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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Valtier Gran Reserva Tempranillo e Bobal 2014

 



Vinho: Valtier Gran Reserva

Safra: 2014

Casta: Tempranillo (50%) e Bobal (50%)

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio

Adquirido: Evino

Valor: R$ 69,90

Teor Alcoólico: 13%

Estágio: 36 meses em barricas de carvalho americano

 

Análise:

Visual: revela um rubi de média intensidade, com reflexos granada e em evidência, denotando os seus dez anos de idade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: é expressivo e complexo, com notas de frutas vermelhas e pretas maduras, com notas delicadas do carvalho, entregando notas terrosas, de terra molhada, de couro, charcutaria, tabaco, especiarias e um toque instigante de defumado.

Boca: é macio e elegante, mas ainda assim se mostra com personalidade, sendo muito equilibrado. As notas frutadas são perceptíveis, bem como as de carvalho, entregando baunilha, algo de chocolate, especiarias, como canela e pimenta. Taninos dóceis, acidez de baixa para média e um final persistente.

 

Produtor:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/


segunda-feira, 17 de junho de 2024

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2017

 



Vinho: Valtier Reserva

Safra: 2017

Casta: Tempranillo (50%) e Bobal (50%)

Região: Utiel-Requena

País: Espanha

Produtor: Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Evino

Valor: R$ 64,90

Estágio: 24 meses em barricas de carvalho francês e americano.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi de média intensidade, com halos granada. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: aromas flagrantes de frutas vermelhas maduras, com notas amadeiradas, baunilha, leve tosta, caramelo, cacau, coco queimado, além de toques defumados e terra molhada.

Boca: é elegante, macio, mas com alguma estrutura. Bom volume de boca, mostra equilíbrio entre taninos, marcados, mas dóceis e um acidez média. Replica-se as notas frutadas, bem como as notas amadeiradas, que entrega chocolate, baunilha. Tem final persistente e amadeirado.

 

Produtor:


terça-feira, 13 de junho de 2023

Faustino Rivero Ulecia Reserva Tempranillo e Garnacha 2015

 

Rioja parece ser intransponível para mim. Algo inalcançável, sobretudo pelo valor de seus rótulos em nosso mercado consumidor. Eram escassas as possibilidades de degustação. Não me recordo os primeiros rótulos que degustei de Rioja e tão pouco as circunstâncias que levaram a escolher esses rótulos.

Certamente eram aqueles raríssimos rótulos de entrada, mais simples, que eram de fácil acesso. Na realidade são vários vinhos ofertados da região, sempre foi mais fácil encontra-los, mais o preço para mim era o entrave para degustação, mas até do que a minha dificuldade para encontrar rótulos espanhóis há anos atrás.

Os anos foram passando e Rioja parecia cada vez mais distante, não apenas pelo aspecto logístico, geográfico, mas também em minha adega. Os vinhos espanhóis, como um todo, pareciam ser algo irreal, pouco palpável em minha realidade.

Quando o número de e-commerces foram aumentando e uma competitividade por fatias de mercado foi se configurando, novas perspectivas, novas possibilidade de rótulos espanhóis se descortinavam diante dos meus olhos e, claro, os vinhos de Rioja vieram na mesma toada.

E com esse leque de ofertas ampliando a cada dia, os valores desses vinhos foram ficando mais atrativos para o meu limitado bolso que ansiava para algo mais barato, embora a minha percepção ainda estivesse engessada para riojanos caros e badalados entre a aristocracia do vinho.

Mas com essas possibilidades de um mercado competitivo e “inchado”, fui percebendo que os valores estavam mais justos, condizentes com a minha realidade financeira. Foi o começo de caminhos melhores para Rioja.

Eu queria ousar um pouco e “velejar” pelos rótulos mais complexos, com vocação para guarda e amadeirados, tão famosos em terras riojanas, e passei a aguardar, pacientemente por eventuais promoções ou algo que o valha.

