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domingo, 9 de abril de 2023

Lote Rojo Torrontés 2020

 

Não há como negar que, quando falamos de Argentina e Mendoza, seu principal centro de produção vitivinícola, lembramos da Malbec. Atualmente essa máxima vem sendo desmistificada e outras castas estão ganhando espaço ou sempre tiveram respeitabilidade, mas sendo ofuscada pela Malbec, como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc entre outras tintas.

Mas quando falamos das cepas brancas é a Torrontés que reina absoluta na terra dos Hermanos. E reina com honras e a fidalguia que mercê. A casta é especial e a começar pelos seus aromas florais, de frutas tropicais, cítricas e de tons herbáceos e minerais, com paladar fresco, leve, mas de grande e marcante personalidade.

E para a tradição da páscoa e sua gastronomia de carnes brancas, como peixe e bacalhau, decidi retirar um Torrontés da adega, devido a outra interessante característica da cepa que é a sua acidez vibrante e salivante.

A casta é ícone e merece uma data tradicional e relevante para os católicos. Não que eu seja um fervoroso religioso e adepto de seus dogmas, mas já que estamos inseridos em uma tradição e com uma gastronomia que estimula a degustação com um vinho harmonizando, por que não aproveitar esse momento com um bom rótulo?

Então o escolhido, o vinho que degustei e gostei é da icônica e tradicional Bodegas Norton e se chama Lote Rojo, um 100% Torrontés, da safra 2020. E depois de muito tempo volto a degustar um rótulo desse espetacular produtor e também, depois de muito tempo, degustar um Torrontés. Ante de tecer comentários sobre o vinho, vamos de história, vamos falar um pouco da Torrontés.

Torrontes: a casta emblemática da Argentina

A uva branca Torrontés tornou-se ícone na Argentina, dando origem a vinhos brancos extremamente potentes e capazes de surpreender inúmeros paladares. A produção de vinhos a partir da uva Torrontés ocorre, em especial, na Argentina e, eventualmente, é possível encontrar alguns notáveis exemplares em regiões da Nova Zelândia e do Chile.

Na Argentina, a Torrontés é encontrada em diversas áreas vinícolas, com destaque para o Vale de Cafayate, situado ao norte do país, e Salta. Com vinhedos cultivados em altitudes altíssimas, o vinho Torrontés de Cafayete é extremamente frutado e saboroso, bem como complexo e delicado, com corpo leve, tonalidade amarelo claro com reflexos verdes e raramente passa por barris de carvalho durante sua vinificação.

Salta

A casta Torrontés possui ainda três variantes – Mendocina, Sanjuanina e Riojana –, onde a mais importante é a variedade Torrontés Riojana por se tratar da única uva Criolla originada na América, que possui um alto valor enológico e importante relevância comercial na produção de alguns dos melhores vinhos brancos argentinos.

Os vinhos produzidos a partir da uva Torrontés são alguns dos vinhos brancos mais aromáticos da Argentina, onde é possível encontrar notas de ervas e especiarias. Na boca, os exemplares são intensos, com refrescante acidez e devem ser consumidos ainda jovens.

A maior parte dos vinhos Torrontés não passa por barris de madeira, proporcionando maior frescor aos exemplares. Além disso, devido a não utilização de madeira, os vinhos passam a apresentar uma coloração mais clara que os demais exemplares. Trata-se de uma variedade com bagos grandes, peles grossas e amadurecimento precoce. 

Torrontés

O clima mais frio é ideal para a uva Torrontés, ajudando a reter seus níveis de acidez natural. Essa casta cresceu rapidamente para se tornar um ícone dos vinhos brancos argentinos, além de tornar-se uma das variedades mais cultivadas do país.

A partir de 2012, a Torrontés tornou-se a segunda uva branca mais cultivada da Argentina, atrás apenas da nativa Pedro Ximenez utilizada na elaboração de vinhos de mesa simples, destinados ao consumo do mercado local.

