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sábado, 30 de outubro de 2021

Adega de Monção tinto 2019

Mesmo degustando, há algum tempo, os gloriosos e agradáveis vinhos verdes da região lusitana de mesmo nome, ainda há lugar para gratas novidades para mim. Sou declaradamente um fã confesso dos frescos, joviais e leves vinhos verdes, afinal não há como não gostar do que eles entregam, pois são definitivamente a cara do que os enófilos brasileiros gostam, parece até carregar o DNA de nossas terras, embora algumas propostas mais complexas e barricadas estejam surgindo de forma exponencial por aí.

Mas não há como não gostar daquele verde leve, fresco, agradável, com boa acidez, despretensioso, saboroso etc. E quando você lembra ou fala dos vinhos verdes o que vem a mente? Alvarinho, Loureiro, a minha favorita, castas que elevam que personificam mundo afora, o conceito do vinho verde.

Mas eu falei de novidades, de gratas novidades! Então vamos a ela: Hoje degustarei um vinho verde tinto! Sim, um vinho verde tinto! Não é uma tarefa muito simples encontrar vinhos verdes tintos, haja vista que a proporção de verdes brancos e tintos é quase um absurdo: 85% para 15% apenas! O que é inacreditável! Então o momento chegou! E vou contar brevemente como esse rótulo chegou a minhas mãos!

Eu estava em um evento de degustação muito legal tendo como protagonista os vinhos verdes aqui no Rio de Janeiro chamado Vinho Verde Wine Experience 2020 e lá vi o estande dos vinhos da famosa e tradicional Adega de Monção. Como eu já conhecia alguns rótulos desse excelente produtor, um deles é o excepcional Muralhas de Monção que degustei algum tempo atrás, decidi conferir seus rótulos. 

Lá, além do próprio Muralhas de Monção, havia outros tantos rótulos desse produtor e vi o tinto deles e exclamei: Nunca degustei um tinto desse produtor! O representante da vinícola, vindo de Portugal, disse: “Então encherei a sua taça com prazer e vai gostar”, disse de forma acalentadora e simpática.

Fiquei animado e degustei: Uau! Que vinhaço! Intenso na sua acidez, essa era o seu destaque, além de um bom volume de boca, muito bom vinho e de, quando lá saí, falei taxativo: Se eu o encontrar irei comprar. Eu já tinha degustado um vinho verde tinto, mas foi há muito tempo, não tive uma memória afetiva dessa degustação, não sei dizer ao certo o motivo.

Enfim, quando em uma das minhas incursões nos supermercados da minha cidade, Niterói, observando atenciosamente aos rótulos nas gôndolas, qual foi o vinho que vi? Aquele mesmo vinho verde tinto que tinha degustado no evento. Ah não hesitei e comprei. Estava em um preço aceitável e levei. Estava animado para degusta-lo, agora toda a garrafa!

Sem delongas direi que o vinho que degustei e gostei que veio claro, da região dos Vinhos Verdes, mais precisamente das sub-regiões de Monção e Melgaço, em Portugal, e se chama Adega de Monção composto pelas regionais castas Alvarelhão (40%), Pedral (30%) e Vinhão (30%) e a safra é 2019. Pois é castas regionais, famosas na região dos Vinhos Verdes, mas não globalmente exceto talvez a Vinhão que é uma das mais conhecidas castas tintas para vinho verde. Então vamos, para não perder o costume, falar das sub-regiões Monção e Melgaço e de todas as castas que compõe esse belo vinho!

Monção e Melgaço

Localizada no Noroeste da Península Ibérica, no ponto mais a norte de Portugal, a região de Monção e Melgaço é uma das nove sub-regiões que fazem parte da denominação de Vinhos Verdes, uma das mais conhecidas de Portugal.

Possui um microclima muito particular, no qual a viticultura se desenvolveu desde o vale do Rio Minho e dos seus afluentes, subindo na meia encosta da montanha, ultrapassando os obstáculos do terreno e da altitude.

Monção e Melgaço

Especificamente lá, no ponto mais ao norte do país, os vinhos mais cultuados são os Alvarinhos. Diz-se, aliás, que a origem da casta seria nesse local às margens do Minho, fronteira natural entre Portugal e Espanha.  A cepa é a estrela de uma região marcada por vinhos que, em sua maioria, são produzidos para serem consumidos muito jovens.

A presença do Alvarinho de Monção e Melgaço estende-se desde o vale do Rio Minho e dos seus afluentes, subindo na meia encosta da montanha, adaptando-se a diferentes tipos de terreno e alcançando razoáveis níveis de altitude. O Alvarinho desta sub-região está pouco exposto à influência do mar e tem, como uma das condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a amplitude térmica na maturação, caracterizada por dias quentes e noites frias. Este fator contribui para a proteção dos aromas e para a persistência do sabor, retendo a sua frescura.

Mas a Alvarinho, apesar de também gerar bebidas para consumo imediato, é capaz de dar mais corpo e estrutura e gerar brancos respeitados e com poder de guarda, destoando um pouco do conceito de vinhos ligeiros.

