O amigo com o típico nome lusitano, Manoel, veio de Portugal
e trouxe consigo na mala, além da simpatia e muito carisma, alguns rótulos dos
vinhos de sua terra. Quando o conheci pessoalmente parecia que o tínhamos uma
relação antiga de amizade e os vinhos que trouxe verdadeiramente me cativou
também. Não posso negar, amigos, sou enófilo e é natural que me anime ao me
deparar com alguns rótulos. E direi que o bom amiga do além-mar me trouxe eu
nunca tinha visto em terras brasilis.
Mas um, em especial, me chamou deveras a atenção. Além, é
claro, da região que muito amo, que muito me cativa, o Alentejo, foi a cor do
vinho. Um rosé do Alentejo! Um rosé inebriante, uma cor rosada brilhante e
linda, que hipnotiza qualquer um enófilo desavisado. Então, resolvi tomar posse
dele e logo o desarrolhei, com o consentimento do meu estimado novo amigo.
Então o vinho que degustei e gostei, como já apresentado, veio do Alentejo, de
uma região chamada Reguengos de Monsaraz, e se chama Vale do Rico Homem,
composto pelas castas Syrah e Touriga Nacional e safra 2018. Nunca é demais
falar do Alentejo e suas sub regiões e então contemos um pouco da história de Reguengos
de Monsaraz.
Monsaraz
Monsaraz é uma freguesia portuguesa do concelho de Reguengos
de Monsaraz, na região do Alentejo. Antiga sede de concelho, transferida pela
primeira vez em 1838 e definitivamente em 1851 para a então vila de Reguengos
de Monsaraz, hoje cidade. É importante não confundir Reguengos de Monsaraz com
Monsaraz. São duas localidades distintas separadas por cerca de 15 quilômetros.
Reguengos de Monsaraz
A vila medieval de Monsaraz foi eleita uma das “7 Maravilhas
do Alentejo” pelos leitores do jornal Margem Sul. O Município de Reguengos de
Monsaraz aderiu a esta iniciativa que teve mais de 80 mil votos através do site
do periódico e que pretendeu contribuir para a promoção do Alentejo,
mobilizando os cidadãos para a defesa e a redescoberta do patrimônio material e
imaterial. A outra candidatura do Município foi a paisagem do Grande Lago
Alqueva no concelho de Reguengos de Monsaraz. Este concurso organizado pelo
jornal Margem Sul com o apoio dos governos civis de Évora, Beja, Portalegre e
Setúbal recebeu 30 candidaturas municipais. Para além de Monsaraz, a lista
vencedora das “7 Maravilhas do Alentejo” integra o Castelo de Evoramonte
(Estremoz), Fortaleza de Marvão, Lago de Alqueva (Portel), Tapeçarias de
Portalegre, Portas de Beja (Serpa) e Terreiro do Paço (Vila Viçosa). A vila
medieval de Monsaraz (Monumento Nacional) é uma das mais antigas vilas de
Portugal. Localizada numa região habitada desde os tempos pré-históricos,
existindo na sua envolvente muitos monumentos megalíticos, Monsaraz é um
primitivo castro que foi mais tarde romanizado e ocupado sucessivamente por
visigodos, árabes, moçárabes e judeus, até ser definitivamente cristianizado no
século XIII. Em 1167 foi conquistada aos muçulmanos por Geraldo Sem Pavor,
caindo em 1173 para os almóadas na sequência da derrota de D. Afonso Henriques
em Badajoz. Em 1232 voltou a ser conquistada aos árabes e em 1385 foi invadida
pelas tropas castelhanas, mas cedo foi reconquistada por D. Nuno Álvares
Pereira. Depois da restauração da independência, em 1640, foi construída uma
nova linha de fortificações, tornando Monsaraz numa vila praticamente
inexpugnável. Monsaraz foi sede de concelho até 1851, ano em que se fixou
definitivamente em Reguengos de Monsaraz. Em termos de património é importante
destacar a Torre de Menagem, a Casa da Inquisição, a Porta da Vila, a Porta de
Évora, a Porta da Alcoba, a Igreja Matriz de Nossa Sra. da Lagoa, o Pelourinho,
a Igreja de Santiago, a Ermida de S. João Baptista, o edifício do Hospital do
Espírito Santo e Casa da Misericórdia, a Ermida de S. José, os Antigos Paços da
Audiência, a Cisterna e todo o casario característico da vila.