E agora finalmente o vinho!

Na taça uma linda cor amarelo palha, límpido, transparente, brilhante, com tons esverdeados.

No nariz aromas típicos da Torrontés, com destaque para as notas frutadas, frutas tropicais, de polpas brancas e cítricas, como pera, limão, lima, um pêssego discreto e arrisco dizer que bananas, além de um delicado floral trazendo a sensação de frescor e grama cortada, uma agradável mineralidade.

Na boca traz a confirmação do frescor, da leveza, com algum volume de boca, que entrega alguma personalidade, mas não evidente, equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, uma boa acidez que saliva, com um final frutado e de média persistência.

Poucas castas brancas são extremamente aromáticas como a Torrontés. É complexo, mas, ao mesmo tempo é leve e intenso, delicado e com uma acidez que traz frescor quando o vinho é degustado e são essas percepções observadas, sentidas neste simples, porém muito saboroso vinho da Bodega Norton. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Norton:

Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que se conhece hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.

Edmund Norton

Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da região cercada por vinhedos próprios.

Sob a direção de Michael Halstrick, filho de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado de exportação.

Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado.

Em 2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade.

A Bodega Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina, exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino.

A frase manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de 125 anos.

Mais informações acesse:

http://www.norton.com.ar/en/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/torrontes

“Aguiar Buenos Aires”: https://aguiarbuenosaires.com/torrontes/

 









segunda-feira, 12 de abril de 2021

Cinco Tierras Sorbus Torrontés 2016

 

Quando falamos na Argentina, além do futebol, é claro, e da secular rivalidade nesse esporte com o Brasil, há também outra “marca” que eleva o nome do país a condições globais e que foi o pilar da economia dos nossos hermanos: a casta Malbec. Não há como dissociar, quando falamos da Argentina produtora de vinhos, da velha Malbec. Apesar de ser oriunda da região francesa de Cahors foi na Argentina, mais precisamente na região emblemática de Mendoza, que a Malbec encontrou seu lar e lá construiu seu nome, com rótulos proeminentes e valorosos nas suas mais diversas propostas e terroirs.

Mas quando falamos de castas brancas não podemos negligenciar a importância da Torrontés. Temos a Chardonnay, a Pinot Gris (Pinot Grigio), Chenin Blanc que também é prolífica em terras argentinas, mas a Torrontés ganhou destaque e hoje é umas das castas brancas mais importantes produzidas naquele país, arrisco dizer que a mais importante, sem sombra de dúvida. Não me lembro como se deu o primeiro contato com a Torrontés. Acredito que tenha sido lendo, as minhas buscas intensas pela informação, a construção do conhecimento do universo do vinho abriu muitas janelas, me proporcionou muitos rótulos especiais, muitas experiências sensoriais.

Mas lembro-me, com nitidez, quando degustei o meu primeiro rótulo argentino da casta Torrontés. Eu adorava Chardonnay, foi a primeira casta branca que degustei e ela me entregou muita expressividade, personalidade marcante, mesclado ao frescor e jovialidade e isso me agradava muito. E foi essa a percepção que tive quando degustei a Torrontés: Uma casta com personalidade marcante, explosão aromática, com destaque para as frutas brancas e cítricas, toques florais e o frescor e a jovialidade. Foi amor à primeira vista, ou melhor, a primeira degustação. E desde então não deixo de tê-la figurando a minha adega. 

E hoje, para variar, já que estou falando da Torrontés, mais um capítulo da minha história com essa especial cepa se constrói e, com gratas novidades, porque vem com aquela famosa já mencionada construção do conhecimento atrelado às minhas degustações e relação com o universo do vinho. O rótulo de hoje vem de uma região argentina que eu não conhecia e que, após, pesquisas e leituras e tida como uma localidade que é referência na produção da Torrontés! E não se enganem, não é Mendoza! Falo do Valle de Cafayate, na região de Salta. Conhece? Pois é, eu não conhecia.

