Mostrando postagens com marcador Vinícola Sorocamirim. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vinícola Sorocamirim. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Monte Carlo Chardonnay 2020

 

Eu já mencionei em um de meus textos de outros vinhos que degustei e gostei das minhas “viagens” para novas experiências sensoriais, mesmo com produtores, regiões ou castas já familiarizadas por mim, em minhas andanças enófilas.

Muito ainda se pode tirar de novidade em algo que, em tese, para você não seja novo. E tenho buscado essa condição, de trazer o novo no vasto e pouco explorado universo do vinho. Temos de nos permitir viver esses momentos e nunca deixar cair na tentação silenciosa da zona de conforto com os seus rótulos preferidos.

E uma região brasileira vem me ganhando de forma incondicional: São Roque, em São Paulo! E um bom amigo vem me proporcionando isso, me agraciando com rótulos de presente, o amigo Luciano Feliputti, proprietário da Pemarcano Vinhos, um e-commerce que enaltece os pequenos produtores da região de são Roque e afins.

A missão de falar de tais vinhos me traz a novidade e o saboroso desafio de analisar as suas nuances, as suas características, além, é claro, de estimular sempre o prazer pela degustação, a celebração pelo ritual e pela nobre simplicidade por tais atos.

E o rótulo de hoje traz São Roque representado pela rainha das uvas brancas: Chardonnay. Da mesma forma que a Merlot praticamente me iniciou no mundo dos vinhos, das cepas vitis viníferas, sendo a minha casta tinta preferida por muitos anos, a Chardonnay me fez perceber que vinho branco é bom e que merece atenção e espaço nas adegas dos brasileiros.

Sempre notei que os brancos foram e ainda são vistos com certo preconceito pelo enófilo no Brasil. Sempre percebi que existe uma visão pré-concebida, e sem razões muito fortes para tal percepção triste e equivocada.

Hoje o cenário está melhor, mais favorável para os brancos ditos “tranquilos” e os espumantes que é a porta de entrada para o vinho brasileiro no mundo, a nossa “marca”! Não há, contudo, razão para que tenhamos essa visão torta dos vinhos brancos. Eu tinha essa percepção que logo foi rompida graças a Chardonnay!

Um Chardonnay de São Roque, a terra do vinho, e de um pequeno produtor! Não é um discurso romântico, sem força, mas sim a condição necessária para que, de uma vez por todas, possamos enaltecer o pequeno produtor brasileiro que, sufocada pelo poderio financeiro das grandes indústrias e o lobby dos ditos “formadores de opinião” só torna tais produtores pequenos coadjuvantes em um tão esperado processo de disseminação da cultura do vinho neste país.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei que veio da cidade tradicional na produção de vinhos do Brasil, São Roque, e se chama Monte Carlo, claro da casta Chardonnay da safra 2020. Não é, portanto, a minha primeira vez com os vinhos da Vinícola Sorocamirim, eu degustei um rótulo da casta Seibel, o Classic Sorocamirim Seibel. Antes de tecer com requintes de detalhes o vinho, vamos, para não perder o costume, a história de São Roque e a sua importância para a vitivinicultura nacional.

São Roque: A terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo amarelo palha, translúcido, brilhante com discretos reflexos esverdeados e algumas lágrimas finas e lentas.

No nariz traz um aroma extremamente frutado, de frutas brancas e cítricas e um toque delicadamente floral que nos dá uma sensação de levez e frescor.

Na boca corrobora a refrescância e leveza, bem como as notas frutadas, com um leve dulçor que não é enjoativo, em virtude da fermentação interrompida pelo produtor, dando-lhe um paladar de um “demi-sec”. Traz uma untuosidade e cremosidade, uma madeira no fundo, graças aos 5 meses que passou em barricas de carvalho com um final persistente.

