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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Aurora Edição Única Viognier 2020

 



Vinho: Aurora Edição Única (Garrafa 6.152 de 13.500)

Casta: Viognier

Safra: 2020

Região: Serra Gaúcha

País: Brasil

Produtor: Vinícola Cooperativa Aurora

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Site da Vinícola Aurora

Valor: R$ 55,00

Estágio: 30% do lote do vinho passou por 3 meses por barricas de carvalho francês


Análise:

Visual: apresenta um amarelo em tons dourados bem brilhantes com boa manifestação de lágrimas finas e rápidas.

Nariz: traz aroma elegante, complexo e intenso de frutas brancas, cítricas e de caroço, com destaque para o abacaxi, pêssego, lichia, pera e maçã e algo de floral que traz a sensação de frescor.

Boca: é muito fresco e saboroso, graças as notas frutadas. Tem uma textura cremosa, que lhe confere alguma complexidade. É equilibrado, pois traz uma bela sinergia entre acidez, afiada, e acidez, dando-lhe frescor e sabor. Final persistente.

 

Produtor:

https://www.vinicolaaurora.com.br/inicial


quarta-feira, 7 de junho de 2023

Antodie Viognier 2020

 

Sempre ouvi que os vinhos franceses, para pessoas menos abastadas, como eu, eram de difícil acesso. Sempre ouvi dizer que, por exemplo, os melhores Bordeaux, emblemática região francesa para a produção de vinhos, tinham que custar na faixa dos R$ 200,00!

E com essa afirmação um tanto quanto segmentada eu segui a minha trajetória enófila sem dar muito destaque aos vinhos franceses, temendo comprar aqueles vinhos mais baratos que chegavam em profusão no nosso mercado consumidor.

Fui, confesso, inocente em minha decisão de deixar de lado os franceses por conta dessas declarações segmentadas e exclusivistas, mas, em minha defesa, a desinformação reforçou a minha decisão de desprezar, por um longo tempo, os rótulos franceses.

Mas o tempo ajudou a desmistificar alguns mitos, algumas “máximas intolerantes” que teimam em tornar escuro, com uma neblina, as nossas retinas, as nossas percepções de vinho. Infelizmente o universo do vinho ainda é aristocrático e repleto de visões pré-concebidas.

E com isso, com esses caminhos tortuosos, pelo menos conheci uma região famosa na França que fez com que o sol do esclarecimento iluminasse os nossos caminhos, essa é a região do Languedoc-Roussillon.

Alguns vinhos degustei e gostei por demais! Como uma região pode entregar ótimos e agradáveis vinhos a valores extremamente competitivos? Sim, Languedoc tornou possível degustar bons vinhos franceses a bons preços, valores acessíveis e justos para todos aqueles, independentemente da sua posição social e econômica, que querem imergir no mundo do vinho.

E o vinho que degustei e gostei de hoje, além de ser, claro, do Languedoc-Roussillon, da França, traz alguma novidade para mim, pelo menos, é um branco 100% Viognier. Uma casta que ainda não tenho aquela “litragem”, mas estou ansioso para degustar o Antodie da safra 2020. Mas antes da degustação, vamos de história, vamos de Languedoc-Roussillion e de Viognier.

Languedoc-Roussillon

Languedoc-Roussillon é uma região francesa localizada na costa do país. Ela faz fronteira com a Espanha e é também chamada apenas de Languedoc. Na Idade Média, os povos que ocupavam o território da França atual tinham duas maneiras de dizer "sim": os do Norte diziam "oïl" e os do Sul diziam "oc". Dessa forma, o Norte era conhecido como a terra da Língua do Oïl e, o Sul, a terra da Língua do Oc ("Langue d'Oc"). Esse segundo nome persistiu e o território mediterrâneo entre Perpignan e Montpellier, no sul da França, incluindo Narbonne e Carcassone, é até hoje denominado Languedoc.

Languedoc-Roussillon

Durante séculos essa região ensolarada, voltada em forma de anfiteatro para o Mar Mediterrâneo, dedicou-se à produção de volumes enormes de vinhos de mesa populares e baratos, os quais eram servidos em copos, nos bares, ou em jarras de vidro ("pichés"), nos restaurantes franceses, a preço de banana.

Até recentemente, nos anos 1970 e início dos 1980, o Languedoc ainda produzia, na maior parte, vinhos propostos para o consumo massivo. Do ponto de vista vitivinícola, isso era impulsionado pela facilidade com que a uva Carignan, que não se inclui entre as melhores, é cultivada e amadurece nas planícies quentes do anfiteatro mediterrâneo. Ela ocupava grande área de cultivo e sua utilização não conhecia limites.

O prestígio veio depois, por volta dos anos 1980, quando os produtores elevaram a qualidade, chegando a exemplares de tipos variados, com destaque para tintos frutados e robustos, com excelente relação custo e benefício, o melhor da França.

No entanto, passados mais de trinta anos, poucas regiões vinícolas do mundo são tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos como o Languedoc. Nesse período, vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares.

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seus espaços perante o mundo do vinho.

As cidades de maior destaque do Languedoc são Nîmes, Montpellier, Sète e Bézier e as do Roussillon são Narbonne, Carcassone, Minervois, Saint-Hilaire e Limoux. Essas duas regiões produzem principalmente vinhos tintos, seguidos dos brancos espumantes, brancos doces, brancos tranquilos secos e rosés.

Tradicionalmente, a Carignan é a uva de destaque, mas atualmente muitas outras têm brilhado. Grenache, Mourvèdre, Syrah, Merlot, Cinsault e Cabernet Sauvignon, entres as tintas. Picpoul, Muscat, Maccabéo, Clairette, Rollet, Bouboulenc, Sauvignon Blanc, Viognier, Marsanne e Chardonnay, entre as brancas.

Por causa da boa adaptação de uma grande diversidade de uvas, há uma produção muito variada por lá. Os tintos Vin de Pays d’Oc são deliciosos e cheios de tipicidade. Os brancos são impressionantes, dos secos aos doces. Sem falar do precioso espumante Crémant de Limoux, de estilo similar ao champanhe.

Com exceção do seu extremo-oeste, que tem alguma influência atlântica, o clima da região é essencialmente mediterrâneo, com chuvas escassas (geralmente caem em temporais localizados) e verões muito quentes. O maior problema para a viticultura é a seca. O Roussillon é a região mais ensolarada da França, com 325 dias de sol no ano e com os ventos quentes que no verão aceleram a maturação das uvas.

O solo da maior parte da região é do tipo aluvial, exceção feita das partes mais ao norte, afastadas do litoral, e mais a oeste, próxima aos Pirineus, onde os vinhedos estão a altitudes maiores e repousam em solos variados como cascalhoso com seixos, xistoso, arenoso e de pedra calcária.

A virada

No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

Como a quantidade - mais que a qualidade - era a premissa para a maioria dos produtores, isso se constituiu em uma virada no mundo dos vinhos franceses. A melhoria começa timidamente com a vinícola Fortant de France, do empreendedor Robert Skalli. Ele desvia-se da tradição local voltando-se para varietais de Cabernet Sauvignon, Viognier e Chardonnay, mas limita-se a enquadrar seus produtos sob a denominação Vin de Pays d'Oc (vinho regional).

Para encontrar os melhores tintos temos que nos voltar para os terrenos mais elevados. Isso significa, principalmente, os Côteaux du Languedoc, que contam, por sua vez, com diversas subregiões na zona de colinas entre a planície costeira e o Maciço Central. Os melhores tintos do Coteaux são cortes com base na Syrah e na Mourvedre. Propriedades emergentes, como os Châteaux la Roque, de Flaugergues e Puydeval despontam internacionalmente e são recomendados nos EUA, em 2003, pela Wine Spectator.

Outras, com nomes pouco divulgados até então como, por exemplo, os Domaines d'Aupilhac, Magellan e St. Martin de la Garrigue recebem tratamento semelhante. Os vinhos de Gerard Bertrand recebem da revista americana pontuações acima de noventa na sua escala de zero a cem.

A descoberta do Languedoc na Califórnia chega a ponto de Robert Mondavi tentar instalar-se com uma vinícola na região na cidade de Aniane. A prefeitura local socialista, entretanto, rechaça essa possibilidade e não autoriza o empreendimento. No local, instala-se a Maison Nicolas.

Futuras gerações

De modo geral, pode-se confiar de forma consistente em que os tintos contemporâneos do Languedoc, Corbières, Coteaux du Languedoc, Fitou etc, são vinhos equilibrados, potentes e que seu frutado não se deixa suplantar por aromas amadeirados. Tendo rompido com o passado, a possibilidade do Languedoc de elaborar vinhos de qualidade ainda mais elevada, reconhecidos internacionalmente, dependerá da dedicação da nova geração de vinhateiros ao se expandir pela diversidade de terroirs da região.

A hedonista Viognier

A Viognier é uma variedade de origem francesa, muito ligada ao Rhône, mas, graças às suas características aromáticas e estruturais, além de ser uma ótima “parceira” de outras castas brancas em blends, espalhou-se por diversas partes do mundo, gerando vinhos excepcionais.

As primeiras menções a ela são de 1781, ligando-a região de Condrieu e também Ampuis, no vale do Rhône, mas uma tese diz que a Viognier foi levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, e que a variedade veio de Smirnium na Croácia. No entanto, não há evidências históricas de que a casta seja mesmo croata.

Análises de DNA mostram uma relação pai-filho entre Viognier e a casta Mondeuse Blanche e isso a torna uma possível meio-irmão ou até mesmo avó da Syrah, já que elas fazem parte do mesmo grupo ampelográfico, mas especialistas ainda não descobriram a ordem exata dos fatores.

Viognier

A origem do seu nome ainda é um mistério, mas teoricamente derivaria do francês viorne, do gênero botânico “viburnum”, que remete a flores brancas, possivelmente ligado às características aromáticas.

Há cerca de 50 anos, a Viognier estava restrita a poucos lugares, encontrada em cerca de 10 hectares em Condrieu e no Château Grillet somente, e hoje é um fenômeno mundial. A casta é tradicionalmente cultivada em solos mais ácidos, mas também se adapta a regiões mais quentes, por isso tem sido plantada em vários locais do mundo, da Califórnia, ao Uruguai, passando por Austrália, Nova Zelândia, Chile, Alemanha etc.

A Viognier é para quem gosta de parar e sentir o cheiro das flores. Os vinhos variam de sabor, desde mais leves como frutas amarelas, em especial tangerina, manga e pêssegos até aromas mais cremosos de baunilha com especiarias de noz-moscada e cravo-da-índia. Dependendo do produtor e de como o vinho é feito, ele varia em intensidade, de leve e quente com um toque de amargor a ousado e cremoso.

No paladar, os vinhos são geralmente secos, embora alguns produtores façam um estilo levemente doce que embeleze os aromas de pêssego da Viognier. Os estilos mais secos aparecem menos frutados no palato e produzem amargura sutil, quase como se triturássemos uma pétala de rosa fresca. No geral, os vinhos desta casta encontram seu melhor momento depois de 2 ou 3 anos, quando alcançam um estado mais opulento e exótico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo tendendo para o dourado, muito brilhante, com algumas lágrimas finas, que logo se dissipa.

No nariz é surpreendentemente aromático e fresco trazendo, em primeiro plano, aromas de frutas de polpa branca e tropicais com destaque para pera, abacaxi, melão, maracujá, lima e pêssego, com uma agradável mineralidade e grama cortada, algo de herbáceo.

Na boca traz notas deliciosas de aspecto seco, com muito frescor, mas com uma incrível estrutura, personalidade, um bom volume, cheio, com alguma untuosidade, mostrando equilíbrio entre corpo e frescor. As frutas entregam protagonismo e leveza, com bela citricidade residual, com uma acidez cativante, vibrante, que saliva, com final persistente.

Languedoc-Roussillon não entrega apenas tipicidade, qualidade e valores justos, acessíveis aos mais variados bolsos, mas traz uma alternativa para que todos indistintamente degustem vinhos franceses a bons preços e de qualidade atestada. E ainda me possibilitou novas experiências com a excelente casta Viognier com toda a sua exuberância aromática e complexidade no paladar. Que venham mais e mais! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também.

Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=FR14

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/o-vinho-de-languedoc_8053.html

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/10/languedoc-roussillon/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/262-uva-viognier-a-uva-hedonista

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/branca-do-rhone-curiosidades-sobre-casta-viognier_13425.html

 

 

 

 

 

 

 


 




domingo, 26 de fevereiro de 2023

Rio Sol Chenin Blanc e Viognier 2022

 

Alguns produtores definitivamente fazem parte da nossa vida afetiva, de nossa história enófila e as vezes fazem parte de nossa vida e história sem se quer lembrarmos de sua existência. Costumamos valorizar ou lembrar deles quando degustamos seus vinhos em profusão. Lamentavelmente, pelo menos para mim, as pessoas não se atentam aos detalhes como esse, por exemplo.

Mas no caso do Rio Sol, vinícola gigante instalada na região do Vale São Francisco, no nordeste brasileiro, sempre esteve em minha vida e história enófila e detalhe essencial: sempre soube da vinícola, da região onde estava instalada e da sua importância para o nordeste brasileiro que, há mais de vinte anos, pelo menos em minha vida, vem desbravando e privilegiando um terroir tão particular quanto do Vale São Francisco.

E é particular mesmo, pois a cada ano há inúmeras safras, o sol, o sistema de irrigação, a cultura que se estabeleceu por lá, tudo influencia nas especificidades da vinícola e, claro, no processo de vinificação.

Vinhos de ótima relação preço x qualidade desde sempre, com uma região que conquistou a sua Indicação Geográfica (IG) e que, a cada dia, vem atingindo o status de relevância entre os mais importantes e significativos terroirs do Brasil.

E quando falamos em desbravar, é no sentido literal da palavra, haja vista que um clima árido quase desértico e que hoje tem inúmeras safras. É definitivamente um trabalho admirável da Vinícola Rio Sol e todas as outras que estão na região.

Apesar de estar em solo brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

Mas mesmo que a Rio Sol, com seus rótulos, me traga nostalgias agradáveis, boas lembranças e experiências sensoriais, ainda há espaço para novidades, ainda há espaço para novas e impactantes experiências e essa eu já esperava por alguns anos, mas que, por alguns motivos, eu ainda não havia degustado: O Rio Sol Viognier e Chenin Blanc da safra 2022.

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio do Vale São Francisco, no nordeste brasileiro, é o Rio Sol composto pelas castas Viognier e Chenin Blanc da safra 2022. Para não perder o costume vamos de história, vamos do Vale São Francisco.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

IG do Vale do São Francisco

O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a região vitivinícola.

A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do rio.

Selo IG (Indicação Geográfica)

A região do Vale do Rio São Francisco possui características únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros dos vinhos tranquilos.

A Indicação Geográfica Vale do São Francisco autoriza a produção de vinhos tranquilos brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou rosés que podem ser bruts, demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do vinho tem que ser 100% proveniente da região delimitada e são autorizadas 23 castas diferentes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo bem claro, límpido, cristalino, brilhante com um leve reflexo esverdeado.

No nariz traz aromas intensos de frutas de polpa branca, frutas cítricas, com destaques para lichia, pêssego, pera, abacaxi e maçã-verde, além de uma incrível mineralidade e toque floral, de flores brancas.

Na boca é leve, fresco e delicado com as notas frutadas e mineral protagonizando como no aspecto olfativo, além de gostosa e salivante acidez que corrobora a sua leveza, com um final de média persistência.

O reconhecimento da Indicação Geográfica certifica e corrobora a qualidade dos vinhos do Vale de São Francisco, chancelando, perpetuando a sua tipicidade, enaltecendo o seu terroir e garantindo o prazer e a perspectiva de catapultar a disseminação dos rótulos do Velho Chico para todo o Brasil e o mundo. Nós, especialmente os brasileiros, precisam conhecer os rótulos da Rio Sol e de todos os seus produtores que, arduamente, há anos constrói aquele terroir que, para muitos, no início era algo improvável. O Rio Sol Viognier e Chenin Blanc é um exemplo de que a região está, a cada dia, crescendo e entregando a sua cultura engarrafada. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“O Globo”: https://oglobo.globo.com/blogs/saideira/post/2022/11/vinhos-do-vale-do-sao-francisco-terao-indicacao-de-procedencia-entenda-a-conquista-e-conheca-rotulos-da-regiao.ghtml

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html

Vídeo institucional da Rio Sol:

https://www.youtube.com/watch?v=u8ZCJX7SGfY










 


sábado, 13 de novembro de 2021

Pueblo del Sol Reserva Viognier 2017

 

Mais um vinho da série: “Castas novas que eu descobri”. E mais uma vez direi, mesmo que soe redundante: é um grande prazer descobri novas cepas, ter novas e inesquecíveis experiências sensoriais. E essa nova “descoberta” me trouxe algumas reflexões.

Ainda existe, o que é uma pena, alguma resistência com relação aos vinhos brancos no Brasil. Uma espécie de triste rejeição construída por uma edificação calcada no preconceito. Já ouvi e li muitos comentários acerca disso tudo, entre eles temos: Ah vinho branco não tem expressão ou ainda aquele: vinho branco é para iniciantes ou são bebidas direcionadas ao público feminino ou coisa que o valha.

Lembro-me que na minha iniciação no mundo do vinho eu também criei uma resistência, uma dificuldade em entender as propostas dos brancos, as harmonizações, uma rejeição construída com base na desinformação.

Mas ao longo do tempo o vinho branco foi adentrando, devagar, é verdade, a minha adega e as experiências sensoriais com eles foi se tornando uma constante. E descobri que, como os tintos, os brancos também tem um leque infindável de propostas, que vai dos leves, delicados, simples, aos mais elaborados, complexos e encorpados.

Infelizmente, talvez esteja equivocado, poucos são os brancos ofertados no Brasil com a proposta mais encorpada, de rótulos complexos, mas o vinho que escolhi traz um branco com a estrutura de um tinto, de uma casta que na década de 1960 esteve a beira da extinção, por conta da philloxera e hoje figura a minha taça, inundando de expectativa esse momento de degustação, de celebração do vinho. Falo da Viognier.

Ela é oriunda do norte do Côtes do Rhône, mas o rótulo de hoje veio da minha região favorita do Uruguai: Canelones. Quando o comprei, algum tempo atrás, eu perguntei a um especialista em vinhos, não sei quanto tempo, aproximadamente, talvez há um ou dois anos atrás, onde a Viognier era mais conhecida e ele me disse que era a França que hoje entendo que é por razões óbvias. E perguntei se o Uruguai tinha tradição na produção da cepa e ele me disse que não.

Bem o fato é que hoje a produção da casta no Cone Sul está crescendo e não estou baseando o meu comentário com base em números, mas apenas observando alguns rótulos da Viognier no próprio Uruguai e também na Argentina.

Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei é deveras aromático, deveras encorpado, saboroso e cheio de frutas brancas tropicais, ele vem da região uruguaia de Canelones e se chama Pueblo del Sol um 100% Viognier da safra 2017. Um rótulo da tradicional Família Deicas, sinônimo de vitivinicultura. Mas já que estamos falando de história e tradição, falemos da Viognier e também da região de Canelones.

A hedonista Viognier

A Viognier é uma variedade de origem francesa, muito ligada ao Rhône, mas, graças às suas características aromáticas e estruturais, além de ser uma ótima “parceira” de outras castas brancas em blends, espalhou-se por diversas partes do mundo, gerando vinhos excepcionais.