Porém antes apresentemos o vinho que degustei e gostei que veio do Valle de Cafayate, na Argentina, e se chama Cinco Tierras Sorbus da casta, claro, Torrontés, da safra 2016. E, antes de falar do vinho, narremos a história de Valle de Cafayate e também da especial Torrontés.

Torrontés: a casta emblemática da Argentina

A uva branca Torrontés tornou-se ícone na Argentina, dando origem a vinhos brancos extremamente potentes e capazes de surpreender inúmeros paladares. A produção de vinhos a partir da uva Torrontés ocorre, em especial, na Argentina e, eventualmente, é possível encontrar alguns notáveis exemplares em regiões da Nova Zelândia e do Chile. Na Argentina, a uva Torrontés é encontrada em diversas áreas vinícolas, com destaque para o Vale de Cafayate, situado ao norte do país, e Salta. Com vinhedos cultivados em altitudes altíssimas, o vinho Torrontés de Cafayete é extremamente frutado e saboroso, bem como complexo e delicado, com corpo leve, tonalidade amarelo claro com reflexos verdes e raramente passa por barris de carvalho durante sua vinificação.

A casta Torrontés possui ainda três variantes – Mendocina, Sanjuanina e Riojana –, onde a mais importante é a variedade Torrontés Riojana por se tratar da única uva criolla originada na América, que possui um alto valor enológico e importante relevância comercial na produção de alguns dos melhores vinhos brancos argentinos. Os vinhos produzidos a partir da uva Torrontés são alguns dos vinhos brancos mais aromáticos da Argentina, onde é possível encontrar notas de ervas e especiarias. Na boca, os exemplares são intensos, com refrescante acidez e devem ser consumidos ainda jovens.

A maior parte dos vinhos Torrontés não passa por barris de madeira, proporcionando maior frescor aos exemplares. Além disso, devido a não utilização de madeira, os vinhos passam a apresentar uma coloração mais clara que os demais exemplares. Trata-se de uma variedade com bagos grandes, peles grossas e amadurecimento precoce. O clima mais frio é ideal para a uva Torrontés, ajudando a reter seus níveis de acidez natural. Essa casta cresceu rapidamente para se tornar um ícone dos vinhos brancos argentinos, além de tornar-se uma das variedades mais cultivadas do país. A partir de 2012, a Torrontés tornou-se a segunda uva branca mais cultivada da Argentina, atrás apenas da nativa Pedro Ximenez utilizada na elaboração de vinhos de mesa simples, destinados ao consumo do mercado local.

Valle de Cafayate, Salta

Cafayate é uma região produtora de vinho no noroeste da Argentina, localizada no amplo Vale do Calchaqui - um dos lugares mais altos do mundo adequado para a viticultura. A cidade de Cafayate fica perto da fronteira sul da região vinícola mais ao norte da Argentina, Salta, embora administrativamente seja uma parte da Província de Salta.

Salta e o Valle de Cafayate

Razoavelmente conhecido por seus Torrontes e Malbec, o Vale Calchaqui (um nome genérico para uma série de vales na borda da Cordilheira dos Andes) circunda Cafayate e tem algumas das paisagens mais espetaculares da Argentina, mudando rápida e dramaticamente do deserto às montanhas à floresta subtropical. Cafayate fica a 1700 m (5600 pés) acima do nível do mar, a uma latitude de 26 ° S (que compartilha com o deserto do Kalahari na África). Esta altitude é o que define o terroir da região, tornando-o adequado para a viticultura, apesar de sua proximidade com o Equador e o Trópico de Capricórnio. A altitude faz com que a luz solar que Cafayate receba é mais intensa do que nas regiões mais baixas, fazendo com que as uvas desenvolvam cascas mais espessas como proteção contra a radiação solar. Altitude também significa noites frias, alimentadas pelos ventos noturnos do oeste dos Andes cobertos de neve. As temperaturas podem ser cerca de 60F / 15C mais frias do que durante o dia, e é esta variação diurna da temperatura que prolonga a estação de crescimento e conduz ao equilíbrio nos vinhos acabados.

Os tipos de solo em Cafayate são variados, consistindo principalmente de argila arenosa de drenagem livre, com alguns bolsões de mais seixos. Estes solos secos causam stress nas vinhas, levando-as a produzir menos vegetação e menos uvas, reduzindo o rendimento global e contribuindo para os elevados níveis de concentração nos vinhos daí resultantes. Cafayate tem um clima desértico com baixa pluviosidade e umidade. As videiras são auxiliadas pela irrigação dos rios de degelo da região para mantê-las hidratadas durante o verão.

O terroir de Cafayate é particularmente adequado para a variedade Torrontes Riojana, que produz vinhos brancos florais e crocantes com uma profundidade de sabor surpreendente. Vinhos encorpados e ricamente estruturados feitos de Malbec e Cabernet Sauvignon também são produzidos em Cafayate.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha brilhante e com reflexos esverdeados, com uma formação, de média intensidade, de lágrimas finas, que logo se dissipam.

No nariz o destaque fica para as notas florais, flores brancas, com, logo em seguida, as frutas aparecerem, frutas brancas, como melão, pera, maçã e um fundo cítrico, lembrando laranja e diria limão.

Na boca vem algumas peculiaridades, a começar pelo baixo amargor, aquele seco intenso no paladar, típico da cepa, não se percebe, bem como a baixa acidez, tornando o vinho delicado. As notas frutadas são evidentes também, como no aspecto olfativo. Um vinho fresco e direto, bem descompromissado, com um final curto.

Novas percepções, novas experiências, novas facetas, novas histórias sendo escritas de uma velha conhecida, de uma casta que acompanha a minha estrada enófila desde algum tempo, a boa e necessária Torrontés. O Cinco Tierras Sorbus me revelou que a grandeza da Torrontés nos torna pequenos, mas especiais, por ter a oportunidade de degustar essa cepa que, tão versátil, te entrega personalidade, complexidade e a simplicidade do seu frescor, da sua vivaz acidez. Terroir, tipicidade, palavras que, embora sejam tão próximas ao nosso vocabulário enófilo e tão complexas, pode permitir que façamos, graças aos rótulos que degustamos, viagens, nos tornar tão familiarizados com as terras de onde foram concebidos, a perfeita logística que nos conduz até as regiões, tendo a taça cheia como o veículo, a ponte. O Cinco Tierras Sorbus, com a sua jovialidade e frescor, apesar dos incríveis 6 anos de safra, de vida, mostrou vivacidade e marcante expressividade personificando as mais fiéis características da Torrontés. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega e Viñedos Cinco Tierras:

Cinco Tierras é uma vinícola familiar que nasceu em 2000 por Rubén Banfi e sua esposa, Marie Geneviève, para produzir vinhos de alto padrão com uvas das melhores terras do país. Em 2002 lançaram os primeiros vinhos elaborados com uvas adquiridas a produtores independentes e os resultados foram tão favoráveis ​​que continuaram a desenvolver um crescimento sustentado. Em 2005, adquiriram uma fazenda de 25 hectares em Agrelo, Luján de Cuyo, estabelecida com antigos vinhedos Malbec, Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, e começaram a fazer um Torrontés com uvas do Vale do Cafayate em Salta.

A vinícola está localizada em Vistalba, Luján de Cuyo, e conta com os últimos avanços tecnológicos e uma capacidade de produção de 250.000 litros divididos em piscinas de cimento revestidas com epóxi (7.000 a 25.000 litros) e tanques de aço inoxidável (5.000, 7.500, 15.000 e 25.000 litros). Ele também tem 300 barris de carvalho francês no subsolo. Possui 3 linhas de vinhos: Cinco Tierras Reserva; Cinco Terras Clássicas e Sorbus. Em todos eles destacam-se a fruta e o equilíbrio, bem como uma excelente expressão varietal com um toque de carvalho.

