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domingo, 25 de abril de 2021

D. João I branco

 

Já ouvi um grande crítico e especialista de vinhos dizer: “Vinhos simples e básicos não requer uma grande análise”. Em tese até faz sentido, um vinho simples para uma grande análise não “harmonizariam”. Mas o que dizer de um vinho que, embora seja simples e básico, seja especial para quem o degusta? Então, com todo o devido respeito ao nobre especialista, requer sim, uma grande e entusiasmada análise, sem sombra de dúvida. Independente de valores e proposta, todo vinho é especial se o enófilo gostar dele. Valor não define se o vinho é bom ou ruim, são apenas propostas de vinhos distintas que entregam sensações distintas em momentos distintos.

E o rótulo que degusto hoje e que já degustei em um passado não muito distante, mas por um tempo suficiente para relembrar e querer degusta-lo novamente, fez com que viesse à tona em meus pensamentos. E não é pelo valor, não, até porque, ao longo desse tempo, o vinho aumentou consideravelmente, mas porque ele me deixou uma marca, diria, sem exageros, indelével, uma surpresa digna de arrebatamento. Precisava degusta-lo novamente, sem essas atitudes de retrocesso ou a temida zona de conforto, mas para perceber possíveis novas nuances, novas percepções. Quem sabe? Simples e básico sim, mas especial, e quem sabe novas surpresas!

Então o vinho que degustei e gostei, duas vezes, veio das Terras da Beira, da sub-região de Pinhel, o D. João I branco composto pela típica casta portuguesa Síria e não safrado. E apesar da casta branca Síria ser muito difundida e conhecida em terras lusitanas, mas no Brasil não é muito comentada e muito consumida diria, a não ser em rótulos alentejanos, onde é conhecida como Roupeiro. Essa é a minha segunda experiência com o rótulo, com o surpreendente D. João I branco. E já que falei da Síria que, nas Terras de Beira é conhecida como Codo, vamos a história dela!

Síria

Cultivada nas regiões do interior de Portugal, já foi a casta branca mais plantada na região alentejana, onde é denominada Roupeiro, contudo, verificou-se que as temperaturas demasiado elevadas do Alentejo não eram benéficas para esta casta: os vinhos não tinham frescura, boa acidez e perdiam os aromas rapidamente. Assim, desenvolveu-se o cultivo da Síria nas terras mais altas e frescas da Beira Interior (nomeadamente na zona de Castelo Rodrigo) e Dão (onde a casta é conhecida por Alvadurão, Côdega ou Crato Branco). A Síria é uma casta muito produtiva de cachos e bagos pequenos. Apesar de ser bem resistente ao oídio e ao míldio, é bastante sensível à podridão.

Síria

Seus vinhos podem apresentar, no aroma, especiarias leves e folha de louro. Destacam-se, principalmente, as notas florais e frutas como laranja, limão, pêssego e melão. Na maioria, de tonalidade clara, seus exemplares são indicados para serem consumidos enquanto jovens, pois apresentam sua melhor expressão. A acidez nos rótulos elaborados com essa uva pode ser de média para alta. A Síria é a variedade mais plantada na região de Beira Interior, localizada no interior do país, na faixa estreita que se estende de norte a sul, na fronteira com a Espanha.

Beira Interior: As Terras da Beira

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias medievais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.

Beira Interior

Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, quase transparente com o aparecimento de algumas lágrimas finas, mas que logo se dissipa das paredes do copo.

No nariz surpreende pela estrutura aromática com notas de frutas brancas como maçã verde, melão e pera, além de algo discretamente cítrico, com destaque para o abacaxi. O toque floral entrega um vinho fresco e agradável.

Na boca é seco, fresco, leve, macio, com as frutas brancas em evidência como no aspecto olfativo, com uma acidez leve para média, um vinho com um belo volume de boca que o torna saboroso, com um final prolongado e retrogosto frutado.

Um vinho coringa, fácil de degustar, simples, básico, mas especial e surpreendente. Sim, ele continua surpreendendo os meus mais simplórios sentidos de um humilde enófilo, mas muito feliz por ter degustado novamente o bom e necessário D. João I branco que, há 4 anos atrás, descobri, pelo mesmo especialista que diz que um vinho simples não requer uma grande análise. Talvez esteja certo, mas por ser um vinho tão especial, a análise pode ser grandiosa e singular, pois é arrebatador e, diante de sua simples proposta, entrega muito além do que poderia se esperar. Ele harmonizou com um dia ensolarado de outono. Leve, delicado e agradável. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. 

De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. 

Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. 

A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia elétrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Referências:

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/tag/uva-siria/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-siria/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-207-S%C3%ADria








domingo, 7 de março de 2021

Terra Boa tinto 2018

Definitivamente Portugal é um celeiro de grandes vinhos! Um universo inexplorado de propostas, das mais diversas, de vários e vários rótulos e que personifica o universo do vinho, gigante e muito ainda a ser desbravado. E em virtude de tudo isso, tenho, claro, como um cavaleiro errante, a andar, a garimpar, por intermédio dos vinhos que enchem generosamente as minhas taças, vários rótulos lusitanos, dando prioridade as regiões desconhecidas para mim, blends inusitados, rótulos especiais, castas pouco populares etc. Enfim, novas percepções, novas experiências para diversificar o nosso leque sensorial.

E já que falei de Portugal, um país, geograficamente, tão pequeno, mas tão gigantesco em terroirs tão singulares, não posso deixar de falar de uma região, em especial que descobri, quase que uma forma despretensiosa, que são as Terras da Beira. O nome pode não soar muito familiar a alguns enófilos brasileiros, haja vista que, diante dos badalados Alentejo, Douro e Porto, por exemplo, Beiras se resume a condição de coadjuvante, em termos comerciais, mas só sob o aspecto comercial. Trata-se de uma região especial, peculiar e com vinhos muito bons. Claro que, com os poucos rótulos que degustei, uma afirmação de sua qualidade, de forma tão veemente, pode parecer leviano, mas, os poucos que degustei, me arrebatou por inteiro!

Quando falei que os descobri despretensiosamente, foi em uma das minhas visitas as redes sociais e vi um especialista e crítico de vinhos muito conhecido, de nome Didu Russo, que, em sua página na referida rede social, publicou um vinho, da Adega Cooperativa de Pinhel chamado D. João I, um branco da sub-região de Pinhel. Ele disse, eufórico, que o vinho ficou em segundo lugar em uma degustação às cegas com vários outros rótulos brancos portugueses, inclusive à frente de muitos vinhos caros! Claro que a curiosidade prevaleceu e o comprei! De fato, um vinho surpreendente! E depois desse, sempre quando vejo um vinho das Terras da Beira, não hesito em comprar.

A minha última aquisição dessas terras, veio de um produtor gigante, em todos os sentidos e que atua em todo o Portugal, a Bacalhôa, e seu vinho vem do alto, literalmente do alto, os chamados “vinhos de altitude” e se chama Terra Boa, composto pelas castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, da safra 2018. E sem mais delongas, falemos um pouco dos “vinhos de altitude” e da minha nova queridinha: Terras da Beira.

Vinhos que vem do alto: “Vinhos de altitude”:

A dificuldade mais comum é apontar uma cota a partir da qual estamos em presença de um vinho de altitude. Bastará uma colina ou apenas poderão ser consideradas aqueles cujas cepas se encontram a mais de 2000 ou 3000 metros de altitude, tal como as que existem em Colomé na zona de Salta, Argentina ou no Monte Etna na Sicília?

Ao longo dos anos, os enólogos que produziam vinhos em regiões mais altas apercebeu-se que tinham sido confrontadas com condições muito particulares de luz (maior intensidade e radiação ultravioleta), temperatura (grandes amplitudes térmicas), ar (menor percentagem de oxigénio e de dióxido de carbono) e de maturação (níveis mais elevados de taninos e antocianos). Essas diferenças, conjugadas com as caraterísticas geológicas, originariam vinhos mais frescos e com uma acidez mais elevada.

