía em adega e deixar a outra guardada por mais cinco anos para fazer as
comparações, mas não consegui!
Que seja! O degustarei certamente no auge, em seu melhor
momento como foi a primeira. Onze anos, onze longos anos, guardado, evoluindo
enquanto tantas e tantas mudanças em nossa sociedade acontece!
E ainda temos pessoas aqui no Brasil que rejeitam os rótulos
tupiniquins que são concebidos com a cepa, a rainha das castas tintas, a
Cabernet Sauvignon. Ela vem ganhando tipicidade, a cara dos nossos terroirs,
com mais frescor, mais frutas e não tão calcado na estrutura como os produzidos
no Chile, por exemplo.
Então sem mais delongas, vamos a já sabida apresentação do
vinho que, mais uma vez degustei e gostei que veio da região fria de São
Joaquim, de Santa Catarina, que se se chama Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da
safra 2012. Para não perder o costume também, vamos de história, vamos de história
de São Joaquim.
São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil
A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas
em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio
Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como
marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes
italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha.
Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos
imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a
cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura
catarinense que conhecida atualmente.
Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas,
mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do
consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes
italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do
vinho em seu ritual à mesa.
Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras
que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo
que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na
Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel,
mais resistentes a pragas e ao clima tropical.
Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos
do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX,
italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da
mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do
vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem
americana e híbrida.
Apenas na década de 1970, com a criação em Santa Catarina do
PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande
incentivo para o plantio de castas europeias.
Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo
uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias,
representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o
cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950
metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da
região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as
da variedade vitis viníferas.
A partir de estudos visando o desenvolvimento da
vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e
de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período,
a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características
geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se
considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as
modernas instalações produtivas.
Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da
fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de
italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para
o planalto.
O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas
experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos
que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari
Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma
propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.
Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma
propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas
finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a
construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o
centro de visitações.
O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um
grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria,
sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São
Joaquim.
Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes
que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais
baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas.
Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca
para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além
de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São
Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema
e Bom Retiro.
Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim,
observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de
desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e
diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas,
estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.
Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo
de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação
entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e
propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o
diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a
importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude,
confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.
Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense
Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação
Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da
espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho
licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG
foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de
junho de 2020.
A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina
abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense:
Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro,
Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos,
Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto,
Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito,
Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.
Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área
cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola
de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos
da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos
brasileiros.
A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas
regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas,
preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a
expressão plena da genética de cada variedade de uva.
Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao
elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas. São vinhos com uma excelente expressão de
sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.
Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades
finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon,
Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot,
Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot,
Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla,
Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e
Vermentino.
Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de
Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem
ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de
condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a
produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.
Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação
definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na
área delimitada pelos municípios integrantes da IP.
Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios
da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às
cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas
pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP;
controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle
para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.
Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação
definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na
área delimitada pelos municípios integrantes da IP.
Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios
da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às
cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas
pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP;
controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle
para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um atraente rubi intenso, escuro, com tons
granada, denotando seus onze anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em
profusão.
No nariz traz aromas delicados, elegantes, mas complexos,
intensos de frutas vermelhas e pretas compotadas, quase que em calda, uma
geleia, com notas amadeiradas, entregando um balsâmico instigante, um cedro,
algo como madeira de móvel antigo, caramelo, defumado, terra molhada e tosta,
além de um herbáceo e discreto pimentão.
Na boca é estruturado e complexo, com uma incrível pureza da
fruta, algo de vinoso, diria. É volumoso, cheio, quente, alcoólico, mas sedoso,
elegante e macio, fácil de degustar, graças aos seus onze anos de garrafa, o
tempo lhe foi gentil, evoluindo muito bem. É amadeirado, um carvalho bem
integrado, graças aos 50% do lote que passou 12 meses em barricas. Entrega,
além da madeira, caramelo, chocolate, terra molhada, baunilha, café, com
taninos ainda vivos, mas domados pelo tempo, com uma acidez média, corroborando
sua boa evolução. Tem um final persistente.
Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo
Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos onze anos de vida, teria muitos anos
pela frente e a evoluir fantasticamente. E não é especial apenas por isso, mas
por ser oriundo de regiões frias e a Cabernet Sauvignon precisa ser cultivada
em climas quentes, então são poucas as safras, são poucos os anos cujos rótulos
são concebidos. Para se ter uma noção da dimensão disso e do quão especial é
degustar esse vinho, é de que a safra de 2012 é a mais atual dessa linha de
rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:
Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria
imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de
Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em
qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil
toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.
No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala
e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o
país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a
categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em
sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.
A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à
qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência
italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a
investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude,
contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra
Catarinense.
São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot,
Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de
produção de uvas para a elaboração de vinhos.
Olha que eu gosto todo particular do jeito dos
norte-americanos fazer os seus vinhos! Os poucos rótulos que tive a alegria de
degustar tiveram um impacto consistente em minha enófila vida. Que fique muito
claro, porém, que existem vinhos ruins, bons e ótimos em qualquer lugar do
mundo e nos Estados Unidos não seria diferente, mas, até o momento em que
redigo esse texto, só tive boas experiências com os vinhos da terra do Tio Sam.
E claro que a casta que me apresentou os vinhos dos Estados
Unidos foi a Zinfandel que nada mais é do que a famosa Primitivo na Itália.
Lembro-me de ter degustado um rótulo, pela primeira vez, da Zinfandel no natal,
harmonizando magistralmente com as diversas e saborosas comidas natalinas.
Lembro-me de ter degustado outro Zinfandel quando recebi um amigo de longa data
em minha casa e foi um sucesso!
Os poucos rótulos dos Estados que degustei sempre esteve
atrelado a bons e inesquecíveis momentos, propiciando, ajudando, incrementando
os bons e prazerosos momentos de alegria e congraçamento.
Mas nunca foi fácil ter acesso aos rótulos norte-americanos.
Os valores sempre foram altos e as opções pouco variadas, sobretudo naquelas
famosas “camadas” de valores, que nos ajudam a escolher ou ter, como falei, o
mínimo acesso aos rótulos da Califórnia, Nappa Valley entre outros.
Evidentemente que o cenário de hoje está melhor que há 10, 15
anos atrás, com um leque maior de opções, graças também a maior competitividade
entre os inúmeros e-commerces de
vinhos disponíveis na grande rede.
O que chama a atenção dos rótulos dos Estados Unidos, pelo
menos os poucos que degustei, é a corpulência, a intensidade em frutas e em
alguns casos de madeira, alcoólicos, enfim, trata-se de um nicho que tenho
apreciado nos últimos tempos e precisava, preciso, na realidade, voltar a
degustar os vinhos dos norte-americanos.
E esse momento finalmente chegou! E pasmem foi um achado!
Logo o principal entrave que era o alto valor, não se tornou um empecilho na
compra dessa minha nova degustação: Esteve na faixa dos R$ 78,00! E detalhe
importante, da safra 2012! Um vinho no auge dos seus onze anos de vida e está
literalmente no auge de sua plenitude, incrivelmente!
O vinho que degustei e gostei veio da região de Napa Valley,
na Califórnia e se chama Califortune, um 100% Merlot da safra 2012. E teremos,
para variar, mais uma novidade: será minha primeira experiência com a famosa
casta Merlot. O momento único de minha vida enófila: uma degustação
norte-americana de uma de minhas cepas preferidas, a Merlot.
Então não podemos deixar de falar de Napa Valley que
certamente, entre as regiões do Novo Mundo, é uma das mais famosas e prolíficas
do universo do vinho.
Califórnia
Os Estados Unidos ocupam a quarta posição no ranking dos
países que mais produzem vinho no mundo, ficando atrás apenas da França, Itália
e Espanha. Cerca de 90% dos vinhos provenientes do País são produzidos na
Califórnia, onde a vitivinicultura foi iniciada no século 18, mais precisamente
em San Diego, por missionários franciscanos. A primeira variedade de uva a ser
cultivada foi a Mission, originária da Espanha, onde é chamada de Misión.
Califórnia fica na costa, fazendo divisa com outros três
estados americanos e o México. A região tem paisagem diversificada, contendo
praias, montanhas, desertos e vales. Essa variedade de relevos faz com que cada
microrregião tenha um cultivo específico de uva.
Califórnia
A Califórnia possui diversas particularidades territoriais. É
um estado costeiro, com inúmeras praias e também possui montanhas, desertos e
vales. O clima predominante é o mediterrâneo, com muito sol, noites mais
frescas e chuvas em épocas bem definidas. O verão é seco e o inverno chuvoso.
Porém, a maioria de suas regiões vinícolas possui
características muito particulares em relação ao solo e clima, propiciando
diferentes terroirs, o que beneficia o cultivo de uma ampla variedade de uvas.
As regiões californianas mais importantes são Napa Valley e
Sonoma Valley, seguidas por Mendoncino e Lake Counties, situadas em direção
norte a partir da cidade de São Francisco.
Napa é conhecida mundialmente pela qualidade de seus vinhos.
Ali se encontram mais de 500 vinícolas, tornando-a a mais densa região vinícola
do mundo! Várias delas realizam trabalhos reconhecidos de enologia, produzindo
vinhos ícones de prestígio mundial. O território de Napa é estreito, ladeado
por colinas vulcânicas baixas.
Napa Valley responde por 20% dos valores comercializados da
Califórnia, apesar de sua produção girar em torno de apenas 4%. Os 90% do vinho
americano, situados na Califórnia, concentra-se neste estado da costa oeste.
Napa Valley é uma das áreas nobres da Califórnia, muito bem
situada em termos de clima e solos. Se há um lugar no mundo onde a Cabernet
Sauvignon, por exemplo, possa fazer frente ao terroir sagrado do Médoc (a
chamada margem esquerda de Bordeaux), esse lugar é Napa Valley, especificamente
em comunas famosas como Rutherford, Oakville e Stag´s Leap.
As contíguas AVAs (Área Viticultural Americana) desde Santa
Helena a norte até Stag´s Leap mais ao sul, funcionam como as famosas comunas
do Medóc (Pauillac, St Julien, St Estèphe e Margaux). Neste local, os vinhedos
desenvolvem-se entre as cadeias de montanhas Mayacamas a oeste e Vaca Range, a
leste.
O clima tende a ser mais quente ao norte, próximo a
Calistoga, e mais frio ao sul, próximo à cidade de Napa. Os nevoeiros frios
pelas manhãs entram pelo sul através da baía de San Pablo e vão perdendo força,
à medida que caminham para o norte.
Os solos do Napa são extremamente complexos e diversificados.
São de origem vulcânica, sedimentar e também aluvial. Argila, areia, pedras e
marga são seus principais componentes. Em linhas gerais, no fundo do vale,
próximo ao rio Napa, os solos são aluviais, argilosos e relativamente
profundos. Já os solos nas encostas, são mais diversificados, mais pedregosos,
pobres e pouco profundos.
As castas
Cerca de 100 tipos de uvas são cultivadas na Califórnia, como
Pinot Noir, Merlot e Chardonnay, mas os destaques são a Cabernet Sauvignon e a
Zinfandel. Originária da região de Bordeaux, na França, e considerada por
muitos como a “Rainha das uvas tintas”, a Cabernet Sauvignon é o “carro-chefe”
da região. Já a Zinfandel é cultivada no estado desde a metade do século 19 e
considerada patrimônio nacional, tal a sua importância.
A maior parte dos vinhos produzidos é classificada como de
mesa (graduação alcoólica de 10º a 13º), espumante (gaseificado) ou de
sobremesa (doce). A produção da bebida tem influência francesa, ao estilo Bordeaux,
de extrema qualidade.
Depois da França, os melhores rótulos de Cabernet Sauvignon
estão na Califórnia: são vinhos tintos encorpados. Com a Zinfandel, é possível
produzir vinhos com uma gama de características e podem ser encorpados ou de
médio corpo, secos ou doces, de fácil degustação ou robustos, entre outros
perfis.
A variedade de uva branca dominante é a Chardonnay, quase um
ícone dos vinhos americanos, mas vale citar a presença da White Zinfandel, que
produz vinhos leves e simples.