Os itens são limitados, a Reserva varia entre 4.000 e 10.000 garrafas e a linha Classic cerca de 40.000. A produção anual é de 160.000 garrafas. Desde a primeira vindima, os vinhos Cinco Tierras tiveram uma aceitação muito boa tanto local como internacionalmente e foram premiados em importantes concursos. Atualmente exportam 70% da produção para França, Brasil, EUA e China.

Mais informações acesse:

www.bodegacincotierras.com.ar

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/torrontes

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/torrontes

“Wine Searcher”: https://www.wine-searcher.com/regions-cafayate+-+calchaqui+valley

 


 


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Lo Tengo Torrontés 2012

 


Definitivamente a Malbec na Argentina é a casta tinta mais emblemática. Embora não seja uma “filha” natural, biológica, foi adotada e lá se perpetuou e até hoje a história se escreve a cada dia com rótulos emblemáticos. Mas não se enganem caros leitores, há espaço para as cepas brancas e uma, em especial, certamente ganhou notoriedade na terra dos Hermanos e também na minha mesa e no meu paladar: a Torrontés. Oriunda da Espanha, a Torrontés, foi amplamente cultivada na região da Galícia ganhou o terroir argentino ganhando lá a fama que hoje é cultivada pelos mais entusiasmados enófilos a começar por mim. A casta começou a ganhar destaque no início da década de 1970. Mas há indícios de que ela chegou na Argentina muitos anos antes. Algumas fontes citam que foi em 1500 com as missões jesuítas, outras relatam que foi em 1800 com os conquistadores espanhóis, mas a data exata é uma incógnita. O nome Torrontés é utilizado como uma referência para um grupo de uvas brancas, entre as mais conhecidas estão a Torrontés Riojano, a Torrontés Sanjuanino e a Torrontés Mendocino. Mas muitas vezes, apesar da diversidade, encontramos apenas o nome “Torrontés” nos rótulos dos vinhos. Bem, diante dessa ficha técnica da história da Torrontés, eu também tenho a minha história com essa incrível casta branca. Foi com a Torrontés que eu entendi e assimilei o conceito mais pleno de que uma casta branca pode ter personalidade, leve, fresca e com uma bela acidez. Ah a acidez, definitivamente tem tudo a ver com as cepas brancas, pois ela traz a jovialidade e o frescor de que esperamos destas. E a descobri graças as minhas pesquisas, as minhas inquietações e avidez por aprender e conhecer sobre a bebida de que amo tanto: o vinho. Pensei: Será que só existe a Malbec na Argentina? E pesquisei e vi e li muitas referências sobre essa casta: a Torrontés. Descobri alguns rótulos, me enamorei pela cepa e agora sigo nas minhas degustações com essa casta que não falta na minha adega.

E um vinho, claro, da casta Torrontés, me chamou muito a atenção, um vinho que definitivamente eu degustei e gostei e veio da emblemática região argentina Mendoza, e da tradicional Bodega Norton e se chama Lo Tengo, da safra 2012. Um vinho que, já no rótulo, enaltece a cultura da Argentina: o tango. Essas ligações e sinergias com a cultura se reflete fortemente com a vitivinicultura também, isso o argentino faz e muito bem. A Torrontés virou um “produto” que exporta os vinhos argentinos para o mundo, juntamente com a Malbec.

Então vamos ao vinho!

Na taça apresenta um lindo e brilhante amarelo dourado com reflexos esverdeados.

No nariz o destaque fica para as notas frutadas, frutas cítricas também é evidente, notas de limão, de abacaxi, damasco, pera e outro quesito que faz da Torrontés maravilhosa é o toque floral, flores brancas fazem desse vinho agradavelmente aromático e delicado.