Até que em um famoso e-commerce, famoso por atender a vários públicos em sua faixa de valores, difundiu a promoção de um Rioja Reserva a um preço que considerei espetacular, na faixa de R$ 89,00, principalmente levando em consideração que é um “reserva”. E para “traduzir” essa relação de característica e valor vale a leitura das classificações dos vinhos crianzas, reservas e gran reservas aqui.

Não hesitei e comprei imediatamente! Não sei se teria uma nova chance como essa, então não demorei para fazer a aquisição. O meu único arrependimento não foi ter comprado duas garrafas, até para degustar um e guardar, por mais anos outra e fazer aquela comparação de vinhos com características frutadas e outro mais evoluído.

Ficou por alguns anos na adega, mas hoje decidi desarrolhá-lo e “antecipar” a experiência o quanto antes. Digo antecipar porque era de intenção inicial degusta-lo com pelo menos 10 anos de garrafa, mas não consegui esperar por mais três anos e decidi degustar com seus 7 anos de vida. Não preciso dizer da minha animação e expectativa em degustar um Rioja Reserva de um produtor deveras conhecido por mim, a Marqués del Atrío.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região de Rioja, na Espanha, e se chama Faustino Rivero Ulecia Reserva, com um corte das principais castas tintas espanholas, Tempranillo e Garnacha, da safra 2015. E para celebrar a experiência significativa sensorial com este rótulo, nada melhor que exaltar a história de Rioja que eleva ao nível máximo a Espanha vitícola.

Rioja: icônica e emblemática

A Espanha é um retalho de diferentes denominações de origem ligadas ao vinho. É o terceiro país que mais produz vinho no mundo, atrás somente de Itália e França. No entanto, é o país com maior área de vinhedos plantada no planeta, com cerca de 1 milhão de hectares.

E diante dessa área enorme e de tantos vinhos serem produzidos em tantos locais diferentes geralmente quando alguém fala sobre vinhos espanhóis, vem à mente da maioria dos enófilos referências como La Rioja, Ribera del Duero, Tempranillo e não muito mais do que isso, o que é uma pena, pois há muito a se descobrir na Espanha.

Mas não se pode negligenciar que Rioja é uma das mais importantes e tradicionais regiões espanholas na produção de vinhos

Está localizada no nordeste do país, às margens do rio Ebro, com 63.593 hectares de vinhedos distribuídos no território das três províncias que margeiam o rio: La Rioja, Álava e Navarra. 100Km de distância separam Haro, a cidade mais ocidental, de Alfaro, a mais oriental. O vale ocupado por vinhedos tem cerca de 40Km de largura máxima.

Três zonas

A DOCa Rioja possui três zonas distintas de produção: Rioja Alta, Rioja Alavesa e Rioja Oriental (até 2018 denominada Rioja Baja). Rioja Alavesa fica a oeste da cidade de Logroño, na margem norte do rio Ebro. Os vinhedos estão em solos predominantemente calcário-arenosos e os vinhos lá produzidos são provavelmente os mais sutis e elegantes da região.

Os climas em Rioja Alta e Rioja Alavesa são bastante similares e, devido à influência do Atlântico, não ocorrem temperaturas extremas. Em Rioja Oriental, a leste de Logroño e na margem sul do Ebro, o clima é mais continental, com verões quentes e invernos rigorosos. Os solos são bastante argilosos e chove pouco. Os vinhos da região costumam ter menor potencial de guarda do que os das outras regiões.

Rioja

Primórdios

As primeiras vinhas desse vale remontam ao período romano e a cultura do vinho foi mantida durante a Idade Média pelos monges. Aliás, Gonzalo de Berceo, monge em San Millan de la Cogolla, considerado o primeiro poeta do idioma castelhano, chegou a exaltar em versos o vinho local. No entanto, durante séculos, a principal cultura local foi a de cereais. O vinho só tomaria lugar de destaque na Idade Moderna, com o aparecimento das cidades e o florescimento do comércio.

O auge, porém, foi com a fundação de vinícolas históricas em meados do século XIX, a chegada da estrada de ferro e dos compradores franceses, devido à crise da filoxera. Enólogos ilustres como Luciano Murrieta (Marqués de Murrieta), Camilo Hurtado de Amezaga (Marqués de Riscal) e Rafael López Heredia (Viña Tondonia) introduziram o conceito de qualidade nos vinhos de Rioja.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa. A região é tida por muitos especialistas como uma das cinco regiões vinícolas mais importantes do mundo, sendo chamada inclusive de “Bordeaux da Espanha”.

Alguns dos produtores mais progressistas da Espanha estão olhando para o modelo da Borgonha, por exemplo, para aumentar o valor de suas garrafas, concentrando-se na qualidade específica. Esses viticultores estão tentando fazer a rotulagem em torno de certas aldeias e vinhedos aceitos na Espanha como vinhedos ou parcelas diferenciadas por sua qualidade.

Assim sendo, não é difícil entender por que Rioja lançou uma nova campanha de marketing global para destacar uma série de mudanças nos níveis de qualidade e regulamentações da região - mas o que é diferente e por quê?

O conselho regulador de Rioja criou um slogan em espanhol que significa "saber quem você é", como parte de uma reformulação da marca para a região, que segue uma série de regras regulatórias destinados a estender a oferta de Rioja.

Entre estas estão uma série de novas indicações, incluindo Vinos de Zona, Vinos de Municipio (Pueblo), Viñedos Singulares, Espumosos de Calidad de Rioja, bem como novos requisitos de envelhecimento para vinhos Reserva e Gran Reserva, e a produção permitida de vinhos brancos monovarietais.

Os critérios de classificação dos vinhos da Rioja, até 2017 era, basicamente o processo de envelhecimento. Eram 4 categorias: Joven, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Mudanças drásticas ocorreriam para determinar uma nova estrutura para a região, com destaque às diferentes amplitudes das classificações relacionadas ao terroir. E essas novas indicações precisariam ser utilizadas em conjunto com as regras existentes, que dizem respeito ao tempo, ao estágio desse vinho, seja em garrafa ou em barricas ou ambos.

Vale registrar que a classificação pelo método de envelhecimento não mudou. Continuam valendo as quatro categorias anteriormente citada. Apenas o nome da categoria de entrada, que era chamada de Joven, foi alterada para “Genérico”, o que tem trazido muita discussão sobre o termo.

A mudança se deu com a introdução de uma nova dimensão: a localização do vinhedo, que vai desde toda a região da Rioja, passando pela zona de produção, município e um vinhedo único. As novas zonas: Rioja “genérico”; Vinos de Zona; Vinos de Municipio e, no centro, Viñedos Singulares

Basicamente o que se busca é explicar melhor as diferenças de terroir. A pirâmide acima, teoricamente, reflete a qualidade do vinho. Quanto mais específico for a localização, mais nobre tenderá a ser o vinho. Esse é exatamente o conceito criado pelos monges religiosos que ao longo de séculos, desde a idade média, esquadrinharam e classificaram cada pedaço de terra na Borgonha. Nesse sentido, pode-se dizer que o “Viñedo Singular” da Rioja tem como objetivo ser equivalente a um “Grand Cru” ou “Premier Cru” da Borgonha.

Por outro lado, a adição de uma nova categoria para os espumantes da região também merece destaque, já que os produtores que atualmente fazem o método tradicional e que podem rotulá-los como “DO Cava” ou simplesmente usar o nome “Rioja” para atender a mercados externos.

As classificações relacionadas ao local podem ser usadas em conjunto com as regras existentes sobre envelhecimento. Seguem:

Viñedos Singulares - A mudança mais significativa na natureza dos níveis de qualidade da Rioja vem com a adição de uma categoria completamente nova, chamada Viñedos Singulares. Projetado para destacar o terroir e as origens do vinho, além de refletir a diversidade da região, foi lançado em junho de 2017.

