Claro que, além da emblemática Malbec, tem também a Bonarda
que é a segunda casta mais cultivada naquelas terras, temos também a Cabernet
Sauvignon, a Merlot, Syrah, mas jamais esperaria encontrar cepas como Cabernet
Franc e Petit Verdot, por exemplo.
Talvez esteja imergido em uma total ignorância, mas é difícil
encontrar castas na Argentina como a Petit Verdot sendo ofertado no mercado
brasileiro, por exemplo e até mesmo a famosa e estabelecida Cabernet Franc,
ouso dizer. Talvez eu esteja procurando nos lugares errados, mas o fato é que o
cenário não é tão favorável para encontra-las até porque a “demanda” opta pelos
famosos “malbecões” argentinos.
E como é fantástico a gente redescobrir, a cada degustação,
regiões emblemáticas e conhecidas e que já degusta a décadas como a região
argentina de Mendoza. É a comprovação de que o universo do vinho é vasto e
inexplorado e não me canso de entonar isso, de gritar isso aos quatro cantos.
E dessa vez eis que me surge a Petit Verdot! A casta famosa
de Bordeaux figurando nos rótulos argentinos de Mendoza! Quais são as características
que entregará, além das essenciais típicas da uva? É no mínimo animador, quando
as expectativas nos tomam de assalto dias antes de uma degustação como essa.
E ainda há outro ponto que merece ser ressaltado: há também
poucas ofertas de rótulos 100% Petit Verdot por aí, figurando apenas em blends,
em cortes. Porém de um tempo para cá temos testemunhado alguns varietais sendo
produzidos na América do Sul, principalmente no Brasil.
Talvez essa realidade tem facilitado a oferta de tais rótulos
em nosso mercado! O fato é que a animação é grande e decidi hoje desarrolhar um
rótulo de um produtor que vem conquistando fama e reconhecimento no Brasil,
como a Viña Las Perdices e a sua linha “Partridge”, de excelente custo X
benefício.
Então já revelado o vinho que degustei e gostei que se chama
Partridge Reserva da casta Petit Verdot (100%) da safra 2019. E já que a
protagonista é a Petit Verdot nada mais justo e certeiro falar um pouco dela,
da sua história.
Petit Verdot
A uva Petit Verdot é mais uma das castas que compõem o corte
bordalês. Embora a Petit Verdot seja geralmente considerada proveniente do
Gironde, no sudoeste da França, e de fato a primeira menção a casta foi lá em
1736, pesquisas ampelográficas apontam que a Petit Verdot se originou nos
Pirineus, onde foi domesticada de videiras silvestres. Há ainda indícios de que
teria sido trazida pelos romanos do Mediterrâneo.
Normalmente, é utilizada em pequenas doses nos cortes com a
uva Cabernet Sauvignon para dar cor e corpo aos vinhos tintos (na região de
Médoc se utiliza em torno de 1% a 5%). Dentre todas as uvas cultivadas na
região de Bordeaux, a casta bordalesa Petit Verdot é uma das que mais demora
para chegar à fase de maturação, contribuindo com a elaboração de vinhos tintos
densos e bastante escuros. São poucos os varietais feitos com ela ao redor do
mundo, mas há enólogos investindo bastante nesta casta principalmente em países
como Chile e Argentina.
Na Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a
casta é responsável por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos
vinhedos estão localizados perto do vulcão Etna, proporcionando condições
favoráveis para o cultivo da, muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.
A casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos
varietais, principalmente australianos e espanhóis da região de Jumilla,
originando tintos intensos e vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam
aromas de bananas e madeira, e quando amadurecem, apresentam toques animais.
O nome Petit Verdot foi atribuído a casta por conta do
pequeno tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e
outros com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da
cepa, o amadurecimento tardio. A tradução livre de Petit Verdot é “Pequeno
Verde”. Sendo uma das castas com maior presença de flavonoides, a uva bordalesa
Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios a saúde, contribuindo para o
retardamento do envelhecimento e reduzindo os danos causados pelos radicais
livres.
Petit Verdot
A Petit Verdot produz vinhos potentes, ricos, de cor
profunda, tânicos, muitas vezes especiados e com bons níveis de álcool e
acidez. Os vinhos desta cepa francesa harmonizam de excelente forma com
alimentos que possuam bastante presença de proteína. Entretanto, os excelentes
rótulos elaborados com a uva podem ser apreciados e degustados sozinhos,
exaltando as características marcantes e únicas que a Petit Verdot concede ao
paladar.
