Mostrando postagens com marcador San Silvestro & Figli. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador San Silvestro & Figli. Mostrar todas as postagens

sábado, 6 de maio de 2023

Nebbiolo D'Alba Brumo 2018

 

“Todo Barolo é feito com Nebbiolo, mas nem toda Nebbiolo é feita com Barolo”. Sempre li ou ouvi essa frase quando o assunto era o “Rei dos Vinhos” ou o “Vinho dos Reis”, o Barolo, um pequeno, mas emblemático local que fica na região italiana do Piemonte.

E sempre que lia ou ouvia os tais influenciadores do universo do vinho falar em Barolo ou Nebbiolo, achava que tais vinhos jamais desfilariam em minha reles e humilde adega. O tempo foi passando e as possibilidades foram aumentando. Tinha uma luz, mesmo que distante, no fim do túnel.

Alguns e-commerces começaram a baratear alguns Barolos e sim, começou a se tornar viável, palpável a possibilidade de tê-los em minha adega. Consegui, com alguma dificuldade, comprar o meu primeiro Barolo, há cerca de 3 anos atrás, aproximadamente.

E como foi especial tal momento! Ter um clássico italiano desse porte em minha adega era certeza de que estava no caminho certo para as cortinas se abrirem para a aquisição de outros clássicos do país da bota. E não há país no mundo que produza tantos clássicos como a Itália.

Mas com a compra de meu primeiro Barolo eu descobri que para apreciá-lo em sua plenitude, tem de fazê-lo com pelo menos uns oito ou nove anos de garrafa. O meui rótulo, de 2016, precisava esperar um pouco mais, porém a ansiedade gritava a plenos pulmões para degustar.

O que fazer? Foi nesse momento que eu descobri essa frase que iniciou o texto. Então podemos ter rótulos com a clássica Nebbiolo, mas que não é o Barolo e que poderia ser degustado mais cedo. Então me coloquei a pesquisar rótulos com valores atraentes para degustar mais cedo e finalmente conhecer, na taça, a Nebbiolo.

De início pesquisei alguns da região do Langhe, os mais famosos, e os valores estavam demasiadamente altos, até mais que o Barolo! O que fazer? Continuar procurando. Afinal estava determinado a ter um Nebbiolo que não precisava ser Barolo!

E em um site mais popular, de alcance diversificado de público, encontrei um Nebbiolo, porém da região de Alba, no Piemonte, com um preço irresistível, na faixa, à época, de R$89,00, e não hesitei, comprei.

O vinho evoluiu ainda alguns anos, talvez cerca de dois anos, na adega, evoluindo, precisava também de tempo, afinal, embora na seja Barolo, é um Nebbiolo e a casta é conhecida pelo seu tanino marcado e acidez alta. Esperei, no auge da ansiedade, um pouco mais, fui paciente.

Hoje, olhando a adega e o vinho, decidi que seria o momento propício para degusta-lo, enfim chegou o aclamado momento! Hoje com seus exatos cinco anos de garrafa creio que o encontrarei no auge da degustação.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Alba, no Piemonte, terra do Barolo, na Itália e se chama Brumo, um 100% Nebbiolo da safra 2018. E como não podemos negligenciar a história, vamos de Alba, Piemonte e da minha “estreia”, a Nebbiolo.

Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos

A região do Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos.

Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.

Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas.

Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais.

O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon.

As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

As sub-regiões do Piemonte

As sub-regiões do Piemonte diferem bastante entre si e possuem muitas DOC. São elas:

Monferrato

É uma vasta região de colinas, que pode ser dividida em duas partes bem diferentes:

Basso Monferrato - (Raciocinar ao inverso) é a parte mais setentrional e de maiores altitudes, com a base pelos 350m e os picos em 700m, um território muito apropriado para os vinhedos. Aqui predominam a Barbera e a Grignolino, em vinhos macios e fáceis de beber se comparados aos demais tintos piemonteses. Em Chieri se produz um Freisa DOC.

DOC: Albugnano, Cisterna d´Asti, Colline Torinesi, Dolcetto d`Asti , Freisa di Chieri, Gabiano, Grignolino d`Asti, Grignolino del Monferrato, Malvasia di Casorzo d`Asti, Malvasia di Castelnuovo Don Bosco, Monferrato, Rubino di Cantavenna , Ruché di Castagnole Monferrato

DOCG: Barbera d`Asti, Barbera del Monferrato,

Alto Monferrato - Ainda raciocinando invertido, aqui estão altitudes menores, e curiosamente o terreno é mais acidentado, com encostas mais íngremes e vales mais profundos. Esta conformação estranha tem seu efeito na viticultura, inicialmente pelo plantio de Barbera e Moscato, seguido das uvas autóctones como a Cortese, que aqui tem sua melhor expressão, na DOCG Gavi. Em seguida vem a Dolcetto, com ótimos resultados no entorno de Acqui e Ovada ambas DOCs. A terceira menção é a Brachetto, muito difundida no passado, mas hoje restrita a 50 hectares em Strevi. O Alto Monferrato costuma ser dividido em Monferrato Casalese e Monferrato Astigiano, por suas diferenças de território.

DOC: Dolcetto d`Acqui, Cortese Dell`Alto Monferrato, Dolcetto d`Alba, Loazzolo,

DOCG: Asti, Bracchetto d`Acqui (Acqui), Moscato dAsti, Gavi (Cortese di Gavi).

Langhe

Tem seu principal centro vitícola em Alba, mas a fama mundial desta província veio de dois centros menores, Barolo e Barbaresco. É neste local que a Nebbiolo, já qualificada em outras sub-regiões, se exprime ao nível mais alto, nestes ícones italianos. Aqui também se produzem os qualificados Moscato dAsti, os ótimos Nebbiolo, o Barbera dAlba e quatro Dolcettos, sendo o melhor o Dogliani. Para acolher os vinhos menos portentosos, mas muito bons, existe a DOC Langhe.

DOC: Barbera d`Alba, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Dolcetto di Dogliani, Dolcetto di Ovada, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Langhe, Nebbiolo d`Alba, Verduno Pelaverga (Verduno),

DOCG: Barbaresco, Barolo, Dolcetto delle Langhe Superiore, Dolcetto di Diano d`Alba (Diano dAlba), Dolcetto di Ovada Superiore (Ovada)

Roero

É um distrito situado na margem oposta a Alba, tendo como centros Bra e Canale. Aqui também se planta Nebbiolo, mas as brancas Arneis e Favorita, que no passado eram usadas em cortes, hoje produzem ótimos varietais.

DOC: Roero e Roero Arneis

Colline Astigniame

Compreendem uma área de vinicultura de grande interesse, situadas entre Canelli e Nizza, onde se produzem Moscato d`Asti e Barbera d`Asti. Aqui se diz ter sido inventado o espumante, há mais de um século e que tem aqui seu maior centro produtivo.

Colli Tortonesi

Estão entre o Alto Monferrato e o Pavese e possuem características ambientais e culturais típicas do Piemonte. As variedades principais são a Barbera eCortese, mas têm-se trabalhado outras uvas. Recentemente foi descoberta a variedade branca Timorasso.

DOC: Colli Tortonese

Colli Saluzzesi

Engloba 9 comunidades em Cuneo nas colinas suaves vale do rio Po. Aqui se cultivam Barbera e Nebbiolo, e também as variedades Pelaverga e Quagliano, das quais se produzem varietais.

DOC: Colline Saluzzesi, Pinerolese

Cavanese

Está na região a nordeste de Torino, com duas regiões vinícolas de importância:

A primeira está centrada no município de Caluso, se estendendo até as colinas de Ivrea. Aqui predomina a variedade autóctone branca Erbaluce, que produz um vinho passito tradicional e um branco delicado.

A segunda é a zona de Carema, com vinhedos em terraços com muros de pedra e pérgolas, cultivando a Nebbiolo.

DOC: Erbaluce di Caluso, Caluso Passito, Cavanese, Carema

Colli Novaresi e Colli Vercellosi

Estão situadas a noroeste, perto do lago Maggiore, nas províncias de Biella, Novara e Vercelli, abrigando diversas DOCs, algumas de alto nível. A mais prestigiada é o Gattinara, tinto famoso desde a corte de Carlos V, que hoje foi elevada a DOCG, e também a DOC Ghemme.

DOC: Boca, Bramaterra , Colline Novaresi, Coste della Sesia, Fara, Lessona, Sizzano,

DOCG: Gattinara, Ghemme


Nebbiolo

Originária da região do Piemonte, na Itália, onde foi identificada no século XIII, quando ela era chamada de Nibiol, a uva Nebbiolo é a uva dos grandes vinhos tintos italianos, como os reputados Barolo e Barbaresco e, ao lado da casta Sangiovese, é uma das mais nobres cepas tintas da Itália.