Principais regiões da Califórnia
Napa Valley: Possui a maior concentração de vinícolas e é a
mais rica, reconhecida pelos seus vinhos de alta qualidade. Ela é a região
preferida dos turistas. Fica localizada perto de grandes cidades como São
Francisco, Santa Bárbara e Los Angeles.
Sonoma Valley: Tem menos vinícolas e é mais rural que Napa,
conhecida pela variedade e a qualidade de seus produtos.
Agosto e setembro são os melhores meses para o enoturismo na
Califórnia, época da colheita das uvas e do clima mais agradável, com sol
durante o dia e noite mais fresca. Napa Valley, Sonoma, Mendocino, Santa Cruz,
Amador, San Luis Obispo, Lake, Monterey e Santa Bárbara são regiões que se
dedicam quase que exclusivamente à vitivinicultura.
Entretanto, há vinícolas em muitas outras regiões. Elas
geralmente abrem para o público entre 10 horas e 17 horas. Além da degustação,
que é paga, alguns produtores promovem tours – uns gratuitos, outros não – pelas
propriedades. Definitivamente a Califórnia é um case de sucesso da vitivinicultura do Novo Mundo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela as nuances de um vinho de onze anos em
garrafa, com rubi com intensidade, dominado pelo atijolado, pelo acastanhado,
com ainda uma boa profusão de lágrimas, grossas, lentas e coloridas.
No nariz não se percebe as notas frutadas tão eloquentemente,
o tempo encarregou-se de entregar notas de frutas secas, em compota, algo
também de frutos secos, como avelã, noz moscada e amêndoa. Algumas notas mais
rústicas como coco, terra molhada e couro estão evidentes, como uma discreta
madeira, graças aos dezoito meses que o vinho estagiou que entrega café, cacau.
Na boca é macio, com elegância, as frutas secas são sentidas,
como no aspecto olfativo, as notas amadeiradas são mais perceptíveis, com toques
balsâmicos, com destaque para café, madeira, algo de carvalho doce, especiarias
doces também. Os taninos ainda estão presentes, bem como o álcool, que trazem
personalidade ao vinho, porém domados e maduros a acidez discreta, quase inexiste.
Final de média persistência.
Apesar de apreciar o estilo de vinho “frutadão” e com muita
complexidade, aquele famoso vinho “bombadão” o Califortune Merlot,
principalmente pelo fato de já ser um vinho de idade, mostrou elegância,
maciez, aliado sim a complexidade. Um vinho que definitivamente ficará guardado
na minha mente e alma. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Grand Napa Vineyards:
Grand Napa Vineyards está localizado no coração de
Rutherford, perto do sopé do Monte. São João na Serra dos Mayacamas. Em 1838,
quando a Califórnia ainda fazia parte do México, 11.814 acres do Caymus Rancho
foram concedidos ao explorador George Yount pelo General Mariano G. Vallejo.
Um barracão de cowboys construído em 1888 ainda existe lá, e
nas proximidades Yount plantou as primeiras videiras de Napa. Após a morte de
Yount, o capitão Gustave Niebaum comprou algumas de suas propriedades e
estabeleceu a Inglenook Winery, a primeira vinícola do estilo Bordeaux nos EUA.
Seus Cabernets ganharam medalhas de ouro na Feira Mundial de
Paris em 1889, ano em que o mundo começou a notar os vinhos da Califórnia -
vinhos de Rutherford. E em 1939, os vinhos Rutherford ganharam o prêmio “Grand
Sweepstakes” da Golden Gate Exposition em San Francisco.
Sobre a West Coast Wine Group:
A visão da West Coast Wine Group é dedicada a produzir vinhos
da mais alta qualidade da Califórnia. Como amantes apaixonados do vinho, estão
obcecados com a ideia de criar vinhos excepcionais que sejam apreciados por
pessoas de todo o mundo. Com essa paixão e visão, fundaram a vinícola.
Desde o início, o fundador se comprometeu a usar apenas as
melhores uvas e as mais avançadas técnicas de vinificação para produzir vinhos
de qualidade excepcional. Ele trabalhou incansavelmente para aperfeiçoar a arte
da vinificação, e sua dedicação valeu a pena na forma de vinhos premiados que
rapidamente conquistaram seguidores.