Na boca é redondo, elegante, com uma personalidade marcante, com a reprodução das frutas brancas amplamente percebidas no aspecto olfativo, mostrando um equilíbrio entre ela, a fruta e a acidez que está em evidência, mas que não agride ou incomoda, revelando todo o seu frescor e jovialidade.

Um vinho que personifica com fidelidade a casta, que entrega com qualidade as características mais marcantes da Torrontés: personalidade, frescor, leveza, sabor. Essa simbiose faz da casta uma das mais importantes, versáteis e emblemáticas entre as cepas brancas catalogadas no mundo do vinho. São tão versáteis que podem ser degustadas sem acompanhamento, de forma descontraída, mas com comidas leves e até massas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Norton:

Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que conhecemos hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.

Edmund James Palmer Norton

Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da região cercada por vinhedos próprios. Sob a direção de Michael Halstrick, filho de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado de exportação. Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado. Em 2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade. A Bodega Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina, exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino. A frase manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de 125 anos.

Mais informações acesse:

http://www.norton.com.ar/en/

Degustado em: 2014


 


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Crios Torrontés 2013


Não é muito fácil para nós, enófilos brasileiros, encontrar vinhos brancos estruturado, com corpo. O nosso mercado, até também pelas características climáticas, consome brancos mais leves, jovens e diretos, para rápida degustação. Claro que são propostas, seria imprudente fazer comparações de qualidade entre os brancos encorpados e leves, ficando apenas no campo monetário, afinal, os brancos mais encorpados são mais caros que os leves, certamente pelo fato dos primeiros passarem por barricas de carvalho encarecendo o produto, além, é claro, com os altos tributos que incidem sobre o vinho no Brasil. Contudo há castas e rótulos que entregam ao fiel e bom degustador dessa poesia líquida, vinhos de estrutura e com um bom custo, permitindo o investimento sem doer no bolso. Falo da Torrontés! Não há como não ter um legítimo Torrontés argentino na adega. É como a Malbec entre as tintas. A qualidade desta cepa precede a fama da Argentina.

O vinho que degustei e gostei é o excelente Crios da casta Torrontés (100%) da Susana Balbo Wines (Dominio del Plata) da safra 2013, que veio das regiões de Salta, em Cafayate e em Mendoza, no Vale do Uco, sendo um “corte de Torrontés, pois veio de duas regiões distintas, apesar de ser um vinho varietal. A região de Mendoza é mais famosa e emblemática, onde a Argentina é exportada, mas Salta é pouco comentada entre nós brasileiros, então, vamos, antes de falar do vinho, traçar um breve histórico da região.

Salta

Salta é uma sub-região da região do Norte. Tem uma área de vinhos que equivale, em hectare, a 2.919,10, com altitude de seus vinhedos de 1.280 a 3.005 msnm. Suas principais localidades são: Cachi, Molinos (Colomé), Angastaco, San Carlos, Yacochuya e a mais conhecida, Cafayate.


A produção de vinhos em Cafayate é antiga, e a cidade ficou famosa desde 1950 pela qualidade dos seus Torrontés. Essa uva tem uma tendência de produzir um amargor no paladar devido à presença de potássio no solo, e exatamente os solos da região de Cafayate são pobres em potássio, evitando essa característica indesejável nos vinhos de Torrontés. A altitude e as noites frias típicas do local contribuem então para um estilo elegante e delicado dos Torrontés de Salta. Na altitude de Salta o clima desértico oferece intensa luz ultravioleta ao longo do dia e uma importante diferença de temperatura durante a noite, uma variação de mais de 25ºC, constituindo um clima único e especial para a vinicultura. Em algumas localidades não chove nada ao longo do ano, então as águas dos rios de degelo são fundamentais para a vinicultura e para outras culturas locais. Salta teve produção de vinhos desde o século 19, apesar das dificuldades de transporte na região montanhosa e árida. O Torrontés local mereceu especial atenção dos produtores por suas qualidades típicas.