O nome da casta é baseado nas condições climáticas da região de Piemonte, local conhecido por apresentar uma forte presença de neblina. O termo Nebbiolo provém da palavra nebbia (neblina), condição climática extremamente presente nas colinas de cultivo da casta na época do outono, período em que a uva é colhida para dar início à elaboração de vinhos tintos poderosos.

Na Itália pode-se encontrar uma série de sinônimos para algumas das principais variedades do país. E a Nebbiolo, estrela do Piemonte, não fica atrás e recebe outros vários nomes. Na região de Valtellina, por exemplo, ela pode ser encontrada e com o nome de Chiavennasca. Outros sinônimos menos comuns são Prunent, Spanna e Picoutender.

Possuindo cacho alongado e casca fina, as uvas denotam uma presença marcante de pruína, uma espécie de cera que confere um leve tom esbranquiçado ao bago da Nebbiolo, outra característica que pode ter influenciado a escolha do nome para essa casta.

Nebbiolo

A uva Nebbiolo é cultivada nas encostas da região do Piemonte, local que reúne características singulares para que haja o crescimento e amadurecimento correto das vinhas, tornando-as favoráveis à elaboração de vinhos tintos intensos.

Seus vinhos têm aroma intenso e complexo, maravilhoso, com características únicas. Na boca são poderosos, tânicos, com grande acidez e bastante austeridade. Perfeitos para acompanhar momentos gastronômicos que possuam sabores marcantes e fortes, os tintos elaborados com a casta Nebbiolo acompanham de forma única e com duradouro momento de prazer e degustação carnes assadas, risotos e queijo grana padano.

Embora seja uma uva um pouco difícil ao primeiro contato, ela produz vinhos tintos grandiosos, que podem durar muito tempo. Alguns dos vinhos elaborados com a casta Nebbiolo amadurecem mais de 10 anos antes de serem apreciados e degustados, atingindo o melhor ponto de consumo.

Os vinhos da região de Barolo, são elaborados 100% com a uva Nebbiolo. São vinhos bastante profundos, intensos, longevos rústicos e com excelente potencial de guarda.

Já os Barbarescos são menos tânicos que os Barolos, mas ainda assim muito complexos. Seus aromas são mais puxados para as frutas vermelhas, como morango, framboesa e cereja.

Há ainda outras variações menos complexas, como Langhe Nebbiolo, Nebbiolo D’Alba e Magno. São vinhos que apresentam as mesmas características da uva, porém não necessitam de tanto tempo evoluindo em garrafa, podendo ser apreciados mais jovens.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi de intensidade média, lembrando um Pinot Noir, apenas visualmente, com halos granada, atijolado, mas com muito brilho, além de lágrimas finas, lentas e em profusão denotando seu alto teor alcoólico.

No nariz aromas abundantes e fragrantes de frutas vermelhas maduras, como framboesas, cerejas e morangos, variando com notas especiadas, de pimenta, com um evidente amadeirado, graças aos 80% do lote que passou 12 meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha, um discreto defumado.

Na boca é seco, poderoso, estruturado, robusto e como no aspecto olfativo se mostra complexo, mas elegante e equilibrado. A fruta vermelha madura ganha protagonismo no paladar, bem como os toques amadeirados, mas ambos em total sinergia, com notas de chocolate, baunilha, caramelo, toffee, mentolado e algo de terra molhada. Traz taninos marcados, potentes e presentes, com uma intensa acidez, extremamente salivante com um final persistente e cheio.

A primeira experiência com a Nebbiolo foi especial, única, certamente ficará na memória por todo o sempre, enquanto houver uma taça, enquanto houver amor pelo vinho, esse rótulo estará em minha mente e foi uma “entrada” e tanto para a degustação dos meus já seis rótulos que possuo em minha adega! Sim! O Tempo foi passando e o Barolo já faz parte da minha vida enófila! Que o tempo passe e que me brinde com os melhores Barolos que pude ter.

E aqui vale uma curiosidade sobre o nome do vinho degustado, o Brumo Nebbiolo 2018. A Nebbiolo, casta nobre típica do Piemonte, recebe o nome de “pruina”, uma substância que podemos encontrar na casca das bagas que as faz parecer cobertas por neblina (“nebbia” ou “bruma” em italiano). E é na época do nevoeiro – entre Outubro e Novembro – que o Nebbiolo amadurece: agora se explica o nome do nosso Nebbiolo d'Alba DOC “Brumo”.