A temática revestiu-se de tanto interesse que no início do milénio foi organizado, na Califórnia, o primeiro simpósio internacional dedicado ao tema da viticultura em altitude. Neste evento, o climatologista, Greg Jones, explicou a diferença entre relevo relativo (as diferenças de altitude num ponto baixo e num ponto alto de uma colina) e relevo absoluto (diferença de altitude desde o nível das aguas do mar). Para Jones, o relevo relativo tem influência real sobre o clima e condições meteorológicas, assim para as vinhas também terá. No entanto, os encepamentos que se encontram a uma maior altitude, quando comparadas com outras ao nível do mar, apresentam diferenças significativas no clima e nas condições meteorológicas.

As Terras da Beira

No interior da região atualmente delimitada com a designação Terras da Beira está inserida a DO (Denominação de Origem) Beira Interior e estas áreas faziam parte de uma região vitivinícola bastante extensa, então designada como IG (Indicação Geográfica) Beiras. Foi a sede do povo Lusitano, onde o seu rei Viriato foi assassinado em 139 a. C. pelos Romanos que depois tomaram posse desta terra. Cerca de 600 anos depois, surgiram os Visigodos, últimos dois povos com grande ligação à viticultura. Os monges de Cister, a partir do séc. XII revitalizaram a viticultura após a Reconquista. Os árabes muçulmanos dedicaramse menos a esta cultura. Situada no coração do interior Norte, perto da fronteira com Espanha, na região mais escarpada e montanhosa de Portugal Continental, abarca no seu interior a Serra da Marofa, a Serra da Gardunha e parte da Serra da Estrela.

Terras da Beira

No que diz respeito à DO Beira Interior, as suas subregiões são: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, que sempre se notabilizaram por vinhos de elevado valor enológico, expresso num aroma mais rico e distinto das outras regiões. A elevada altitude das vinhas, acima de 400 até 700 m, num total de 16.000 hectares, lembra a situação do país vizinho com as grandes regiões vitivinícolas de Castela. Noites frescas no Verão, e mesmo frias na fase da vindima e da fermentação, já antes da introdução das novas tecnologias de fermentação controlada permitiam a produção de vinhos maduros frescos e aromáticos. O vinho rosado, na época das grandes exportações deste tipo de vinho, em meados do séc. XX, especialmente para os EUA e o norte de Europa, sempre foi considerado o melhor e trouxe alguma prosperidade a esta região.

Os verões são curtos, mas muito quentes e secos, os invernos prolongados e gélidos. Os solos são maioritariamente graníticos, com alguma presença de xistos e, embora menos comum, alguma componente arenosa. As três subregiões partilham sensivelmente as mesmas especificidades materiais, apesar de se encontrarem separadas por cadeias montanhosas com picos de mais de mil metros de altitude, onde a combinação de solos pobres, acidez elevada e maturações robustas garante um futuro promissor para toda a região. A Cova da Beira apresenta características divergentes e alternativas, espraiandose desde os contrafortes orientais da Serra da Estrela até ao vale do Tejo, a sul de Castelo Branco. As adegas cooperativas produzem grande parte do vinho da região, apesar de, cada vez mais, surgirem no mercado vinhos de pequenos e médios produtores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo vermelho rubi com reflexos violeta e muito brilhante dando-lhe vivacidade, com uma boa concentração de lágrimas finas e de certa persistência.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas como groselha, cereja, framboesa, com um toque floral, lembrando flores vermelhas, trazendo a impressão de frescor e leveza.

Na boca é seco, ainda jovem, expressando todas as sua notas frutadas como percebida no aspecto olfativo, além de fresco, macio, mas com a personalidade que as castas que compõe o blend é capaz de entregar. Tem taninos macios e delicados, acidez correta e muito versátil e equilibrado.

O nome faz jus ao vinho! A terra definitivamente é boa! Tudo nesse básico, mas especial vinho, é soberbo! Versátil te entrega um vinho frutado, saboroso, aromático, floral, flores vermelhas, mas com a personalidade que vem do alto, das vinhas velhas, amansadas pelo tempo, bem marcante, mas tudo em um contexto harmônico e muito equilibrado, com um excelente potencial gastronômico, pode ser harmonizado com simples refeições ou pratos mais complexos e condimentados. A pseudo condição de coadjuvante na região, revela um vinho especial, básico sim, mas que entrega além do que valeu, além de sua proposta. Que venham mais vinhos da emblemática Terras da Beira! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi  fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista, prosseguiu com a missão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.bacalhoa.pt/

Referências para pesquisa:

“Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/regioes/terras-da-beira/#:~:text=Regi%C3%A3o%20vitivin%C3%ADcola%3A%20TERRAS%20DA%20BEIRA&text=Foi%20a%20sede%20do%20povo,foi%20assassinado%20em%20139%20a.&text=Cerca%20de%20600%20anos%20depois,a%20viticultura%20ap%C3%B3s%20a%20Reconquista

 




 

domingo, 11 de outubro de 2020

Pinhel Colheita tinto 2017

 

Eu não sei quanto aos demais enófilos, mas quando a gente conhece uma vinícola ou ainda uma região e se surpreende positivamente, você quer sempre mais, buscar ainda mais rótulos, conhecer um pouco da história dos vinhos do referido produtor e daquela terra de onde veio. É como se fora um vício, talvez a palavra soe um tanto quanto dramática, mas é algo salutar e, para aqueles que curtem mesclar as degustações com história, cultura, é um prato cheio! Lembro-me como se fosse hoje, quando conheci os vinhos da Adega Cooperativa de Pinhel, oriunda da região lusitana do Beira Interior. Pouco conhecida, é bem verdade, em comparação às emblemáticas e populares regiões portuguesas do Douro, Alentejo, Tejo, por exemplo, foi outro estímulo para conhecer e degustar ainda mais os vinhos dessa região. Li algumas publicações de especialistas do universo do vinho que um vinho chamado D. João I branco foi muito bem posicionado em um ranking de degustação às cegas realizado por especialistas e jornalistas do vinho. E quando falaram que o vinho era muito barato me chamou a atenção, é claro. Em minhas incursões aos supermercados, lembrei-me de ter visto esse rótulo nas gôndolas e não hesitei em voltar lá e compra-lo, o que confesso, não ter feito antes por receio de não ser um bom vinho. Comprei e realmente, ele foi arrebatador e os meus comentários seguem neste link, o D. João I branco. E não satisfeito decidi degustar a versão tinta do D. João I e outra gratíssima surpresa! E claro, não poderia negligenciar as minhas impressões sobre ele e textualizá-las, conforme segue no link também: D. João I tinto. Então, a sorte e o garimpo sorriram para mim de novo e mais um rótulo da Adega Cooperativa de Pinhel apareceu diante dos meus olhos. Não hesitei, precisava fazer a aquisição deste novo vinho e me proporcionar uma nova experiência.

Então o vinho que degustei e gostei, o olha que eu gostei também, veio da minha mais nova queridinha região lusitana, Beira Interior, mais precisamente do Concelho de Pinhel, e se chama Pinhel Colheita, das autóctones castas Rufete e Marufo, da safra 2017. E olha que, com as gratas novidades, vem junto o prazer das descobertas que o vinho proporciona pelo menos para mim! Então, para não perder tempo, falemos um pouco do Concelho de Pinhel, que dá nome ao vinho e as castas que o compõe: Rufete e Marufo.

O Concelho de Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.


A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Marufo

A casta Marufo tem origem no nordeste de Portugal e sua denominação não tem tradução. As regiões de maior expansão são, claro, Beira Interior, Trás-os-Montes e a emblemática e tradicional Douro.

A casta Marufo e as suas maiores incidências

Tida como uma das cepas mais antigas de Portugal há referências sobre ela que datam do ano de 1512! E é conhecida como: Abrunhal (Pinhel), Falso Mourisco, Mourisco Tinto (Douro), Marufa, Marujo, Mourico (Beira interior) Uva-rei (Trás-os-Montes), Barrete-de-Padre na região demarcada do Dão e Tinta Grossa no Alentejo. 

Rufete

A casta Rufete é a mais plantada nos encepamentos tradicionais da Beira Interior, sendo popular nas regiões do Douro e Dão. É uma casta caprichosa e exigente, reivindicando condições muito particulares para poder dar o melhor de si.