Mais uma vez e como sempre me sinto um privilegiado por degustar rótulos de São Roque e sempre com novidades, afinal há muito a se explorar na “terra do vinho”, uma região tradicional e mesmo com a queda de sua força vitivinícola, é sustentado pela sua história e produtores pequenos com ideias e determinação grandes em continuar a disseminar o terroir desta região e a força dos pequenos produtores. E por falar em produtores, estive conversando com os representantes da Vinícola Sorocamirim para buscar detalhes do Monte Carlo Chardonnay e eles me falaram que a fermentação dele foi interrompida, dando-lhe um paladar de um “demi-sec”. O que muito surpreendeu, mostrando leveza, sabor, mas entregando alguma personalidade e até mesmo complexidade, graças a curta passagem por barricas de carvalho. Que venham mais e mais gratas novidades de São Roque. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Sorocamirim:

A Vinícola Sorocamirim foi fundada no dia 27 de julho de 1956, com 58 anos de muitas conquistas e histórias, sendo considerada uma das vinícolas mais artesanais de toda a região de São Roque.

Seus vinhos são elaborados a partir de uvas selecionadas, garantindo um excelente sabor. Entre os vinhos mais apreciados estão o "Monte Carlo" tinto meio Seco, e o tinto seco, armazenados em barris de carvalho francês e americano.

Entre os clássicos estão a linha dos vinhos "Sorocamirim", tinto seco, licoroso rosado, e muitos outros. A vinícola está localizada em uma região serrana, com clima propício para fabricação de vinhos.

Toda a produção dos vinhos Sorocamirim é feita de maneira artesanal, com a combinação de processos de fabricação tradicionais.

Mais informações acesse:

https://www.facebook.com/Vinhos-Sorocamirim-742876082473899

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

 






segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Classic Sorocamirim Seibel

 

Quem no Brasil nunca começou a degustar vinhos de mesa, as famosas uvas americanas, atire a primeira pedra! Não considero como demérito ou qualquer tipo de constrangimento revelar isso a ninguém! Afinal os famosos vinhos coloniais, como eram chamados e ainda são chamados assim, construíram o Brasil vitivinícola, faz parte da nossa história e ainda hoje tem uma satisfatória participação de mercado, sendo um dos mais consumidos.

Não nego e sequer tenho vergonha de dizer que comecei a degustar vinhos por intermédio das uvas americanas, das uvas de mesa e por elas trafeguei por um tempo, diria, razoavelmente longo, até migrar para as uvas chamadas vitis viníferas, as uvas finas.

Para muitos é digno de baixa qualidade, de vinhos ruins, quase intragáveis e, confesso, quando migrei para as variedades finas, compartilhei da mesma opinião e, por um bom tempo, fui taxativo em dizer que jamais degustaria vinhos de uvas de mesa. De fato, me encontrei nas vitis viníferas, mas, há pouco tempo atrás o passado parece rondar os meus pensamentos.

Por que digo isso? Em conversa com um bom amigo que construí que mora em São Paulo, o Luciano Feliputti, que tem um belo site de vendas de vinhos finos e de mesa chamado Pemarcano Vinhos, ele me falou o que corroborei navegando em seu site, de alguns vinhos de mesa que estava vendendo e também da sua intenção em trazer mais rótulos para incrementar seu portfólio.

Aquela conversa me trouxe, além de um momento nostálgico de minha vida enófila, a possibilidade de degustar alguns rótulos dessas castas que foram importantes para a fundação da produção de vinhos no Brasil. Mas agora, com o meu espírito mais aventureiro nas pesquisas do universo do vinho, as suas histórias, venho com um arcabouço teórico mais rebuscado e com um senso crítico mais definido e menos pré-concebido de tais rótulos.

E dessa conversa o amigo Luciano me perguntara se eu gostava de vinhos de mesa e disse que fazia tempo que não os degustava, mas que, ao navegar em seu site, tinha estimulado interesse em revisitar tais vinhos. Mas com a incessante busca pelo conhecimento e o devido esclarecimento da relevância histórica de tais vinhos, temos a obrigação de valorizar o produto nacional, desde que seja bom, claro.

