Sempre tive a impressão de que os vinhos alemães estavam
distantes de mim, ou seja, nunca tive a expectativa de degustar os vinhos
germânicos. Confesso não saber exatamente o motivo: talvez pela baixa oferta de
rótulos disponíveis no mercado brasileiro ou ainda pelo fato dos poucos vinhos
disponíveis por aqui serem de um custo demasiadamente alto. Sempre li ou ouvi
dizer que os Rieslings alemães eram os melhores e de que todo bom enófilo
deveria, ao menos uma vez na vida, degustar um Riesling alemão. Ao longo dos
anos alimentei esse sonho para mim: degustar um Riesling alemão, eu precisava
ter essa oportunidade em minha vida e, cada vez que eu lia e conhecia um pouco
sobre a história da vitivinicultura alemã e as características marcantes do
Riesling eu nutria essa necessidade de degustar, ao menos um rótulo dessa
casta, desse país. Foi quando meu grande amigo Paulo me diz que ganhara um
Riesling alemão e me convidou para degusta-lo junto com ele a referia garrafa,
fiquei animado, primeiramente, é claro, com o nosso reencontro e também em
degustar o tão esperado Riesling alemão.
O vinho que degustei e gostei veio da região de Mosel,
Alemanha e se chama Rebgarten da casta Riesling (100%), da safra 2018. Pronto!
O momento chegou, o vinho estava diante de mim! O tão desejado Riesling alemão
iria povoar a minha taça! Tudo me parecia, é de fato era tão novo! País,
castas, regiões vinícolas, tudo era novidade. E como tal, precisamos contar um
pouco a história de tudo e todos. Comecemos então pela região de Mosel, depois
falemos sobre as definições dos vinhos alemães que sempre me pareceu algo
distante.
Mosel, a terra do Riesling
Os rios Mosela, Sarre e Ruwer deslizam por curvas estreitas e
tortuosas através de um território no qual os celtas e os romanos já cultivavam
vinho 2.000 anos atrás. A região do Mosela, que leva a denominação alemã Mosel,
é a mais antiga região vinícola da Alemanha e a maior região de cultivo de
vinho em encostas. As encostas e terraços voltados para o sul ou sudoeste
proporcionam um microclima excelente para as uvas, como também para plantas e
animais raros. Por isso, os vinhos minerais e elegantes do Riesling das
encostas, produzidos na região do Mosela, Sarre e Ruwer, estão entre os
melhores vinhos brancos do mundo.
Mosel
Com 8.800 hectares de vinhedos, Mosel é a quinta maior região
vinícola da Alemanha. A uva Riesling é a número 1 nas encostas de vinhedos: 5.273
hectares (60%) estão cultivados com a rainha das uvas brancas. Uma
especialidade da região Mosel é a antiga casta Elbling, que só é cultivada em
maiores quantidades na região do Alto Mosela (Obermosel). Outras variedades
importantes de vinho branco são Müller-Thurgau, também chamada de Rivaner, além
da Weißer e Grauer Burgunder. 90% de todos os vinhos são brancos, as castas de
tintos, como Blauer Spätburgunder, Dornfelder, Regent e outras, ocupam apenas
10% do território cultivado. Os atuais vinhedos estão sobre terrenos que antes
ficavam no fundo do mar, em praias ou áreas de maré: sedimentos de oceanos
pré-históricos tornaram-se montanhas e sofreram erosão ao longo de milhões de
anos. As encostas do Sarre do Ruwer e do Médio Mosela são compostas de ardósia
devoniana com mais de 400 milhões de anos. No Baixo Mosela, entre Zell e
Kobelnz, há arenito de quatzito e cal com ardósia. O Alto Mosela pertence à
Bacia Parisiense. Ali as videiras estão sobre rochas de dolomita, com solos de
coquina, Keuper e marga. Uma especialidade é a chamada "Rotliegend"
em Ürzig/Médio Mosela, uma rocha vermelha de origem vulcânica. O Mosela e seus
afluentes causaram uma profunda erosão nas montanhas conhecidas Rheinische
Schiefergebirge, criando com isso as condições geológicas e climáticas
necessárias para a vinicultura. Devido à localização protegida dos vales, a
região é uma das zonas climáticas mais quentes da Alemanha, e o acúmulo de
calor dos rios impede geadas. Invernos pouco rigorosos e verões amenos são
comuns. A temperatura média anual fica entre 9,1 e 10,5 graus Celsius, a
quantidade anual de chuvas tem uma média de 800 mm. A duração média de luz do
sol por ano é de 1.370 Stunden.