Vamos ao vinho!

Na taça exibe um amarelo ouro, muito brilhante e reluzente com algumas finas lágrimas já denunciando certa estrutura, mas que logo se dissipa.

No nariz um exuberante aroma de flores brancas, com toques generosos de frutas brancas, onde se nota abacaxi, maçã verde, pêssego.

Na boca é untuoso, estruturado, pois é conservado por três meses sobre as borras, mas muito fresco, jovem, frutado, com toques cítricos, rica acidez e um final persistente e agradável.

Um Torrontés que alia complexidade, estrutura, mas que não renuncia seu frescor, jovialidade, sendo macio, fácil de degustar e muito versátil, sobretudo no quesito harmonizações que vai de massas como pizza a carnes brancas. Tem 13% de teor alcoólico. Vale uma curiosidade sobre o nome da linha de vinhos “Crios”: Susana Balbo decidiu, ao criar essa linha de vinhos mais jovens da vinícola, seus filhos que na época, eram crianças, daí o nome “crios” que significa “criança”.

Sobre a enóloga Susana Balbo:

Nascida em uma família tradicional e desafiando as convenções sociais da era Susana, ela decidiu se profissionalizar na produção de vinho. Dessa forma, em 1981, recebeu seu Bacharelado em Enologia como a melhor pós-graduação, tornando-se a primeira enóloga feminina na Argentina. Em 2012, ela foi a única argentina reconhecida pela revista Drinks Business como uma das mulheres mais influentes do mundo do vinho. Em 2015, a mesma publicação reconheceu a "Mulher do ano" (Mulher do ano de 2015 pela The Drinks Business) e, posteriormente em 2018, a nomeou como uma das "As 10 mulheres mais influentes do mundo da veio”. Sua experiência começou em Cafayate, Salta, responsável pela vinícola Michel Torino Sucession, especializada na produção de Torrontés. Depois, trabalhou em vinícolas muito importantes, como Martins e Catena Zapata. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Susana teve a oportunidade de atuar como consultora em importantes vinícolas internacionais em várias regiões vinícolas, o que lhe permitiu estar sempre na vanguarda das tendências do mercado e estilos de vinho. Ela também foi Presidente da Wines of Argentina (WOFA) três vezes (2006-2008, 2008-2010 e 2014-2016) e assumiu o cargo de vice-presidente de 2010 a 2012, tornando-se um ícone da indústria vinícola argentina e mundial.

Sobre a Susana Balbo Wines:

Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola, Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis (Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à equipe Susana Balbo WInes. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional, demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI: segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.

Mais informações acesse:






Fonte do histórico de Salta: Academia do Vinho, em: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SALTA

Degustado em: 2018



quinta-feira, 26 de março de 2020

Tomero Torrontés 2014



Foi tardia a minha descoberta da casta Torrontés. E graças as minhas pesquisas e viagens pelo conhecimento do mundo do vinho, descobri a casta por gostar muito dos vinhos da região de Mendoza. Li sobre a cepa e me deixei envolver por suas características, pelo que poderia oferecer e atualmente vinhos com a casta não pode ficar muito tempo ausente de minha humilde adega, mas certamente há muito a explorar as riquezas da Torrontés que é uma das castas mais produzidas da Argentina, juntamente com a Malbec, a Bonarda e o Cabernet Sauvignon. E já que enalteci tanto a Torrontés, antes de falar do rótulo que degustei e gostei, se ficou interessado, segue link com o histórico da uva, do portal: Wines of Argentina.


E vamos ao vinho que degustei e gostei, que é ótimo, um dos melhores que já bebi da cepa: Ele veio da tradicional Bodega Vistalba de um rótulo bem conhecido, o Tomero, da casta Torrontés, é claro, da safra 2014, da emblemática região de Mendoza.

