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segunda-feira, 18 de março de 2024

Morgon Alphonse Desclas Gamay 2019

 


Vinho: Morgon Alphonse Desclas

Casta: Gamay

Safra: 2019

Região: Villié-Morgon, Beaujolais

País: França

Produtor: Domaine du Père Guillot

Teor Alcoólico: 12,5%

Adquirido: Evino

Valor: R$ 74,90

 

Análise:

Visual: um rubi vivo e intenso, mas com halos granadas e lágrimas finas e em média intensidade.

Nariz: aromas vivazes de frutas vermelhas, com discretas notas de especiarias em segundo plano, arriscaria em dizer que traz algo de terra molhada e couro.

Boca: é médio estruturado, com álcool um pouco evidente, porém não incomoda, repetindo as notas frutadas, com taninos dóceis, mas marcados, com acidez média e um final persistente.

 

Produtor:

https://www.pereguillot.fr/en/


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Miolo Wild Gamay 2022

 

A Miolo, a vinícola brasileira Miolo, definitivamente está na minha história e não digo isso agora, mas há algum tempo e com muito orgulho e alegria. Falo com todo esse entusiasmo porque quando me fiz submeter à transição dos vinhos de mesa, os famosos vinhos coloniais para os vinhos finos, aqueles de uvas vitis viníferas, lá estava o Miolo e seus vinhos para me oferecer seus préstimos.

A Miolo hoje é uma indústria de vinhos e a sua representatividade mercadológica atesta isso e não é demérito para esse grande produtor ser uma indústria, principalmente quando se confirma também quando seus vinhos ainda fazem parte da vida de muitos e muitos enófilos espalhados pelo Brasil e pelo mundo!

E a Miolo ainda tem muito a oferecer, mesmo que ao longo de todo esse tempo em nosso mercado, e muita coisa nova, muitos novos rótulos arrojados que podem trazer grandes novidades, mensagens edificantes e a corroboração da saúde para aqueles que degustam bons vinhos, a qualidade de vida, os fatores sustentáveis!

Por que digo tudo isso? O vinho de hoje, não preciso dizer que é da Miolo, mas, direi mesmo assim, é da Miolo! E falo não apenas com um sentimento saudoso, de nostalgia, mas também com um agradável vislumbre do futuro, da capacidade desta vinícola de oferecer coisas novas, com aqueles rompimentos de paradigmas que só eles são capazes de oferecer.

Não direi que esse vinho só traz novidades para mim, de fato traz sim, muitas novidades, mas nem tanto, nem tanto, até porque já degustei, nos primórdios um vinho deles que hoje assumiu, como disse, alguns novos contornos seguindo, sobretudo, alguns anseios de uma camada socialmente, ambientalmente responsável.

Sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região brasileira da Campanha Gaúcha, mais precisamente da Campanha Meridional, que, a cada dia, cresce a olhos vistos em qualidade e tipicidade, mais precisamente da Campanha Meridional, dos vinhedos da Seival, e se chama Miolo Wild Gamay da safra 2022.

Quando falei que nem tudo é novidade é porque, em um passado razoavelmente distante, eu degustei, por duas vezes, a versão mais “antiga” do Miolo Gamay que é um dos melhores rótulos brasileiros produzidos por esta emblemática casta que se notabilizou em terras francesas.

Miolo Gamay 2015

E alguns detalhes, antes de entrar na história da Campanha Gaúcha e da Gamay, merecem serem exaltados, detalhes esses que eu mencionei como grandes novidades para mim: O Miolo Wild Gamay foi produzido por intermédio do método ancestral de maceração carbônica de cachos inteiros e a vinificar sem adição de sulfitos e sem adição de leveduras selecionadas, passando a usar leveduras selvagens da uva de Gamay do Seival.

E por ter sido, esse rótulo, em março, aproximadamente, de 2022, pode este vinho, ser considerado o primeiro vinho do mundo a ser lançado no ano de 2022! E de acordo com as palavras do enólogo Adriano Miolo, que produziu este vinho juntamente com Henry Marionnet, reconhecido como o “Papa do Gamay” no mundo, onde disse que “O Miolo Wild Gamay Safra 2022 vai ser a primeira oportunidade que o consumidor terá de degustar a qualidade desta safra. Estamos no meio da colheita deste ano, mas já podemos afirmar que é espetacular e deverá ser mais uma safra lendária para a Miolo, como foi em 2018 e 2020”.

O inverno muito rigoroso e o verão extremamente quente e seco, com temperatura que chegou a 44 graus em janeiro, determinaram a performance das uvas. O frio intenso proporcionou uma brotação uniforme da planta, porém tardia, que também refletiu na maturação tornando a colheita mais tardia do que o usual.

