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domingo, 13 de agosto de 2023

Salton Domênico Marselan (78%) e Tannat (22%) 2017

 

Definitivamente os vinhos da Salton fazem parte da minha história de simples e reles enófilo. Sempre costumo falar da Vinícola Miolo, mas a Salton tem o seu pedaço importante em minha vida afetiva e emocional com os vinhos.

Mas não apenas afetivo e emocional, mas também no quesito da qualidade, principalmente. Afinal é o que vale! A afeição e o carinho a um vinho e/ou produtor se constroem com a qualidade e a tipicidade de seus rótulos, afinal.

E faz algum tempo que não aprecio os rótulos da Salton e hoje o retorno às suas degustações será premiada com rótulos, ditos, “premium” da vinícola: a linha “Domênico”, que carrega o nome de seu fundador, então esperemos algo de bom, muito bom nessa nova linha de vinhos da gigante Salton.

Além da linha “Domênico”, que vislumbra novidades na linha “Premium” da Salton, ela também visa privilegiar uma região que está em franca ascendência entre os terroirs brasileiros, a Campanha Gaúcha, tanto que faz questão de carregar seu nome no vinho.

Como falei a linha “Domênico” faz homenagem a Antônio Domênico Salton, imigrante que iniciou a história da empresa há mais de cem anos. Segundo Maurício Salton, presidente da Salton, esta é a primeira “marca-conceito” da Salton e vem sendo trabalhada pelos jovens enólogos da quarta geração da família. O que entusiasma, apesar do caráter “industrial” da vinícola, dado o seu tamanho no mercado, ela mostra que ainda é familiar, enaltecendo o seu passado.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, da Campanha Gaúcha e se chama Domênico Campanha, composto pelo inusitado e excelente corte de Marselan (76%) e Tannat (24%) da safra 2017. Para não perder o costume vamos também de histórias, vamos de Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.


IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantados em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.

Na taça revela um lindo e brilhante rubi com entornos violáceos, com uma bela profusão de lágrimas finas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz traz um aroma exuberante de frutas frescas, de frutas vermelhas com destaque para morangos, amoras, framboesas e groselhas, além de um floral, de violeta que corrobora a sua condição de frescor mesmo que aos seis anos de garrafa. Tem sutis notas de baunilha, especiarias e carvalho graças aos 21 meses em barricas de carvalho que o Tannat passou.

Na boca é extremamente elegante, seco, macio, redondo, mas com alguma estrutura e complexidade, tudo isso envolto em notas frutadas evidentes, quase que em compota, a fruta tem protagonismo como no olfativo. A madeira protagoniza trazendo a baunilha, o mentolado, o couro, com taninos bem sedosos, mas vivazes, bem como a sua acidez que, embora correta, equilibrada, é salivante, com um final guloso e persistente.

Não é apenas uma nomenclatura, algo que designa qualidade que fomenta interesses ou dita regras de etiqueta social, mas a tipicidade, a qualidade de um rótulo que expressa fielmente o terroir da Campanha Gaúcha e toda a sua ascendência, o prestígio de uma região. Definitivamente trata-se de um belíssimo vinho! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Salton:

Antônio Domênico Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!

Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.

Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.

Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.










sábado, 5 de março de 2022

Salton Paradoxo Merlot 2017

 

Significado de paradoxo: pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria.

Agora vem a pergunta que não quer calar: Por que raios coloquei o significado de paradoxo inaugurando essa resenha? Talvez para fazer menção a alguma coisa relacionada ao vinho que degustarei esta noite tradicional de sábado.

Mas não é somente isso! “Pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida!” Vou explicar trazendo para a realidade do universo do vinho ou mais precisamente para apenas o vinho em questão: É possível degustar um vinho que seja fácil de degustar sem ser aquele vinho inexpressivo, tendo, pelo contrário, personalidade marcante? É possível?

Pois direi que sim, é muito possível degustar um vinho como esse! Sempre? Não sei dizer, mas tive algumas experiências surpreendentes adequando-se a este caso! É como fugir do padrão, é como fugir do óbvio! Vinhos gostosos, saborosos, arrojados, descomplicados, mas que gozam de marcante personalidade, estrutura e fogem do linear e agrada, de forma democrática, a todos as percepções e predileções do enófilo para com o vinho.

