Mas o nome da família na vitivinicultura mundial seria
marcado pelo filho de Louis, Henri Bouschet em 1866 pegou a criação do seu pai
e fez um cruzamento com a Grenache. Nascia ali a Alicante Bouschet.
Batizada com
o sobrenome da família Bouschet e Alicante por ser uma das formas que a
Grenache era conhecida, a uva se espalhou e chegou a ser uma das mais plantadas
do mundo.
Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é
majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante
Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme
capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se
tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.
O principal fator que levou a Alicante Bouschet a cair no
gosto dos produtores é que se trata de uma casta tinturada. Ou seja, além da
casca, a polpa também tem cor. Os vinhos assim são mais estruturados e
encorpados mesmo com tempo menor de maceração.
Esse fato levou a uva a ser uma das mais utilizadas durante a
Lei Seca nos Estados Unidos. Imagine que com a proibição de fabricação,
transporte e vendas de bebidas alcóolicas um punhado de uvas poderia facilmente
e rapidamente se transformar em vinho. E era isso o que acontecia. Os
comerciantes vendiam “tijolos de Alicante Bouschet” que os “enólogos”, que eram
os próprios compradores, colocavam em banheiras cheias de água e pronto, vinho.
Ou quase isso...
Fato é que em meados do século 20 a Alicante Bouschet começou
a ser deixada de lado. O estilo de vinho encorpado poderia ser feito com outras
uvas e ali começou um declínio da casta. É aí que entra Paulo Laureano. O
enólogo português é conhecido por transformar a francesa Alicante Bouschet na
portuguesa Alicante Bouschet. Ou como ele gosta de dizer “a naturalizei
portuguesa. E digo ainda mais, a naturalizei como alentejana”.
Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá
origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam
carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a
gordura, criando sensações memoráveis no paladar.
A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na
elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes
nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa,
enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a
Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.
A primeira referência ao cultivo desta variedade na Espanha é
de García de los Salmones (1914), que cita a sua presença em todas as
províncias da Comunidade Valenciana, Castilla-La Mancha e Galiza, em Murcia, em
várias províncias de Castilla y León e em Vizcaya, Granada e Jaén. Da mesma
forma, García de los Salmones (1940) indica que Garnacha Tintorera não deve ser
confundido com Tinto Fino ou Cencibel, nem com Tinto Basto ou Borrachón da
região de La Mancha. Nem com o comum Tinto de Madrid. Salienta que não está
claro que variedade e com que nome é cultivado, uma vez que as variedades que
lhe dão muita cor tentam levar o nome do tubarão azul mais famoso: Alicante
Henri Bouschet.
A dúvida se Alicante Bouschet é sinônimo de Garnacha
Tintorera estendeu-se até 2003, quando foram realizados estudos em El Encín e
recentemente confirmados por marcadores moleculares. Antes desses estudos, Galet
e Hidalgo em 1988 disseram que "há uma variedade intimamente relacionada
com Alicante Bouschet e conhecida como Garnacha Tintorera, Moratón, Alicante,
Tintorera ou Tinto Velasco, é uma variedade de uva vermelha, cuja casca contém
muito coloração", duvidando de que ambas as variedades fossem sinônimos. Chirivella
em 1995, indicou que na França eles chamam Garnacha Tintorera como Alicante
Bouschet, tentando confirmar esta sinonímia, e posteriormente Peñín, em 1997,
disse que Garnacha Tintorera é uma variedade espanhola com características
muito semelhantes a Alicante Bouschet . Há autores que os consideram iguais e
outros não. Indica que “sua origem seria Alicante ou Albacete, e posteriormente
teria passado ao noroeste da Península”. A equipe do IMIDRA confirmou em 2003,
estudando o DNA, que existem três variedades de tintorera presentes na Espanha
(com polpa pigmentada): Petit Bouschet, com o sinônimo Negrón de Aldán;
Morrastel-Bouschet, cruzamento de Morrastel (= Graciano) x Petit Bouschet, com
a sinonímia Garnacho; e Alicante Henri Bouschet, cruzamento de Alicante (=
Garnacha) x Petit Bouschet. Esta última variedade é a que mais se difundiu das
três e é a que conhecemos na Espanha Garnacha Tintorera.
Portanto, Garnacha Tintorera é a variedade Alicante Henri
Bouschet. Henri Bouschet deu a este cruzamento o nome de Alicante Henri
Bouschet por tê-lo feito usando Garnacha como mãe, na França sendo um sinônimo
de Garnacha o nome Alicante.
Valência
A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito
València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou
Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a
terceira maior cidade da Espanha.
Seus vinhos incluem os tintos, rosés, brancos e os famosos vinhos
para sobremesa de uvas plantadas em quatro subzonas. Para cada tipo de vinho se
utiliza sua própria tradição na elaboração. Graças às exportações que duram
séculos (através do porto da cidade), a produção está mais focada no mercado
internacional do que no mercado interno. Um acordo formal permite que as
bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.
