Mostrando postagens com marcador Arinarnoa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arinarnoa. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Querências do Sul Arinarnoa 2020

 

Quando a gente ultrapassa a condição de novidade e se enamora por alguma coisa, quer mais. Ambições à parte, eu prefiro definir como desejo de repetir a dose! E no universo do vinho não é diferente.

Quando degustamos uma casta pela primeira vez, quando desbravamos, em generosas taças, novas regiões, novos terroirs e gostamos, queremos sempre mais, não ficar apenas na estreia.

E lembro que o tema desse texto está girando em torno de uma casta que descobri, quase que despretensiosamente, a pouco tempo, degustando um vinho excepcional, especial. É um arrebatamento singular, mas que entrega múltiplas sensações.

O primeiro contato confesso que, diante da minha magnânima ignorância, pensei se tratar de uma casta tingida pela natureza, mas não, descobri se tratar de uma “casta de laboratório”, como a Pinotage, por exemplo, emblemática cepa da terra de Mandela.

Então o próximo passo, quando a conheci, foi ir mais a fundo, buscar rótulos dessa casta e quem sabe adquirir uns exemplares, afinal a minha caminhada em busca de castas pouco aclamadas precisam ser fomentadas.

Para a minha surpresa e alegria encontrei alguns rótulos brasileiros! Sim! Brasileiros! O nome do vinho: Valdemiz Reserva Arinarnoa 2015! As impressões? A melhor possível! Que vinhaço!

E depois de algum tempo fui convidado por um bom amigo para botar a conversa em dia e degustarmos bons vinhos, em nossa mais nova e aconchegante confraria, quando ele me disse: “Teremos uma surpresa em nossas degustações!”. Aquilo me animou e fiquei, claro, curioso.

Quando em sua casa cheguei e já se preparando para degustar o primeiro rótulo vi, em sua adega, um Arinarnoa e exclamei: Uau, um Arinarnoa! Não é todo dia que vemos um Arinarnoa por aí e ele logo disse: “Essa é a surpresa!”. Não precisarei dizer que fui tomado por uma incontida animação!

Enfim então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, Brasil, e se chama Querências do Sul, um 100% Arinarnoa, da safra das safras, 2020. E, para não perder o costume, vamos de história e falar um pouco da importância de Santana do Livramento para o cenário vitivinícola brasileiro e que faz parte da Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantadas em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.

Santana do Livramento

A Região de Santana do Livramento está localizada no paralelo 31. Uma área de clima temperado, com altas temperaturas no verão e geadas no inverno. Além disso, o dia é marcado pela grande amplitude térmica. Essas características privilegiam a produção vinícola. Isso pode ser também percebido em outros países que estão nessa mesma latitude, como Argentina, Chile, África do Sul e Austrália.

Santana do Livramento

Nessa região gaúcha estão alguns pequenos produtores e vinícolas maiores como Almadén, Salton, Nova Aliança e Cordilheira Santana. Esses locais formam Ferradura dos Vinhedos. Eles podem ser visitados para degustação de vinhos, sucos e uva.

Faz parte da Região da Campanha do Rio Grande do Sul, destacando-se na pecuária (bovinos e ovinos) e na produção de arroz e soja. Mais recentemente, vem ampliando a produção frutífera, com destaque para a vitivinicultura.

Os primeiros ocupantes conhecidos da região do atual município foram os índios charruas e minuanos. Em seguida, vieram jesuítas espanhóis e ao longo do século XIX os imigrantes portugueses e italianos. Em 1810, a instabilidade política que levaria à independência das colônias espanholas na Bacia Platina motivou a vinda de tropas portuguesas para a região, com a finalidade de resguardar a fronteira luso-espanhola.

Essas tropas, comandadas por Diogo de Sousa, conde de Rio Pardo, deram início à atual cidade de Sant'Ana do Livramento, com a construção de uma capela dedicada à santa homônima. A povoação portuguesa permanente da região iniciou-se com a doação de sesmarias feitas pelo Marquês de Alegrete, em 1814. Fundada a cidade em 30 de julho de 1823, foi elevada à categoria de município em 1857, emancipando-se de Alegrete.

Arinarnoa

De acordo com algumas fontes pesquisadas a casta Arinarnoa tem origem no País Basco, não sendo, portanto, francesa, não sendo também espanhola. Como a casta Marselan, que vem fazendo sucesso no Brasil e a Pinotage, a mais famosa cepa sul africana, a Arinarnoa também é um cruzamento entre uvas e que está na lista das novas possíveis queridinhas de Bordeaux.

De acordo com o site “Plantgrape”, que cataloga videiras produzidas na França (leia aqui) o crescimento do cultivo da Arinarnoa vem aumentando exponencialmente desde 1988 que tinha 5 hectares, passando para 155 hectares em 2000, 164 em 2008 e 178 hectares em 2018. Os números não mentem, a Arinarnoa vem ganhando espaço entre os produtores franceses e vem também, consequentemente, tendo uma aceitação do mercado daquele país.

O reforço de que a Arinarnoa vem de Bordeaux é de que a mesma nasceu durante as alquimias de Pierre Marcel Durquéty, que também foi criador da uva Egiodola, que se destaca no Brasil com um rótulo da Vinícola Pizzato, no ano de 1956 no INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), que fica em Bordeaux, na França.

Durante muito tempo achava-se que o cruzamento que originou a Arinarnoa era entre a Merlot e a Petit Verdot, porém testes de DNA rechaçaram essa teoria e confirmaram que, na realidade, os pais verdadeiros são as uvas Tannat e Cabernet Sauvignon, o que nos leva a concluir que ela é neta da Cabernet Franc e da Sauvignon Blanc. Em 1980, a variedade foi oficialmente aprovada para ser utilizada nas vinificações. A França é o principal produtor, no Sul do país e norte de Cognac (não, não se produz apenas conhaques na região).