A evolução do Petit Verdot argentino é cativante. Não só
porque conta com um nicho de fiéis seguidores, mas também porque entusiasma
paladares internacionais. Sem ir muito além, em sua última visita ao país,
Jancis Robinson destacou com entusiasmo: “Experimentei Petit Verdot mais
consistentes que em Bordeaux”. Nesse cenário, um grupo de winemakers vem explorando o potencial da variedade em terroirs
argentinos.
Como acontece com muitas variedades, pouco se sabe sobre como
chegou à Argentina. Uma pista é que se encontra misturada com os vinhedos mais
antigos de Malbec e, nos anos em que atinge o ponto ideal de maturação,
contribui muito para a complexidade dos blends, dando cor, taninos, estrutura e
acidez.
Jancis Robinson
A primeira menção em um rótulo veio justamente de um vinhedo
antigo, quando Luigi Bosca lançou seu Finca Los Nobles Malbec Verdot 1995. “A
Finca los Nobles é um vinhedo antigo, onde as variedades estavam misturadas
desde seu plantio, e por isso quisemos transmiti-lo no rótulo e comunicá-lo
como um fiel blend de Malbec e Petit Verdot”, conta Pablo Cúneo, Diretor de
Enologia da Bodega Luigi Bosca.
No começo deste século, no entanto, alguns viticultores se
animaram a elaborá-lo como um varietal puro. Um dos primeiros produtores em
lançar um Petit Verdot argentino como varietal, e que, inclusive, o converteu
no emblema da bodega graças a uma permanente consistência ano após ano, é a
Finca Decero, em Agrelo, na província de Mendoza.
Pouco a pouco, foram aparecendo mais rótulos de Petit Verdot
argentino no mercado. As primeiras vieram das zonas mais tradicionais de
Mendoza e San Juan, inclusive alguma de La Rioja. Com o passar dos anos,
enólogos e agrônomos foram se animando a plantá-lo em diferentes latitudes e
altitudes. Hoje em dia, da Patagônia ao Valle Calchaquí, pode-se encontrar mais
de 120 rótulos diferentes que mostram como o Petit Verdot se adaptou aos
diferentes terrenos.
Segundo dados do INV (Instituto Nacional de Vitivinicultura
da Argentina), existem 653 hectares plantados de Petit Verdot, dos quais 470
estão em Mendoza e praticamente não há região vitivinícola da Argentina onde
não se encontra um vinhedo desta variedade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, mas que
exibe um lindo brilho, com lágrimas finas e em profusão que desenham as bordas
do copo.
No nariz traz aromas vívidos de frutas negras bem maduras,
quase em compota, com destaque para cerejas pretas e amoras, com notas
amadeiradas, baunilha, torrefação, chocolate, tabaco, couro, algo herbáceo,
ervas e pimenta preta.
Na boca é de médio corpo a encorpado, intenso, complexo, com
as frutas negras maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, em total
sinergia com a madeira, muito bem integrada, graças aos 12 meses em barricas de
carvalho, bem como o álcool em evidência, propiciando bom volume de boca. Tem
taninos presentes e marcados, acidez equilibrada, com toque de chocolate, café
torrado, baunilha e mentolado. Final persistente.
Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto,
um tema tão complexo, tão deliciosamente interminável, com os seus solos,
“microclimas” dentro de uma região que parece mesmo diante de nossa imensa
capacidade enciclopédica acerca do assunto, parece que quando degustamos vinhos
como o Partridge Reserva Petit Verdot este entrega com fidelidade tipicidade,
olha a palavra aí de novo. Essas impressões, as experiências sensoriais se
tornam tão aguçadas que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o
entendimento do terroir, nos sobra os sentidos, o que já é, claro, relevante.
Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices, produtor responsável pela
linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar em barricas de carvalho,
tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao vinho, conferindo-lhe
estrutura e complexidade, mas nunca mascarando as características essenciais da
Petit Verdot. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Sobre a Partridge Vineyard:
A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o
portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de
perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.
A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o
perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva
e Partridge Selección de Barricas.
A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber
que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em
barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na
Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho,
garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta
com exemplares de alta gama.
Mais informações acesse:
https://www.lasperdices.com/index.php
Referências:
“Blog Wines of Argentina”: https://blog.winesofargentina.com/pt-pt/breaking-pt/petit-verdot-argentino/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-bordalesa-petit-verdot-e-dicas-de-vinhos-para-amar-casta_13628.html
“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot