Cruzar a margem do Gironde é como viajar para outra região.
As comunas à direita em nada lembram as da margem esquerda, com luxuosos
châteaux e vinhedos enormes. São mais modestas, menos conhecidas (com uma
exceção) e, além disso, quem domina a região é a Merlot, e não a Cabernet. As
suas sub-regiões desse pedaço são: Saint-Émilion e Pomerol.
Já em Entre-Deux-Mers, como o próprio nome diz, se encontra
entre os rios Dordogne e Garonne. É um tanto quanto marginalizada principalmente
quando comparada às demais denominações de Bordeaux. Nunca seus vinhos foram
classificados e a maioria dos tintos, inclusive, não segue as regras da
denominação Entre-Deux-Mers, se enquadrando apenas como Bordeaux ou Bordeaux
Superiéur. Lá, os brancos é que dominam. Feitos principalmente de blends de
Semillón, mas também de Sauvignon Blanc e Muscadelle, são florais com um toque
picante. E por não estagiarem em barrica, ganham leveza e frescor como nenhum
outro.
E como ler um rótulo de Bordeaux? Bordeaux
Superiéur, Cru, Grand Cru… O que é tudo isso? Que classificações são essas? Tudo começou em 1855
(antes mesmo da criação do conselho regulador), quando Napoleão III resolveu
organizar o Julgamento de Paris, que classificou os melhores vinhos à época. Esta
classificação não considerou toda Bordeaux, então algumas denominações,
sentindo-se inferiorizadas, criaram posteriormente as suas próprias
classificações. Premier Grand Cru, Grand Cru Classé, Grand Cru… E por aí vai!
Acredite, são várias delas, todas com nomes muito parecidos. Mas três, as mais
importantes, são usadas até hoje.
Para o evento, os principais châteaux deveriam classificar
seus vinhos do melhor para o pior e, então, seriam degustados, avaliados e
distribuídos em cinco categorias. Com apenas um vinho classificado, a vinícola
já ganha um título vitalício! Funciona como um atestado garantia de qualidade,
e até os vinhos mais simples que da propriedade saem têm preços astronômicos. Ao
todo, 61 produtores foram classificados… E adivinhe só? A maioria deles está
justamente em Médoc – fora isso, os outros que entram estão em Sauternes,
Barsac e Graves.
Château-o-quê?
Difícil mesmo é encontrar sequer um rótulo de Bordeaux sem a
palavra “château”. O que parece ser uma mania local, na verdade, tem uma explicação
pra lá de plausível.
Como a maioria dos vinhedos estava localizada no entorno de
castelos (châteaux, em francês), as vinícolas acabaram sendo batizadas com seus
nomes. Hoje, nem todas as vinícolas tem castelos próprios, mas mesmo assim são
denominadas châteaux!
Mis en Bouteille au Château
Procure pela frase num rótulo e tenha a certeza de que as
uvas do vinho que vai beber foram cultivadas e vinificadas no próprio château.
Ao pé da letra, “Mis en Bouteille au Château” significa “engarrafado no
château”, ou seja, é quando todas as etapas de produção de um vinho passaram
aos cuidados do próprio vinicultor.
Por que preferir estes? Para conhecer a tipicidade de um
terroir específico (pode acreditar que cada um deles tem características completamente
únicas!).
E agora finalmente o vinho!
Na taça o vermelho rubi intenso sobressai, mas com algum
reflexo violáceo que traz à tona um reluzente brilho, com uma profusão de
lágrimas finas que teimam em se dissipar das paredes do copo.
No nariz traz as frutas vermelhas como protagonistas, “estrelando”
cerejas, ameixa e talvez framboesa, com um toque de couro, estrebaria, carpete,
algo de tabaco, talvez, arriscaria dizer ainda notas terrosas.
Na taça é seco, com alguma estrutura, marcante, mas macio e
fácil de degustar, um pouco alcoólico no início, mas que logo se equilibrou, porém
não escondeu a sua presença em toda a degustação, mas que, em momento algum,
agrediu. Tem bom volume de boca, sendo saboroso, frutado, com taninos presentes
e redondos com uma acidez vivaz e final longo e persistente.
Entre margens, terroirs, caráter expressivo, marcante
personalidade, maciez, elegância, a fruta que traz leveza, estrutura, não há
como não se sentir alegre, mesmo que por um súbito momento de alegria, por um
efêmero momento, quando se degusta um Bordeaux. E parece que valores, propostas,
status, grife parecem perecer diante de uma taça cheia de um vinho bordalês!
Claro que detalhes como esse delimita a proposta de um vinho, te mostra o que
está degustando. O meu Château Pinet la Houssaie Bordeaux, que traz a
predominância da Merlot, traz a maciez, o espírito frutado, com uma acidez
equilibrada que determina as características mais marcantes desta emblemática
cepa, mas que entrega também personalidade, expressividade graças aos seus
taninos firmes e ainda presentes pela sua jovialidade, mas sem agredir ao
paladar, sem contar com o apelo estético, visual, com o típico vermelho rubi.
