E não contente apenas com a sua inserção no mundo do vinho e
seus rótulos, decidimos consolidar com encontros regados a bebida de Baco e
Dionísio e muitas conversas. A solidificação da nossa amizade e as viagens mais
do que prazerosas nas histórias que permeiam os vinhos que degustamos e
certamente gostamos. Nasce a “Confraria Marginal”. Somos apenas nós dois, um
pequeno e discreto número, mas significativo na sua relevância e mais
contundente, forte e que será eterno enquanto durar, já dizia o trecho daquela
música tupiniquim. E agora vem aquela pergunta que o nobre leitor deve se
perguntar neste momento: Mas por que “Confraria Marginal”?
Não somos convencionais, não usamos vinho para escorar status
econômico, não usamos o vinho como fator de subjugação, amamos o vinho pelo que
ele é, pelo fator cultural, pela busca do conhecimento e, sobretudo pelo fator
sensorial e as suas gratas experiências, então somos marginais, estamos à
margem desses conceitos tortos e posturas lamentáveis, mas sonhamos com uma
quebra de paradigmas nessa triste cultura.
Então o primeiro vinho veio de uma região nova para mim. Que
especial! Além de nossa humilde, mas querida confraria que se estabelece, vem
as gratas e incríveis novidades que o universo do vinho, inexplorado e surpreendente,
insiste em nos revelar e, a tira colo, vem a novidade das castas também. A
celebração enfim estava completa de tudo que precisávamos! O vinho que degustei
e gostei veio da região da Gasconha, de Côtes de Gascogne, e se chama Domaine
Cambos Cuvée Jean D’Auvergne, um blend composto pelas castas Colombard (70%) e
Gros Manseng (30%) da safra 2017.
Côtes de Gasconha: A bela Gasconha
Côtes de Gascogne é o distrito vinícola da Gasconha que
produz principalmente vinho branco. Ele está localizado principalmente no
departamento de Gers, na antiga região de Midi-Pyrénées (agora parte da região
Occitanie), e pertence à região vinícola do sudoeste da França. A designação
Côtes de Gascogne é usada para um Vin de Pays ("vinho do campo") produzido
na área de Armagnac. O decreto de 13 de setembro de 1968 criou a diferença
entre um Vin de Pays e um vinho de mesa mais simples, o chamado Vin de Table,
hoje conhecidos como “Vin de France”. A designação Côtes de Gascogne obriga os
produtores a respeitarem as regras e padrões de produção mais rígidos, que
foram adotados com o decreto de 25 de janeiro de 1982.
Gasconha (Côtes de Gascogne)
A Associação de Produtores das Vins de Pays Côtes de Gascogne
foi fundada em 15 de março de 1979. Defende os interesses dos associados,
determina os padrões de produção e zela pelo respeito dessas regras. A
associação conta neste momento com cerca de 1.400 produtores de vinho. Destes,
1.300 são sócios de adegas de cooperativas, as chamadas cooperativas de
cavernas.
Com uma produção permitida de 830.000 hectolitros por ano, a
Gers é a maior produtora francesa de Vin de Pays branco , com um potencial de
produção de mais de 100 milhões de garrafas por ano, das quais 75% são para
exportação. Em Gers, os volumes de produção são mais ou menos os seguintes: 91%
vinho branco, 8% tinto e 1% vinho rosé. Isso é muito atípico para o sudoeste da
França, porque nos departamentos vizinhos é produzido principalmente vinho
tinto. Os tipos de uvas para vinho tinto e rosé são Abouriou , Merlot ,
Cabernet sauvignon , Cabernet franc , Duras , Fer , Négrette , Portugias bleu ,
Malbec e Tannat. Os tipos de uvas para vinho branco são Colombard, Petit
Manseng, Gros Manseng, Len de l'El, Sauvignon blanc, Sémillon, Muscadelle e
Ugni blanc.
A casta Colombard
A uva Colombard é famosa por estar na composição de
excelentes vinhos de corte, entre eles os tradicionais Cognac e Armagnac, ao
lado das uvas Ugni Blanc e Folle Blanche. A Colombard é conhecida por sua
excelente neutralidade, tornando-a uma das principais variedades utilizadas na
composição de blends. Com o decorrer nos anos, contudo, a uva Colombard está
sendo utilizada também para adicionar luz e frescor aos vinhos brancos, tanto
em regiões do sudoeste da França, quanto em áreas vinícolas do Novo Mundo, como
na Califórnia e na África do Sul.
Apesar de não ser uma variedade dona de uma grande
popularidade, a uva Colombard é uma das cepas brancas mais cultivadas em
diversas regiões vinícolas da França. No entanto, tal notoriedade diminuiu
consideravelmente ao longo dos anos, para que outras variedades mais
tradicionais fossem cultivadas e a Colombard passasse a ser mais utilizada,
principalmente, na produção de aguardentes viníferas.
O sucesso dos vinhos brancos Colombard franceses aumentou
consideravelmente com o decorrer dos últimos anos, sendo elaborados,
principalmente, ao lado, da tradicional uva Sauvignon Blanc, rotulados sob a
denominação IGP Cotes de Gascogne. Além disso, em regiões vinícolas
australianas a Colombard também é amplamente utilizada, assim como na Tailândia
e em Israel.
