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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Terra do Vinho Tannat 2018

 

A série “grandes novidades” continua a todo vapor! E a cada grata e surpreendente novidade, um real e latente sentimento de arrebatamento me toma de assalto, me contamina de um prazer que somente o vinho pode proporcionar aos simples e humildes enófilos como esse que vos escreve.

E a rota dos vinhos de São Roque tem me proporcionado grande parte desses momentos únicos, singulares e, claro, surpreendentes! E mais uma vez também vem em um formato de presente, como todo e qualquer vinho, do amigo proprietário da e-commerce Pemarcano Vinhos, o Luciano Feliputti.

A sua escolha não poderia ter sido melhor: Um Tannat “made in” São Roque! Mais uma vez a rota dos vinhos de São Roque estacionou, ou melhor, inundou as minhas simplórias taças. Essa é a minha primeira vez com um Tannat da emblemática região do interior de São Paulo, tida como uma das pioneiras da vitivinicultura nacional.

A gente sempre associou o Tannat com o Uruguai e com méritos e razão! Não há como falar de Tannat e negligenciar a história do Uruguai no processo de disseminação da variedade, no que tange a sua qualidade, para o mundo. Definitivamente são os melhores!

Mas de um tempo para cá a Tannat vem ganhando em representatividade no Brasil e digo mais: com tipicidade! Vinhos com identidade de nossos terroirs. Não há como falar dos Tannats brasileiros e deixar de comentar das principais regiões como Serra e Campanha Gaúcha.

Então não se enganem que, dentre as castas tintas, a Merlot está ganhando espaço na produção de vinhos no Brasil, a Tannat também merece seu valor, sua importância. Não me lembro de exatamente quando a Tannat brasileira entrou na vida enófila, mas eu tenho as minhas “suspeitas”.

E aposto firmemente que foi por intermédio da Miolo, mais uma vez, sendo preponderante na minha história de degustação. Foi sim o Miolo Tannat reserva 2015 logo após uma grata descoberta acerca de um prêmio que ganhou, pasme, na terra da Tannat, o Uruguai.

Isso me abriu os olhos para Tannat e, a partir daí, passei a degustar, mais e mais, os Tannats brasileiros! Mas agora é mais uma página importante nesse caminhar: Um Tannat de São Roque e ainda tem, neste rótulo que apresentarei o apelo estético, trazendo um lindíssimo rótulo de um cavalo, mostrando uma associação de um animal potente e robusto como o cavalo, um animal selvagem, tanto quanto a velha Tannat!

Então sem mais rodeios, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei, além de ter sido especial, é de um produtor igualmente especial, falo do Adega Terra do Vinho Tannat da safra 2018. A Adega Terra do Vinho definitivamente produz belos rótulos, dos mais simples aos mais complexos e esse Tannat não fica atrás! Então antes de tecer os comentários das minhas impressões do vinho, vamos, para não perder o costume, contar um pouco da história de São Roque.

São Roque: A terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com algum brilho. Caudaloso, marca, com suas lágrimas finas e razoavelmente lentas, o bojo do copo.

No nariz tem intensidade média das notas frutadas que, discretamente, se revelam maduras, frutas vermelhas maduras, com toques herbáceos, algo vegetal, talvez e nuances florais.

Na boca é equilibrado e redondo, com corpo leve e álcool integrado. A fruta, como no aspecto olfativo, não se destaca tanto, traz um inusitado chocolate e baunilha, embora não passe por barricas de carvalho. Tem taninos domados, elegantes com uma acidez correta e um final de média persistência.

A vida com novidades sempre ganha novos motivos para continuar sendo vivida da melhor forma possível e as experiências sensoriais proporcionadas pelos nossos vinhos de cada dia traz esse “tempero” que as enche de alegrias e celebração. Vinho é celebrar, mas enveredar no seu universo é tão excitante quanto ver a nossa taça cheia. E descobrir a Tannat produzida em São Roque é como andar e conhecer todos os detalhes das ruas, das culturas, dos processos de vinificação de seus produtores, mesmo que as castas sejam de terras gaúchas. Um belo vinho, com todas as características e nuances da Tannat. Que venham mais e mais novidades arrebatadoras da terra do vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

Sr. Moacyr

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.









sábado, 3 de setembro de 2022

Terra do Vinho Merlot 2018

 

O rótulo é a identificação do vinho! Lembro-me de quando comecei a me aventurar no universo dos vinhos finos, dos produzidos com uvas vitis viníferas, que os especialistas disseminavam essa informação e, claro, é mais do válido e correto afirmar e incutir na mente dos enófilos tais afirmações, sobretudo para aqueles que está enveredando para o mundo do vinho e precisa de informações para construir, materializar as suas predileções de propostas de vinhos.