As primeiras menções a ela são de 1781, ligando-a região de Condrieu e também Ampuis, no vale do Rhône, mas uma tese diz que a Viognier foi levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, e que a variedade veio de Smirnium na Croácia. No entanto, não há evidências históricas de que a casta seja mesmo croata.

Análises de DNA mostram uma relação pai-filho entre Viognier e a casta Mondeuse Blanche e isso a torna uma possível meio-irmão ou até mesmo avó da Syrah, já que elas fazem parte do mesmo grupo ampelográfico, mas especialistas ainda não descobriram a ordem exata dos fatores.

A origem do seu nome ainda é um mistério, mas teoricamente derivaria do francês viorne, do gênero botânico “viburnum”, que remete a flores brancas, possivelmente ligado às características aromáticas. 

Há cerca de 50 anos, a Viognier estava restrita a poucos lugares, encontrada em cerca de 10 hectares em Condrieu e no Château Grillet somente, e hoje é um fenômeno mundial. A casta é tradicionalmente cultivada em solos mais ácidos, mas também se adapta a regiões mais quentes, por isso tem sido plantada em vários locais do mundo, da Califórnia, ao Uruguai, passando por Austrália, Nova Zelândia, Chile, Alemanha etc.

A Viognier é para quem gosta de parar e sentir o cheiro das flores. Os vinhos variam de sabor, desde mais leves como frutas amarelas, em especial tangerina, manga e pêssegos até aromas mais cremosos de baunilha com especiarias de noz-moscada e cravo-da-índia. Dependendo do produtor e de como o vinho é feito, ele varia em intensidade, de leve e quente com um toque de amargor a ousado e cremoso.

No paladar, os vinhos são geralmente secos, embora alguns produtores façam um estilo levemente doce que embeleze os aromas de pêssego da Viognier. Os estilos mais secos aparecem menos frutados no palato e produzem amargura sutil, quase como se triturássemos uma pétala de rosa fresca.

No geral, os vinhos desta casta encontram seu melhor momento depois de 2 ou 3 anos, quando alcançam um estado mais opulento e exótico.

Canelones

Localizada bem ao sul, Canelones é a principal região produtora de uva e vinho no Uruguai e, por isso, concentra a maior parte dos vinhedos do país. A cidade de Canelones faz parte da região metropolitana de Montevidéu. Ela é cercada por um enorme complexo de pequenas fazendas e vinhedos, que são responsáveis por impressionantes 84% da produção de vinho do Uruguai.

Nos seus arredores, encontram-se ótimos bares que oferecem os melhores e mais procurados vinhos do país, já que naquela região concentram-se desde as mais tradicionais até as mais luxuosas, modernas e rústicas vinícolas da América Latina. Além disso, Canelones possui uma extensão de mais de 65 km de praia, repleta de entretenimentos e lugares para descansar, sem falar do Camping Marindia, que é um reduto de arte, cultura e atividades familiares, cercado por trilhas bem arborizadas e que proporciona uma linda visão de pôr do sol.

Canelones

Os primeiros moradores de Canelones se instalaram na cidade por volta de 1726; já a partir de 1774, chegaram imigrantes espanhóis e no final do século XIX, vieram os imigrantes italianos para cultivar uvas e fabricar vinhos. Dali em diante, a história da cidade com o vinho começou a se intensificar, uma vez que passo a passo ela conquistava popularidade em todo o país.

Mas foi nos anos de 1970, que videiras de clones importados chegaram à cidade e os vinhedos começaram a se concentrar na qualidade. E hoje a produção de vinho da região representa 14% no mercado internacional e é responsável por oferecer uma abundância de opções ao enoturismo uruguaio.

Essa região não poderia ter localização melhor. Por sua visão pioneira, o Uruguai foi eleito o país do ano, em 2013, pela revista inglesa The Economist. Entre as principais razões estão o fato de realizar reformas que não se limitam a melhorar apenas a própria nação, mas atitudes que podem beneficiar o mundo.

E Canelones está sendo conduzida sob essa visão. Em meio a um processo de desenvolvimento enoturístico, a região já possui até projeto de promoção do turismo e do vinho desenhado pelo Ministério do Turismo com a colaboração da Comarca de l’Alt Penedès, Espanha.

Há produtores que se juntaram para ajudar nesse incentivo e criaram a Associação “Los Caminos del Vino”, que reúne diversas vinícolas familiares abertas para visitantes, onde podem ver as vinhas de perto, acompanhar as diferentes etapas da vinificação e, finalmente, provar o vinho e a comida típica do lugar.

E agora o vinho!

Na taça entrega um lindíssimo amarelo com tendências douradas bem brilhantes com reflexos esverdeados, com uma boa profusão de lágrimas, finas, o que incrível por se tratar de um branco.