E um produto nacional artesanal, de pequenos produtores que, teimosamente, continuam a cultivar vinhas e vinhos. O amigo Luciano não hesitou e decidiu me mandar, carinhosamente, alguns exemplares e foi como se eu revisitasse o tempo! Aqueles tempos bons de uma vida simples, sem pretensões, sem nada pomposo, só um prazer embrionário pelo vinho.

E o presente do amigo Luciano não teimou em demorar e logo chegou em minhas mãos e em dose dupla, um da casta branca Lorena, famosa entre os vinhos de uvas americanas e outro que confesso não conhecia: Seibel. Decidi de forma imediata degustar essa variedade tinta.

E esse rótulo veio da cidade interiorana de São Roque, em São Paulo, tida como uma das principais e mais tradicionais regiões produtoras de vinhos do Brasil e que abriga uma produção vasta de castas americanas.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de São Roque, de um artesanal produtor chamado Sorocamirim, o Vinho Sorocamirim Classic da casta Seibel não safrado. Então para não perder o costume vamos de histórias! Vamos da história da Siebel e também de São Roque!

São Roque: A terra do vinho!

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho. 

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Siebel

A Seibel é uma uva pouco conhecida, apesar de haver sido amplamente usada na criação de vinhos no Brasil, mas, que devido à expressão cada vez maior da produção japonesa, país onde encontrou um terroir que lhe é propício, está cada vez mais presente nos diálogos acerca do cenário do vinho no mundo. De fato, países ou regiões de clima frio são o leito perfeito para acolher a variedade.

Seibel é, na verdade, um termo genérico que designa as diversas uvas Seibel, casta híbrida criada na França, no fim do século XIX, por Albert Seibel, um ativo médico e vitivinicultor, a partir de castas europeias e nativas da América do Norte.

Albert Seibel

A sua ideia era criar variedades resistentes à Filoxera, praga que a partir de 1860 praticamente dizimou os vinhedos europeus, garantindo, assim, a produção de algum vinho nas áreas afetadas. Para tanto, mais de 15 mil híbridos foram criados, e perto de 500 novas variedades foram estabelecidas. 

Na década de 1860, a praga da filoxera reduziu a produção de vinho na Europa em mais de dois terços. Como a praga se originou no Novo Mundo, cruzar o estoque americano com variedades europeias de vitis vinifera foi uma das tentativas promissoras de conter o desastre. As vinhas produzidas por esta hibridação não produziram necessariamente melhores vinhos, mas produziram cepas de vinha que poderiam sobreviver melhor aos ataques de Phylloxera.

Seibel e sua empresa produziram mais de 16.000 novos híbridos, com cerca de 500 variedades que foram cultivadas comercialmente. Ele costumava usar como pai feminino o híbrido Jaeger 70, um cruzamento entre Vitis lincecumii e Vitis rupestris produzido por Hermann Jaeger. Jaeger foi um viticultor suíço-americano, homenageado como Cavaleiro da Legião de Honra por sua parte em salvar a indústria vinícola francesa da praga do piolho da filoxera.

Assim sendo, a Seibel 2, Seibel 29, Seibel 30, Seibel 99, Seibel 788, Seibel 793, Seibel 867, Seibel 880, Seibel 1000, Seibel 1020, Seibel 2007, Seibel 2510, Seibel 2524, Seibel 2653, Seibel 2859, Seibel 4461, Seibel 4643, Seibel 4646, Seibel 4986, Seibel 5163, Seibel 5279, Seibel 5455, Seibel 5487, Seibel 5575, Seibel 5656, Seibel 5898, Seibel 6906, Seibel 7053, Seibel 8357, Seibel 8665, Seibel 8745, Seibel 9110, Seibel 9549, Seibel 10173, Seibel 10878, Seibel 11803, Seibel 13053, Seibel 14514, Seibel 14596, são algumas das castas conhecidas globalmente como Seibel. Apesar de algumas terem nome próprio, como a 5575, também chamada de Rubis, ou a 9110, Verdelet, é a denominação Seibel que usualmente é mais utilizada, mesmo nas variedades mais famosas, como a Aurore, Seibel 5279, Chancellor, 7053, Chelois, 10878, e De Chaunac, 9549.

Seibel

Apesar de ser cada vez mais rara em seu país de origem, devido às severas leis francesas que proíbem a produção de vinhos AOC a partir de espécies híbridas, sendo utilizada apenas para criação de vinhos de mesa, ficando assim relegada ao papel de coadjuvante, esta casta encontrou refúgio em países como Japão, Nova Zelândia, Inglaterra e Canadá. Ali é responsável pela criação de vinhos comerciais, o que explica o grau de importância que vem adquirindo nestes países.

Devido ao alto grau de tecnologia hoje existente na grande maioria das vinícolas, os vinhos criados a partir da Seibel, apesar de serem simples, despretensiosos, são normalmente saborosos e relativamente equilibrados. Como são gerados grandes volumes destes vinhos, o que implica baixo preço do produto final, boa parte da população que inicia o consumo da bebida o faz através de produtos à base de alguma das variedades Seibel, sendo, então, esta a porta da entrada de muitos no mundo do vinho.

Convém a leitura de um artigo, produzido em 1967, na cidade paulista de Campinas, com um detalhado estudo sobre o comportamento de videiras Seibel na região de São Roque, escrito pelo engenheiro agrônomo Wilson Corrêa Ribas, que pode ser lido aqui.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso e escuro, com tons arroxeados e caudalosos que marcam o bojo.

No nariz predominam aromas intensos de frutas vermelhas e pretas como framboesas, morangos e ameixas, frutas compotadas, com uma sensação de delicado dulçor.

Na boca é seco, mas equilibrado, sendo saboroso e muito leve, com uma acidez baixa, taninos imperceptíveis e um final cheio, volumoso e persistente.

A experiência do passado que traz novidades! O frescor do tempo é evidente aos sentidos! A simplicidade do vinho trouxe nobreza ao espírito sensorial. Embora eu tenha tido experiências passadas com os vinhos de mesa, as uvas americanas, a Seibel se tornou uma novidade, mesmo que no auge da simplicidade que ela proporciona, mas bem saborosos, com boa acidez e bem despretensiosos. E já que, ao longo deste texto, eu foquei no tempo e nas nostalgias, percebi que o rótulo composto pela Seibel é ideal para quem está começando no universo do vinho. Tem 10% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Sorocamirim:

A Vinícola Sorocamirim foi fundada no dia 27 de julho de 1956, com 58 anos de muitas conquistas e histórias, sendo considerada uma das vinícolas mais artesanais de toda a região de São Roque.

Seus vinhos são elaborados a partir de uvas selecionadas, garantindo um excelente sabor. Entre os vinhos mais apreciados estão o "Monte Carlo" tinto meio Seco, e o tinto seco, armazenados em barris de carvalho francês e americano.

Entre os clássicos estão a linha dos vinhos "Sorocamirim", tinto seco, licoroso rosado, e muitos outros. A vinícola está localizada em uma região serrana, com clima propício para fabricação de vinhos.

Toda a produção dos vinhos Sorocamirim é feita de maneira artesanal, com a combinação de processos de fabricação tradicionais.

Mais informações acesse:

https://www.facebook.com/Vinhos-Sorocamirim-742876082473899

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

“Leia Mais”: https://leiamaisba.com.br/2012/04/26/a-uva-seibel

“Scielo.br”: https://www.scielo.br/j/brag/a/9bvLTwNpJCghhPrfjwPwrwL/?format=pdf&lang=pt

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Hermann_Jaeger

https://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Seibel

https://pt.wikipedia.org/wiki/Seibel