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segunda-feira, 29 de julho de 2024

Ser Lapo Chianti Classico Riserva 2017

 



Vinho: Ser Lapo Chianti Classico Riserva

Safra: 2017

Casta: Sangiovese (90%) e Merlot (10%)

Região: Chianti Classico, Denominação da Toscana

País: Itália

Produtor: Vinícola Mazzei

Adquirido: Evino

Valor: R$ 169,00

Teor Alcoólico: 13,5%

Estágio: 12 meses em barricas de carvalho.

 

Análise:

Visual: linda cor rubi intensa, com halos granada, com uma profusão de lágrimas grossas, lentas e coloridas.

Nariz: aroma de muita tipicidade, mostrando as características de um bom Chianti, com notas de frutas vermelhas maduras, quase em compota, extremamente aromático, com as notas amadeiradas conferindo ainda mais complexidade, trazendo algo de mentolado, baunilha, tosta média, chocolate e especiarias.

Boca: é seco, entrega média estrutura, complexo, equilibrado, elegante, macio, mostrando incrível sinergia entre fruta, acidez e taninos. Os taninos presentes, mas domados, a acidez viva e plena, mesmo aos sete anos de idade, com as notas amadeiradas perceptíveis, mas integrada ao conjunto do vinho.

 

Produtor:


quarta-feira, 3 de abril de 2024

Mazzei 1435 2020

 



Vinho: Mazzei 1435

Casta: Sangiovese e Merlot

Safra: 2020

Região: Toscana

País: Itália

Produtor: Vinícola Mazzei

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Evino

Valor: R$ 74,90

Estágio: 10 meses em barricas de carvalho.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi com alguma intensidade, vivo e brilhante com reflexos granada, lágrimas finas, com relativa lentidão e em profusão.

Nariz: apresenta um mix de aromas de frutas vermelhas e pretas, com destaque para ameixa, cereja e morango, com notas herbáceas, de carvalho discreto, muito bem integrado, com toques de baunilha, de chocolate meio amargo.

Boca: é macio e elegante, mas que goza de alguma personalidade, com bom volume de boca, confirmam as notas frutadas, que traz, inclusive, algum frescor e mineralidade. Especiarias são percebidas, algo terroso também. Taninos dóceis e ótima acidez, com final longo.

 

Produtor:

https://mazzei.it/


quinta-feira, 21 de março de 2024

Chianti Orgânico Sorelli 2019

 



Vinho: Chianti Orgânico Sorelli

Casta: Sangiovese, Canaiolo e Colorino

Safra: 2019

Região: Toscana

País: Itália

Produtor: Cantine Sorelli

Teor Alcoólico: 12,5%

 

Análise:

Visual: traz coloração rubi com tons acobreados, com lágrimas finas e rápidas.

Nariz: apresenta um ataque aromático de frutas vermelhas, com destaque para amora, cereja vermelha, framboesa e morango, com toques de especiarias, como pimenta e hortelã.

Boca: é equilibrado, macio e elegante, com taninos marcados, mas generosos e dóceis, com acidez média e um final longo.

 

Produtor:

https://www.cantinasorelli.com/?lang=en


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Castellani Chianti Riserva 2018

 



Vinho: Chianti Riserva

Casta: Sangiovese (80%), Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (10%)

Safra: 2018

Região: Toscana

País: Itália

Produtor: Castellani

Teor Alcoólico: 12,5%

Estágio: 24 meses em barricas de carvalho

 

Análise:

Visual: mostra um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: discreta nota amadeirada, algo de defumado, terra molhada, couro, tabaco, estrebaria, especiarias, frutas vermelhas maduras.

Boca: é intenso, apresentando média estrutura, com as notas frutadas replicadas como no aspecto olfativo, madeira discreta em sinergia com a fruta, especiado, defumado, entregando ainda chocolate e leve tostado, final médio.

 

Produtor:

https://www.castelwine.com/


segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Castellari Chianti Riserva 2018

 

O vinho que degustei e gostei de hoje é um clássico italiano! Falando em clássicos do vinho a Itália dispara na preferência dos mais exigentes paladares enófilos. Falo do Chainti, falo do Castellani Chianti Riserva da igualmente tradicional vinícola Castellani.

O vinho é composto pela tradicional Sangiovese, que predomina em 85% do blend, uma regulamentação do DOCG da região de Chianti, que segue com Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2015.

A Castellani foi estabelecida em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu a começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

Várias adegas foram adquiridas ao longo dos anos, como a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola, bem como a aquisição da vinha Poggio al Casone, além da Fazenda Campomaggio.

Falando um pouco de Chianti, a região é montanhosa e se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem cinco rios que cruzam e definem a área como os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses, nascendo a lenda Gallo Nero, que serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico.

Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano. Para maiores detalhes sobre a história de magnífica região segue o link de leitura do Blog “História com Gosto”.

O vinho, é um belo representante da bela Toscana e a sua pérola Chianti, mostra, no aspecto visual, um rubi intenso, quase escuro com halos granada, evidenciando algum tempo em garrafa, cerca de cinco anos, mas também pelos longos 24 meses que estagiou em barricas de carvalho.

No nariz apresenta discreto toque amadeirado, algo de terra molhada, couro, tabaco e baunilha, bem complexo, como já era de se prever de um chianti riserva. As notas frutadas se apresentam também, algo de frutas vermelhas como framboesa, cereja e até morangos e finaliza com especiarias, defumado. A rusticidade da casta predominante, a Sangiovese, se faz presente.