Mas a questão não é apenas aos iniciantes, mas também aos que tem o que chamamos de “litragem”, de experiência em degustações em vinhos, afinal precisamos conhecer todos os detalhes ou pelo menos os mais importantes quando temos acesso a um determinado vinho, a um determinado produtor e se o mesmo traz tudo o que você, minimamente, espera de um vinho no que tange às suas propostas.

E o rótulo não traz apenas detalhes técnicos de um vinho, como teor alcoólico, passagem por barricas de carvalho ou não, casta, mas também história, estímulo ao consumo da história daquele produtor, da região etc.

Para os aficionados por história, para aqueles que sentem uma urgente necessidade de saber a origem do nome do vinho, da casta, do produtor o rótulo é sim a entrada para ter acesso a tudo isso e mais. E penso que grande parte dessas informações também são preponderantes para a tomada de decisão de compra de um vinho e não somente os dados técnicos.

Estou falando tudo isso porque o vinho de hoje traz não apenas informações técnicas do mesmo, mas também algumas informações sobre as origens da variedade em questão, pelo menos foi a percepção que tive, a interpretação que tive ao observá-lo.

E aprecio por demais quando o produtor traz essas informações visando, estimular o interesse de quem irá degustar o vinho para procurar tais informações. Mas não são todos que tem tal interesse em buscar as minúcias da história do vinho, mas apenas degustar o vinho. Esses comportamentos definem, a meu ver, quem é quem no universo do vinho e os seus interesses acerca dele.

E o vinho vem de São Roque, região que definitivamente adentrou a minha vida enófila e que espero não saia tão cedo e a casta é a famosa Merlot. A Merlot que também está mais do que inserida na realidade do Brasil e digo, sem medo, de que os vinhos produzidos com tal variedade estão entre os mais admirados do mundo, apesar de estar engatinhando na cultura vitivinícola.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de São Roque, em São Paulo, e se chama Adega Terra do Vinho Merlot e a safra é 2018. O seu rótulo traz um pássaro sobrevoando as vinhas, um pássaro negro. E essa relação com a Merlot é íntima, diria que remonta as suas origens.

Esse será meu primeiro varietal Merlot de São Roque e já digo que está surpreendendo pela leveza, fruta trazendo algumas das mais marcantes características da cepa. Tenho tido bons retornos desse produtor, principalmente quando degustei o Genuíno Carménère 2018 e o Adega Terra do Vinho Cabernet Sauvignon 2017. E já que falei em história vamos trazer as origens da vitivinicultura de São Roque e um pouco das origens da Merlot corroborando o rótulo. 

São Roque: a terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e pôr fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Doutor Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Pode-se dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Merlot

Por um longo período na história dos vinhos, a Merlot ficou conhecida pejorativamente como a “outra tinta de Bordeaux”, região de sua origem e cuja estrela principal era a Cabernet Sauvignon. Esse panorama começou a mudar no final do século XX – atualmente ela é uma das castas de maior sucesso no mundo, sendo cultivada em diversos países vitivinicultores.

Pesquisas revelam que a Merlot é resultado de um cruzamento genético entre a Cabernet Franc com a Magdeleine Noire des Charentes, sendo meia-irmã das não menos famosas Carmenère e da Cabernet Sauvignon. Apesar de seu prestígio ter se espalhado pelo mundo apenas na década de 1980, a Merlot tem cultivo documentado há século atrás. A primeira referência à uva que se tem notícia data de 1784, no seu país de origem: a França. A Merlot também é conhecida por outros nomes, são eles: Merlau, Sémillon Rouge, Plant Médoc,  Picard, Béguey, Alicante e Crabutet Noir.

Reza a lenda que Merlot deriva de Merle, nome dado a um pássaro na França que, assim como a uva, ostenta uma coloração escura e profunda. No século XIX foi muito cultivada na região de Médoc, que fica à margem esquerda do rio Gironde. Tem seu nome mencionado em diversas ocasiões na Itália e Suíça já na virada para o século XX, mas ganha notoriedade mesmo quando entra no Novo Mundo em 1990, tornando-se a uva mais popular nos Estados Unidos.