Bem diante dessas credenciais vamos para mais histórias, vamos de Campanha Gaúcha e da história da Gamay.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantadas em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.

Gamay

A Gamay é uma das principais uvas tintas da França, original da região de Beaujolais, sul da Borgonha, e norte das Côtes du Rhône. É responsável única pelo famoso vinho Beaujolais, um vinho leve, brilhante, suave e muito saboroso. Na região vizinha de Mâcon, é usada na elaboração dos Mâcon tintos, mas em combinação com Pinot Noir. Hoje está bem espalhada pelo mundo, onde produz bons varietais, principalmente na Califónia, Brasil, África do Sul e Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Croácia.

Possuindo grande variação de nome pelo mundo, a uva Gamay pode ser encontrada com diferentes denominações reconhecidas pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho. A casta pode ser identificada como Jurançon Noir, Gamay Beaujolais ou Gamay Noir. Possuindo parentesco comprovado com a casta Pinot Noir, a uva Gamay se contrapõe de forma elegante com a prima, disputando o mesmo território. Entretanto, em países como a Suíça, é possível encontrar vinhos onde a Gamay não é vinificada sozinha, como na França, e sim em cortes com a sua parente, a cepa Pinot Noir.

Intimamente ligada aos famosos vinhos tintos franceses Beaujolais, conhecidos por possuírem caráter leve, macio e repletos de aromas de frutas tropicais e refrescante acidez, a uva Gamay costuma brotar e amadurecer de forma precoce, sendo extremamente vigorosa e produtiva. Se espalhando pela Côte d’Or em meados do século XIV, a origem do nome da cepa Gamay provém de uma vila localizada no sul de Beaune, na região de Borgonha na França.

A casta Gamay começou a ser utilizada em vinhos brasileiros na década de 1970, especificamente no Rio Grande do Sul, na região de Viamão, próxima a Porto Alegre, produzindo vinhos bastantes jovens possuidores de excelente sabor.

A composição do solo onde ocorre o cultivo das vinhas de Gamay influencia no tipo de aroma que será adquirido no processo de vinificação. Caso o cultivo ocorra em solos granitados, a casta Gamay propiciará ao vinho aromas de pimenta e framboesa.

Possuindo caráter bastante frutado, a uva Gamay possui excelente estrutura no que se refere a acidez, além de baixa presença de taninos. Os vinhos de caráter e estilo leve elaborados a partir da casta Gamay são ideais para acompanhar pratos que possuam pescados, exaltando os aromas de frutas e refrescante acidez da uva.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho rubi, com halos violáceos bem brilhantes, com finas e discretas lágrimas que logo se dissipam do copo.

No nariz mostra uma exuberância aromática e muita tipicidade por conta do processo de maceração carbônica, destacando-se as notas frutadas, tais como maçã, cerejas, framboesa, morango, trazendo ao vinho um incrível frescor e delicadeza, corroborados com toques florais.

Na boca é leve, fresco, com algo de despretensioso, sendo muito saboroso e cheio na boca, conferindo-lhe também personalidade. Traz também o protagonismo da fruta vermelha fresca, como no aspecto olfativo. Tem taninos quase que imperceptíveis, ótima acidez e um curioso e agradável toque herbáceo. Final prolongado, longo.

E diante de tantas novidades que esse rótulo me proporcionou, bem como alguns momentos nostálgicos deliciosos, eu percebi hoje, degustando esse belíssimo e solar vinho da Campanha Gaúcha, que a história é viva e latente, não é estática e isso serve, sim, para o universo dos vinhos. Miolo Gamay Wild é assim! É um vinho arrojado, mas que traz as características mais marcantes da cepa é um vinho moderno, mas tradicional. É um vinho especial, frutado, com a cara, com o DNA do Brasil e dos atuais dias quentes que tanto caracteriza o nosso país. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Miolo:

A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após ano. Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. A produção dentre as 4 vinícolas do grupo soma, em média, 10 milhões de litros por ano numa área cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente 1.000 hectares.

A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em 1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha), Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões produtoras.

Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a marca que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas de prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos vinhos se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência, aproximando e formando novos apreciadores da bebida. Assim é no Vale dos Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e aproxima quem sonha de quem quer fazer.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/ciclo-de-crescimento-da-uva/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/campanha-gaucha

“Tudo do Vinho”: https://tudodovinho.wordpress.com/2020/07/14/i-p-campanha-gaucha/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_ela_uvas_mostra.php?num_uva=13

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/196-uva-gamay-a-pequena-joia-do-beaujolais

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gamay

“Embalagem Marca”: https://embalagemmarca.com.br/2022/03/miolo-wild-gamay-2022-chega-ao-mercado-ainda-em-marco/