Ao longo dos anos, o West Coast Wine Group tornou-se líder no
setor, mas o seu compromisso com a qualidade e a paixão pela produção de vinho
permaneceram inalterados. Continuam a usar as melhores uvas e técnicas
possíveis para criar vinhos incomparáveis em sabor e qualidade.
A obsessão pelo vinho da West Coast Wine Group é o que os
diferencia. Acreditam que um bom vinho é mais do que apenas uma bebida; é uma
experiência que deve ser saboreada e apreciada. É por isso que se esforçam ao
máximo para garantir que cada garrafa de vinho que produzem seja da mais alta
qualidade e elaborada com cuidado.
Muitas das marcas de vinho, de seus rótulos, são frutados,
fáceis de beber e amigos da comida – perfeitas para as celebrações do
dia-a-dia. Oferecem uma ampla variedade de vinhos, cada um possuindo seu
próprio caráter e textura únicos.
A vinícola está localizada em Napa, Califórnia, no coração do
famoso Napa Valley Wine Country. Os pilares de seu portfólio são as variedades
Cabernet Sauvignon, Old Vine Zinfandel e Merlot.
Costumo dizer, até de forma demasiada, de que Portugal, mesmo
que tão pequeno, em dimensões territoriais, é significativo e gigante em seus
diversificados terroirs, é um universo inexplorado e maravilhoso, ainda há
muito a se degustar, muitas regiões a se descobrir e vinhos nas suas mais
propostas. Por isso que é impossível alguém, um digno enófilo que seja que não
aprecie os vinhos lusitanos.
E por sorte o Brasil é um grande consumidor dos rótulos
portugueses, somos ávidos apreciadores dos vinhos lusitanos. Nosso mercado é
repleto de rótulos do Alentejo, da Região dos Vinhos Verdes, do Douro, Do
Porto, entre outros. Esses são uma das mais representativas, em termos de
quantidade, regiões que encontramos sendo ofertados no Brasil.
Mas temos visto, mesmo que timidamente, algumas regiões,
pouco badaladas, dando o ar da graça em nossas terras, mesmo que em seu país de
origem gozem de extrema tradição. Falo da região do Trás-os-Montes!
Eu descobri, de forma quase que despretensiosa, em um evento
de degustação de vinhos, em minha cidade, Niterói. Era 2017 e o evento, que se
chamava “Festival de Vinhos do Supermercado Real”, era promovido por uma famosa
rede de supermercados, claro, da cidade e que tinham muitos rótulos, variados,
de inúmeros países.
Já no final do evento, todos indo embora e os rótulos
disponíveis para degustação, estavam escasseando, eu avistei um pequeno e
tímido estande, com poucas garrafas e algo me chamou a atenção para ir até lá,
talvez pelo fato da simplicidade do estande e das poucas garrafas disponíveis.
E avistei alguns rótulos que estampavam o “Trás-os-Montes”.
Eu não conhecia e o demonstrador, muito atencioso, me disse que os vinhos eram
da região portuguesa de Trás-os-Montes. Eu não conhecia a região, mas evidente
que conhecia os vinhos portugueses. E bastou para ganhar o meu interesse.
Os vinhos eram da Encostas do Trogão e lá tinha a versão
“branco”, tinto de entrada e o reserva. Degustei o branco e foi maravilhoso!
Degustei os tintos e o reserva me chamou a atenção pela intensidade, personalidade
e robustez, mesmo se tratando de um rótulo da safra 2011, tida como uma das
mais emblemáticas em todas as regiões portuguesas.
Pena que no evento os vinhos não estavam à venda, pois aquele
seria uma das minhas escolhas para aquisição, sem sombra de dúvida. Mas parte
do investimento no ingresso para participar do evento seria revertida para
compras de vinhos nos supermercados. Então ainda tinha uma expectativa de
encontrar o Encostas do Trogão nas gôndolas e não é que no dia da minha ida eu
encontrei? A safra de 2011! Então degustei o Encostas do Trogão Reserva 2011.
Que vinho excepcional!
Encostas do Trogão Reserva 2011
Então decidi que degustaria um novo rótulo de Trás-os-Montes!