Valencia não é somente um lugar na costa do Mediterrâneo. Seu
interior alberga surpresas que fazem com que suas praias sejam esquecidas. Lá se
pode desfrutar de centenas de hectares de vinhedos. Zonas rurais e de uma
gastronomia rica. Ideal para deixar para trás a cidade, desconectar-se
totalmente e relaxar.
Valência
O vinho, as bodegas e os viticultores converteram-se em um
motor para a conservação das paisagens e para a sustentabilidade desta comarca.
A viticultura é o eixo econômico, social e cultural de Fontanar dels Alforins,
La Font de la Figuera e Moixent, por exemplo. Com mais de dois mil anos de
história na elaboração do vinho, que hoje em dia continua sendo produzido com
muito respeito e esforço. Seguindo os princípios da agricultura sustentável.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo vermelho rubi intenso, com discretas
bordas violáceas, diria com tons acastanhados talvez mostrando alguma evolução,
com lágrimas finas e abundantes.
No nariz entrega um aroma intenso e perfumado de frutas
vermelhas maduras e pretas e se destacam a ameixa, cereja e amoras. Notam-se as
notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, e também um
toque floral que potencializa a expressividade aromática.
Na boca é intenso, estruturado e envolvente, é cheio em boca,
com um bom volume, mas fácil de degustar, elegante, redondo e saboroso. Tem
taninos presentes, diria carnudos, porém domados, polidos, graças à madeira e
os seus seis anos de safra. Acidez correta, álcool imperceptível, muito bem
integrado ao vinho, com notas amadeiradas, de tabaco, tosta e chocolate. Tem
final prolongado, persistente.
Um clássico! Ou diria um “novo clássico” em minha trajetória
enófila! Um vinho, uma casta que carrega história e tradição que passeou e
passeia por terras espanholas, portuguesas, francesas e chegou a minha mesa,
que inundou a minha humilde taça e que arrebataram, de forma definitiva, as
minhas humildes percepções sensoriais. A experiência foi singular, essencial e
maravilhosa! Redondo, equilibrado, elegante, mas carnudo, estruturado e
complexo como pede a casta, com toda a sua característica mais marcante. Sim,
um vinho marcante, de personalidade, mas que com o tempo, cerca de seis anos de
safra, ganhou elegância e maciez. Tem 13% de teor alcoólico.
No tocante a elaboração, que me chamou a atenção, diz o
produtor em seu portal na internet:
“El Miracle By Mariscal
é produzido a partir de uma seleção de uvas Grenache Tintorera colhidas
manualmente e cultivadas em vinhas de 35 anos de idade treinada em gobelet,
localizadas na área de produção de vinho “Valentino”. O vinho é produzido com
maceração muito lenta e fermentação alcoólica até ao fim da fermentação
maloláctica, altura em que o vinho é despejado em cascos de carvalho francês de
segundo enchimento. Isso garante a combinação perfeita entre o caráter frutado
do varietal Grenache Tintorera e a madeira”.
Sobre a Bodega Vicente Gandia:
A bodega tem mais de cem anos - viticultores desde 1885 - e
agora tem um caráter decididamente mediterrâneo. No início estavam
exclusivamente empenhados na produção e comercialização / distribuição dos
vinhos, que ainda assim tinham algo de especial.
Pelo espírito inovador que sempre caracterizou a adega, e
depois de muitos anos no setor da exportação de vinhos, deram um passo mais
longe: em 1971 foram a primeira adega valenciana a comercializar vinho
engarrafado da marca Castillo de Liria , que quase cinquenta anos depois ainda
é uma de suas marcas icônicas.
O crescimento continuou então em 1990 a família Gandía
decidiu investir na Fazenda Hoya de Cadenas. Um paraíso vitivinícola localizado
em Las Cuevas de Utiel, este local idílico tem as características perfeitas
para produzir as melhores uvas e assim puderam produzir excelentes vinhos na
mesma propriedade. Isto significou um salto quântico na qualidade dos vinhos e
desde então a procura da excelência tem sido a imagem de marca da adega.
A vinícola é
atualmente administrada pela 4ª geração da família Gandía, mantendo-se fiéis
aos valores dos fundadores e contribuem para o progresso e a prosperidade do
negócio apostando na qualidade e na inovação, sem esquecer a tradição
vitivinícola.
A abordagem mediterrânea permeia a filosofia de vinificação da
bodega e espalha a sua cultura do vinho por todo o mundo é a chave para a sua
identidade. Produzem vinhos de diferentes Denominações de Origem através de um
cultivo sustentável, criaram safras modernas e elegantes, além de proteger e
desenvolver as variedades autóctones. Contam com a mais moderna e avançada
tecnologia que permite produzir vinhos de acordo com métodos tradicionais com a
máxima segurança, contribuindo para a poupança de energia e cuidando do meio
ambiente.