Ah mas vinhos de personalidade não podem ser considerados fáceis de degustar! Esses comentários demasiados arcaicos definitivamente são um desserviço para a disseminação da cultura do vinho. A máxima agora é fugir de padrões.

E degustando essa linha da gigante Vinícola Salton, o que já é sinônimo de história e qualidade, me trouxe a reflexões, mais uma vez, desse tipo, e não tão somente pelo nome que carrega em seu rótulo, mas pelo que tem dentro daquela garrafa, a começar também pelo fato de ser oriundo da Campanha Gaúcha que, a cada dia, vem entregando, de forma singular, vinhos excelentes e de tipicidade revelando o que sempre foi: uma região tradicional, importante, mas que tem trazido gratas e arrojadas novidades.

O vinho que degustei e gostei vem, como disse, da região brasileira da Campanha Gaúcha, e se chama, claro, Salton Paradoxo da casta Merlot (100%) da safra 2017. E não só pelo nome, pela sua definição, mas também pelo fato de que o Brasil está produzindo, cada vez mais, Merlots fantásticos, maravilhosos, de caráter, versáteis e que não se resume apenas à Serra Gaúcha, mas em todos os terroirs deste país varonil.

Então já que estamos falando de regiões, não custa nada falar um pouco mais da Campanha Gaúcha e da sua importância para o cenário vitivinícola brasileiro.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, brilhante e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz revelam aromas de frutas vermelhas maduras, tais como groselha, amora e morango, com notas amadeiradas bem discretas, de baunilha, de um agradável defumado e especiarias doces.

Na boca é de leve para média estrutura, bem macio, redondo e harmonioso, com a fruta vermelha e as mesmas especiarias doces protagonizando como no aspecto olfativo, além da madeira em pleno equilíbrio, graças aos 6 meses de passagem por carvalho e mais 6 meses nas caves, com as notas frutadas e uma acidez vivaz entregando frescor, com taninos aveludados, domados e um final médio.

E assim diz no rótulo do Salton Paradoxo:

“Quando o impossível se torna realidade, se converte em paradoxo”.

A interpretação é livre, democrática. Então quando o impossível se torna realidade, se converte em paradoxo. Ou seja, foge do padrão que, às vezes escraviza que torna vítima da zona de conforto, nos prende ao óbvio. E é tudo o que o Salton Paradoxo Merlot não entrega: o óbvio! Um vinho de traços contemporâneos, moderno, que é fácil de degustar: macio, elegante, mas estruturado, volumoso em boca, envolvente, diria até intenso. Um Merlot como tem de ser, mas com a cara e a coragem dos vinhos dessa cepa produzido em nossas terras, corroborando as suas conquistas. E é assim que o vinho nos provoca, traz um reboliço em nossas percepções sensoriais e nos surpreendente por inteiro, em uma espécie de arrebatamento. A verdadeira edificação dos nossos sentidos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Salton:

 Antônio Domenico Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!

Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.

Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.

Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.









sábado, 24 de abril de 2021

Salton Talento 2011

 

Já dizia aquele velho ditado, já manjado: Quem espera sempre alcança! Talvez esse conceito possa ser bem aplicado para os vinhos evoluídos, afinal, alguns atingem a sua maturidade, o seu grande momento, o seu brilho, com alguns anos de guarda. Mas há quem diga que isso pode ser subjetivo, haja vista que alguns vinhos depreciem com o tempo e neste caso podemos levar em consideração alguns fatores como a forma de armazenamento, por exemplo. Mas como esse é um assunto deveras complexo, não entrarei no mérito, não agora pelo menos, mas sim darei o protagonismo, é claro, ao rótulo, ao vinho, que é sempre o artista do espetáculo da degustação.

E esse vinho eu aguardei pacientemente. Como sou um apreciador dos vinhos evoluídos, decidi, quando o comprei, há cerca de dois anos, em degusta-lo quando completasse exatamente 10 anos de safra. Degustar vinhos assim, nessas condições, pode ser um risco, mas também uma honra, um momento único, com o vinho no seu momento mais apoteótico e especial. Fui tomado por um espírito de positividade e aguardei cada dia e cada hora para degusta-lo e, com isso, pergunto: Quem disse que vinhos brasileiros não tem potencial de guarda? O tempo, literalmente falando, dirá pela excelência dos rótulos nacionais! E diz, com veemência, com a sua qualidade, tipicidade e expressividade.