A casta Gros Manseng
A Gros Manseng é uma das principais uvas brancas cultivada em
Juraçon, região localizada no sudoeste da França. Essa variedade de uva é
tradicionalmente associada a elaboração de vinhos doces, no entanto, atualmente
a Gros Manseng é utilizada também na produção de vinhos secos, extremamente
aromáticos e com nítidos sabores.
Possuindo pele grossa, elevado nível de açúcar e de acidez,
essa variedade é excelente para a produção de vinhos doces – conforme o tempo
de permanência da uva na videira aumenta, ocorre o desenvolvimento elevado da
doçura, responsável por manter a acidez da fruta, além da casca grossa contribuir
para a proteção da uva. Apesar de ainda existir alguns vinhos elaborados com a
uva Gros Manseng colhida tardiamente, tais exemplares estão sendo substituídos
por versões secas, produzidos a partir de uvas colhidas antes que o período de
maturação completa seja alcançado. Estes vinhos são caracterizados pela
marcante acidez e aromas florais que possuem.
Dando origem, principalmente, a vinhos varietais, a uva Gros
Manseng participa também de blends com a casta internacional Sauvignon Blanc e
a uva local Petit Manseng, outra variedade de elevada importância para o
cenário vinícola de Juraçon.
A uva Petit Manseng e a Gros Manseng compartilham da mesma
nomenclatura que a distinguem apenas pelo tamanho dos bagos. Isto é, “gros” e
“petit” significam “grandes” e “pequenos”, respectivamente. A variedade Gros
Manseng é cultivada em maior volume do que a uva Petit Manseng e normalmente, a
Gros é utilizada na produção de vinhos secos, enquanto e Petit dá origem a bons
vinhos doces.
A uva Gros Manseng não é cultivada em muitas regiões
vinícolas além do sudoeste da França, no entanto, fora de Jurançon a variedade
é permitida a participar dos vinhos brancos de Pacherenc du Vic-Bilh e Bearn,
além de ser utilizada com alta frequência nos vinhos IGP Cotes de Gasgogne.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um lindo e envolvente amarelo ouro com
reflexos esverdeados com uma discreta concentração de lágrimas finas e
dispersas.
No nariz é extremamente aromático, explode em notas de frutas
cítricas e brancas como melão, abacaxi, maçã verde, pera e um agradável toque
floral, de flores brancas, que traz a nítida sensação de leveza, delicadeza e
frescor.
Na boca é seco, saboroso, intenso, vívido e expressivo que
preenche bem a boca, mas por outro lado é fácil de degustar, harmonioso e
delicado, logo versátil e gastronômico. Acidez excelente que o torna ainda
pleno e vivo, apesar dos 4 anos de safra. Final persistente e frutado.
Um vinho diferente e especial para literalmente brindar nossa
querida confraria. Uma região nova para mim se descortinou diante dos meus
olhos, novas e diferentes castas, regionais, que ajudou a construir a cultura
da Gasconha, de seu povo. E que essa seja a tônica: confrarias e amizades,
rótulos e novas experiências sensoriais. Um vinho intenso e expressivo como a
intensidade de nossa enofilia, mas delicado e especial como a amizade. Tem
11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Les Vignobles Fonacalieu:
Les Vignobles Foncalieu são uma união de cooperativas
ancoradas no coração do Languedoc: se estende do maciço dos Corbières às
margens do Mediterrâneo, das encostas varridas pelo Mistral às planícies
acariciadas pelo sol, entre Carcassonne e Béziers. É no coração destas
paisagens, entre o mar e a montanha, que todos os viticultores trabalham
diariamente os nossos 4000 hectares de vinha, para oferecer a Foncalieu uvas de
elevada qualidade que produzem vinhos excepcionais.
Cooperativa com fortes valores desde 1967, nossos 650
viticultores cultivam o espírito de equipe, autenticidade, inovação e uma
paixão comum: todos os elementos que permitiram à Foncalieu ser considerada uma
das 50 marcas de vinho mais reconhecidas do mundo pela revista profissional
Drinks International em 2017.
Os vinhedos de Foncalieu se estendem por 4000 hectares entre
a cidade de Carcassonne e o Canal du Midi, dois destinos listados como
Patrimônio Mundial pela Unesco. Este vasto território caracterizado por um
mosaico de terroirs e denominações, tem permitido o desenvolvimento de uma
ampla gama de vinhos na maioria dos DOP do Languedoc, bem como IGP.
A maior e mais antiga região vinícola do mundo é também uma
terra de cultura, arte e gastronomia, caracterizada por invernos amenos e
verões quentes. A sua multiplicidade de terroirs varridos pelo Tramontana e
pelo vento marinho, estende-se dos Pirenéus ao Mediterrâneo, oferecendo uma grande
variedade de castas, da Carignan à Malbec, de Roussanne a Sauvignon.
De geração em geração, a paixão pela vinha não se enfraquece,
a transmissão às novas gerações está no centro das preocupações para perpetuar
os magníficos territórios. A força da Vignobles Foncalieu reside na combinação
das competências de todos os viticultores e dos vários polos de especialistas
franceses e internacionais.
Mais informações acesse:
http://www.foncalieu.com/
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/colombard
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gros-manseng
“Wikipedia” https://en.wikipedia.org/wiki/C%C3%B4tes_de_Gascogne