A nova categoria pode ser utilizada em conjunto com a classificação de qualidade existente em Rioja, que diz respeito ao tempo de estágio de um vinho em barrica e garrafa. Aqueles que optarem por usar a nova categoria devem estar em conformidade com os seguintes requisitos na etiqueta:

·              Nos rótulos comerciais constarão o nome do vinhedo, que deve ser registrado como marca.

·         O termo “Viñedo Singular” deve aparecer diretamente abaixo do nome do vinhedo, e o tamanho do texto não deve ser maior do que a palavra “Rioja” no rótulo.

·        Os selos de garantia no verso da garrafa manterão as classificações tradicionais de envelhecimento, mas agora também incluirão “Viñedo Singular”.

·             O selo de garantia pode ser “Crianza Viñedo Singular” ou “Gran Reserva Viñedo Singular”.

Vinos de Municipio e Vinos de Zona - O uso de Vinos de Municipio e Vinos de Zona é uma atualização da rotulagem de Rioja que já é permitida. As vinícolas podiam fazer referência à sua zona de produção desde 1998 e nomear a vila ou cidade desde 1999, porém os critérios não eram claros e foram aperfeiçoados. Em 2017, houve uma série de alterações a este regulamento com o objetivo de obter maior visibilidade para as aldeias / vilas e zonas.

As sub-regiões Rioja Alta, Rioja Alavesa e Rioja Oriental (anteriormente Baja) são agora conhecidas como Zonas. No bojo das alterações o nome da zona de menor prestígio, a “Rioja Baja”, aproveitou ser rebatizada para “Rioja Orientale”, numa tentativa de deixar usar um termo considerado pejorativo pelos produtores, o que evidentemente gerou outra discussão.

Municipios (municipalidades) / Pueblos (vilas e cidades) ou Zonas agora podem ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo (anteriormente, eles só podiam ter dois terços do tamanho da palavra Rioja).

Embora a rotulagem seja semelhante, haverá uma menção adicional, como “Vino de Haro” ou “Vino de Samaniego”.

Os requisitos para Vinos de Zona (Rioja Alta, Rioja Alavesa, Rioja Oriental) são:

·            Rastreabilidade da produção.

·          Uma mudança legal foi submetida para permitir que 15% das uvas venham de uma zona vizinha (por exemplo, 85% de Rioja Alta e 15% de Rioja Alavesa).

·           No caso de compra de uvas (até 15% conforme indicado acima), a vinícola deve ter parceria comercial há pelo menos 10 anos. Pode ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo.

Os requisitos para Vinos de Municipio são:

·            Rastreabilidade da produção.

·            A vinícola deve estar localizada na aldeia.

·       Uma mudança legal foi submetida para permitir que 15% das uvas venham de uma aldeia vizinha, embora uma parceria comercial de pelo menos 10 anos seja necessária.

·            A menção do município pode ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo.

Requisitos de envelhecimento - Em julho de 2017, o Consejo Regulador DOCa Rioja introduziu novos requisitos de envelhecimento para permitir aos produtores uma maior flexibilidade para o envelhecimento em garrafa.

Um dos baluartes da DOCa Rioja é o uso da madeira, tanto que os vinhos são denominados qualitativamente de acordo com o tempo que passam em barrica, indo do genérico, passando pelo Crianza, depois Reserva e, por fim, Gran Reserva. No entanto, desde 2017, com o surgimento das mudanças, a região criou uma nova forma de dividir os vinhos qualitativamente ao dar mais ênfase à sua origem, além do tempo em barrica.