Tem 14% de teor alcoólico.

 Sobre a SanSilvestro Vini:

A vinícola San Silvestro está localizada em Novello , no coração do  distrito de Barolo . Aqui, Paolo e Guido Sartirano comandam os negócios com sabedoria e respeito pela tradição e pela história desta empresa.

Eles representam a quarta geração e querem respeitar o trabalho que sua família fez para chegar onde está hoje. Investimentos para o futuro com olhos atentos aos valores que aprenderam com seus ancestrais: consistência, autenticidade e inovação.

Cada taça incorpora esses três princípios para devolver vinhos que refletem a singularidade desta grande área. Trabalhando em estreita colaboração com viticultores de diferentes áreas vinícolas, San Silvestro oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco, passando pelos distritos de Asti e Barolo.

Mais informações acesse:

https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=PIEMONTE

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nebbiolo

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/nebbiolo-famosa-uva-do-piemonte-e-seus-outros-nomes_12622.html

“Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/uva-nebbiolo/

 

 

 

 

 

 

 






 


sábado, 27 de novembro de 2021

Sartirano Figli Dolcetto 2018

 

Modelo piemontês. É assim que a vinícola San Silvestro & Figli define a sua “natureza” de produzir vinhos. E nada como aliar suas produções a regiões emblemáticas como a magnifica Piemonte, lendárias pelos seus grandes vinhos que vão dos poderosos Barolos, com o potente Nebbiolo aos vinhos mais frescos, diretos e frutados. E quando um produtor se auto intitula um “modelo piemontês” é porque se entrega, de corpo e alma, ao terroir daquela região.

Piemonte traz castas emblemáticas, traz rótulos históricos, traz vinhos múltiplos em suas propostas. Alguns eu já degustei e gostei, nada melhor, por exemplo, como um Barbera, mas ainda faltava uma casta muito famosa por aquelas bandas, que geralmente aparece em blends, me aparece em varietal. Ah que maravilha, era tudo que eu precisava, jamais esperaria encontrar um vinho da casta Dolcetto.

E esse rótulo em especial não foi garimpado, não foi uma busca, mas parece que ele veio até mim, como se estivesse querendo se revelar diante dos meus olhos. O preço estava muito atrativo, afinal, trata-se de um varietal da casta Dolcetto o que não é muito comum encontrar em terras brasileiras.

A compra foi sacramentada, o vinho estava gozando de um espaço privilegiado na adega e até demorou relativamente um tempo para ser degustado, afinal talvez estivesse aguardando um momento importante, ou melhor, o momento importante para degustar esse vinho.

Então sem mais papos vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei e, amigos, que belo vinho, que vinho versátil, muita fruta, mas carregado de personalidade e expressividade, aquele vinho com o típico caráter do Piemonte, a cara da Itália. Falo do Sartirano Figli da casta Dolcetto, do Piemonte, da safra 2018. Então, também para não fugir à risca vamos de história, vamos de Piemonte e Dolcetto, um casamento perfeito.

Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos

Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.

Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas.

Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais.

O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon.

As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

Dolcetto

Nem só das uvas Nebbiolo e Barbera são feitos os italianos clássicos do Piemonte, região noroeste da Itália. Muitas vezes subestimados, os Dolcettos (em italiano, 'ligeiramente doces' ou 'docinhos'), produzidos com a 'eterna' terceira uva do Piemonte são belos vinhos, mais frutados e macios e dificilmente apresentam caráter doce que seus poderosos conterrâneos, os Barolos e Barbarescos, feitos a partir da Nebbiolo, e os Barberas. Os Dolcettos são bastante tânicos, frescos e secos.

No Piemonte, as três uvas fazem parte de uma equação que determina a paisagem. Nebiollos só amadurecem em locais bem ensolarados, Barberas, embora menos exigentes, também têm lá suas suscetibilidades, a Dolcetto, ao contrário, é uva fácil de cultivar e que amadurece rapidamente, por isso ocupa os locais menos ensolarados dos vinhedos, muitas vezes os mais altos. Tradicionalmente, a Dolcetto produzia vinhos que podiam ser consumidos muito jovens, e muito antes das outras duas, o que ajudava a equilibrar o cash flow das vinícolas.

Sendo uma das uvas mais alegres da região de Piemonte, a casta Dolcetto é levemente fermentada no processo de vinificação, tal processo é realizado por produtores de renome que conhecem extremamente bem as características e propriedades da uva Dolcetto. A leve fermentação da uva faz com que seja extraído da casta a quantidade ideal de taninos para a elaboração de vinhos tintos secos maravilhosos.

Utilizada em deliciosos e espetaculares vinhos tintos, a casta Dolcetto da região de Alba produz um dos melhores vinhos provenientes da casta. A Dolcetto D´Alba, cultivada em uma comuna do Piemonte, é considerada DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), sendo 80% dos exemplares de vinhos elaborados com a casta consumidos no próprio país de origem. Os rótulos produzidos a partir da cepa Dolcetto D´Alba possuem caráter rústico com taninos bastante leves e coloração rubi.

Além de Alba, um pequeno lugarejo, localizado na mesmo província de Cuneo, escapa à essa lógica de produção tradicional: Dogliani, uma comuna minúscula situada perto de Turim. Lá, a Dolcetto reina absoluta e ocupa todos os melhores espaços dos vinhedos. Por conta disso, Dogliani tem sua própria DOCG desde 2005, garantia de qualità superiore.

Muitos dizem que os Dolcettos são vinhos italianos com jeito de vinhos do Novo Mundo. E, de certa forma, isso se explica. Ainda que o nome remeta a um sabor adocicado, a uva Dolcetto produz vinhos muito tânicos e de baixa acidez, com alto teor alcoólico, mas que ainda assim são perfeitos para serem consumidos no dia a dia. Ao contrário da realeza italiana da região piemontesa, que pede obras de arte gastronômicas para uma harmonização digna, caem como luvas ao acompanhar os pratos clássicos de massa da Itália, como spaghettis com molho bolonhesa ou polpettas.

Conhecida também como Ormeasco na região da Liguria, a uva Dolcetto vem conquistando muitos admiradores no mundo do vinho, ganhando bastante espaço em países do Novo Mundo com exemplares bastante potentes, secos e com graduação alcóolica elevada. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos de um reluzente brilho, lembra um Pinot Noir, com poucas lágrimas e que logo se dissipam.

No nariz goza de uma exuberância aromática protagonizada pela fruta, pelas frutas vermelhas onde se destacam a framboesa, o morango e a groselha, com notas de especiarias, talvez algo de herbáceo, um inusitado amadeirado, apesar de não estagiar em barricas de carvalho.

Na boca é seco, de leve para médio corpo, com um bom volume de boca que lhe confere alguma personalidade, a fruta dá o tom, com taninos gulosos, mas domados, uma acidez equilibrada, correta dando ao vinho frescor e uma jovialidade, com um final de média intensidade calcada na fruta.

Ah que maravilha! Que momento especial! A terceira casta Piemonte sendo degustada por mim pela primeira vez. Essa noite ela se tornou a primeira e única do Piemonte. Não sou muito simpático a essa questão da posição das castas essenciais do Piemonte. Cada casta trazem as suas particularidades, as suas peculiaridades, as suas propostas, primordialmente. Depois do Barbera, agora um Dolcetto e em breve será um Nebbiolo. A santíssima trindade do Piemonte. Este Sartirano Figli entrega, com fidelidade, o que um Dolcetto pode e deve apresentar: fruta, muita fruta, frescor, mas personalidade marcante. Um vinho versátil, equilibrado, vivaz e pleno. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a San Silvestro & Figli:

A vinícola San Silvestro está localizada em Novello, no coração do distrito de Barolo. Aqui, Paolo e Guido Sartirano administram o negócio com sabedoria e respeito pela tradição e pela história. Eles representam a quarta geração e são respeitosos com o trabalho que sua família fez para estar onde estão hoje.

Investimentos para o futuro, com atenção aos valores que aprenderam com seus ancestrais: consistência, autenticidade e inovação. Cada copo de vinho incorpora esses três princípios na produção de vinhos que refletem a singularidade dessa grande área. Trabalhando em estreita colaboração com viticultores de diferentes áreas vinícolas (7 hectares de vinhedos), através de parcerias estabelecidas por meio de contratos de longo prazo, que podem durar por gerações.

Dessa maneira, confiança e cooperação se tornaram fundamentais e de ambos os lados. A seleção profissional e rigorosa entre os produtores de uvas é um ponto forte em San Silvestro. Por fim, San Silvestro oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco pelos distritos de Asti e Barolo.

Mais informações acesse:

https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en

https://www.sartirano.com/?lang=en

Referências:

“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/dolcetto-uma-uva-nada-doce-e-cheia-de-potencial

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/dolcetto

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html