No nariz a explosão aromática, de frutas brancas e amarelas, dá o tom, onde se pode destacar a pera, pêssego, maçã-verde, abacaxi, melão, além das notas florais em evidência, que traz delicadeza e elegância ao vinho.

Na boca tem corpo médio, entrega personalidade marcante, expressividade, a começar pela sua untuosidade em boca, que estimula a salivação, sendo consequentemente muito gastronômico. Se atribui a esse volume em boca, essa untuosidade ao pequeno percentual do vinho passando 3 meses por barricas de carvalho Tem boa acidez, é frutado, tendo, entre esses fatores, muito equilibrado, com um final longo, prolongado.

Descobri que a Viognier é complexa, estruturada, é para quem gosta de analisar o vinho, de fazer um ótimo exercício de análise, que goste de se desdobrar nesse quesito. Um vinho de volume e corpo, de personalidade marcante. Uma casta que até pouco tempo era coadjuvante, para dar um toque aromático as outras castas e neste belíssimo rótulo alça um “voo solo”, e que aterrissa na minha humilde taça para o meu deleite. Pueblo del Sol, no auge dos seus 4 anos de safra, ainda mostra notas frutadas, mais uma austeridade, mostrando uma boa evolução, mostrando que ainda tem uma boa “pegada”. Sem dúvida um vinho muito especial, mostrando que os brancos podem deixar uma indelével marca na sua enófila história. E o rótulo da Família Deicas entrega exatamente isso, como eles dizem: “Nossos vinhos são uma homenagem ao sol”.

Palavras do produtor:

“À forma como nossos vinhedos se pintam de dourado. Ao seu calor, que ajuda a expressar o melhor de suas videiras. À sua luz, que guia nosso trabalho desde o amanhecer ao pôr-do-sol. Ele é o começo de tudo; a energia que nos guia para elaborar uma linha de vinhos de valor único”.

Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Deicas:

A Bodega foi fundada no século XIX e já teve vários donos, inclusive o próprio Estado. O primeiro deles foi Don Francisco Juanicó que fundou o estabelecimento em 1830. Apenas em 1979, quase um século e meio depois, a Familia Deicas comprou a propriedade e imprimiu nela uma grande mudança. Uma delas foi a de contratar especialistas internacionais para produzir vinhos de alta gama com variedades francesas.

De toda forma, ainda permanece no local muito do passado. Algo que pode ser apreciado em algumas construções da vinícola, que apesar de restauradas conseguem manter o conceito original de quem as idealizou.

Caso, principalmente, da cave subterrânea, construída com pedras por Don Francisco Juanicó. O local hoje abriga mais de 500 barricas de carvalho francesas e americanas, unindo tradição, tecnologia e muita beleza.

A Família Deicas é muito conhecida pelo Familia Deicas Preludio (1100 pesos), um dos ícones da vinícola, que, é sem sombra de dúvidas um vinho maravilhoso! Realmente, um dos melhores do Uruguai. Ele consiste em um corte de seis variedades (Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Marselan). Além do Prelúdio, a Juanicó também elabora o Don Pascual, que é a marca de vinho fino mais importante do Uruguai. Também produz a linha Atlántico Sur. Ambas as linhas mais acessíveis que o Preludio Familia Deicas (que é produzido em lotes reduzidos e de forma mais artesanal). Afinal, a Juanicó possui estrutura de vinícola de ponta para produzir em larga escala.

Mais informações acesse:

http://www.pueblodelsol.com.uy/_po/?pg=inicio

https://familiadeicas.com/

Referências:

“Winepedia: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/roteiros-do-vinho-canelones/

“Dicas do Uruguai”: https://dicasdouruguai.com.br/dicas/canelones-no-uruguai/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/262-uva-viognier-a-uva-hedonista

“Blog do Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/enoturismo-viagens/juanico-familia-deicas-tecnologia-e-tradicao-na-arte-de-fazer-vinhos/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/branca-do-rhone-curiosidades-sobre-casta-viognier_13425.html

 

 

 

 





domingo, 17 de outubro de 2021

Gran Legado brut

 

Início de tarde de domingo. Um friozinho fora do roteiro, ventos ocasionais corroborava a temperatura, o sol, em raros momentos, timidamente aparecendo entre as nuvens. Então o que vem à mente? Um vinho mais encorpado, complexo e estruturado. Mas olhei para a adega e decidi subverter o convencionalismo: degustar um espumante nacional, brasileiro. Um vinho leve, menos intenso, sem aquela preocupação latente de fazer análises complexas ou coisa que o valha. Para as jovens tardes de domingo, como dizia a música, um vinho descomplicado.

Mirei os olhos para a adega, olhei cada canto, cada detalhe e todos os rótulos que, no auge do seu merecimento, descansavam e observei um espumante brasileiro! Sim! Um espumante brasileiro! Nada mais pertinente para o que eu procurava, para o que eu ansiava. Tenho alguns muito interessantes, claro, como não encarar o espumante brasileiro assim? Ufanismos à parte, afinal exaltemos os nossos rótulos, os nossos espumantes que tanto projetam, de forma positiva, o nosso vinho globalmente em festivais e concursos de renome. Mas escolhi um que ganhei de presente há cerca de um ano atrás!