Nomenclatura e definições dos vinhos alemães
O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho
alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos
rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da
safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem
dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade,
tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e
outros que são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de
controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de
Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de
qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade
das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade
podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também
conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas,
entre outros.
Deutscher Wein
São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos
podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.
Landwein
Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples,
quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de
outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de
regiões reconhecidas pela categoria.
Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)
É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam
ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem
ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas
específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os
rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:
Trocken: vinho seco.
Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.
Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos
semelhantes ao Halbtrocken.
Liebliche: vinho doce.
Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria
QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação
de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia
específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria,
os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.
Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein
As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de
uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa
estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de
maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns
atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de
colheita:
Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras.
Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.
Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em
um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com
intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.
Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos
selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no
paladar. A doçura no paladar não é uma regra.
Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém
colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta
concentração.
Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas,
infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo
características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.
Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por
Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas
apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.
E agora o vinho!
Na taça o vinho apresenta um amarelo palha com reflexos
esverdeados, muito brilhantes e de aspecto límpido.
No nariz é muito delicado, com aromas de frutas brancas e
tropicais como pera, maça verde, abacaxi, com notas florais.
Na boca traz um discreto e agradável toque adocicado, sem soar
enjoativo, lembra mel, sendo frutado, com uma bela acidez, alguma cremosidade e
um final mineral bem persistente.
Um belo Riesling alemão, um Qualitätswein bestimmter
Anbaugebiet (QbA), da região de Mosel que é digno de reverências. Pronto!
Graças a esse belo Riesling aprendi um pouco sobre o vinho alemão e suas
definições de qualidade. Mas melhor do que isso, foi degustar esse vinho
fresco, leve, graças a sua bela acidez. Um vinho maiúsculo, saboroso e que vai
ficar na minha história. Ah ela vai continuar a ser escrita pois em minha adega
já tem outro rótulo alemão da casta Riesling, o que já é outra história que em
breve será escrita. Tem 10,5% de teor alcoólico.
Sobre a Moselland eG:
Dificuldades econômicas como uma história de sucesso
Às vezes, é a necessidade que torna as pessoas criativas e,
portanto, se torna a base de uma história de sucesso específica. Foram as
dificuldades econômicas que levaram os viticultores de Moselle há mais de cem
anos, inicialmente em associações menores e depois em cooperativas de
viticultores.
Associação de cooperativas regionais
Em 1968, as cooperativas de viticultores regionais de Ernst e
Wehlen e a vinícola principal de Koblenz se fundiram para se comprometerem
conjuntamente com vinhos e vinicultores regionais no futuro e para combinar
suas próprias tradições com as inovações necessárias. Em 1969, o Saar
Winzerverein de Wiltingen seguiu a fusão e o Moselland eG foi criado, com sede
em Bernkastel-Kues - uma garantia de alta qualidade consistente por décadas.
Motivo suficiente para muitos vinicultores do Nahe aderirem ao conceito de
sucesso em 2000.
Colaborações voltadas para o futuro
Desde 2004, Moselland eG tem cooperado com a cooperativa
vinícola de Nierstein (Rheinhessen) e a cooperativa vinícola regional de Rietburg.
Este último resultou na fusão com a cooperativa Palatinate em 2011.
Mais informações acesse:
Fontes de pesquisa: