Mirei os olhos para a adega, olhei cada canto, cada detalhe e
todos os rótulos que, no auge do seu merecimento, descansavam e observei um
espumante brasileiro! Sim! Um espumante brasileiro! Nada mais pertinente para o
que eu procurava, para o que eu ansiava. Tenho alguns muito interessantes,
claro, como não encarar o espumante brasileiro assim? Ufanismos à parte, afinal
exaltemos os nossos rótulos, os nossos espumantes que tanto projetam, de forma
positiva, o nosso vinho globalmente em festivais e concursos de renome. Mas
escolhi um que ganhei de presente há cerca de um ano atrás!
Então já era hora de degusta-lo! E já que falei do espumante
como um verdadeiro produto nacional, que é o DNA de nossa cultura, de nossas
terras, cabe lembrar alguns números que traduzem essa máxima, bem como
algumas histórias que fazem dele o que é hoje.
Em 2002, o consumo de espumante nacional era de 4,2 milhões
de litros, em 2014 esse número saltou para 16,7 milhões de litros. Segundo o
Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em torno de 75% do espumante consumido
no país é brasileiro.
Esses dados não aconteceram por acaso. Há uma série de
fatores que resultam nesses valores, como aprimoramento das técnicas de manejo
dos vinhedos e na elaboração da bebida nas vinícolas. Além disso, o espumante
deixou de ser uma bebida apenas para final do ano e comemorações, e passou a
ser pelos consumidores uma bebida do dia a dia.
A história do espumante tem seu início na França, no século
XVII, na região de Champagne. Essa região sempre foi produtora de vinhos
tranquilos na França, brancos e tintos. Nessa época os vinhos eram
comercializados em tonéis, e como fator de desvalorização, caracterizavam-se
por apresentar uma tendência efervescente, que era um grande entrave para a
conservação e para o transporte a locais mais distantes.
Com a invenção das garrafas em 1680 pelos ingleses, a
comercialização dos vinhos ganhou maior praticidade. A partir desse momento,
começaram os problemas para os vinhos da Champagne, que sofriam uma segunda
fermentação na garrafa, pressurizando e lançando as rolhas e explodindo as
garrafas.
Don Pérignon, monge beneditino e tesoureiro da abadia de
Hautvillers era responsável pelos vinhos e teve a missão de solucionar esse
problema dessa segunda fermentação. Sendo assim, ele começou a estudar esse
fenômeno e compreendeu que o que ocorria era devido ao gás carbônico (CO2),
recomendando assim, que as garrafas fossem reforçadas.
Segundo a tradição, conta-se que, ao abrir uma garrafa,
arrolhada, Don Pérignon foi surpreendido pela espuma da bebida, e quando
provou, falou a seguinte frase: Estou bebendo estrelas! Don Pérignon foi quem
mais se dedicou ao processo da segunda fermentação na garrafa, atualmente
conhecida como método Champenoise.
A produção de espumantes no Brasil teve inicio em 1913, no
município de Garibaldi – RS. O autor do primeiro espumante brasileiro foi o
imigrante italiano Manoel Peterlongo, elaborado pelo método Champenoise. Dois
anos depois a Vinícola Peterlongo era inaugurada no país, dando inicio a
trajetória do espumante brasileiro.
A partir dos anos 60 a vinda de empresas multinacionais com
grandes recursos, como a Martini & Rossi, Cinzano, Moët & Chandon,
Maison Forestier, Almadén modificaram a cara do espumante brasileiro. Passados
pouco mais de 100 anos, o Brasil já se consolidou como terroir de referência na
elaboração de espumantes de qualidade e a cada safra o espumante brasileiro vem
conquistando consumidores no Brasil e no exterior.
E depois desse breve desfile, mas significativa história do
nosso espumante, apenas para ter uma ideia, uma dimensão de sua importância
atual, vou apresentar, sem mais delongas, o meu rótulo. A minha “primeira vez”
com esse produtor que, já que falamos em história, foi um dos primeiros
produtores internacionais que chegaram ao Brasil e que contribuiu grandemente
para o nosso espumante, a Maison Forestier, o vinho que degustei e gostei veio
do Vale dos Vinhedos e se chama Gran Legado Brut, produzido pelo método
Charmat, com um corte das castas Chardonnay, Riesling Itálico, Viognier e
Glera, sem safra.
Mas antes de falar do vinho continuemos a passear pela
história do espumante no Brasil e a importância dos imigrantes europeus para
esse processo nas últimas décadas do século XIX quando a reunificação italiana
e uma forte crise econômica assolaram parte do continente europeu.
É claro que os imigrantes italianos que para cá vieram, em
sua enorme maioria do norte da Itália, não pensavam em vinhos espumantes e –
provavelmente – mal conheciam as borbulhas. No entanto, o vinho era essencial
em suas celebrações religiosas, era parte indissociável de seus costumes e as
uvas tornaram-se rapidamente uma fonte de renda, principalmente para os
imigrantes que ocuparam algumas das cidades da Serra Gaúcha.
A vitivinicultura se desenvolveu rapidamente por toda a
região no início do século XX, mas concentrada em vinhos brancos e tintos, de
produção quase artesanal. “Quase”, pois essa produção feita nas cantinas dos
imigrantes passou, aos poucos, a ser comercializada. A virada do século, que
viu o País sair da monarquia, abriu as portas para o crescimento da
agroindústria, e muitas vinícolas surgiram. A família Peterlongo foi uma das
pioneiras do espumante nacional.