A fama da região de Monção e Melgaço com seus Alvarinhos é relativamente nova, pois somente a partir dos anos 1930 é que surgiram alguns dos principais produtores locais, como Palácio da Brejoeira, Aveleda e Soalheiro, por exemplo, e mais recentemente nomes como Anselmo Mendes se destacaram produzindo brancos excepcionais com a casta.

A estrela das castas locais é claramente o Alvarinho, que aqui teve a sua origem. No microclima desta sub-região, a casta Alvarinho produz um vinho encorpado, complexo, com um carácter mineral e grande potencial de guarda.

Mas este território produz muito mais:

  1- Vinhos Verdes Brancos

  2- Vinhos Verdes Tintos

  3- Vinhos Verdes Rosados

  4- Espumantes de Vinho Verde

  5- Aguardentes de Vinho Verde

Esta elevada qualidade é o produto de castas indígenas da Região, cultivadas em variações de solos maioritariamente graníticos, e de um microclima atlântico temperado com influência continental, combinados com experiência enológica de topo.

Os vinhos verdes de Monção & Melgaço têm aromas e sabores intensos e concentrados, mineralidade pronunciada, notas distintas, grande potencial de guarda e de evolução em garrafa.

Sobre as castas desse rótulo:

Alvarelhão

Apesar de já ter sido amplamente cultivada em toda a península Ibérica, atualmente ela se concentra, praticamente, só no norte de Portugal, onde muito provavelmente é originária, muito cultivada, particularmente no Douro, Trás-os-Montes e Dão Alguns estudos de DNA tem mostrado sua semelhança com a uva Esgana Cão. Foi antigamente cultivada na região da Galícia, na Espanha, onde era conhecida como Alvarello.

É uma casta tinta de qualidade, recomendada na Sub-Região de Monção, onde é mais intensamente cultivada, casta pouco produtiva e dá origem a vinhos de cor rubi a rubi clara, com aroma delicado a casta, harmoniosos e saborosos.

Conhecida também por Brancelhão em Monção, por Alvarelhão no sul da Região e por Pirruivo em Arouca. É o Alvarelhão da Região do Douro e provavelmente o Brancellao da Galiza.

Pedral

Casta de pouca expansão na região, sendo recomendada particularmente na sub-região de Monção, onde tem como sinónimos 'Cainho dos Milagres' e 'Alvarinho tinto'.

Aparece esporadicamente noutras sub-regiões com outros nomes como 'Perna de Perdiz' em Ponte do Lima, 'Castelão' em Amarante e 'Pardal' em Castelo de Paiva.

São uvas de tamanho médio, de cor azul avermelhada e com sabores frutados particulares. Possui bons níveis de teor de fenólicos, taninos, álcool e ácidos. Não é muito resistente à seca e se adapta a solos frios com alto teor de argila. Prefere poda longa para obter rendimentos aceitáveis. É misturado com outras uvas embora também existam monovarietais.

São uvas que, por si só, dão origem a vinhos bastante rosados. Quando totalmente maduros, tendem a apresentar tons escuros, mas não totalmente pretos. Apresenta vinhos de qualidade, aromáticos, leves, suaves, frutados, harmoniosos e de cor rubi, de médio teor alcoólico, complexos no nariz, com aromas a especiarias, ervas, abrunhos, frutos secos e frutos silvestres. Acidez média a alta. São vinhos que dão bons resultados quando envelhecidos em barricas.

Vinhão

A Vinhão, também conhecida como Sousão ou ainda Sauson é uma uva de pele escura com origens que remontam a oeste da Península Ibérica. A variedade se estabeleceu na região do Douro, onde se estabeleceu e se chama apenas Sousão.

A Vinhão ou Sousão apresenta bagos com tamanho mediano e casca com coloração negro-azulada, com uma excelente capacidade de pigmentar os exemplares. Além disso, a polpa desta variedade tem coloração levemente rosa, onde acaba sendo confundida com outras cepas tintureiras, ou seja, uvas com polpa vermelha e pele escura.

Os vinhos elaborados a partir da uva Vinhão apresentam tons de violeta e conseguem ser muito opacos e escuros que, quando despejados em taças, podem quase ser impenetráveis à luz. Estes exemplares exibem um caráter único, excelentes níveis de acidez, taninos leves e alto teor alcoólico. Os vinhos Sauson, normalmente, possuem aromas mais frutados e amadeirados, podendo exibir também notas de passas.

Apesar de todas estas características, a Vinhão pode produzir também vinhos muito diferentes entre si, ou seja, o estilo dos exemplares dependerá quase que, exclusivamente, da região onde a uva é vinificada e cultivada. Na região portuguesa do Minho, é responsável pela elaboração da maior parte dos vinhos tintos Verdes – rústicos e com elevados níveis de acidez.