Dessa forma, criou-se a seguinte divisão: vinhos de zona, vinhos de município e vinhos de vinhedos singulares (que seriam os mais representativos da região). E esses três tipos de vinhos então são divididos novamente em quatro categorias: genérico, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Uma das características dos vinhos de Rioja é a aptidão que possuem para o envelhecimento. De acordo com o processo um vinho é enquadrado nas seguintes categorias:

Genérico

São geralmente vinhos em seu primeiro ou segundo ano, que mantêm suas características primárias de frescor e fruta. Esta categoria também pode incluir outros vinhos que não se enquadram nas categorias de Crianza, Reserva ou Gran Reserva, embora tenham sido sujeitos a processos de envelhecimento, uma vez que estes não são certificados pelo Conselho Regulador.

Crianza

São vinhos pelo menos em seu terceiro ano que permaneceram pelo menos um ano em barris de carvalho. Nos vinhos brancos, o período mínimo de envelhecimento em barril é de seis meses.

Reserva

Corresponde a vinhos selecionados com um envelhecimento mínimo entre barricas de carvalho e garrafa de três anos, dos quais um pelo menos nas primeiras, seguido e complementado com envelhecimento mínimo em garrafa de seis meses. Nos vinhos brancos, o período de envelhecimento é de dois anos, dos quais pelo menos seis meses em barris.

Gran Reserva

São vinhos de grandes safras que foram envelhecidos durante um período total de sessenta meses, com um mínimo de dois anos em barris de carvalho e dois anos em garrafa. Nos vinhos brancos, o período de envelhecimento é de quatro anos, dos quais seis meses pelo menos em barrica.

Diante de tantas mudanças e algumas discordâncias entre os produtores e os demais grupos de interesse o fato é que o mais importante é provar que a qualidade continua tão boa quanto antes. Para muitos, as mudanças têm mais a ver com marketing do que propriamente qualidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e vívido vermelho, com halos granada, pelo tempo em que estagiou em barricas de carvalho e o tempo em garrafa, com lágrimas finas, em profusão, que escorrem lentamente no bojo.

No nariz é intenso, elegante, complexo, com frutas pretas e vermelhas bem maduras, com destaque para cereja, framboesa, ameixa preta, com as proeminentes notas amadeiradas, graças aos 24 meses que estagiou em barricas de carvalho, que em plena convergência com a fruta, aporta baunilha, especiarias, couro, tabaco, cacau, defumado e leve tosta.

Na boca é seco, macio e maduro, o tempo lhe foi gentil, porém traz marcante personalidade, é cheio em boca, alcoólico, as frutas protagonizam, como no aspecto olfativo, a madeira se faz presente em uma incrível sinergia, conferindo ao vinho a complexidade entregando chocolate amargo, com taninos domados, mas com alguma pegada, acidez correta e final de média persistência.

Não são apenas as três etapas mais importantes da percepção de um vinho que vai encantar a quem está degustando os vinhos da linha Faustino Rivero, mas também a estética de seu rótulo. Já no rótulo o vinho já diz a que veio, o quão único é este exemplar é para a vinícola. Se revela delicioso e complexo o leque aromático exibindo frutas maduras, baunilha e tostados, já que passou por um longo tempo em barricas de carvalho, além de trazer a tipicidade de um terroir emblemático por intermédio de suas castas típicas. Que as portas de Rioja se abram sempre pelos seus rótulos. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Faustino Rivero:

A mesma paixão, trabalho árduo e determinação que caracterizaram os primórdios da jornada da família Rivero na criação de grandes vinhos cinco gerações atrás estão orgulhosamente no coração de tudo o que a vinícola faz hoje.

Olegario Rivero, a primeira geração da família, começou a fazer vinho em uma pequena adega no centro da cidade de Arnedo (La Rioja), em 1899. O vinho que produzia era depois vendido à população local, em odres e botas.

Esta forma de comercializar o vinho fez com que, anos mais tarde, a segunda geração, com Agapito Rivero, se especializasse num ofício, o de sapateiro, necessário numa época em que o vinho era comercializado de uma forma muito diferente da atual. Além de fabricar botas e odres, os fabricantes de odres também atendiam os clientes e atuavam como intermediários entre os vindimadores e os compradores.

Na década de 1940 o negócio da família passou à terceira geração, composta por Amador e Faustino Rivero, cuja intuição lhes dizia que poderia haver um grande futuro para o vinho e decidiram dedicar-se exclusivamente a este negócio.

Compravam uvas em várias cidades de La Rioja Baja, como Bergasa, Quel, Autol e Aldeanueva de Ebro, para fazer vinho que vendiam a granel e odres de produção própria, e vendiam diretamente para mercados próximos, como Soria e Burgos.

Mais tarde, durante a década de 1950, o mercado de Rioja se expandiu para áreas como o País Basco, Catalunha e Galiza, vendendo o vinho em tonéis de castanha. Durante este período, a família Rivero continuou a aperfeiçoar suas técnicas de vinificação, inclusive vendendo para outras empresas comerciais da Rioja que já comercializavam vinho. Isto deu-lhes a conhecer novos segmentos de mercado e, em meados da década de 1960, decidiram comprar a primeira máquina de engarrafamento para vender o seu próprio vinho, dando origem à marca “Chitón”.

Não foi até o final dos anos 1960 e 1970, coincidindo com o grande desenvolvimento vivido pelo DOCa. Rioja a partir do último terço do século XX, para os primeiros vinhos engarrafados sob o nome de Faustino Rivero Ulecia. No final dos anos 70, a empresa familiar assume um conceito mais empreendedor, integrando a quarta geração, Agapito e Jesús Rivero, com formação específica que proporcionou o know-how para o crescimento da adega. A mudança começou com a construção em 1980 de uma nova e maior adega na periferia da cidade, permitindo mais espaço para o envelhecimento do vinho.

A década de 1980 e 1990 foi fundamental para a expansão da vinícola, tornando-se pioneira na exportação do vinho de Rioja para o exterior e sendo líder de mercado em países como Dinamarca e Suécia. Em resposta às necessidades destes mercados, a família começou a interessar-se por outras regiões vitivinícolas, o que os levou a acabar por fazer o seu próprio vinho em Navarra e Utiel-Requena.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto, a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

https://faustinorivero.com/en/

Referências:

“Revista Versar”: https://www.revistaversar.com.br/rioja-conheca-a-mais-famosa-regiao-vinicola-da-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/rioja

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-grandes-vinhos-de-rioja-na-espanha_12056.html

“Vinoticias”: https://www.vinoticias.com.br/post/rioja-a-evolu%C3%A7%C3%A3o-do-vinho-na-espanha




 










domingo, 28 de maio de 2023

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2015

 

Será que um raio cai duas vezes no mesmo lugar? O que é bom merece bis? Por que estou trazendo à tona esses ditados populares? Tanta pergunta que merece a resposta que até me parece simples: Sim, degustarei um rótulo a qual já tive uma agradável e especial experiência e que irei repetir.

Mas terá uma diferença: a safra. A Colheita será diferente! O que estará guardado para mim? O mais do mesmo? Terei novidades nesta safra? Será esta a melhor que a anterior que degustei? Será? Será? Perguntas que podem gerar alguma tensão, mas que na realidade só aguça ainda mais a curiosidade em degustar a “nova versão” desse rótulo que vem ganhando alguma fama.

Sim, fama! Certamente a linha “Valtier” é um dos rótulos mais vendidos de um conhecido e-commerce de venda de vinhos do Brasil, principalmente pelo seu atraente custo X benefício imbatível.

Apesar da popularidade do rótulo a região de onde este vinho veio ainda é pouco conhecida entre nós, brasileiros enófilos, arriscaria dizer que não está sequer entre as regiões mais famosas da Espanha.

Utiel-Requena, apesar de seus registros históricos antigos de produção de vinhos sempre produziu seus rótulos para consumo apenas na região, não desbravando o mundo, outros mercados consumidores, tendo apenas essa “aventura” de uns poucos anos para cá.

