Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com
algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos.
Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos
conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a
a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma
intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no
cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.
Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente
negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas
das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés
sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de
Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças
permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis,
maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por
forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.
Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através
do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou
com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século
XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e
aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de
Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.
Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par
da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal.
Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da
independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real
Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de
Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das
restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu
matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas
alentejanas no obscurantismo.
A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do
século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de
desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de
agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo,
período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo
despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das
Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de
honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido
igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e
Reguengos.
Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a
primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de
António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal.
Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas
décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de
acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e
decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.
António Isidoro de Sousa
Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes
guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha
cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo,
apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como
"celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada
para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes,
aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o
vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho
no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento
empresarial.
Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no
final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira
oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.
O movimento associativo foi preponderante para o
ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da
Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo
"Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos
mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do
Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço
do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e
nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao
setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu
estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.
Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo),
em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um
estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos
Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a
cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.
Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem
alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão
Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos
vinhos do Alentejo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça um lindo e envolvente rubi intenso, escuro, fechado,
com algum brilho e halos violáceos, com alguma viscosidade. Tem lágrimas finas
e lentas, com profusão.
No nariz um pouco tímido, porém, ainda assim, se percebeu, ao
abri-lo as notas de frutas pretas bem maduras, com destaque para ameixa, amora,
groselha e cereja, com a proeminência de toques de especiarias, algo de
herbáceo, diria e um amadeirado com alguma evidência, graças aos seis meses de
passagem em barricas de carvalho, entregando um discreto tostado ao fundo,
carvalho e talvez baunilha.
Na boca é seco, estruturado, corpo médio, com ótimo volume de
boca, o álcool evidente certamente colabora para a sua untuosidade em boca. As frutas
pretas maduras também protagonizam, como no aspecto olfativo, com taninos
marcados, presentes e com alguma adstringência, talvez pela sua jovialidade,
com acidez viva, salivante e um final cheio, gordo, amadeirado e persistente.
A Herdade da Candeeira é uma das mais antigas propriedades da
zona da Serra d’Ossa, no Concelho de Redondo, no Alentejo. São terras que têm
larga tradição na produção de uvas e de vinho, como prova a parcela de vinha
mais antiga da vinícola, plantada em 1938. O ano de 2020 foi de produção
elevada no Alentejo. A vinha da Vigia viveu um inverno seco e um verão com
calor intenso, fazendo desse Monte da Vigia Colheita Selecionada um vinho
aromático, expressivo e marcante, porém muito fazer de degustar pela sua
elegância e equilíbrio. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras.
Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com
vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num
depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na
altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.
Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de
Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de
vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas
antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área
de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de
sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010,
constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na
Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras
regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue
assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado,
produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de
Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
https://www.parras.wine/pt/
Referências:
“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/
“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/
“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/
“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/
“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/