Melre (Melro)

A França continua sendo o maior cultivador desta casta, com aproximadamente dois terços da sua produção mundial. Bordeaux, com 56% de seus vinhedos cobertos de Merlot, é a principal produtora; sobretudo na sua margem direita, onde a uva domina as plantações das regiões de St. Émilion e Pomerol. Em 2004, na França, registrou-se o total de 115 mil hectares de vinhedos cultivados com a Merlot.

Outros países como Itália (onde a Merlot é a quinta casta mais plantada), Estados Unidos (na Califórnia, principalmente), Argentina, Chile, Austrália, Canadá, Brasil e África do Sul cultivam a Merlot de forma significativa. Denotando seu prestígio, popularidade e fácil adaptação em diversas partes do globo.

Por estar adaptada a diversos terroirs, a Merlot gera discussão especialmente no tocante ao seu cultivo, maturação e colheita. Alguns enólogos acham que esta variedade deve ser colhida o mais tarde possível, pois assim ela conservará os açucares e a maturação fenólica de forma mais concertada. Outros, ao contrário, dizem que a uva deve ser colhida jovem, ou melhor, no seu ponto ideal, para não prejudicar a sua acidez e nem deixar que seus aromas frutados sejam destacados ao ponto de tornar-se os vinhos desta casta pesados, sem frescor e elegância.

É uma casta que amadurece rapidamente. Adapta-se muito bem a climas mais frios e lugares com solos áridos, argilosos e até rochosos. As características gerais da Merlot são:

·         Cachos com tamanhos médios;

·         Coloração azul violácea profunda;

·         Pele bastante fina;

·         Baixo nível de tanino e acidez;

·         Grande concentração de açúcar e álcool;

·         Aromática e suave.

Quanto aos aromas, destacam-se os de frutas pretas como ameixa e jabuticaba; os de ervas como alecrim e orégano; e os de especiarias como canela e noz-moscada. Pode apresentar outros aromas, como caramelo, baunilha e café, quando seus vinhos estagiam em madeira.

Na boca, normalmente apresenta textura macia e bastante aveludada. Seus taninos também são macios. Acidez e álcool em níveis equilibrados. O uso de carvalho pode acrescentar sabor especial à uva, mas também pode diminuir sua elegância.

A Merlot resulta vinhos de acordo com o lugar onde foi cultivada e maneira como foi colhida. Quando colhida o mais tarde possível, a intensidade de cor e a concentração dos aromas frutados são muito maiores; os taninos maduros combinam com o bom corpo e com sua graduação alcoólica presente. O estágio em barricas de carvalho francês completa o processo, que é o mais comum no Novo Mundo.

Quando colhida no seu ponto ideal de maturação, que geralmente é mais cedo que outras uvas, a Merlot resulta vinhos com corpo médio e nível de álcool baixo; sua acidez, entretanto, aumenta, assim com como os aromas de frutas vermelhas maduras – assim são os vinhos franceses da Merlot.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi fechado, intenso, escuro, mas que, ao mesmo tempo, reluz, é brilhante, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz predominam intensamente os aromas frutados, de frutas vermelhas maduras, tais como amoras, ameixas e cerejas, além de um agradável toque floral e terra molhada, notas terrosas.

Na boca é seco, leve, aveludado, equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, com taninos moderados, redondos e domados, com uma acidez média que proporciona frescor, sabor e leveza acentuados, além de toques herbáceos. Final de persistência média e retrogosto frutado.

A história, as origens do vinho também podem e devem ser “degustadas” e que quando se mergulha fundo torna a degustação de fato muito, muito melhor! Degustamos com prazer, com alegria, pois sabemos que nada é aleatório, tudo traz um forte e intenso motivo, razão de ser. O Adega Terra do Vinho Merlot é macio, redondo, os seus 4 anos de garrafa, bem como a sua proposta desenham a realidade do vinho. Um vinho aveludado e fácil de degustar, mas que, ao mesmo tempo traz personalidade. Um belo vinho são roquense! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.

Mais informações acesse:

https://www.adegaterradovinho.com.br/index.html

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/

 

 

 








quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Terra do Vinho Cabernet Sauvignon 2017

 

Sempre ouvi que para degustar um rótulo com a conhecida “rainha das uvas tintas”, a Cabernet Sauvignon, tem que ser na “versão” encorpada, amadeirada. Esses são, na visão da maioria, os melhores rótulos com a Cabernet Sauvignon.

