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sábado, 26 de junho de 2021

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2010

 

Um misto de grandes experiências sensoriais e culturais! É o que eu tenho vivido nesses últimos e gloriosos tempos enquanto um simples e humilde enófilo. A incessante busca, o garimpo pelas novidades se torna necessário e diria, sem soar dramático, urgente, quando mencionamos o vasto e inexplorado universo dos vinhos. Nunca pensei, quando comecei a me enamorar pelos vinhos há cerca de 20 e poucos anos o quanto aprendi e aprendo, simplesmente degustando uma garrafa de vinho. São culturas, comportamentos, história pitoresca além é claro, do prazer em ter a minha taça cheia de vinho e me regozijar de cada gota.

Tenho me interessado, de forma latente nos vinhos evoluídos, em tempos mais recentes, lendo sobre o assunto, buscando novos rótulos com essa característica e entendendo o que eles podem nos proporcionar. Como são especiais! E pensar que, revendo o que degustei no passado, as fotos que registrei como se fora um livro de fotos de família com registros do passado, observei, com uma alegria incontida que já degustava, de forma tímida, claro, alguns vinhos com alguma longevidade, sem saber de sua importância e a sua proposta. Era muito cru nas histórias dos vinhos que hoje valorizo grandemente.

E essas novidades requer trabalho, pesquisa, tempo e, sobretudo dinheiro, afinal, ser enófilo no Brasil é padecer com os altos valores dos rótulos em todas as suas escalas de propostas, mas, em prol do nosso amor, estamos dispostos a tudo, apesar de ser prudente ter retidão, em alguns momentos. E esse minha incessante busca chegou a terras brasileiras! Sim, em terras brasileiras! Quem disse que o Brasil não produz grandes vinhos longevos?

Nessa busca em cheguei na Serra Catarinense. Claro que já conhecia essa proeminente região produtora de vinho, mas nunca pensei no ápice de minha ignorância que os vinhos daquelas bandas tivessem um bom potencial de guarda. Sabia de seus altos valores para a realidade da maioria da população brasileira, alguma coisa sobre a sua relevância para o cenário vitivinícola nacional, mas não sabia de sua vocação para a longevidade. Mas é aí que entra o conceito histórico-cultural da coisa. As características climáticas, as propostas dos vinhos, tudo influencia para os vinhos longevos. É o famoso terroir que fala mais alto.

Então com essa trajetória toda cheguei a um vinho com um ótimo custo X benefício em relação a muitos outros rótulos da Serra Catarinense e me senti na obrigação de tê-lo em minha adega. Talvez fosse a minha chance e eu precisava agarrá-la com esmero. Comprei e não levei muito tempo para degusta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região de São Joaquim, na Serra Catarinense, no Brasil, e se chama Sanjo Núbio da casta Cabernet Sauvignon e a safra: 2010! Um vinho com seus 11 anos de vida! Momento único e admito para poucos! Precisava usufrui-lo respeitosamente e da melhor maneira possível. Mas antes de falar do vinho e olha que estou ansioso para isso, falarei um pouco da história dessa região de São Joaquim e a sua importância para o cenário vinícola brasileiro.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar osmunicípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Rota do Vinho - Serra Catarinense

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo rubi intenso, escuro, com a já manifestação de discretas tonalidades atijoladas denunciando os seus 11 anos de safra, com lágrimas em grande profusão finas e que mancham a parede do copo.

No nariz um buquê aromático que entrega frutas vermelhas como framboesa, ameixa e cereja, com notas amadeiradas, de chocolate, baunilha, couro e um toque terroso e pimentão. O conceito entre fruta, madeira e especiarias em pleno equilíbrio.

Na boca é austero, quente, complexo e estruturado, mas macio e elegante, as frutas dão o ar da graça em harmonia com as notas amadeiradas, com toques de chocolate e baunilha e as especiarias,  graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho (cerca de 50% do vinho) e também pelo tempo de safra, com taninos presentes, porém finos e domados com uma incrível acidez que certamente garantiria ao vinho mais tempo de vida, de uma evolução plena e decente. É o que representa o vinho: plenitude e vivacidade aos 11 de vida! Tem um final persistente e retrogosto frutado.