Então já era hora de degusta-lo! E já que falei do espumante como um verdadeiro produto nacional, que é o DNA de nossa cultura, de nossas terras, cabe lembrar alguns números que traduzem essa máxima, bem como algumas histórias que fazem dele o que é hoje.

Em 2002, o consumo de espumante nacional era de 4,2 milhões de litros, em 2014 esse número saltou para 16,7 milhões de litros. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em torno de 75% do espumante consumido no país é brasileiro.

Esses dados não aconteceram por acaso. Há uma série de fatores que resultam nesses valores, como aprimoramento das técnicas de manejo dos vinhedos e na elaboração da bebida nas vinícolas. Além disso, o espumante deixou de ser uma bebida apenas para final do ano e comemorações, e passou a ser pelos consumidores uma bebida do dia a dia.

A história do espumante tem seu início na França, no século XVII, na região de Champagne. Essa região sempre foi produtora de vinhos tranquilos na França, brancos e tintos. Nessa época os vinhos eram comercializados em tonéis, e como fator de desvalorização, caracterizavam-se por apresentar uma tendência efervescente, que era um grande entrave para a conservação e para o transporte a locais mais distantes.

Com a invenção das garrafas em 1680 pelos ingleses, a comercialização dos vinhos ganhou maior praticidade. A partir desse momento, começaram os problemas para os vinhos da Champagne, que sofriam uma segunda fermentação na garrafa, pressurizando e lançando as rolhas e explodindo as garrafas.

Don Pérignon, monge beneditino e tesoureiro da abadia de Hautvillers era responsável pelos vinhos e teve a missão de solucionar esse problema dessa segunda fermentação. Sendo assim, ele começou a estudar esse fenômeno e compreendeu que o que ocorria era devido ao gás carbônico (CO2), recomendando assim, que as garrafas fossem reforçadas.

Segundo a tradição, conta-se que, ao abrir uma garrafa, arrolhada, Don Pérignon foi surpreendido pela espuma da bebida, e quando provou, falou a seguinte frase: Estou bebendo estrelas! Don Pérignon foi quem mais se dedicou ao processo da segunda fermentação na garrafa, atualmente conhecida como método Champenoise.

A produção de espumantes no Brasil teve inicio em 1913, no município de Garibaldi – RS. O autor do primeiro espumante brasileiro foi o imigrante italiano Manoel Peterlongo, elaborado pelo método Champenoise. Dois anos depois a Vinícola Peterlongo era inaugurada no país, dando inicio a trajetória do espumante brasileiro.

A partir dos anos 60 a vinda de empresas multinacionais com grandes recursos, como a Martini & Rossi, Cinzano, Moët & Chandon, Maison Forestier, Almadén modificaram a cara do espumante brasileiro. Passados pouco mais de 100 anos, o Brasil já se consolidou como terroir de referência na elaboração de espumantes de qualidade e a cada safra o espumante brasileiro vem conquistando consumidores no Brasil e no exterior.

E depois desse breve desfile, mas significativa história do nosso espumante, apenas para ter uma ideia, uma dimensão de sua importância atual, vou apresentar, sem mais delongas, o meu rótulo. A minha “primeira vez” com esse produtor que, já que falamos em história, foi um dos primeiros produtores internacionais que chegaram ao Brasil e que contribuiu grandemente para o nosso espumante, a Maison Forestier, o vinho que degustei e gostei veio do Vale dos Vinhedos e se chama Gran Legado Brut, produzido pelo método Charmat, com um corte das castas Chardonnay, Riesling Itálico, Viognier e Glera, sem safra.

Mas antes de falar do vinho continuemos a passear pela história do espumante no Brasil e a importância dos imigrantes europeus para esse processo nas últimas décadas do século XIX quando a reunificação italiana e uma forte crise econômica assolaram parte do continente europeu.

É claro que os imigrantes italianos que para cá vieram, em sua enorme maioria do norte da Itália, não pensavam em vinhos espumantes e – provavelmente – mal conheciam as borbulhas. No entanto, o vinho era essencial em suas celebrações religiosas, era parte indissociável de seus costumes e as uvas tornaram-se rapidamente uma fonte de renda, principalmente para os imigrantes que ocuparam algumas das cidades da Serra Gaúcha.

A vitivinicultura se desenvolveu rapidamente por toda a região no início do século XX, mas concentrada em vinhos brancos e tintos, de produção quase artesanal. “Quase”, pois essa produção feita nas cantinas dos imigrantes passou, aos poucos, a ser comercializada. A virada do século, que viu o País sair da monarquia, abriu as portas para o crescimento da agroindústria, e muitas vinícolas surgiram. A família Peterlongo foi uma das pioneiras do espumante nacional.