Na boca é intenso, com média estrutura para mais, evidenciado por taninos marcados, presentes, mas domados, com uma acidez vivaz, também típica da Sangiovese, bem como o álcool com alguma proeminência no início, acalmando ao longo da degustação. A madeira se mostrou discreta, porém entregou um leve chocolate e tostado, as notas frutadas protagonizam. Não evoluiu muito bem ao longo da degustação, mas se mostrou íntegro até o fim.

 


 




sexta-feira, 21 de julho de 2023

Rifugio del Vescovo Chianti Riserva Sangiovese e Merlot 2018

 

Definitivamente a Itália é o país dos vinhos clássicos! Não há nenhum outro centro vitivinícola que produz, em larga escala e com tanta qualidade, vinhos do naipe de um Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Ripasso e tantos outros.

Vinhos longevos, vinhos de marcante personalidade, vinhos potentes, poderosos e de plenitude jamais vista, jamais sentida em taça. Incluiria entre esses nomes, porém fora da Itália, Bordeaux.

Vinhos que não precisam de demasiadas apresentações, tanto que muitos deles carregam o nome de sua região, típico do Velho Mundo. Não há a apresentação das suas clássicas castas, não há detalhes, não há quase nada, apenas as regiões ostentando em letras garrafais o seu nome, a sua tradição.

Porém atualmente, atendendo aos anseios do mercado consumidor mais jovem e que está se interessando por vinhos, alguns produtores dessas regiões têm divulgado as castas e trazendo um contorno mais “moderno” no primeiro contato que o enófilo tem pelo vinho: o visual.

Mas diante desse exército de clássicos que a Itália tem em seu front há outro, igualmente importante, que até hoje não goza de tanta reputação quanto os Brunellos e Barolos da vida. Falo do Chianti. O passado de guerras, de incertezas de seus criadores, de seus desbravadores, contornou a tortuosa, mas cativante história dos Chiantis.

O primeiro Chianti que tive o prazer de degustar foi o Castellani Chianti Riserva 2015 e logo depois o Poggio Al Casone Chianti Superiore 2019 também do tradicional produtor Castellani. Vinhos com excelente custo X benefício que desmistifica o histórico de Chiantis com altos valores e um tanto quanto inalcançável de se ter em adega. E não se enganem, são ótimos vinhos!

Mas não decidi parar por aqui! Gostaria de buscar novas experiências com os velhos Chiantis, conhecer novos rótulos e produtores e eis que, de forma totalmente despretensiosa, navegando no site de um famoso site de vendas de vinhos, observei, em destaque, um Chianti Riserva que estava na incrível faixa dos R$ 45! Não acreditei de imediato e decidi rever e sim, um Chianti Riserva por um ótimo preço.

Mesmo ainda com algum receio, afinal o preço estava muito baixo, decidi compra-lo, afinal, caso não gostasse dele o gasto, o “impacto” não seria tão alto no bolso já combalido de dinheiro. Mas decidi degusta-lo o quanto antes, estava tomado por uma incomum curiosidade e até mesclada a uma ansiedade.

Então sem mais delongas vamos às apresentações desse surpreendente vinho! Uma gratíssima surpresa a um valor avassalador, que se chama Rifugio del Vescovo, um Chianti Riserva, composto pelas castas Sangiovese e Merlot, da safra 2018. Para não perder o costume, vamos de história, vamos de Chianti.

Chianti, Toscana

Desde a queda de Roma até o Risorgimento, por volta de 1850, o esfacelamento dos estados italianos em pequenas repúblicas e reinos ditou a vida de sua população e também o tom de seus vinhos. Foi nesse longo período conturbado que nasceu um dos vinhos mais famosos da Itália, o Chianti.

Geograficamente falando, Chianti é uma terra montanhosa que se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem 5 rios que cruzam e definem a área com: os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses. Acredita-se que, um dia, cansados de guerrear, os governantes das duas cidades decidiram por um outro tipo de disputa para estipular sob qual bandeira ficaria a região.

Assim, concordaram que dois cavaleiros sairiam ao cantar do primeiro galo da madrugada, um partindo de Firenze em direção à Siena e o outro no sentido contrário. Onde eles se encontrassem, seria demarcado o limite dos domínios.

Assim nasceu a lenda do Gallo Nero, o galo negro que até hoje serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico. Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida.

Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano.

Primeira Denominação de Origem

As primeiras documentações que tratam do vinho de Chianti remontam a 1398 e o descrevem como um vinho branco vendido pelo comerciante Francesco di Marco Datini. No entanto, o nome do vinho ficaria definitivamente gravado na história a partir de 1716, quando Cosimo III de Médici, o penúltimo de sua família a ser Grão-Duque da Toscana, apontou que as três cidades da Lega del Chianti, mais uma parte da Vila de Greve, estavam aptas a produzir o vinho de nome Chianti.

Francesco di Marco Datini

Esta teria sido a primeira demarcação territorial, ou seja, a primeira Denominação de Origem, conhecida no mundo (os portugueses, porém, alegam que a primeira DO teria sido instituída pelo Marquês de Pombal em 1756, quando estabeleceu os marcos pombalinos na região que produzia o Vinho do Porto).

Apesar de o reinado de Cosimo III ter sido desastroso para a região, que se viu diante de uma enorme crise econômica e social, a demarcação durou até 1932, quando a área foi gradualmente expandida (a última expansão seria em 1967).

No entanto, mesmo demarcado, sabe-se que o vinho de Chianti obedecia a poucas regras. Historiadores apontam que, na época, uma das principais uvas usadas na produção do vinho era a Canaiolo, a mais cultivada na região, juntamente com a Sangiovese, Mammolo e Marzemino. Seria somente durante o Risorgimento italiano no século XIX, que o vinho tomaria uma forma, muito próxima do que tem hoje.

O grande nome por trás do estabelecimento de Chianti e também um dos principais responsáveis pela unificação italiana em 1961 foi o barão Bettino Ricasoli, cuja origem familiar remonta aos tempos de Carlos Magno. O “Barão de Ferro” (alcunha conquistada por sua intransigência moral e econômica) foi um dos grandes pilares da unificação de seu país com sua atuação política no Ducado da Toscana. Não à toa, ele chegou a ser primeiro ministro italiano quando o rei Vitório Emanuele assumiu o poder.

Barão Bettino Ricasoli

Além de ser a criadora do Chianti, a família Ricasoli produz vinhos desde o ano 1141, quando adquiriu o legendário Castello de Brolio. Essa longa história faz da Barone Ricasoli a vinícola mais antiga da Itália e a segunda mais antiga do mundo. O Castello de Brolio estava em ruínas à época.

Determinado a dar novos rumos à produção local, o Barão de Ricasoli viajou para a França e a Alemanha, onde aprendeu novas maneiras de cultivo, além de importar variedades e experimentar maquinários. Assim, em 1872, ele teria criado a “fórmula” do Chianti e assim escreveu:

“Os resultados obtidos já nas primeiras experiências confirmam que o vinho recebe do Sangioveto a principal dose de seu perfume (o que eu particularmente procuro) e um certo vigor de sensação; do Canajuolo, a amabilidade que tempera a dureza do primeiro, sem tolher em nada seu perfume; a Malvagia, a qual se pode colocar menos nos vinhos destinados a envelhecer, tende a diluir o produto das duas primeiras uvas, não acrescenta sabor, e o torna mais leve e mais prontamente usável na mesa cotidiana”.

A “fórmula do Chianti” escrita na famosa carta endereçada ao professor Cesare Studiati da Universidade de Pisa, na qual exaltava os aromas e a estrutura da Sangiovese, a maciez da Canaiolo e a tendência da Malvasia a diluir o vinho, fez com que o Barão sugerisse que esta última uva não fizesse parte do corte dos vinhos de guarda da sua região. A receita do Barão era 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia Bianca. Em 1967, sua “fórmula” foi ratificada pela regulamentação da DOC (com acréscimo da Trebbiano).

Renascimento

O Chianti então surgiu como uma versão do “clarete” francês – sem variedades internacionais, contudo. Foi durante o Risorgimento que ele alcançou a glória, quando Firenze se tornou capital da Itália e Ricasoli primeiro ministro.

No entanto, apesar dos esforços do barão, com o tempo, a fama do vinho tornou-se ruim, muito devido às condições econômicas precárias da região, especialmente depois das pragas que chegaram à viticultura em meados do século XIX e também muito devido ao contrato de uso das terras entre agricultores e os donos das propriedades.

A mezzadria (sistema feudal em que os camponeses dividiam a sua colheita com os senhores de terras) e a agricultura promiscua (diversas culturas em um mesmo terreno) perdurou na Toscana até praticamente os anos 1970 e atrasou o desenvolvimento do vinho na região – já que a colheita ia ser dividida, era melhor, para o agricultor, plantar mais quantidade do que pensar em qualidade.

Clante

A origem do nome Chianti é incerta. Para alguns, ela vem de clangor, que nada mais é do que o som dos instrumentos metálicos, mais especificamente das trombetas. No entanto, também pode designar o atrito entre objetos de metal, como espadas.

Daí, acredita-se que o nome possa ter surgido devido a esse barulho das trombetas de caça ou então das batalhas. Outra possibilidade, muito mais aceita, é o termo ter vindo da palavra etrusca clante, que significaria água (abundante na região) ou então seria apenas um nome de família muito comum na área.

Os “Super Toscanos”

O movimento dos vinhos “Super Toscanos” fez com que Chianti aprimorasse suas normas. Nos anos 1960, alguns produtores estavam desapontados com os rumos que Chianti havia tomado.

Apesar de a DOC ter finalmente estabelecido uma regra para seus vinhos em 1967 (e talvez por isso também), muitos passaram a experimentar com novas variedades, especialmente as francesas, no intuito de produzir um vinho melhor e mais caro (desde o fim da II Guerra Mundial, Chianti era considerado um vinho simples e barato).

Assim, entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970, duas poderosas famílias decidiram fazer vinhos mesclando Sangiovese com variedades francesas. Tanto o Marquês Mario Incisa della Rochetta quanto seu sobrinho, Piero Antinori, lançaram respectivamente Sassicaia e Tignanello, os primeiros Super Toscanos de que se tem notícia, vinhos que mudariam para sempre o cenário na região.

Com esse fenômeno houve novas mudanças nas regras, com a introdução de variedades francesas no blend de Chianti. Dez anos depois, as variedades brancas foram proibidas em Chianti Classico, que já passava a aceitar Sangiovese “in pureza”, ou seja, 100%.

Hoje, além do Classico, Chianti possui outras sete sub-regiões, cada uma com regras específicas. As mudanças de regras foram constantes nos últimos 40 anos. As últimas modificações em Chianti Classico, por exemplo, ocorreram em 2013, quando, entre outras coisas, criou-se uma nova classificação, com um nível qualitativo acima dos Riserva: os Gran Selezione.

Os diferentes Chianti

O simples termo “Chianti” diz muito pouco sobre o vinho. Muito resumidamente, indica que se trata de um tinto italiano, produzido na região da Toscana, em uma área que se estende entre as cidades de Florença e Siena, a partir de, principalmente, Sangiovese. Ainda que Chianti seja uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) e, portanto, existam regulamentações tratando de sua produção, a variedade é grande.

Além da “denominação genérica” Chianti DOCG, há outras denominações específicas que levam em consideração a proveniência geográfica das uvas: Chianti Classico (a mais antiga, famosa e tradicional), Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli e Chianti Rufina. Também, os termos Chianti Superiore (não permitido para Chianti Classico) e Chianti Riserva servem para nomear vinhos que tenham atendido períodos de envelhecimento determinados, dentre outros fatores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi com intensidade, mas não é escuro, traz reflexos granada com algum brilho. Tem poucas lágrimas que bem finas e rápidas logo dissipam das paredes do copo.

No nariz é extremamente aromático, perfumado, que traz frescor, aos cinco anos o vinho ainda mostra toda plenitude, corroborado pelas notas frutadas, de frutas negras, com destaque para a amora, a ameixa. A madeira está igualmente presente, com toques vivos de carvalho, de baunilha, de leve tosta, os 15 meses em barricas faz o seu papel, porém bem integrado. Herbáceo, tabaco, couro, defumado, terra molhada faz jus a predominância da Sangiovese.

Na boca é seco, vivaz, com alguma intensa, complexidade, mas é sedoso, fácil de degustar, garantido pelo percentual da Merlot. É volumoso, cheio, entregando personalidade, que o torna também bem saboroso. As notas frutadas se faz presente, protagoniza em sinergia com a madeira, como no aspecto olfativo, com taninos gordos, presentes, mas domados, com uma instigante e salivante acidez. Tem um final persistente e de retrogosto frutado.

Tradição, história, mesmo que ao custo de guerras, sangue, mortes, disputas pelo poder político e econômico. As redenções pavimentadas por todos esses eventos e intenções. O vinho foi e é um veículo de tais manifestações da sociedade, independente do contexto e cronologia. O que nos resta, no entanto, é permitir contemplar e entender esses momentos históricos com o olhar crítico, mas separando-os do prazer, do deleite em degustar um bom e velho vinho, porque é um elixir ao corpo e a alma, sobretudo daqueles que o ama. Vinhos de extremo caráter regional e de personalidade, aliado a maciez e facilidade de degustação, dada a sua elegância. O Rifugio del Vescovo Chianti Riserva traz a complexidade e rusticidade do “Sangue de Júpiter”, como é chamada a Sangiovese, com a maciez da Merlot, chancelando Chianti como um dos vinhos mais emblemáticos da história. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Colli Fiorentini:

A Adega Cooperativa Colli Fiorentini tem associados cerca de 350 famílias de agricultores que contribuem para o seu crescimento, tida como a maior produtora de vinhos Chianti do mundo.

A Adega Cooperativa Colli Fiorentini tem seu centro de produção no vale banhado pelo Riacho Virginio, no município de Montespertoli, na província de Florença. Todos os produtos da Cantina Sociale Colli Fiorentini são comercializados nos pontos de venda VALVIRGINIO localizados em toda a Toscana.

Foi a primeira vinícola cooperativa toscana a adotar desde 2011 medidas para proteger o contexto natural e o meio ambiente do qual é parte integrante, instalando um gerador fotovoltaico com potência de 318 kW dividido em duas seções.

Há quase 51 anos, desde 1972, conservam e protegem cerca de 1.500 hectares da paisagem toscana, mantendo viva as tradições desta importante região que distingue cada família toscana no seu território.

Após mais de 40 anos, mais de 850 empresas, localizadas nas áreas de produção de Chianti Classico DOCG, Tuscan IGT e Tuscan IGP Oil, entregam suas safras aos locais de produção da Cooperativa.

Mais informações acesse:

https://www.collifiorentini.it/index.html

Referências:

“Blog História com Gosto”: https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/11/a-regiao-do-chianti-classico-toscana.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/todos-os-chianti_10196.html

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/chianti/#:~:text=Chianti%20%C3%A9%20um%20tipo%20de,Chianti%20Cl%C3%A1ssico%20a%20mais%20famosa 













sexta-feira, 19 de maio de 2023

Poggio Al Casone Chianti Superiore 2019

 

Definitivamente a Itália é o país dos vinhos clássicos! Não há nenhum outro centro vitivinícola que produz, em larga escala e com tanta qualidade, vinhos do naipe de um Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Ripasso e tantos outros. 

Vinhos longevos, vinhos de marcante personalidade, vinhos potentes, poderosos e de plenitude jamais vista, jamais sentida em taça. Incluiria entre esses nomes, porém fora da Itália, Bordeaux.

Vinhos que não precisam de demasiadas apresentações, tanto que muitos deles carregam o nome de sua região, típico do Velho Mundo. Não há a apresentação das suas clássicas castas, não há detalhes, não há quase nada, apenas as regiões ostentando em letras garrafais o seu nome, a sua tradição.

Porém atualmente, atendendo aos anseios do mercado consumidor, alguns produtores dessas regiões divulguem nos seus rótulos ou em seus sites e redes sociais as castas que compões seus clássicos, entre outras informações que nunca foram, em seus rótulos, divulgados.

Mas diante desse exército de clássicos que a Itália tem em seu front há outro, igualmente importante, que até hoje não goza de tanta reputação quanto os Brunellos e Barolos da vida. Falo do Chianti.

Percebo como difícil definir o motivo pelo qual exista essa rejeição, mas acredito que seja pelo fato, entre outras definições, da diversidade de valores de várias “versões” que temos do Chianti, que vai no simples rótulo de entrada aos “Riservas”, “Superiore” e o “Gran Selezione”.

Isso gera certo questionamento quanto a qualidade dos rótulos que ostentam “Chianti”. Mas temos que entender que as propostas, as características existem, afinal é muito bom, muito relevante ter Chiantis para todos os bolsos. Não temos que nos equivocar e esquecer que esses questionamentos vêm desde os primórdios da bebida.

Eu me recordo, contudo, que, como o Barolo e Brunello di Montalcino, por exemplo, jamais teria acesso a um rótulo de Chianti por ser também um clássico italiano, sequer entendia dessa escala de propostas desse tipo de vinho, nos mais variados preços, pois criei uma espécie de barreira, colocando um empecilho para tê-los em minha adega.

Até quando tive o prazer de comprar o meu primeiro Chianti, o Castellani Chianti Riserva 2015. E o comprei a um valor incrivelmente baixo para um “Riserva”, cerca dos R$ 45,00! Não podia hesitar, o comprei. E ficou por alguns anos na adega, precisava degusta-lo em um momento importante, especial. E que vinho espetacular! A Sangiovese em seu estado mais genuíno, não é à toa que é a mais emblemática cepa da Itália.

Mas eu não queria ficar apenas nesse rótulo e busquei outras alternativas que pudesse aliar preço e qualidade e descobri outro também da Castellani, mas que ostenta outro termo, o “Superiore”. Embora essas nomenclaturas tragam certa confusão, principalmente entre os iniciantes no universo do vinho, as diferenças entre “Riserva”, “Superiore” e “Gran Selezione”, a diferença se dá basicamente no tempo em que os vinhos passam por barricas de carvalho. No caso do “Superiore”, indica que o vinho passou doze meses por madeira e apresenta graduação alcoólica maior que o típico do Chianti, sendo vinhos mais encorpados, com acidez mais macia.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região italiana da Toscana e se chama Poggio al Casone, um Chianti Superiore, composto pelas castas Sangiovese (90%) e Cannaiolo (10%) da safra 2019. Para não perder o costume, vamos de história, vamos de Chianti.

Chianti, Toscana

Desde a queda de Roma até o Risorgimento, por volta de 1850, o esfacelamento dos estados italianos em pequenas repúblicas e reinos ditou a vida de sua população e também o tom de seus vinhos. Foi nesse longo período conturbado que nasceu um dos vinhos mais famosos da Itália, o Chianti.

Geograficamente falando, Chianti é uma terra montanhosa que se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem 5 rios que cruzam e definem a área com: os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses. Acredita-se que, um dia, cansados de guerrear, os governantes das duas cidades decidiram por um outro tipo de disputa para estipular sob qual bandeira ficaria a região. Assim, concordaram que dois cavaleiros sairiam ao cantar do primeiro galo da madrugada, um partindo de Firenze em direção à Siena e o outro no sentido contrário. Onde eles se encontrassem, seria demarcado o limite dos domínios.

Assim nasceu a lenda do Gallo Nero, o galo negro que até hoje serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico. Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano.

Primeira Denominação de Origem

As primeiras documentações que tratam do vinho de Chianti remontam a 1398 e o descrevem como um vinho branco vendido pelo comerciante Francesco di Marco Datini. No entanto, o nome do vinho ficaria definitivamente gravado na história a partir de 1716, quando Cosimo III de Médici, o penúltimo de sua família a ser Grão-Duque da Toscana, apontou que as três cidades da Lega del Chianti, mais uma parte da vila de Greve, estavam aptas a produzir o vinho de nome Chianti.

Francesco di Marco Datini

Esta teria sido a primeira demarcação territorial, ou seja, a primeira Denominação de Origem, conhecida no mundo (os portugueses, porém, alegam que a primeira DO teria sido instituída pelo Marquês de Pombal em 1756, quando estabeleceu os marcos pombalinos na região que produzia o Vinho do Porto).

Apesar de o reinado de Cosimo III ter sido desastroso para a região, que se viu diante de uma enorme crise econômica e social, a demarcação durou até 1932, quando a área foi gradualmente expandida (a última expansão seria em 1967).

No entanto, mesmo demarcado, sabe-se que o vinho de Chianti obedecia a poucas regras. Historiadores apontam que, na época, uma das principais uvas usadas na produção do vinho era a Canaiolo, a mais cultivada na região, juntamente com a Sangiovese, Mammolo e Marzemino. Seria somente durante o Risorgimento italiano no século XIX, que o vinho tomaria uma forma, muito próxima do que tem hoje.

O grande nome por trás do estabelecimento de Chianti e também um dos principais responsáveis pela unificação italiana em 1961 foi o barão Bettino Ricasoli, cuja origem familiar remonta aos tempos de Carlos Magno. O “Barão de Ferro” (alcunha ganha por sua intransigência moral e econômica) foi um dos grandes pilares da unificação de seu país com sua atuação política no Ducado da Toscana. Não à toa, ele chegou a ser primeiro ministro italiano quando o rei Vitório Emanuele assumiu o poder.

Bettino Ricasoli

Além de ser a criadora do Chianti, a família Ricasoli produz vinhos desde o ano 1141, quando adquiriu o legendário Castello de Brolio. Essa longa história faz da Barone Ricasoli a vinícola mais antiga da Itália e a segunda mais antiga do mundo. O Castello de Brolio estava em ruínas na época.

Determinado a dar novos rumos à produção local, o Barão de Ricasoli viajou para a França e a Alemanha, onde aprendeu novas maneiras de cultivo, além de importar variedades e experimentar maquinários. Assim, em 1872, ele teria criado a “fórmula” do Chianti e assim escreveu:

“Os resultados obtidos já nas primeiras experiências confirmam que o vinho recebe do Sangioveto a principal dose de seu perfume (o que eu particularmente procuro) e um certo vigor de sensação; do Canajuolo, a amabilidade que tempera a dureza do primeiro, sem tolher em nada seu perfume; a Malvagia, a qual se pode colocar menos nos vinhos destinados a envelhecer, tende a diluir o produto das duas primeiras uvas, não acrescenta sabor, e o torna mais leve e mais prontamente usável na mesa cotidiana”.

A “fórmula do Chianti” escrita na famosa carta endereçada ao professor Cesare Studiati da Universidade de Pisa, na qual exaltava os aromas e a estrutura da Sangiovese, a maciez da Canaiolo e a tendência da Malvasia a diluir o vinho, fez com que o Barão sugerisse que esta uva não fizesse parte do corte dos vinhos de guarda da sua região. A receita do Barão era 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia Bianca. Em 1967, sua “fórmula” foi ratificada pela regulamentação da DOC (com acréscimo da Trebbiano).

Renascimento

O Chianti então surgiu como uma versão do “clarete” francês – sem variedades internacionais, contudo. Foi durante o Risorgimento que ele alcançou a glória, quando Firenze se tornou capital da Itália e Ricasoli primeiro ministro. No entanto, apesar dos esforços do barão, com o tempo, a fama do vinho tornou-se ruim, muito devido às condições econômicas precárias da região, especialmente depois das pragas que chegaram à viticultura em meados do século XIX e também muito devido ao contrato de uso das terras entre agricultores e os donos das propriedades.

A mezzadria (sistema feudal em que os camponeses dividiam a sua colheita com os senhores de terras) e a agricultura promiscua (diversas culturas em um mesmo terreno) perdurou na Toscana até praticamente os anos 1970 e atrasou o desenvolvimento do vinho na região – já que a colheita ia ser dividida, era melhor, para o agricultor, plantar mais quantidade do que pensar em qualidade.

Clante

A origem do nome Chianti é incerta. Para alguns, ela vem de clangor, que nada mais é do que o som dos instrumentos metálicos, mais especificamente das trombetas. No entanto, também pode designar o atrito entre objetos de metal, como espadas. Daí, acredita-se que o nome possa ter surgido devido a esse barulho das trombetas de caça ou então das batalhas. Outra possibilidade, muito mais aceita, é o termo ter vindo da palavra etrusca clante, que significaria água (abundante na região) ou então seria apenas um nome de família muito comum na área.

O movimento dos vinhos “Super Toscanos” fez com que Chianti aprimorasse suas normas. Nos anos 1960, alguns produtores estavam desapontados com os rumos que Chianti havia tomado. Apesar de a DOC ter finalmente estabelecido uma regra para seus vinhos em 1967 (e talvez por isso também), muitos passaram a experimentar com novas variedades, especialmente as francesas, no intuito de produzir um vinho melhor e mais caro (desde o fim da II Guerra Mundial, Chianti era considerado um vinho simples e barato).

Assim, entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970, duas poderosas famílias decidiram fazer vinhos mesclando Sangiovese com variedades francesas. Tanto o Marquês Mario Incisa della Rochetta quanto seu sobrinho, Piero Antinori, lançaram respectivamente Sassicaia e Tignanello, os primeiros Super Toscanos de que se tem notícia, vinhos que mudariam para sempre o cenário na região.

O fenômeno houve novas mudanças nas regras, com a introdução de variedades francesas no blend de Chianti. Dez anos depois, as variedades brancas foram proibidas em Chianti Classico, que já passava a aceitar Sangiovese “in pureza”, ou seja, 100%. Hoje, além do Classico, Chianti possui outras sete sub-regiões, cada uma com regras específicas. As mudanças de regras foram constantes nos últimos 40 anos. As últimas modificações em Chianti Classico, por exemplo, ocorreram em 2013, quando, entre outras coisas, criou-se uma nova classificação, com um nível qualitativo acima dos Riserva: os Gran Selezione.

Os diferentes Chianti

O simples termo “Chianti” diz muito pouco sobre o vinho. Muito resumidamente, indica que se trata de um tinto italiano, produzido na região da Toscana, em uma área que se estende entre as cidades de Florença e Siena, a partir de, principalmente, Sangiovese. Ainda que Chianti seja uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) e, portanto, existam regulamentações tratando de sua produção, a variedade é grande.

Além da “denominação genérica” Chianti DOCG, há outras denominações específicas que levam em consideração a proveniência geográfica das uvas: Chianti Classico (a mais antiga, famosa e tradicional), Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli e Chianti Rufina. Também, os termos Chianti Superiore (não permitido para Chianti Classico) e Chianti Riserva servem para nomear vinhos que tenham atendido períodos de envelhecimento determinados, dentre outros fatores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo rubi intenso, brilhante, reluzente, com reflexos violáceos tendendo para o grená, com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.

No nariz traz a exuberância das frutas vermelhas maduras, bem frescas com destaque para a groselha, cereja, framboesa e morango, com as notas amadeiradas que desponta de forma bem discreta, mas que entrega baunilha e um agradável defumado e mentolado, com toques de tabaco, couro e especiarias, algo de pimenta preta, diria. A rusticidade da Sangiovese se mostra.

Na boca tem corpo médio, tem vivacidade, personalidade, mas traz elegância, maciez e muito equilíbrio, pois traz o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo, em total convergência com a madeira, graças aos doze meses em barricas de carvalho. Tem taninos doces e domados, com acidez vibrante, abundante que faz salivar a boca a cada degustação. Tem um final guloso, com média persistência.