E agora o vinho!
Na taça tem um rosado salmão lindo, intenso e muito
brilhante, uma verdadeira porta de entrada para estimular ao enófilo a
degustação.
No nariz prevalece o aroma fresco, jovial, descontraído,
além, é claro, das notas frutadas que lembram framboesa, morango, uma
verdadeira compota de frutas extremamente agradável, mas que, em momento algum,
se mostrou enjoativo.
Na boca as impressões olfativas das frutas vermelhas
prevalecem de uma forma docemente impetuosa, é muito frutado, delicado e elegante.
Tem um bom volume de boca, mostrando alguma personalidade, certa cremosidade,
diria, provavelmente graças aos 3 meses que o vinho estagiou “sur-lies”*,
seguindo-se depois para o processo de engarrafamento. A acidez também está em
evidência, mas em pleno equilíbrio com o conjunto do vinho, fazendo valer o seu
frescor, evidenciando também no final de boca.
*”Sur-lies”: A tradução literal para a palavra francesa
“lies” seria “borras” ou “sedimentos”. O contato com essas borras de levedura
exerce influência sobre a estrutura dos vinhos, sobre o corpo, aroma e
estabilidade. A razão, por parte do enólogo, por utilizar esse processo é para
dar ao vinho estrutura, corpo, complexidade aromática, profundidade e sabor ao
vinho, conferindo ainda mais estabilidade a sua cor.
A verdadeira e mais terna amizade é um acalento à alma, bem
como o vinho e quando esses dois se combinam como em uma alquimia não tenha
dúvidas de que é um verdadeiro elixir. Eu aguardo uma nova visita desse meu
nobre amigo lusitano e espero que ele traga em sua mala, além dos grandes
rótulos de sua terra, traga também a certeza da consolidação de nossa boa e
salutar cumplicidade. E ele está e estará em minha história graças a esse rosé,
esse regional alentejano, que retrata com fidelidade a tipicidade daquelas
terras, trazendo um frescor, uma leveza e ao mesmo tempo uma intensidade
aromática, uma presença no palato, entregando uma marcante personalidade
colocando o Vale do Rico Homem no rol dos grandes rosés que degustei. Tem 12%
de teor alcoólico.
Sobre o Monte dos Perdigões:
Na posse da família Granadeiro desde 2001, o Monte dos
Perdigões foi em tempos casa de Damião de Góis, humanista Luso do Séc. XVI e
grande amigo de Erasmo de Roterdão e gerações mais tarde do ilustre compositor
Luis de Freitas Branco, músico que aqui compôs algumas das suas mais marcantes
obras. Desde sempre um lugar marcado pela sensibilidade artística e pensamento
livre.
Damião de Góis
Na sua moderna adega em que imperam materiais nobres como o
mármore alentejano e o carvalho francês são vinificados e engarrafados os
vinhos Granadeiro sob o rigoroso controlo de uma dedicada equipa chefiada pelo
enólogo Pedro Baptista e inspirados pela visão de autor de Henrique Granadeiro.
Com uma longa e reconhecida carreira no setor público e privado, Henrique
Granadeiro criou há muito tempo laços com o meio vinícola, nomeadamente através
das funções que exerce à frente da Fundação Eugénio de Almeida. Desde 2001 que
lançou um projeto próprio e fiel a essa velha paixão: a criação de vinhos.
Paixão que hoje leva à sua máxima expressão, no coração da região que o viu
nascer, com a criação dos vinhos de autor aos quais dá o seu conhecimento e o
seu nome.