O Brasil está na rota e atualmente se encontra com alguma facilidade, principalmente graças a este famoso e-commerce, alguns rótulos de Utiel-Requena, dos mais simples até os mais complexos, como, diria, a linha “Valtier”.

A região se orgulha de cultivar a sua casta mais famosa, a Bobal que, definitivamente caiu nas minhas graças e a cada dia venho me enamorando pelas suas mais emblemáticas e atraentes características.

A linha “Valtier” traz um blend extremamente interessante, onde protagoniza a filha pródiga de Utiel-Requena, a Bobal, com a mais popular casta espanhola, a Tempranillo. E se revelou fantástica, com complexidade, explosão de frutas maduras e personalidade.

E graças a esses quesitos e a grande satisfação em ter degustado o Valtier Reserva 2013, o raio cairá sim duas vezes no mesmo lugar, porque tudo que é bom merece bis, então, sem mais delongas, vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio da região emergente espanhola chamada Utiel-Requena e se chama claro, Valtier Reserva da safra 2015, com as castas Bobal (50%) e Tempranillo (50%).

E para não perder o costume vamos de história, vamos, cada vez mais, difundir a região de Utiel-Requena e a sua casta Bobal, com as suas histórias.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molón

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura nos arredores de Chera

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, com halos granada, devido ao tempo, oito anos de garrafa e pela longa passagem por carvalho, com algum brilho e boa profusão de lágrimas lentas e finas.

No nariz traz aromas envolventes de frutas vermelhas bem maduras, com destaque para ameixas, amoras, framboesas e até mesmo morangos, em uma sinergia adorável com o carvalho, bem integrado ao vinho, devido aos vinte e quatro meses estagiando em barricas, com notas defumadas, de couro, estrebaria, tabaco, baunilha, além de especiarias, ervas, por exemplo, além de terra molhada, tudo envolto em muita complexidade.

Na boca é seco, marcante, de personalidade, mas, por outro lado, o tempo de vida lhe conferiu maciez e elegância. As frutas, como no aspecto olfativo, ganha protagonismo, com destaque para um delicioso ameixa maduro. O carvalho, devido ao tempo em barricas, se faz presente, contudo igualmente integrado como no olfativo. Traz taninos presentes, mas domado, dócil, com acidez de baixa para média, denotando que poderia ter ainda algum tempo em garrafa, com final de média persistência.

O raio caiu duas vezes no mesmo lugar e fez um significativo estrondo em minhas experiências sensoriais. A minha taça foi o para-raios e o meu coração se viu na mais perfeita sintonia com esse momento, mais uma vez, especial. A linha “Valtier” definitivamente merece a sua condição de “fama” entre os brasileiros e sabe conduzir a representação típica da região de Utiel-Requena. Um vinho de incrível custo X benefício e que prova para todos os preconceituosos de plantão no universo do vinho que sim, podemos ter vinhos especiais e de marcante personalidade a preços acessíveis para todos os enófilos, de forma indistinta. Que o caminho continue a ser percorrido e que possamos sempre viajar pelas várias vindimas que esse vinho puder conceder. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 

 












domingo, 21 de agosto de 2022

Marqués de Colbert Reserva Bobal e Tempranillo 2016

 

Escolher e comprar vinhos, como costumo dizer, é assumir riscos! Por que digo isso? Simples! Você pode pesquisar o vinho, buscar referências, se identificar com a região com a qual o vinho foi concebido, das variedades, da proposta que pode entregar, mas quando está na mesa, na taça pode te surpreender negativamente falando.

E nesses últimos tempos venho me interessando, de forma, diria, ávida, pelos vinhos espanhóis reservas, gran reservas e crianzas. Não sei como começou e sinceramente não sei quando irá terminar.

A despeito de que muitos dizem acerca desses vinhos, me encanta a complexidade, as notas amadeiradas em perfeita sinergia com as frutas e características das castas que os compõe e, sobretudo, da sua elegância, de vinhos que são mais redondos, pela proposta de passagem, longa, por barricas de carvalho, do tempo de safra, geralmente são antigas, em média de 8 a 10 anos de garrafa, da particularidade de cada terroir etc.