A casta Rufete e as suas maiores incidências

Sensível ao míldio e oídio, é uma casta produtiva, com cachos e bagos de tamanho médio. Por ser uma variedade de maturação tardia, tem dificuldade em madurar na plenitude, antes das chuvas do equinócio. Porém, quando amadurece bem, compõe vinhos aromáticos, encorpados, frutados e delicados, com um bom potencial de envelhecimento em garrafa. É uma casta utilizada maioritariamente como lote juntamente com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.

E agora o vinho!

Na taça conta com um vermelho escuro, intenso, mas com reflexos violáceos, muito brilhante e com lágrimas grossas e abundantes que teimam em permanecer nas paredes do copo, desenhando-o.

No nariz apresenta agradáveis notas frutadas, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com muito frescor e discretos toques de especiarias

Na boca se confirmam as frutas vermelhas, um vinho de leve para corpo médio, muito macio, delicado e redondo, com taninos macios e sedosos, com acidez baixa, quase imperceptível e sútil. Tem um retrogosto de média persistência, lembrando as frutas vermelhas.

Um senhor vinho! Um surpreendente vinho! E mostra a força regionalista de uma região extremamente tradicional, embora pouco conhecida em terras brasileiras, mas que merece toda e qualquer reverência, afinal, não há nada mais expressivo e forte do que o terroir, a tipicidade de um vinho. Um vinho de personalidade marcante, de médio corpo, mas que se revela fresco, jovial, frutado, de um perfeito equilíbrio, harmônico e elegância. Como tem sido aprazível degustar os vinhos da região de Beiras. Um vinho versátil que harmoniza com comidas mais simples, refeições, mas que, ao mesmo tempo com pratos mais gordurosos, como pizza e massas, por exemplo. Um excelente custo X benefício que entregou muito mais do que valeu. Grata experiência! Tem 13% de teor alcoólico.

Pinhel Colheita harmonizado com queijo provolone

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Fontes de pesquisa:

Portal “Infovini”: http://www.infovini.com/classic/pagina.php?codPagina=45&codCasta=76

Portal “Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/castas_post/marufo/

Portal “Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior: http://www.cvrbi.pt/index.php/castas-cvrbi?showall=&start=1

 




 







domingo, 31 de maio de 2020

Torre de Pinhel tinto


De uns tempos para cá, tenho me interessado, de forma gradativa, pelo fator regional quando escolho um vinho, quando degusto um vinho. É a genuína expressão de seu terroir, da sua tipicidade, sem contar que estimula conhecer outras culturas em uma espécie de escambo a cada taça degustada, sem exageros. Como que apenas uma garrafa, fisicamente tão pequena pode reverberar tanta história, uma longa e emblemática história. O vinho precisa eclodir nas taças e fazer cada um de nós, simples enófilos, entender, ao menos um pouco, sobre a história do povo que o concebeu. Mas infelizmente há algumas regiões que não são tão conhecidas ou populares aqui no Brasil como os rótulos alentejanos, durienses, de Bordeaux, Rioja, por exemplo, mas que, quando degustamos e temos a satisfação e o prazer de nos surpreender positivamente, nos perguntamos: como não degustamos vinhos dessa região ainda? Falo da região de Beiras, em Portugal (Beira Interior). Após algumas poucas experiências, mas surpreendentes e agradáveis com a linha D. João I tinto e branco (Leia as análises aqui: D. João I tinto e D. João I branco, da Adega Cooperativa de Pinhel, retomo o meu caminho redescobrindo a região com mais um rótulo deste produtor.

O vinho que degustei e gostei, vem, como disse da região de Beira Interior, da Adega Cooperativa de Pinhel, e se chama Torre de Pinhel, das castas Rufete e Tinta Roriz, não sendo safrado. E convém uma breve explicação pelo fato do vinho não ser safrado. Esse rótulo é um “vinho de mesa”, termo bem conhecido no Brasil que é usado pelos portugueses para designar um vinho básico, de entrada, que não possui um denominação de origem (DOC ou Vinho Regional) e que são produzidos com castas regionais, locais. Diferente do conceito de “vinho de mesa” no Brasil, que são vinhos produzidos com castas não viníferas, de uvas de mesa. Apesar de não possuírem denominações de origem, os “vinhos de mesa” lusitanos podem ser considerados sim, vinhos com forte apelo regional, pois trazem, como disse no início do texto, tipicidade e características da região, do chão que nascem as videiras, é tudo uma questão, também, de um certificado de qualidade, quando, em uma comparação meio distante, uma empresa adquire um “ISO”. Antes de tecer meus comentários acerca do vinho, falarei um pouco da sub-região de Beira, Pinhel.

Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.



A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos com lágrimas grossas e abundantes que dissipam com alguma lentidão das paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de aromas de frutas vermelhas frescas, com toques de especiarias.

Na boca é frutado, meio seco, de leve para médio, com taninos presentes, mas sedosos, com uma agradável acidez revelando frescor e jovialidade, com um final de média persistência.

Um vinho simples, mas correto, bem feito e honesto Equilibrado e harmonioso é macio e fácil de degustar. Não tem passagem por barricas de carvalho, com 13% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o rótulo “Torre de Pinhel”:

O Castelo de Pinhel localiza-se na cidade, freguesia e concelho de mesmo nome, no distrito da Guarda. O Castelo de Pinhel, juntamente com o Pelourinho de Pinhel, são os símbolos mais importantes da região. A primitiva ocupação humana de seu sítio remonta a um castro pré-histórico, atribuído ora aos Túrdulos em 500 a.C., ora aos Lusitanos, posteriormente romanizado, quando passou a vigiar a estrada romana que cruzava a região da atual Pinhel. Após a queda do Império Romano do Ocidente, essa modesta fortificação mergulhou na obscuridade. A época da Reconquista cristã da Península Ibérica, com a afirmação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques (1112-1185) procedeu ao repovoamento e reforço das defesas de Pinhel. O seu sucessor, D. Sancho I (1185-1211) deu prosseguimento a essa tarefa, outorgando Carta de Foral a Pinhel (1189 segundo alguns, 1209 segundo outros), de quando datará o início da construção do castelo medieval, concluído sob o reinado de D. Afonso II (1211-1223), que lhe passou novo foral em 1217. Integrante do território de Ribacôa, disputado ao reino de Leão por D. Dinis (1279-1325), a sua posse definitiva para Portugal foi assegurada pelo Tratado de Alcanizes (1297).

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.
Maiores informações acesse:


Fontes:




quarta-feira, 6 de maio de 2020

D. João I branco


Qual o seu conceito, a sua percepção dos vinhos baratos? O que pesa na sua decisão ao comprar um vinho, quais as suas prioridades na escolha? É claro que, em tempos bicudos, de incerteza econômica, degustar vinhos baratos pode ser a alternativa para continuar degustando, mas o prazer de explorar rótulos desconhecidos, de produtores pouco badalados, de custo baixo, pode, para muitos, parecer um risco desnecessário, comparando valores com qualidade, não nego essa possibilidade, mas não se enganem de que podem trazer surpreendentes e gratas surpresas. Contudo, é deveras essencial você, caso se interesse por esses rótulos, antes fazer uma pesquisa, acessar o site do produtor e conhecer um pouco da história do vinho e da vinícola. Acredite isso pode fortalecer, para mais ou para menos, na sua decisão de compra do vinho, afinal, comprar no escuro é um risco que pode ser mitigado, mas se você não tiver as informações que precisa e estiver interessado em comprar, siga seu coração e não hesite na compra.

E um exemplo de retorno extremamente favorável, agradável, satisfatório e todos os sinônimos enaltecedores possíveis, foi um tinto da região portuguesa de Beira Interior, pouco conhecida por aqui no Brasil, principalmente se levamos em consideração, em termos de popularidade como Alentejo e Douro, por exemplo, de uma vinícola chamada Adega Cooperativa de Pinhel, chamado D. João I branco da casta Síria, conhecida como Roupeiro, no Alentejo e na Península de Setúbal. O mesmo não é safrado, é considerado, em Portugal, como um “vinho de mesa”. Mas não se enganem o conceito de vinho de mesa em Portugal, a título de informação, é diferente daqui do Brasil. Enquanto por aqui vinhos de mesa são produzidos por uvas não vitiviníferas, em Portugal vinho de mesa é considerado como um vinho básico, de cotidiano, que não tem uma classificação DOC ou “Regional” e que são produzidos com castas locais, denotando, mesmo assim um vinho de caráter regional, embora não ostente tais classificações, em minha opinião. Como disse que a região é pouco conhecida, convém fazer um breve histórico da mesma, antes de analisar o vinho.