Num movimento paralelo, que aproxima a região da longa
história da campanha francesa (a região de Champagne), por aqui também os
religiosos tiveram um papel preponderante no desenvolvimento da
vitivinicultura. Os irmãos Maristas, que chegaram ao sul em 1904, começaram a
plantar uvas na região da atual Garibaldi, para fazer o vinho de missa e aquele
que acompanhava a mesa dos religiosos. E esses vinhos logo passaram a ser
enviados para outras partes do estado, até mesmo para fora dele.
Os Maristas
Foi assim fundada a Granja Santo Antônio, que viria a ser uma
das mais importantes vinícolas da região, a Pindorama S/A - Vinhos e
Champanhas. Pelas mãos de um irmão de nome Pacômio, a vinícola cresceu e ficou
conhecida pela salubridade de suas uvas, por sua organização e pela qualidade
dos produtos. Segundo as informações do Arquivo Municipal de Garibaldi, a
vinícola, que em 1915 já havia construído uma segunda cantina, armazenava 20
mil litros de vinhos nesse momento, volume que chegou a 400 mil em 1930, época
da construção da terceira cantina.
No entanto, foi um imigrante que chegou ao País em condição
mais favorecida do que a grande maioria, que teria o privilégio de ser o
produtor do primeiro espumante documentado do país: Manoel Peterlongo Filho
imigrou para o País por volta de 1875, vindo da região do Trento, e trouxe
consigo os conhecimentos da profissão que exercia na Itália, a de agrimensor, e
instalou-se num lote na região central da colônia de Conde d’Eu. Por sua
profissão de engenheiro, ele foi convidado pela intendência estadual a
participar da medição da área que se destinaria ao município de Garibaldi,
realizando todo o traçado urbano e rural da cidade, por volta do ano de 1890.
Manoel Peterlongo Filho
Casado com outra imigrante italiana e com 10 filhos (apenas
um homem), Manoel trabalhava para o município e produzia vinhos para consumo
próprio das uvas plantadas em suas terras, das variedades Malvasia, Moscatel,
Vernaccia, Rabosa e Formosa. Com uma pequena produção de espumantes, feitos
pelo método tradicional, Manoel já havia conquistado pedidos de amigos e
familiares, que compartilhavam taças em sua casa e, em 1913, decidiu inscrever
um desses produtos no concurso da primeira exposição de uvas da cidade de
Garibaldi. Foi lá que seu espumante ganhou a primeira medalha de ouro e o
registro oficial que atesta o início da produção no País. E o resto a gente já
sabe.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha, claro, mas reluzente, brilhante
com uma concentração de média intensidade de perlages muito finas.
No nariz traz aromas delicados de frutas brancas, cítricas,
frescas, com notas florais, de flores brancas, que corrobora seu frescor e
delicadeza.
Na boca é leve, elegante, o toque frutado também ganha
protagonismo dando algum volume de boca, com um discreto fundo adocicado, mesmo
se tratando de um “brut”, mas sem soar enjoativo. Tem uma boa acidez, não sendo
muito intensa reforçando sua elegância e um final vivaz e prolongado.
Um típico espumante brasileiro, sim, mas especial e que me arrebatou,
de forma significativa, os sentidos, as experiências sensoriais foram
divinamente atacadas, de forma beligerante, entregando sabor, tipicidade,
mostrando que a tradição pode sim andar junto, de mãos dadas com a modernidade,
o dinamismo de uma sociedade, de um mercado que, na mesma proporção do
crescimento do nosso espumante, se torna cada vez mais exigente e especialista
na degustação de nossos borbulhantes. Pensou em espumante? Pensou em degustar
bons espumantes por valores atrativos, honestos e de preços democráticos e
justos? Mire seus olhares e intenção aos nossos espumantes! Gran Legado
sintetiza, com fidelidade, o nosso terroir e anseios com um espumante leve,
fresco, com muita fruta branca, cítrica, com belíssima acidez que traz todo a
delicadeza e leveza que um espumante, em sua gênese, deve e pode entregar. Tem
11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Maison Forestier:
A Maison Forestier é uma das marcas mais clássicas da
história do vinho no Brasil. Nascida em 1750, na França, chegou ao país em 1970
como produto importado. Devido ao sucesso de vendas e da sua qualidade, em 1977
instalou-se em Garibaldi.
A vinícola implantou vinhedos experimentais num belo e
modelar “domaine”. Foi a grande marca responsável por agregar charme, excelência
e valor ao vinho nacional. Agora, toda esta tradição está de volta com os
espumantes e vinhos Forestier.
Palavra do produtor:
Unimos à essa tradição
francesa nossa experiência de pouco mais de duas décadas com a elaboração da
linha Gran Legado Vinhos e Espumantes.
Com produção controlada, os rótulos Forestier e Gran Legado
também asseguram qualidade em matéria prima e uma elaboração de excelência,
conquistando os paladares nos principais concursos nacionais e internacionais.
Detentora de grandes prêmios é uma linha que esbanja
sofisticação com espumantes nobres e exclusivos, além de vinhos finos, leves e
frutados.
Mais informações acesse:
http://www.granlegado.com.br/home
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-primeiros-100-anos_9482.html
“Falando em Vinhos”: https://falandoemvinhos.wordpress.com/