Barato sim, mas significativo, pois personifica uma região tradicional,
importante, histórica e que nos brinda com vinhos de toda ordem, de tantos
terroirs que parece se tratar um mundo, de um universo que muito tem ainda a se
explorar. Tem 13% de teor alcoólico.
O Château Pinet la Houssaie
Localizada na cidade de Berson, a vinha de Chateau Pinet La
Houssaie faz fronteira com a Côtes de Bourg e gira em torno da cidade de Blaye
em uma paisagem de colinas que correm ao lado de uma vista para o estuário.
Desfrutando de um clima favorável, as vinhas florescem completamente.
Sobre a Maison Bouey:
A história da família Bouey no vinho enraizou-se na região de
Médoc, no momento em que eles adquiriram suas primeiras vinhas em 1821. A casa
comercial foi criada posteriormente, em 1958, por Roger Bouey e seus filhos
André e Serge e continuou se desenvolvendo até agora, mantendo seu caráter
familiar e independência. 2016 marca uma virada no seu desenvolvimento.
Após uma carreira internacional em administração e finanças,
Patrick Bouey decidiu então, em 1989, se juntar a seu pai Serge e seu tio na
aventura da família, e assume totalmente as rédeas da empresa em 1991 com seu
irmão Jacques, o consultor artístico da casa. A empresa entra, dessa forma, em
uma nova era graças ao desenvolvimento das vendas em garrafas para a
distribuição em massa. Em 2005, Patrick deu à casa da família um novo nome:
Maison Bouey.
Com uma paixão pelo terroir e o desejo de produzir seus
próprios vinhos com uma abordagem de qualidade, a casa compra duas propriedades
no Médoc em 1998: o Château Lestruelle assim como o Château Maison Blanche,
ambos Crus Bourgeois. Patrick faz muitos trabalhos nas vinhas e nas adegas para
dar à casa os meios de sua ambição de se reconectar não só com o terroir mas
também com a qualidade.
Logo após, em 2009, Patrick Bouey transferiu todas as
instalações e escritórios em um único local em Ambarès, nos arredores de
Bordeaux. Foi uma nova alavanca para o desenvolvimento da empresa e então
Patrick lançou o “360 Plan”. Este plano se concentra em três diretrizes: subir
no mercado, desenvolver exportações, bem como um amplo plano de marketing e
comunicação.
A fim de destacar os notáveis terroirs da família no Médoc,
Patrick aumentou o portfólio de castelos em 2014 com o Château La France
Delhomme, Cru Bourgeois.
Este último incorpora a abordagem de premiumização da gama
‘Bouey Family Vineyards and Chateaus’. Posteriormente, em 2015, ele adicionou o
Château du Mont (Haut-Médoc) e o Crus Burguês Château La Ribaud e Château
Saint-Yzans. Desde 2007, Patrick trabalha com Stéphane Derenoncourt para todas
as propriedades da família. Tanto quanto houve a garantia de qualidade, tal
colaboração resultou na criação de coleções exclusivas de assinaturas como ‘Les
Parcelles’.
A Maison Bouey respeita a natureza e a vinha com agricultura
integrada. Mas a Maison Bouey não promove tanto a maneira como o vinho é
produzido, como a confiança no viticultor e a personalidade do terroir.
Portanto, a casa fez uma parceria estreita com os
viticultores cujo trabalho destaca a casa. Ele presta homenagem a eles com a
coleção “Retratos”, desse modo cada vinho leva a cara do viticultor que o
produziu. A essas coleções é adicionada a linha Grand Crus Classés. E muita
essência do que a casa faz de melhor, símbolo afinal do trabalho de excelência,
lançou a cuvée Villa des Crus com uma embalagem moderna e refinada, com cada
garrafa embrulhada em papel de seda e entregue em uma caixa de luxo.
Como resultado lógico da abordagem de premiumização, Patrick
Bouey desejava desenvolver a distribuição seletiva para um serviço de primeira
linha, clientes particulares e comitês de trabalhadores com a chegada de Benoît
Lesueur. Um sólido desenvolvimento das exportações permite aumentar os mercados
internacionais em cerca de sessenta países, que agora representam 60% do
faturamento.
Num espírito criativo, a casa lançou novos produtos e
conceitos como vinhos de prazer imediato, como ‘La Vache Rose’. Ademais, a
Maison Bouey também atravessa as fronteiras de Bordeaux lançando a coleção
Southwest que brinca com as notas de Malbec e Shiraz.
É claro, sem dúvida, que toda essa estratégia significa uma
maior comunicação com a imprensa e participação justa. No primeiro semestre,
Patrick Bouey esteve na capa de muitas revistas especializadas. Ele foi visto
nas maiores feiras dos últimos meses.
Agora, a casa é um ator moderno e dinâmico na cena de
Bordeaux, enquanto permanece como uma das últimas casas independentes e de propriedade
familiar do comércio.
Por fim, propriedades familiares, marcas exclusivas, Grands
Crus Classés, Maison Bouey se esforça para promover na França e em todo o mundo
um espírito baseado em talento, qualidade, confiança e paixão pelo vinho.
Mais informações acesse:
https://www.famillebouey.fr/
Referências:
“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/seja-um-craque/guia-definitivo-dos-vinhos-de-bordeaux/