Beira Interior

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias medievais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.


Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

O vinho:

No aspecto visual mostra um amarelo palha com reflexos esverdeados.

No nariz é fresco, leve, trazendo frutas brancas como abacaxi, maçã verde, maracujá.

Na boca confirma as impressões olfativas sendo muito fresco, leve, equilibrado, é incrivelmente saboroso, com final persistente e frutado.

Vinho honesto, bem feito, correto, com tipicidade e que sintetiza o caráter regional e que, independente dos valores, entregam muito mais do que valem. Com 13% de teor alcoólico. É claro que são diferentes dos vinhos mais emblemáticos, mais caros, com passagem por madeira etc Mas seria injusto comparar tais vinhos com a linha D. João I, pois, antes de qualquer coisa, são vinhos com propostas totalmente distintas.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:



D. João I tinto


Qual o seu conceito, a sua percepção dos vinhos baratos? O que pesa na sua decisão ao comprar um vinho, quais as suas prioridades na escolha? É claro que, em tempos bicudos, de incerteza econômica, degustar vinhos baratos pode ser a alternativa para continuar degustando, mas o prazer de explorar rótulos desconhecidos, de produtores pouco badalados, de custo baixo, pode, para muitos, parecer um risco desnecessário, comparando valores com qualidade, não nego essa possibilidade, mas não se enganem de que podem trazer surpreendentes e gratas surpresas. Contudo, é deveras essencial você, caso se interesse por esses rótulos, antes fazer uma pesquisa, acessar o site do produtor e conhecer um pouco da história do vinho e da vinícola. Acredite isso pode fortalecer, para mais ou para menos, na sua decisão de compra do vinho, afinal, comprar no escuro é um risco que pode ser mitigado, mas se você não tiver as informações que precisa e estiver interessado em comprar, siga seu coração e não hesite na compra.

E um exemplo de retorno extremamente favorável, agradável, satisfatório e todos os sinônimos enaltecedores possíveis, foi um tinto da região portuguesa de Beira Interior, pouco conhecida por aqui no Brasil, principalmente se levamos em consideração, em termos de popularidade como Alentejo e Douro, por exemplo, de uma vinícola chamada Adega Cooperativa de Pinhel, chamado D. João I tinto das castas Tinta Roriz, Touriga Francesa, Rufete e Marufo. O mesmo não é safrado, é considerado, em Portugal, como um “vinho de mesa”. Mas não se enganem o conceito de vinho de mesa em Portugal, a título de informação, é diferente daqui do Brasil. Enquanto por aqui vinhos de mesa são produzidos por uvas não vitiviníferas, em Portugal vinho de mesa é considerado como um vinho básico, de cotidiano, que não tem uma classificação DOC ou “Regional” e que são produzidos com castas locais, denotando, mesmo assim um vinho de caráter regional, embora não ostente tais classificações, em minha opinião. Como disse que a região é pouco conhecida, convém fazer um breve histórico da mesma, antes de analisar o vinho.

Beira Interior

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias mediavais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.


Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

O vinho:

No aspecto visual mostra um incrível vermelho rubi escuro, profundo, quase que caudaloso ao depositá-lo na taça, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz traz muita fruta, frutas vermelhas maduras, um toque de especiarias e de estrebaria.

Na boca é seco, muito frutado, com alguma estrutura e corpo, mas fácil de degustar, com taninos presentes, mas comportados com acidez razoável e percebi um discreto amadeirado, mas acredito ser oriundo do vinho e não um estágio em barricas de carvalho. Tem um final de média intensidade.

Vinho honesto, bem feito, correto, com tipicidade e que sintetiza o caráter regional e que, independente dos valores, entregam muito mais do que valem. Com 13% de teor alcoólico. É claro que são diferentes dos vinhos mais emblemáticos, mais caros, com passagem por madeira etc Mas seria injusto comparar tais vinhos com a linha D. João I, pois, antes de qualquer coisa, são vinhos com propostas totalmente distintas.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:


Degustado em: 2018