A busca por novas experiências sensoriais, o garimpo por novidades, uma nova vida de enófilo sendo descortinada diante de nossos olhos, a fuga da zona de conforto, tudo isso é sim possível. Como sempre costumo dizer: o universo dos vinhos é vasto e inexplorado, há muito a ser degustado e essa sensação de infinidade é que mais me estimular a buscar mais e mais, mesmo que tardiamente em muitos casos. Nunca é tarde quando se tem um propósito. E os vinhos da Serra Catarinense estavam em minha rota havia algum tempo. O Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, no auge dos seus 11 anos de vida, no ápice de sua longevidade, saciou a minha avidez por conhecer os vinhos de altitude e que abriu as portas para trilhar o caminho, a estrada dessa proeminente região brasileira que, a cada dia, vem se tornando o novo expoente da vitivinicultura de nossas terras. Toda a história dessa região converge com as características mais marcantes do Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, em todas as suas minúcias, o que corrobora a tipicidade deste vinho tão peculiar e particular. Um vinho longevo, intenso, complexo, mas delicado, elegante e austero e fácil de degustar, afinal o tempo lhe foi gentil e o deixou harmonioso e equilibrado. 1.250 metros de altitude faz desse vinho, ainda vivo e pleno, grandioso no topo mais alto de sua tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.


Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

 






terça-feira, 17 de março de 2020

Fetzer Valley Oaks Cabernet Sauvignon 2010



Aprendemos, enquanto enófilos, que a Cabernet Sauvignon, até pela característica da cepa, é encorpada, austera e de grande potencial de guarda. Não podemos negligenciar tal informação, é verdade, mas precisamos ponderar sobre isso, levando em consideração a proposta do vinho, o terroir entre outros fatores. E países, como os Estados Unidos, por exemplo, produz vinhos com uma proposta mais divertida, mais descontraída e diria descomplicada de degustar seus vinhos, vinhos esses solares, agradáveis que preza pela frescura, jovialidade e informalidade. Talvez seja essa a característica dos vinhos do Novo Mundo, mas que apresentam personalidade e expressividade.

E um maravilhoso exemplo de vinho que degustei e gostei que veio dos Estados Unidos, da emblemática Califórnia, é da tradicional vinícola Fetzer, o Fetzer valley Oaks, da casta Cabernet Sauvignon, da safra 2010. Um verdadeiro clássico norte americano.

Na taça apresenta uma coloração rubi brilhante e límpido com reflexos violáceos com lágrimas abundantes e que tinge maravilhosamente bem as paredes da taça.

No nariz apresenta um aroma complexo de frutas vermelhas, um toque abaunilhado, de especiarias e um frescor impressionante.

Na boca é frutado, macio, equilibrado, com bom volume, fresco, com taninos delicados, com toque discreto da madeira, chocolate e baunilha, com acidez moderada e um final frutado e persistente.

Um vinho moderno, versátil, estruturado sim, mas fácil de degustar e, apesar da safra mostrou-se jovem, fresco e saboroso. E dada as características de chocolate, madeira e baunilha, parte do vinho passou por madeira e outra parte por tanques de aço inoxidável dando esse caráter próprio e moderno deste Cabernet Sauvignon, com seus 13,5% de teor alcoólico. O tempo da passagem do vinho pela madeira e pelo tanque de aço inoxidável não foi informado pelo produtor. Por ser tão versátil harmoniza com pratos leves e simples a mais complexos.

Sobre a Fetzer:

Cinquenta anos atrás, a indústria do vinho da Califórnia estava apenas começando. O resto do mundo ainda não tinha ouvido falar do condado de Mendocino, mas Barney Fetzer sabia que havia encontrado um lugar extraordinário para cultivar uvas para vinho. Um pioneiro da agricultura sustentável, ele ajudou a moldar a qualidade e a consciência ambiental do vinho da Califórnia. Além do que está no copo, nosso Centro de Vinhos e Alimentos de Valley Oaks foi um local vital por mais de 20 anos, catalisando o movimento da mesa da fazenda antes de se tornar um ethos amplamente valorizado. De raízes humildes, construímos um legado de vinhos clássicos americanos enraizados em um profundo compromisso com a terra. Ao longo de cinco décadas, crescemos para obter frutos de produtores talentosos das regiões mais reverenciadas da Califórnia, mas continuamos dedicados às vinhas, pessoas e vida vibrante da comunidade do Condado de Mendocino. Uma coisa não mudou em 50 anos: nossos vinhos são criados conscientemente para serem equilibrados e saborosos.

Maiores informações acesse:

https://www.fetzer.com/

Degustado em: 2016