O vinho que degustei e gostei é tupiniquim, é brasileiro, é o Salton Talento composto pelas castas Cabernet Sauvignon (50%), Merlot (30%) e Tannat (20%) da safra 2011. As castas Cabernet Sauvignon e Tannat são oriundas da Campanha Gaúcha e o Merlot veio da Serra Gaúcha. Sim! Um vinho que explora a multiplicidade de duas regiões, de alguns terroirs, uma mescla de tipicidades. Sem contar que já degustei a safra de 2009, minha primeira experiência com esse rótulo.

Tudo conspirou para essa degustação: desde o primeiro contato nas gôndolas dos supermercados, com um preço na faixa dos R$ 50,00, um ótimo preço, até o derramar deste na minha taça. A vida, a longevidade conspira sempre a favor e, claro, falo do vinho! Mas antes de falar no néctar, vamos conhecer um pouco sobre as regiões de onde veio, emblemáticas regiões, diga-se de passagem: Vamos da Serra e Campanha Gaúcha.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e escuro, mas mostrando uma tonalidade meio atijolada nas bordas, em seu entorno, revelando a sua idade, o auge dos seus dez anos de vida, com lágrimas finas e abundantes marcando nas paredes do copo.

No nariz entrega aromas, ainda evidentes e intensos, de frutas negras e em compota, tais como ameixa, cereja e amora, com notas de torrefação, café, tabaco e especiarias e toque amadeirado em evidência, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, mais 12 meses afinando em caves subterrâneas da vinícola.

Na boca é elegante, equilibrado, excelente estrutura mostrando marcante personalidade, as frutas negras, como no aspecto olfativo, se mostra agradavelmente no paladar, com taninos presentes, mas domados e sutis, com uma acidez ainda vivaz, o que faz do vinho pleno aos 10 anos de idade. Tudo isso harmonizando maravilhosamente com o toque amadeirado, muito bem integrado aos taninos, a acidez e o álcool, além do tabaco, do toque de pimentão e de couro. Final persistente e prolongado.

O tempo dirá! Mais um ditado popular que se adequou maravilhosamente ao Salton Talento. A vida, plena e intensa, pulsava dentro da garrafa, ansiosa por sair e explodir as minhas impressões sensoriais, inundar a minha taça do mais puro néctar, da poesia líquida que, a cada degustação, me arrebatou por inteiro. O tempo disse, o vinho se expressou maduro, intenso, a personalidade marcante, mostrou também delicadeza, elegância. A noção de terroir, de tipicidade estava evidente a cada degustação e que, graças a sua complexidade, aguça, ainda mais, o enófilo a explorar ainda mais o seu paladar. A honra e o prazer são evidentes, a sensação é indescritível, o ritual se faz necessário, todos os componentes de uma degustação, embora simples e direta, se mostra maravilhosa e singular. Senti-me tão pequeno, tão feliz, tão vivo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Salton:

Antônio Domenico Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!

Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.

Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.

Fundadores da Vinícola Salton

Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.












quarta-feira, 29 de julho de 2020

Salton Reserva Ouro brut


Dizem por aí que os espumantes brasileiros são certeiros para quem quer degustar vinhos frescos, leves, frutados e descompromissados. E é verdade! Hoje considero, sem medo de errar, que os nossos espumantes pode rivalizar, hoje, em iguais condições com o champanhe, o original francês, os cavas espanhóis, os proseccos italianos. Mas nem sempre foi assim para mim. Digo isso pois nunca tive uma ligação muito forte e intensa, no que tange, é claro, nas degustações com os espumantes brasileiros, quando comecei a degustar os vinhos finos. Como muitos no Brasil ainda, eu nutria certa rejeição com os brancos tranquilos e espumantes. Achava que eram vinhos sem expressão e vida e que não iria me satisfazer, me entregar o que eu esperava nas percepções olfativas e do paladar. Demorei um pouco a ter um contato com tais vinhos. Mas decidi arriscar e comecei a juntar estímulos para degustar espumantes. O fiz, mas não me recordo, devo confessar, qual foi o meu primeiro rótulo exatamente que me desvirginou para o mundo dos vinhos das borbulhas, mas foi com algum rótulo da Salton. Lembro-me, pois fui abordado em um supermercado por uma pessoa que me via criar ânimo e coragem para escolher um espumante e estava demorando para isso, acredito que foi por esse motivo que o bom enófilo tenha intercedido por mim, me recomendando um rótulo. Degustei e gostei muito e prometi: a partir daqui seguirei a degustar mais e mais espumantes. E falando na minha saga com os espumantes, anos depois, em minhas excursões nos supermercados avistei um espumante, que estava com um valor bem convidativo, da Salton que logo me animou para comprar.

E esse vinho, ou melhor, o vinho que degustei e gostei e que arrebatou por inteiro, foi o Salton Reserva Ouro brut, da Serra Gaúcha, com um blend das castas Chardonnay (70%), Pinot Noir (20%) e Riesling (10%), produzido pelo método Charmat (Caso queira saber um pouco mais sobre esse e outros métodos clique aqui: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat), mas esse é feito pelo “método Charmat Longo”. Mas o que significa esse bendito “Charmat Longo”? O bom da degustação é que ela estimula o aprendizado, para quem quer, é claro, absorvê-lo. Aprendi e faço questão de aqui compartilhar o significado. Quando se quer um espumante mais estruturado, com um corpo mais presente, cor mais intensa, menores perfumes frutados, porém maior complexidade aromática se utiliza o método Charmat longo, inventando em 1970 pelo enólogo italiano Nereo Cavezzani, onde o processo de fermentação é mais demorado (de 6 à 12 meses) e aonde os tanques de aços inox pressurizados são munidos de um agitador em hélice para colocar em suspensão os sedimentos da fermentação (lias), favorecendo a estrutura do vinho e criando um perfil sensorial mais complexo, prerrogativa típica dos espumantes produzidos com o método clássico ou tradicional.

Então vamos ao que interessa: O vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha e não tinha detalhes tão dourados assim, diria até um tanto quanto transparente, com perlages bem finos, não em abundância, mas persistentes.

No nariz é floral, traz algumas notas frutadas, mas não em grande evidência. Percebi notas de abacaxi, toques cítricos discretos, com aquele toque, também discreto, mas agradável de fermento, pão torrado, certa cremosidade, devido, é claro, a sua proposta do método do Charmat Longo e também pelo contato por 12 meses com as leveduras.

Na boca é seco, claro, é um brut, baixo residual de açúcar, as percepções frutadas também, como no olfato, é bem discreto, mas é muito fresco, leve, descompromissado, mas que revela certa personalidade, marcante diria, cremoso e com um final persistente.

Um vinho delicioso e que definitivamente colocou, foi responsável, os espumantes em meus caminhos na estrada das experiências de rótulos. A Salton, e seus espumantes, faz parte da minha história no que tange aos vinhos de borbulhas em todas as suas personificações e propostas. Harmoniza bem com pratos de entrada como frios, com comidas leves e mais simples ou sozinho. Tem 12,5% de teor alcoólico. 

Sobre a Vinícola Salton:

A história começa na Itália, em 1878, quando Antonio Domenico Salton partiu da cidade de Cison di Valmarino, na região do Vêneto, à procura de oportunidades melhores no Brasil. Ele se instalou na colônia italiana de Vila Isabel, hoje conhecida como a cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A empresa foi formalmente constituída em 1910, quando os irmãos Paulo, Angelo, João, José, Cesar, Luis e Antonio deram cunho empresarial aos negócios do pai, o imigrante Antonio Domenico Salton, que vinificava informalmente, como a maioria dos imigrantes italianos. Os irmãos passaram a se dedicar à cultura de uvas e à elaboração de vinhos, espumantes e vermutes, com a denominação "Paulo Salton & Irmãos", no centro de Bento Gonçalves. Um século depois, a Salton é reconhecida como uma das principais vinícolas brasileiras, líder na comercialização de espumantes nacionais no Brasil. Hoje, à frente da vinícola, membros da quarta geração da família preservam o legado de seu fundador, Paulo Salton, amparado nos valores construídos ao longo dos mais de cem anos de história e inspirados pela simplicidade e pelo trabalho árduo das primeiras gerações.

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História da Vinícola Salton


Degustado em: 2017