Não poderia parar no Encostas do Trogão de maneira nenhuma! Era preciso, claro,
garimpar, buscar avidamente, afinal, não são muitos os rótulos dessa região
ofertados por aí. E encontrei! E melhor: encontrei um rótulo da safra 2012! Com
11 anos de garrafa! O que podemos esperar? O valor estava atraente, na faixa
dos R$80! Não hesitei e comprei!
Mas decidi que não levaria muito tempo para degusta-lo! A
ansiedade era maior e depois de algumas pesquisas que fiz sobre o vinho, para
buscar referências sobre, eu descobri um vídeo do “Vinhos de Bicicleta”, um
famoso influenciador e vendedor de vinhos que falava sobre a região de
Trás-os-Montes e usava, adivinhem, um rótulo para ilustrar a região. Exatamente
o mesmo que eu havia comprado.
Então sem mais conversas, vamos ao que interessa, vamos às
apresentações do vinho: O vinho que degustei e gostei veio da região portuguesa
de Trás-os-Montes e se chama Ribeira do Corso Reserva composto pelas castas
Touriga Nacional e Syrah da safra 2012. Antes de detalhar as minhas impressões
do vinho falemos de Trás-os-Montes.
Trás-os-Montes
Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se
produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a
província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade
portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma
outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto
índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a
região há muito tempo.
Situada a Norte de Portugal a Região de Trás-os-Montes
revela-se por entre montes e pronunciados vales numa grande área de extensão.
Esta é uma Região única com características especiais. Em toda a região o
cenário muda rapidamente, entre exuberantes vales verdejantes, ou colinas
antigas cobertas por uma colcha de retalhos de bosques, ou olivais verde-cinza,
extensas vinhas verdes brilhantes, ou amendoeiras floridas e outras árvores de
fruto.
Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história,
sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições administrativas.
Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas fronteiras
territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou perda de
regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é formada
por três sub-regiões: Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês.
Na sub-região de Chaves a vinha é plantada nas encostas de
pequenos vales, onde correm os afluentes do rio Tâmega. A sub-região de
Valpaços é rica em recursos hídricos e situa-se numa zona de planalto. No
Planalto Mirandês é o rio Douro que influencia a viticultura.
Trás-os-Montes
O cultivo da vinha e a produção de vinho na Região de
Trás-os-Montes tem origem secular, estando esta intrinsecamente marcada nas
suas rochas, uma vez que por toda a região existem vários lagares cavados na
rocha de origem Romana e Pré-Romana. A existência de vinhas velhas com castas
centenárias marca também de uma forma muito peculiar a qualidade reconhecida
dos vinhos desta região.
As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e
rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como
amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar,
ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região, fazem
de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os amantes da
gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões mais ricas
em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico da serra
do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período
neo-eneolítico.
Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua
diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo,
etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante
acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas
plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se
apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto.
Trás-os-Montes tem clima com influência
mediterrânico-continental, com áreas de muito frio nas partes mais altas e
outras mais quentes na região do Douro. A natureza privilegiada é fonte de
riqueza para a região: os recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo,
são utilizados para gerar energia elétrica e produzir água mineral.
Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir
três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO
Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes,
exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de
Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006
(Portaria n.º 1204/2006).
No que se refere aos vinhos com Identificação Geográfica
Transmontano, estes podem ser produzidos em toda a Região, sendo que a
Indicação Geográfica Transmontano (IG Transmontano), foi reconhecida a partir
de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1203/2006).
Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região
são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos
excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do
Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e
tradição.
Além de ter sido a primeira região regulamentada para
produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como
Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção,
50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho
do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a
denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto
os microclimas e solos da província.
O controle e a defesa da Denominação de Origem e Indicação
Geográfica são da responsabilidade da entidade certificadora “Comissão
Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes” esta tem por objetivo, proteger e
garantir a qualidade e genuinidade dos vinhos de qualidade produzidos na região
de Trás-os-Montes.
