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quarta-feira, 14 de abril de 2021

E hoje é o dia da Tannat!

A uva Tannat é originária da comuna francesa de Mandiran, na região de Occitanie, nos Altos Pirineus, na França. A região de Occitanie está localizada ao sul do Bordeaux, e muito próxima da divisa com os Países Bascos da Espanha. A Tannat é conhecida na Europa também como Mandiran.

Em sua terra natal, é tida como uma uva selvagem de taninos agressivos, quase rústica. Mas, no Uruguai (e também na fronteira com o Brasil), o clima diferente e a habilidade dos viticultores e enólogos transformaram essa cepa em um emblema de alta qualidade e vinhos muito agradáveis (embora ainda potentes).

Madiran

A região onde a Tannat se originou, no sudoeste da França, abaixo das regiões de Bordeaux e Armagnac, fica próxima da fronteira com a Espanha e o País Basco, e essa divisa natural é feita pelas altas e frias montanhas dos Pirineus. Nessa zona de Madiran e Cahors, a Tannat era, até bem pouco tempo atrás, raramente vinificada sozinha. Ela era mais comumente utilizada em cortes com a Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc, objetivando uma diminuição em sua alta carga tânica. O terroir alto, frio e de terrenos muito antigos influencia as características da uva que, apenas recentemente e com o uso de modernas técnicas de cultivo e vinificação, vem produzindo vinhos varietais mais domados em sua força natural.

A imigração para o Uruguai

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. Mas um pouco antes, em 1516, o navegador Juan Dias de Sólis, considerado o descobridor oficial do Uruguai, ao tentar uma aproximação amistosa, foi, junto com toda sua comitiva, massacrado pelos charruas.

Os primeiros vinhedos, como em Mendoza e Santiago, foram plantados pelos jesuítas, para o vinho das cerimônias religiosas. O primeiro registro de uma vinícola apareceu somente em 1776, dois séculos depois dos vinhedos de Mendoza e 170 anos após os de Buenos Aires. Em 1835, na posse do 2º Presidente, Manuel Oribe, foi servido um vinho uruguaio, no entanto, o desenvolvimento dos vinhedos e a produção regular de vinhos só aconteceram mesmo a partir de 1870, quando começaram a chegar os imigrantes espanhóis e italianos. Os imigrantes trouxeram consigo a cultura do vinho, e passaram a produzir, principalmente, para o consumo familiar. Poucos produziam para comercializar.

Com a chegada dos investidores ingleses, interessados no gado bovino e na comercialização da carne, cresceu o consumo da cerveja. O que incentivou a abertura de várias cervejarias. A influência dos ingleses no consumo de bebidas foi comprovada pela icônica água tônica Paso de Los Lobos, que era produzida para atender, principalmente, os consumidores ingleses.

Em 1871, a criação da ARU – Associação Rural do Uruguai – deu um impulso importante na agricultura e na produção de vinhos. Francisco Vidiella, um dos fundadores da ARU, após uma viagem à Europa, trouxe consigo mudas de uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Garnacha e começou a produzir bons vinhos.

Em 1874, Pascual Harriague, de origem espanhola e, também, fundador da ARU, viajou para Concordia, na Argentina, onde estavam sendo produzidos vinhos de muito boa qualidade, no estilo de Bordeaux, utilizando uma uva conhecida como Lorda. Na volta, trouxe consigo mudas e plantou 200 hectares de vinhedos, na região de Salto,  noroeste do Uruguai. A uva Lorda se adaptou muito bem a este terroir, com vinhos de muito boa qualidade. Em 1888, já havia em Salto cerca de 90 bodegas de vinho. Várias vinícolas em todo o Uruguai começaram a plantar a uva, e com o sucesso passaram a referir-se a ela como Harriague. Em 1919, após estudos, a uva Lorda foi reconhecida e identificada como sendo a Tannat, da região de Occitanie, nos Altos Pirineus.

O país, como o conhecemos hoje, passou a existir com a declaração de independência em 1828, quando se estabeleceu como República, após vários anos de guerras sangrentas que envolveram Espanha, Portugal, Argentina e o Brasil.

Don Pascual Harriague

Com o basco Pascual Harriague a Tannat teve seu grande impulso no Uruguai. Esse empresário, nascido em 1819, chegou ao Uruguai em 1840 e, após várias atividades pecuárias no país, se estabeleceu na cidade de Salto.

Don Pascual Harriague

Por volta de 1870, depois de alguns anos fazendo testes com diversas variedades de uva, ele encontrou as condições para produzir um ótimo vinho tinto com uvas Tannat. Ele apresentou esses vinhos em 1887, que receberam elogios e prêmios internacionais nas exposições mundiais de Barcelona e Paris em 1888 e 1889 Hoje já são quatro gerações de viticultores uruguaios que continuam o legado de Pascual.

Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio.

Produção

Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedade de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.

Hoje em dia, além da qualidade de seus terroirs com clima mediterrâneo e solo fértil, há uma gama de variedades plantadas que elevaram o padrão do vinho produzido no país. O pequeno território do Uruguai abriga vinhedos em toda a sua extensão – 16 dos 19 estados uruguaios possuem plantações de uvas viníferas, a maior parte de uvas tintas, que representam mais de 80% das castas cultivadas.

A Tannat representa 44% das plantações no Uruguai, mas outras castas como a cabernet sauvignon, pinot noir e sauvignon blanc (entre outras) podem ser destacadas na produção do país.

A região sul do país é a que mais concentra vinícolas. As regiões de Montevidéu e Canelones tem a maior parte da produção de vinhos do país, San José e Colônia del Sacramento são outros centros vinicultores importantes.

O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativas que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

Características da Tannat

Os cachos da uva Tannat têm tamanho médio a grande, são compactos e cilíndricos. Os frutos (bagas) têm tamanho pequeno a médio, sendo ligeiramente alongados. O grande destaque é a concentração de cor em sua casca e também na polpa da fruta, justificando a intensa coloração violácea que caracteriza os vinhos elaborados com ela.

A uva Tannat

Em relação ao tempo necessário para sua maturação, possui um ciclo médio, podendo adaptar-se a diversas regiões e ser colhida no ponto ideal de maturação.  Essa é uma das variedades mais ricas em polifenóis — uma categoria de compostos bioativos encontrados em alguns vegetais. Eles apresentam importantes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. O resveratrol é mais importante polifenol encontrado nas cascas e nas sementes das uvas, principalmente das tintas. A substância reduz a ação dos radicais livres no organismo e impede a atividade de enzimas que podem prejudicar células saudáveis. Por isso, o vinho é uma bebida que faz muito bem para a saúde.

Em geral, o vinho elaborado em território uruguaio é mais frutado e menos rústico do que o francês, devido ao clima e solo locais. Entretanto, ele ainda mantém as características de taninos firmes, o que lhe confere o nome (Tannat = Taninos) cor escura, teor alcoólico médio e afinidade com o carvalho.

No Brasil, a região da Campanha Gaúcha localiza-se a sudoeste do estado do Rio Grande do Sul e faz fronteira com o Uruguai. A combinação dos verões quentes com dias ensolarados, do solo sedimentar e do relevo em forma de coxilhas resulta em vinhos de grande complexidade e notável equilíbrio.

Referências:

“Blog do Milton”: http://www.blogdomilton.com.br/post/br/201903-uruguai

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-tannat-uva-francesa-famosa-uruguai

“Blog da Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/conheca-as-principais-caracteristicas-da-uva-tannat/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-da-tannat-no-uruguai_12654.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/tannat-uva-imigrante_11878.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uruguai-um-pequeno-pais-de-grandes-vinhos/