Tradição, história, mesmo que ao custo de guerras, sangue, mortes, disputas pelo poder político e econômico. As redenções pavimentadas por todos esses eventos e intenções. O vinho foi e é um veículo de tais manifestações da sociedade, independente do contexto e cronologia. O que nos resta, no entanto, é permitir contemplar e entender esses momentos históricos com o olhar crítico, mas separando-os do prazer, do deleite em degustar um bom e velho vinho, porque é um elixir ao corpo e a alma, sobretudo daqueles que o ama. Toscana e a sua região mais importante em todos os aspectos, é sinônimo de renome no mundo todo por causa de Chianti e de suas grandes e espetaculares histórias que, de uma forma ou de outra, corroboraram na sua importância e qualidade que até hoje busca a excelência. O Poggio al Casone Chianti Superiore foi produzido nas vinhas que circundam a casa de Pierlugi Castellani e é um vinho encorpado, mas elegante, dada a sua complexidade atribuída ao “Sangue de Júpiter”, chancelando Chianti como um dos mais emblemáticos vinhos da história. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli.

Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. Durante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Blog História com Gosto”: https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/11/a-regiao-do-chianti-classico-toscana.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/todos-os-chianti_10196.html

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/chianti/#:~:text=Chianti%20%C3%A9%20um%20tipo%20de,Chianti%20Cl%C3%A1ssico%20a%20mais%20famosa












terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Passo Dei Sani Rosso Premium 2019

 

Quando falamos em vinhos da famosa região italiana de Abruzzo, logo associamos para quem conhece a região, com a casta mais famosa: Montepulciano! Tão famosa que carrega em seu nome o nome da cidade.

Mas a região ainda é capaz de nos reservar algumas gratas novidades, mesmo que muito famosa e que, em tese, já ofereceu tudo que tinha de oferecer. Mas o rótulo de hoje é da icônica região italiana de Abruzzo, mas a sua sub-região é totalmente nova para mim: Falo da Comuna de Chieti.

Terre di Chieti, uma IGT, é pouco conhecida por aqui, pelo menos para mim que, no auge da ignorância, foi conhecer apenas por intermédio desse rótulo que adquiri por um valor excepcional! Será que o vinho seguirá na mesma toada?

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região italiana de Abruzzo, na Itália, na comuna de Chieti, e se chama Passo dei Sani composto pelas castas Montepulciano (85%), Merlot (5%), Cabernet Sauvignon (5%) e Sangiovese (5%) da safra 2019. E para não perder o costume vamos de história: Abruzzo e Chieti.

Abruzzo

Abruzzo é uma região emergente na Itália, conhecida principalmente pelos saborosos vinhos Montepulciano d’Abruzzo, que podem ser exemplares muito agradáveis e cheios de fruta, com ótima acidez e, por vezes, excelente relação qualidade e preço.

Localizada na parte centro-oriental da Itália peninsular, a região de Abruzzo possui fundamental importância para a vinicultura italiana. Abruzzo é a quinta maior área produtora de vinhos italianos. A produção de vinhos anual da região é quase duas vezes maior do que a produção de Toscana, ainda que Abruzzo apresente cerca de metade da área de vinhedos plantados.


Abruzzo

A área de vinha em Abruzzo ultrapassa os 32.000 hectares, dos quais quase 96% está localizado na serra, enquanto 4% é representado pela viticultura de montanha. Como forma de criação, a Pergola, localmente denominada “Capanna”, ainda é muito difundida, enquanto sistemas obsoletos como a maritate de Alberate deram lugar a sistemas de formação mais modernos, como a Controspalliera, Cordone speronato e Guyot. A produção total de vinho excede 2,6 milhões de hectolitros, dos quais mais de 30% são denominações DOC e DOCG.

A uva de maior predominância nos vinhedos de Abruzzo é a uva Montepulciano que pode originar excelentes vinhos tintos. Outra casta que também pode ser encontrada nos vinhedos da região italiana é a uva branca Trebbiano, que dá origem a outro vinho famoso da área, o Trebbiano d’Abruzzo.

O vinho tinto Montepulciano d’Abruzzo não é somente o símbolo da região de Abruzzo, como também é um dos vinhos italianos mais comercializados em todo o mundo. Em 1968, o exemplar recebeu a DOC Montepulciano d’Abruzzo. Tal denominação abrange a maior parte da região italiana.

Desde os anos 1960, depois de ter sido reconhecido pelo “DOC”, os vinhos da Abruzzo tornaram-se progressivamente conhecidos no mundo.

As denominações de origem mais conhecidas são: Montepulciano d’Abruzzo Colline Teramane DOCG, Abruzzo DOC, Cerasuolo d’Abruzzo DOC, Controguerra DOC, Montepulciano d’Abruzzo DOC, Ortona DOC, Terre Tollesi DOCG, Trebbiano d’Abruzzo DOC, Villamagna DOC, Colli Aprutini IGT, Colli del Sangro IGT, Colline Frentane IGT, Colline Pescaresi IGT, Colline Teatine IGT, Del Vastese (o Histonium) IGT, Terre Aquilane IGT e Terre di Chieti IGT. Em suma existe em Abruzzo apenas uma denominação DOCG, Montepulciano d’Abruzzo delle Colline Teramane DOCG, 8 denominações DOC e 8 denominações IGT.

O relevo da região é formado por colinas e montanhas, incluindo a imponente cordilheira dos Appennini, cuja altitude ultrapassa os 2.000 m. Abruzzo possui 150 km de costa, com características bastante peculiares: ao norte, o cenário é baixo e retilíneo, composto por terrenos amplos e arenosos; já na parte sul, encontram-se terrenos marcados por uma densa vegetação mediterrânea.

A região de Abruzzo apresenta, portanto, clima marítimo e continental, com temperatura média anual variando entre 8 e 12ºC na zona das montanhas, e 12 e 16ºC na parte marítima.

Os melhores vinhos Montepulcianos são da parte norte da região de Abruzzo, onde a cordilheira dos Apeninos (Appennini) aproxima-se do mar. Dentre os 500 mil hectolitros do vinho Montepulciano d’Abruzzo produzidos anualmente, cerca de dois terços provêm do distrito de Chieti.