No visual dispõe de um amarelo palha, límpido, com reflexos esverdeados muito brilhantes com algumas lágrimas escorrendo desenhando as paredes da taça.

No olfato é intensamente aromático e que remete a flores brancas, com nuances frutas cítricas como limão, lima, ensaiando uma frescura e jovialidade.

No paladar é frutado, com corpo médio, mostrando certa untuosidade e até mesmo, diria, cremosidade, tem acidez proeminente bem integrada, revelando seu frescor e um caráter jovem e descompromissado, com agradáveis toques de mineralidade.

Um vinho de estrutura, personalidade, mas que abre mão de seu frescor, de sua jovialidade, como tem de ser o ícone Torrontés. Apesar de ter 14,5% de teor alcoólico, mostra-se bem integrado ao conjunto do vinho sem comprometer em nada a sua proposta.

Sobre a Bodega Vistalba:

Vistalba é uma propriedade rural familiar constituída por uma longa extensão de vinhedos, onde é realizado o plantio e colheita das uvas e também o armazenamento dos vinhos. A fazenda localiza-se na cidade de Mendonza, Argentina, onde o progresso da viticultura começou cedo, no século XVI, junto com a colonização espanhola. A história da marca Vistalba começou há mais de 60 anos, quando a família Pulenta iniciou o plantio de videiras na região. A família foi uma das precursoras na indústria do vinho daquela região, e até é hoje é uma das referências do país. A empresa é reconhecida pela dedicação na elaboração de vinhos elegantes e completos. Carlos Pulenta, atual presidente e proprietário da Bodega Vistalba é a segunda geração de uma família com larga tradição nesta arte. Ele recorda que em sua infância percorria uma grande extensão de vinhedos junto a seu pai. Revela também que cresceu ao redor dos barris de vinho e possui imensa paixão pelo assunto. Sua adoração pelos vinhos é tão profunda quanto sua experiência no assunto. Antes de comandar a Bodega Vistalba, Carlos fundou a Bodega Peñaflor – Trapiche, deixando-a para assumir a presidência das Bodegas Salentein. Além destas destacadas atividades no mundo do vinho, também foi Presidente da Bolsa de Comércio de Mendonza e é Consul Honorário da Finlândia, Reino Unido e Reino dos Países Baixos. A Vistalba produz vinhos de corte de uvas cultivadas no Vale de Vistalba e chamados simplesmente de Corte A, B e C. Cada corte representa seu próprio e completo universo. Em sua produção usa as cepas Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Bonarda que variam anualmente. Para cada corte selecionam o melhor de cada colheita e são tratados e armazenados na moderna unidade que construíram.

Sobre os rótulos “Tomero”:

É a expressão das diferentes variedades de uvas que proveem dos vinhedos Vistalba, localizados no Valle de Uco. A partir da seleção das uvas com as melhores características, nascem os vinhos Tomero, 100% varietais. A origem do nome é uma homenagem ao nobre ofício do homem que tem a chave da torneira do coração de Mendoza, e é responsável por abrir e fechar a entrada de água, proveniente da Cordilheira dos Andes, que irriga fazendas e vinhedos. Os vinhos Tomero são frescos e jovens. Cada um deles expressa de maneira particular as características da varietal que o compõe. A figura do Tomero no rótulo é uma homenagem ao trabalhador responsável pela distribuição e manejo da água destinada à irrigação dos campos, tarefa vital para o desenvolvimento do plantio da região. As uvas dos vinhos Tomero provêm da grande propriedade rural “Los Alamos”, localizada na região de mesmo nome, na cidade de Tunuyán, próxima à Mendonza.  São 352 hectares de área cultivada de vinhedos e nogueiras. Os primeiros cultivos aconteceram em 1980 e tem se seguido ano após ano. As uvas provenientes da fazenda Los Alamos transformam-se em vinhos na bodega Vistalba.

Mais informações acesse:

http://www.bodegavistalba.com/

Degustado em: 2016