Respeito a opinião alheia, afinal, todos têm a sua visão particular, a sua percepção do vinho, onde a opinião pode ser divergente de um mesmo vinho, de uma mesma safra. Isso é salutar, mas tem certas visões, opiniões que vagam por aí, principalmente pelas redes sociais, que assumiram um caráter de tabu.

E tabu definitivamente tem de ser quebrado, a famosa quebra de paradigma que devemos ter no universo, por vezes, conservador e até intolerante do vinho. Há algum tempo atrás ouvi de um formador de opinião que o Malbec, por exemplo, tem de ser encorpado, amadeirado e que esta proposta revela a identidade, o DNA, como ele disse, da cepa na emblemática região argentina de Mendoza.

E citou o vinho que estava expondo (na realidade, além de formador de opinião, ele possui algumas lojas de vinhos em São Paulo, muito conhecidas, inclusive) o tradicional Catena que trazia essa proposta de Malbec mais encorpado.

Aquilo me inquietou e decidi subverter e procurar Malbecs sem passagem por barricas de carvalho e focado mais na fruta, na essência, sem tanta intervenção ou o mínimo possível. Encontrei alguns rótulos e tive uma surpresa positiva acerca da qualidade, da tipicidade deles.

Sim! É possível! Claro que a missão é mais difícil, afinal, o marketing é muito forte, quase inquisitivo para que se deguste um Malbec, um Cabernet Sauvignon amadeirado, encorpado, logo caro. O mercado brasileiro está cheio deles! E isso acabou por firmar uma cultura, diria, equivocado, pois, penso, há outras propostas de vinhos com essas variedades que pode entregar o que a gente espera ou mais!

Então quando estava a pensar em enveredar na aventura, na missão de encontrar alguns Cabernets com uma proposta mais direta, de um vinho jovem, sem passagem por barrica de carvalho, um rótulo chegou a mim, não fui até ele.

E foi, mais uma vez, um carinho presente do amigo Luciano Feliputti, da loja Pemarcano Vinhos, especializada em vinhos da tradicional região paulista de São Roque. Então, com essa generosa cortesia, além da aventura de degustar um Cabernet Sauvignon mais despretensioso, sem madeira e que entregava um toque mais frutado, priorizando a essência da variedade, algumas “estreias” também viria a acontecer.

Será minha primeira experiência de um Cabernet Sauvignon da região de São Roque. Não vou tecer maiores comentários sobre a região em questão, pois felizmente tenho tido algumas experiências com vinhos da região, mesmo que embora recentes, mas especiais. Não há como esconder a alegria de degustar vinhos de pequenos produtores brasileiros, porém de uma região gigante em sua história para a vitivinicultura nacional.

Então sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de São Roque e se chama Adega Terra do Vinho, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2017. E como disse que São Roque está mais presente em minha vida enófila, direi que tive o privilégio de já ter degustado um rótulo deste produtor e, claro, gostei muito. Foi o Genuíno Carménère da safra 2017. E, por uma grata coincidência, fora a minha primeira experiência com um Carménère brasileiro o que ainda não é comum em nossas terras. Então antes dos detalhes do vinho sigamos com a história de São Roque, que é uma maravilha à parte.

São Roque: A terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça dispõe de um vermelho intenso, escuro, com tonalidades arroxeadas que marcam no bojo do copo, com lágrimas grossas, lentas e em média intensidade.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas bem maduras, algo herbáceo e notas de especiarias, aquele típico pimentão, mas sentido de forma discreta.

Na boca é seco, redondo, equilibrado, leve, a fruta madura é percebida, como no aspecto olfativo, conferindo-lhe sabor e ainda alguma jovialidade, graças também a boa acidez, com taninos delicados e domados, além de toques vegetais, de terra molhada. Tem um final cheio e prolongado.

A minha primeira experiência com um varietal da casta Cabernet Sauvignon, da cidade de São Roque, trouxe algo óbvio, pelo menos para mim: Que vinho, na multiplicidade de suas propostas e nuances, não podem ser tipificados por “pior”, ou “melhor,” entre si. Não há como comparar um Catena, com passagem por madeira, com aquele Malbec sem passagem por barrica, não porque o Catena seja infinitamente melhor, mas porque não possuem as mesmas propostas. E assim o é com o Terra do Vinho Cabernet Sauvignon. Não se pode comparar com os chilenos Gran Reserva, por exemplo, que passam por madeira. Terra do Vinho Cabernet Sauvignon entrega aromas de frutas vermelhas, um toque vegetal discreto, notas de especiarias, tudo o que um Cabernet Sauvignon, no ápice de sua essência pode entregar. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

Sr. Moacyr

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.








sábado, 12 de março de 2022

Genuíno Carménère 2017

 

O universo do vinho é vasto e inexplorado. Contudo mesmo que essa afirmação possa trazer a sensação incômoda de algo meio desolador, te impulsiona a explorá-lo mais e mais, a buscar novas experiências sensoriais.