A reclamação de muitos se dá exatamente na elegância dos vinhos cuja referência que se dá é de vinhos inexpressivos, sem caráter, pouco estruturados ou algo similar. A opinião é livre e precisa ser respeitada, mas acredito que deveria se atentar para a proposta do vinho, pois a partir dela, podemos entender certas nuances do rótulo.

Não esperem amigos leitores, desses vinhos espanhóis, robustez, peso ou coisa que o valha, pois são vinhos que, de acordo com a Lei 24/2003, de 10 de julio, de la Viña y del Vino, passam por um determinado tempo em barricas de carvalho, que “afina” a bebida e ainda fica mais algum tempo em garrafa na vinícola até sair para a venda. Isso é preponderante para o vinho e suas propostas.

E o rótulo de hoje, claro, espanhol, me atraiu definitivamente pelo valor que era atraente, cerca de R$49! Mas não foi apenas o preço, embora seja prioritário, admito, para a compra. Foram outros quesitos importantes, pelo menos para mim: a região, Utiel-Requena, que vem ganhando alguma notoriedade, onde vem exportando para outros países e o Brasil tem recebido alguns rótulos o que, em um passado não muito distante, a produção e a prática mercadológica eram apenas local. E para finalizar a casta ou pelo menos uma das castas que compõe o rótulo escolhido: Bobal.

E essa variedade merece um comentário à parte pela sua importância para a região de Utiel-Requena que é a maior produtora, a que mais cultiva Bobal na Espanha. Evidente que a Bobal ainda é pouco conhecida entre nós, brasileiros, mas é possível encontrar com relativa facilidade no nosso mercado.

Já degustei alguns poucos rótulos dessa casta, mas o vinho de hoje a Bobal divide o protagonismo com a mais popular da Espanha: Tempranillo. E já degustei um rótulo com esse corte e que me chamou e muito a atenção: O Valtier Reserva 2013 com 50% da Bobal e 50% de Tempranillo.

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei, como dito, veio da região espanhola de Utiel-Requena e se chama Marqués de Colbert Reserva, composto pelas castas Tempranillo (50%) e Bobal (50%) da safra 2016. Vamos às histórias! Da desconhecida Bobal e Utiel-Requena.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros.

É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, porém com reflexos violáceos, com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.

No nariz mostrou-se, inicialmente fechado, mas volatilizando abriu para um mix de frutas pretas e vermelhas maduras, com destaque para o morango, ameixa, cereja e framboesa, com o amadeirado em evidência, mas em sinergia com a fruta, com toques discretos de especiarias e um agradável defumado, diria também fumaça e couro.

Na boca é elegante, redondo, mas com persistência, talvez pelo bom volume, sendo cheio, alcoólico (14,5%) corroborando para uma marcante personalidade, ganhando em complexidade graças a madeira (cerca de 18 meses em barricas de carvalho), com notas de baunilha, caramelo e torrefação, com a fruta também protagonizando. Tem taninos presentes, mas aveludados, acidez correta e um final untuoso e longo.

O preço é atraente, o valor cativa, mas a sedução pode te deixar de joelhos, mas também pode trazer surpresa, aquela surpresa positiva. Esse vinho, o Marqués de Colbert definitivamente surpreendeu e entrega muito mais do vale, sem sombra de dúvidas. Um vinho de marcante personalidade, aquela complexidade que só os espanhóis reservas e gran reservas podem proporcionar. Elegante, equilibrado não cabe espaço para peso, tanta robustez e estrutura que, às vezes, pode ser agressivo ao palato. Mais uma vez um vinho deste produtor, a Marqués del Atrio, revela a capacidade de expressar, grandemente, o terroir, entregando tipicidade. Agora estou entendendo a minha avidez por esses rótulos. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto, a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html