Ainda em Portugal, no Douro, a variedade é utilizada na produção dos tradicionais e fortificados vinhos do Porto, onde a mesma é responsável por adicionar excelente coloração e acidez aos exemplares – características essenciais para que os vinhos exibam uma boa capacidade para envelhecer. Também é utilizada na elaboração de vinhos de corte ao lado de outras castas portuguesas, dando origem a vinhos tintos de alta qualidade, que também podem envelhecer muito bem durante anos. Atingem o ápice qualitativo em áreas vinícolas com temperaturas mais quentes, enquanto fora de Portugal, encontra-se o cultivo da Vinhão na Espanha, Austrália, África do Sul e Califórnia.

E agora finalmente o vinho!

Na taça nota-se um vermelho rubi vivo, intenso, escuro, profundo, com nuances arroxeadas, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz explode em complexidade aromática, com notas evidentes de frutas vermelhas maduras, muita fruta, com aromas de bosque, terrosos, algo de rústico.

Na boca é extremamente seco, mas saboroso, com bom volume, um vinho cheio, mas redondo, macio, com uma excelente acidez, além daquela famosa “agulha” que faz cócegas na ponta da língua, com taninos pronunciados que traz novamente a sensação de rusticidade. Final longo e prolongado.

Uma grata experiência! Um grato momento degustar um vinho verde tinto com castas com apelo tão regionalista. Um vinho vívido, pleno, fresco, jovem, saboroso, com a sua acidez intensa que nos estimula a degustar, a degustar e a degustar de forma ávida e descontrolada. Aqui não há espaço para o famoso “beba com moderação”. A parcimônia passa longe. Mesmo que diante de seu frescor, leveza de delicadeza, é um vinho de personalidade, pois entrega muito além do que esperei. Excelente! Tem 10,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Monção:

Situada em plena Região Demarcada dos Vinhos Verdes, na sub-região de Monção e Melgaço, onde a casta Alvarinho é mais bem representada.

A matéria-prima, aliada à cuidada seleção das uvas à entrega da Adega, conjugada com a tecnologia moderna de vinificação e um contato de proximidade com os clientes, são o garante da qualidade dos seus produtos, produtos estes reconhecidos em Portugal, mas também em grande parte dos países da Europa, África, América do Norte e do Sul.

Entre 1986 e 2004 a Adega de Monção melhorou as condições tecnológicas de resseção de uvas e o processo de vinificação, a capacidade de armazenamento, estabilização e engarrafamento dos vinhos.

Em 1999 aumentou as suas instalações com a criação de um novo centro de receção de uvas e vinificação – o polo de Melgaço, cobrindo assim de melhor forma toda a área geográfica da sub-região em que se encontra.

Entre 2004 e 2006, teve início às obras de criação de modernas estruturas físicas que permitiram alargar a comercialização a nível nacional e internacional, perfazendo um investimento total de 6,5 milhões de euros, infraestrutura que acolheu os novos serviços administrativos, zona de receção de uvas e nova linha de engarrafamento, obra inaugurada em 2008 aquando da comemoração dos 50 anos.

Na antiga casa do Adegueiro e silos do bagaço, em 2005, foi criado o Espaço Histórico e Cultural da Adega de Monção e levou à sua integração na Rota dos Vinhos Verdes, Itinerário do Minho.

Tanto em 1997, como em 2007, a Revista “Vinhos” galardoou-a como a “Cooperativa do Ano”, e, em 2008, o Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e Pescas distinguiu-a com o Prémio Empreendedorismo e Inovação. Em 2009 foi galardoada, pelo IAPMEI, com o estatuto de PME Excelência, estatuto que desde então tem sido renovado todos os anos.

Atualmente a Adega de Monção apresenta uma faturação anual superior a 15 milhões de euros, sendo reconhecida de forma unânime como uma das melhores Adegas Cooperativas do País, assumindo assim um papel de grande importância na economia local. Possui 1720 produtores associados, que somam uma área de vinha de 1237 Ha e produções na ordem dos 8.000.000 Kg anuais, dos quais 60% dizem respeito à casta Alvarinho.

Para ser possível o desenvolvimento desta atividade a Adega de Monção, como previamente mencionado, possui dois polos de produção, que no conjunto tem uma capacidade de receção de uvas de 700.000 kg por dia. Possui ainda uma capacidade de armazenamento de vinhos de 10.328.648 litros. A Adega de Monção possui capacidade de vinificação e engarrafamento da totalidade dos vinhos produzidos, tendo sido para o efeito adquirida em 2005 uma nova linha de engarrafamento com uma capacidade de produção de 6000 garrafas/hora.

Mais informações acesse:

http://adegademoncao.pt/

Referências:

“Centro de Promoção e Interpretação do Vinho Verde”: https://www.cipvv.pt/pt/castas/alvarelhao-brancelho/

“Blog Tribuna do Norte”: http://blog.tribunadonorte.com.br/vinodivinovino/77338

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-moncao-e-melgaco-e-seus-vinhos-brancos_12910.html

“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/moncao-melgaco

“Centro de Promoção de Interpretação do Vinho Verde”: https://viticultura.cvrvv.pt/pt/casta-pedral

“Vinho do Vinho da Galícia”: https://museovinogalicia.xunta.gal/es/el-vino/uvas-y-vinos-de-galicia/pedral

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/sauson