Eu nunca pensei que, quando comecei a degustar vinhos, a quase 30 anos atrás, de que eu fosse desbravar, de forma tão intensa, os vinhos brasileiros. Desbravar regiões que jamais fosse chegar, que nunca esperei encontrar vinhos que atualmente não são polos de produção da bebida como o Rio Grande do Sul, por exemplo.

Como muitos, infelizmente, que adentra o mundo do vinho sempre, de forma pré-concebida, acha que o mundo do vinho brasileiro é limitado e incipiente, os rótulos e a história dizem o contrário e é uma forma de resistência que grita aos quatro cantos que o vinho nacional é válido e tem sim história.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de São Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque! O site se chama “Pemarcano Vinhos”.

Os adquiri, mas não poderia parar e decidi desbravar a região de São Roque, em São Paulo, e descobri o quanto há de rótulos disponíveis, majoritariamente de pequenos e médios produtores e isso me excitou ainda mais. E as surpresas não pararam! Recebi, carinhosamente, do amigo Luciano, do site da Pemarcano Vinhos, um Carménère brasileiro! Sim! Foi o que vocês, caros leitores enófilos, leram: Um Carménère brasileiro! Os típicos vinhos chilenos com a sua casta que é o carro chefe sendo produzida em terras brasileiras!

Claro que a produção ainda é tímida por aqui, poucos são os produtores que vinificam a Carménère no Brasil, e isso traz o tempero para a minha efusiva animação em degustar esse rótulo de São Roque, o mais rápido possível. Então não hesitei muito e degustei logo este rótulo e em um misto de alegria, privilégio e ansiedade, me peguei a desarrolhá-lo e inundar a minha taça desse Carménère brasileiro. De cara já impressionou pela intensa cor vermelha escura, intransponível que logo explodiu em aromas de frutas vermelhas maduras, e aquele toque clássico de couro, de “carpete” da Carménère. Começamos bem! Quando o levei à boca...voilá!

O vinho que degustei e gostei veio da região de São Roque, em São Paulo, e se chama Genuíno da casta Carménère e a safra é de 2017. Não vou, ainda, entrar nos pormenores do vinho, em sua análise, falando antes da história da região de São Roque que personifica a história do vinho em nosso Brasil e que merece ser enaltecida inúmeras vezes. Vamos a terra do vinho!

São Roque: A terra do vinho!

 A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Doutor Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho profundo, escuro, mas reluzente, brilhante, com lágrimas finas e em média intensidade que marcam no bojo.

No nariz apresenta aromas intensos e vivazes de frutas vermelhas, se destacam framboesa, groselha e cereja, com notas de especiarias, como pimenta, couro, algo de terra molhada e herbáceo.

Na boca é seco, as frutas vermelhas bem como os toques especiados ganham protagonismo como no aspecto olfativo, tem médio corpo, bom volume de boca, alcoólico, mas sem desequilibrar o conjunto do vinho, que se mostra macio, equilibrado, baixa acidez e taninos médios, porém aveludados. Final de média persistência.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Genuíno Carménère foi, mais uma vez, a confirmação de que, mesmo com todas as adversidades do tempo e da atualidade, degustar um vinho da região de São Roque é viver de forma ativa e intensa a sua história e perceber, ou melhor, sentir que a região ainda pulsa vinho, pulsa a sua história e ainda é possível sim degustar vinhos de qualidade, bem feitos e que pequenos e médios produtores se engradecem pelo simples fato de personificar em seus vinhos a tipicidade da região, o fazer de homens e mulheres abnegados pelo amor a essa bebida que catapultou o prestígio dessa cidade ao Brasil. O nome que carrega, “Genuíno” talvez corrobore essa condição e carrega essa nome não é à toa! Sinto-me privilegiado e honrado pelo presente do Luciano, da Pemarcano Vinhos, e por degustar um Carménère brasileiro com um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, frutado, aromático, saboroso e que entrega as características da cepa no âmago de sua essência. Que São Roque continue me proporcionando grandes novidades espero por todo sempre. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

Sr. Moacyr

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.