Num movimento paralelo, que aproxima a região da longa história da campanha francesa (a região de Champagne), por aqui também os religiosos tiveram um papel preponderante no desenvolvimento da vitivinicultura. Os irmãos Maristas, que chegaram ao sul em 1904, começaram a plantar uvas na região da atual Garibaldi, para fazer o vinho de missa e aquele que acompanhava a mesa dos religiosos. E esses vinhos logo passaram a ser enviados para outras partes do estado, até mesmo para fora dele.

Os Maristas

Foi assim fundada a Granja Santo Antônio, que viria a ser uma das mais importantes vinícolas da região, a Pindorama S/A - Vinhos e Champanhas. Pelas mãos de um irmão de nome Pacômio, a vinícola cresceu e ficou conhecida pela salubridade de suas uvas, por sua organização e pela qualidade dos produtos. Segundo as informações do Arquivo Municipal de Garibaldi, a vinícola, que em 1915 já havia construído uma segunda cantina, armazenava 20 mil litros de vinhos nesse momento, volume que chegou a 400 mil em 1930, época da construção da terceira cantina.

No entanto, foi um imigrante que chegou ao País em condição mais favorecida do que a grande maioria, que teria o privilégio de ser o produtor do primeiro espumante documentado do país: Manoel Peterlongo Filho imigrou para o País por volta de 1875, vindo da região do Trento, e trouxe consigo os conhecimentos da profissão que exercia na Itália, a de agrimensor, e instalou-se num lote na região central da colônia de Conde d’Eu. Por sua profissão de engenheiro, ele foi convidado pela intendência estadual a participar da medição da área que se destinaria ao município de Garibaldi, realizando todo o traçado urbano e rural da cidade, por volta do ano de 1890.

Manoel Peterlongo Filho

Casado com outra imigrante italiana e com 10 filhos (apenas um homem), Manoel trabalhava para o município e produzia vinhos para consumo próprio das uvas plantadas em suas terras, das variedades Malvasia, Moscatel, Vernaccia, Rabosa e Formosa. Com uma pequena produção de espumantes, feitos pelo método tradicional, Manoel já havia conquistado pedidos de amigos e familiares, que compartilhavam taças em sua casa e, em 1913, decidiu inscrever um desses produtos no concurso da primeira exposição de uvas da cidade de Garibaldi. Foi lá que seu espumante ganhou a primeira medalha de ouro e o registro oficial que atesta o início da produção no País. E o resto a gente já sabe.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, claro, mas reluzente, brilhante com uma concentração de média intensidade de perlages muito finas.

No nariz traz aromas delicados de frutas brancas, cítricas, frescas, com notas florais, de flores brancas, que corrobora seu frescor e delicadeza.

Na boca é leve, elegante, o toque frutado também ganha protagonismo dando algum volume de boca, com um discreto fundo adocicado, mesmo se tratando de um “brut”, mas sem soar enjoativo. Tem uma boa acidez, não sendo muito intensa reforçando sua elegância e um final vivaz e prolongado.

Um típico espumante brasileiro, sim, mas especial e que me arrebatou, de forma significativa, os sentidos, as experiências sensoriais foram divinamente atacadas, de forma beligerante, entregando sabor, tipicidade, mostrando que a tradição pode sim andar junto, de mãos dadas com a modernidade, o dinamismo de uma sociedade, de um mercado que, na mesma proporção do crescimento do nosso espumante, se torna cada vez mais exigente e especialista na degustação de nossos borbulhantes. Pensou em espumante? Pensou em degustar bons espumantes por valores atrativos, honestos e de preços democráticos e justos? Mire seus olhares e intenção aos nossos espumantes! Gran Legado sintetiza, com fidelidade, o nosso terroir e anseios com um espumante leve, fresco, com muita fruta branca, cítrica, com belíssima acidez que traz todo a delicadeza e leveza que um espumante, em sua gênese, deve e pode entregar. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Maison Forestier:

A Maison Forestier é uma das marcas mais clássicas da história do vinho no Brasil. Nascida em 1750, na França, chegou ao país em 1970 como produto importado. Devido ao sucesso de vendas e da sua qualidade, em 1977 instalou-se em Garibaldi.

A vinícola implantou vinhedos experimentais num belo e modelar “domaine”. Foi a grande marca responsável por agregar charme, excelência e valor ao vinho nacional. Agora, toda esta tradição está de volta com os espumantes e vinhos Forestier.

Palavra do produtor:

Unimos à essa tradição francesa nossa experiência de pouco mais de duas décadas com a elaboração da linha Gran Legado Vinhos e Espumantes.

Com produção controlada, os rótulos Forestier e Gran Legado também asseguram qualidade em matéria prima e uma elaboração de excelência, conquistando os paladares nos principais concursos nacionais e internacionais.

Detentora de grandes prêmios é uma linha que esbanja sofisticação com espumantes nobres e exclusivos, além de vinhos finos, leves e frutados.

Mais informações acesse:

http://www.granlegado.com.br/home

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-primeiros-100-anos_9482.html

“Falando em Vinhos”: https://falandoemvinhos.wordpress.com/