A uva Montepulciano apresenta coloração profunda, baixa acidez e taninos doces, conferindo aos vinhos caráter frutal delicado que o torna bom enquanto jovem. No entanto, os exemplares elaborados a partir da uva Montepulciano podem ser degustados também com 10 anos de vida.

Vale aqui também uma pertinente informação: Apesar do nome, a uva Montepulciano não tem nada a ver com a cidade de mesmo nome localizada em outra região da Itália, a Toscana. Lá são produzidos os vinhos Rosso di Montepulciano e Nobile de Montepulciano, mas que não são feitos com a uva Montepulciano, apenas levam esse nome em referência à cidade.

Terre di Chieti (IGT)

Terre di Chieti IGT é um título de Indicazione Geografica Tipica / Protetta para a província de Chieti de Abruzzo, Itália central. Foi criado em 1995, quando a categoria IGT foi lançada pela primeira vez na Itália. É complementado pelo título mais específico do local, Colline Teatine IGT, que se concentra apenas nas colinas ao redor da cidade de Chieti, a capital da província.

Chieti

Os regulamentos de produção para todos os títulos IGT/IGP são flexíveis em comparação com DOCs e DOCGs. Os vinhos “Terre di Chieti” podem (em teoria) ser qualquer coisa, desde brancos secos e rosés doces até tintos e espumantes. No entanto, a maioria são vinhos de mesa secos feitos a partir de apenas um punhado de castas clássicas. Algumas delas já estabelecidas na região, outras são importações comerciais de outras regiões vitivinícolas.

Os vinhos tintos são predominantemente baseados em Sangiovese, Montepulciano e Merlot. Essa ênfase não é surpreendente, afinal a Montepulciano é de longe a variedade de uva mais plantada em Abruzzo. A Sangiovese é uma uva para vinho tinto italiana clássica e confiável que prospera no terroir local. Merlot é um prazer para todos e um componente de mistura útil.

Em um cenário semelhante, Chardonnay, Pecorino e Pinot Grigio compõem a maioria dos vinhos brancos. A primeira é indiscutivelmente a uva para vinho mais comercializável do mundo e cresce bem em Chieti, tornando-a uma opção óbvia.

Pecorino é uma variedade de uva branca central em todo Abruzzo e Marche apenas ao norte. Tornou-se um grampo dos IGTs locais, principalmente do Colline Teatine e do Colline Pescaresi que cercam Pescara. As plantações de Pinot Grigio cresceram em muitas partes da Itália desde 2000, não apenas no coração do Nordeste.

Além disso, os regulamentos da IGT permitem a produção de vinhos monovarietais a partir de uma variedade relativamente ampla de outras uvas. Estes incluem clássicos locais como Passerina, Cococciola, Bombino Bianco e Falanghina, bem como o mundialmente popular Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc.

1.786 hectares (4.411 acres) de vinhedos foram registrados para a classificação em 2015. A produção para o ano seguinte foi de cerca de 1.670.000 casos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, profundo, mas que apresenta algum brilho, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

No nariz revela aromas frutados, garantido pela Cabernet Sauvignon e Merlot, de frutas pretas maduras, com destaque para ameixas e cerejas. Um discreto amadeirado, devido ao pequeno lote que estagiou em barricas de carvalho é percebido, trazendo baunilha. Percebem-se também especiarias, como pimenta, couro, tabaco, graças a Montepulciano e a Sangiovese.

Na boca tem corpo médio, boa estrutura, alcoólico, mas sem agredir, trazendo bom volume, algo de untuoso, traz também um agradável e discreto residual de açúcar que marca também a sua presença. Tem as notas frutadas, como no aspecto olfativo, bem como a madeira, taninos pujantes, mas domados, acidez média e um final persistente e saboroso.

Mais uma descoberta, mais conhecimento adquirido, mais uma grata e satisfatória degustação, que surpreendente experiência com esse vinho que é um verdadeiro rótulo com excelente custo X benefício. Um vinho de Abruzzo que carrega, em sua predominância, a mais emblemática das castas de Abruzzo: a Montepulciano. E por ter a predominância da cepa, traz as notas frutadas, mesclada a uma marcante personalidade. Castas autóctones e as mais famosas cepas francesas e do mundo! Belo vinho! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Conti Sani:                                                                                                

A Conti Sani representa a paixão e o profissionalismo com que os seus viticultores cuidam das vinhas e vinhos todos os dias. As uvas produzidas e criteriosamente selecionadas são transportadas para as adegas de última geração para uma produção total de mais de 100 milhões de garrafas por ano. Na Itália, a Conti Sani está entre os líderes em varejo moderno.

A Conti Sani foi fundada em Verona em 1991 a partir da união estratégica de algumas das realidades mais importantes do setor vitivinícola das regiões vinícolas mais conhecidas da Itália.

Até à data, a Conti Sani pode ostentar uma vasta área de produção, uma das maiores do setor vitivinícola, podendo contar com uma área de vinha de: 2.600 hectares na Toscana, 840 hectares no Veneto, 420 hectares na Puglia, 340 hectares na Sicília, 240 hectares no Piemonte, 800 hectares na Emilia Romagna e 200 hectares em Abruzzo.

Mais informações acesse:

https://contisani.it/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/abruzzo

“Vinho Italiano.com”: https://vinhoitaliano.com/os-vinhos-da-regiao-abruzzo/

“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/abruzzo-a-terra-da-uva-montepulciano-uma-das-mais-famosas-da-italia

“Parada 21”: https://parada21.com.br/vinhos-italianos-abruzzo-a-regiao-de-excelentes-vinhos-frutados/

“Wine Searcher: https://www.wine-searcher.com/regions-terre+di+chieti+igt