Constituída em 1997 a CVRTM, viria ajudar a impulsionar o
desenvolvimento da região, e a levar mais alto, aquém e além-fronteiras, os
vinhos Transmontanos. Tendo iniciado a sua atividade com apenas um agente
económico, esta entidade conta já com 62 associados, que contribuíram para o
renascimento da região e para o incremento de qualidade dos seus vinhos, sendo
que a sua atividade resulta num volume anual de litros certificados de
aproximadamente 3 milhões.
Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras
diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa
característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto,
pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes
são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e
Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga
Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os
vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.
No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de
Trás-os-Montes, para além da diversidade existente podem ser referidos alguns
traços comuns a todos os vinhos, os vinhos brancos apresentam equilíbrio
aromático com grande intensidade de aromas frutados e leves florais, na boca
revelam uma acidez correta não sendo excessivamente pronunciada.
No caso dos vinhos tintos, são vinhos com uma intensidade
corante muito consistente e elevada, aromaticamente muito frutados, na boca
relevam-se estruturados, e apesar dos teores alcoólicos normalmente elevados
verifica-se uma acidez fixa correta, tornando-se vinhos robustos, mas
agradáveis e muito equilibrados.
E agora finalmente o vinho!
Na taça traz um rubi profundo, escuro, com halos granada, já
denotando os seus 11 anos de idade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.
No nariz revela a sua complexidade com aromas de frutas
pretas bem maduras são sentidas, bem como frutas secas, com destaque para
ameixa seca e avelãs. Toques vibrantes de rusticidade também são percebidos,
tais como couro, tabaco, mentolado, carpete, estrebaria e discretas notas
florais.
Na boca é seco apresentando também aquela complexidade, de um
vinho equilibrado, que entrega elegância, maciez, mas personalidade,
austeridade, afinal o tempo lhe foi gentil. Preenche a boca por ser alcoólico,
frutado e um discreto residual de açúcar que lembra mel. Tem taninos marcados,
porém domados e redondos, com uma incrível acidez, vívida e salivante, com
notas de especiarias picantes, uma leve picância que remete a pimenta preta.
Tem um final de média persistência.
O “Barolo Português”! Assim chamou o Rodrigo Ferraz, do “Vinhos
de Bicicleta” sobre os tintos de Trás-os-Montes. Se é um exagero de comerciante
eu não sei dizer. Mas em seu vídeo, que está disponível nesta resenha, ele faz
uma completa e detalhada, sob o aspecto do clima e geologia, correlação das
regiões de Barolo, no Piemonte, bem como a de Trás-os-Montes e definitivamente
traz uma incrível consistência em sua fala. Consistente é este belíssimo vinho
no auge dos seus 11 anos de vida! E que evolução estupenda, ainda vivo, pleno,
mas elegante e macio. A complexidade é a tônica deste rótulo. Que venham muitos
e muitos trasmontanos para a minha reles e humilde adega. Tem 14% de teor
alcoólico.
Sobre a Adega Cooperativa Ribadouro:
A Cooperativa Ribadouro situa-se no Nordeste de Portugal, na
região de Trás-os-Montes, fazendo fronteira com Espanha e produz vinhos tintos,
brancos e rosés encorpados. A região vitivinícola Trás-os-Montes situa-se perto
do Vale do Douro e da sua Região Demarcada, onde são produzidos os conhecidos “Vinhos
do Porto” e centrada na Vila de Miranda do Douro com três sub-regiões: Chaves,
Planalto Mirandês e Valpaços.
A região foi inicialmente considerada “Indicação de
Proveniência Regulamentada ” (Região IGP), mas em 2006, passou a ser
considerada como região “Denominação de Origem Controlada” (DOC). Os nossos
vinhos são produzidos na sub-região do Planalto Mirandês a partir das castas
locais: Bastardo, Guveito, Malvasia Fina, Mourisco Tinto, Rabo de Ovelha, Tinta
Amarela, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Viosinho.
A empresa começou a funcionar a 3 de Fevereiro de 1959. A
mensagem principal “para continuar a tradição…” expressa o nosso amor pelo
vinho e pelas tradições da região Norte de Portugal.
Produzem quatro rótulos de vinho – Pauliteiros, Mirandum,
Lhéngua Mirandesa IGP e Ribeira do Corso D OC. Cada nome de vinho tem sua
história e reflete nossas tradições nos nomes e no sabor do vinho.