Em idioma basco, um reforço de que a casta pode ser oriunda dessa região, a palavra “arin” significa “leveza”, algo agradável e versátil, já a palavra “arnoa” significa “vinho”, ou seja, o seu autor, juntando as duas palavras quis justamente indicar uma casta que originaria vinhos leves, versáteis e agradáveis.

Inicialmente pensou-se ser cruzamento da Merlot com a Petit Verdot, mas estudos de DNA recentes a veem como o cruzamento entre a Tannat e a Cabernet Sauvignon. Há quem questione essa informação pelo fato da Arinarnoa não ser uma casta leve, ser detentora de taninos firmes e presentes, mas de Tannat e Cabernet Sauvignon.

Por brotar tardiamente, é uma ótima casta para evitar estragos em anos que ocorrem geadas de primavera. Os cachos costumam ser abertos, que é uma vantagem para evitar acúmulo de umidade e, consequentemente, doenças fúngicas. As uvas têm cascas grossas que concentram compostos fenólicos e de cor, então os vinhos costumeiramente são estruturados, possuem taninos firmes, com cor profunda, e há possibilidades de encontrar nuances herbáceas, o que também é de se esperar ao analisar os parentais.

Adaptou-se perfeitamente bem no Uruguai, Chile, Argentina, e, principalmente Brasil. Na região da Campanha Gaúcha há a projeção de que será uma das grandes uvas tintas. Gosta de invernos rigorosos e verões ensolarados, típico do clima continental da região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um envolvente vermelho rubi intenso, escuro, mas brilhante e quase fechado, com halos violáceos, além de lágrimas fina, intensas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz mostrou-se intenso, aromático e extremamente complexo com notas de frutas negras maduras, como ameixa, amora, conferindo protagonismo, além de toques de couro, de ervas, aquele agradável toque herbáceo, tabaco, especiarias e café.

Na boca é estruturado, de marcante personalidade, bom volume de boca, untuoso, mostrando-se cheio, quente, mas, por outro lado, apresentou-se redondo, equilibrado e até elegante. Traz taninos envolventes e presentes, acidez equilibrada, com toques de rusticidade, lembrando tabaco, terra molhada. Final persistente.

Para se ter uma noção da importância disso até mesmo em Bordeaux a Arinarnoa tem sido pouco usada, então ver os produtores brasileiros investindo nessa casta é no mínimo digno de orgulho. Mas pelo que pude ler a respeito da casta ela se dá bem em climas de invernos rigorosos e verões ensolarados, típicos das tradicionais regiões gaúchas da Campanha e Serra Gaúcha. E graças ao bom gosto e percepção aguçada de meu bom amigo tive a oportunidade e o prazer de degustar, mais uma vez, um Arinarnoa com carimbo de qualidade, de tipicidade de um terroir brasileiro que, a cada dia, vem ganhando destaque chegando ao mesmo patamar que a sua vizinha Serra Gaúcha. Que venham mais e mais rótulos da excelente Arinarnoa! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Jolimont:

Idealizado por um Francês estabelecido na região em 1948, a Vitivinícola Jolimont é uma das pioneiras no Estado na produção de vinhos finos e artesanais.

Os 27 hectares cultivados estão a 830 metros de altitude, em solos pedregosos e profundos, com uma exposição geográfica privilegiada, do nascente do sol, com incidência de raios solares nas primeiras horas da manhã, até o pôr-do-sol, o que favorece a maturação homogênea dos frutos.

As baixas temperaturas durante o inverno são fundamentais às videiras no período de dormência. As condições meteorológicas do Vale do Morro Calçado exercem influência sobre a produção e a qualidade da uva, em todos os períodos fenológicos da videira, desde o repouso vegetativo, que ocorre durante o inverno, na brotação, floração, frutificação e crescimento das bagas, em meio ao clima ameno da primavera, em sua maturação provinda do calor do verão, até a queda das folhas ocorrida na estação do outono.

Essas condições climáticas, aliadas à topografia montanhosa e ao excelente estado do solo, permitem a maturação perfeita dos frutos, formando o Terroir ideal: um conjunto de fatores que contribui para a elaboração de um vinho raro, de personalidade única. Mais que isso, desse Terroir do Vale do Morro Calçado nasce o segredo da identidade de um vinho nobre, de sensação inexplicável, revelado somente no paladar.

Com a qualidade superior das uvas colhidas e a quantidade limitada de garrafas por safra, a Jolimont se coloca em um grupo seleto, que elabora vinhos artesanais genuínos, puros e de qualidade internacional.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosjolimont.com.br/

Referências:

“6 Viajantes”: https://6viajantes.com.br/provando-delicias-na-rota-ferradura-dos-vinhedos-em-santana-do-livramento

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sant%27Ana_do_Livramento

“Plantgrape”: https://plantgrape.plantnet-project.org/en/cepage/Arinarnoa

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2015/09/17/arinarnoa-uma-grata-surpresa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-arinarnoa/

“Mondovinho”: http://mondovinho.blogspot.com/2018/02/um-varietal-de-arinarnoa.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/ciclo-de-crescimento-da-uva/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/campanha-gaucha

“Tudo do Vinho”: https://tudodovinho.wordpress.com/2020/07/14/i-p-campanha-gaucha/

 

 
















quarta-feira, 25 de maio de 2022

Valdemiz Reserva Arinarnoa 2015

 

Mais um rótulo da série: “gratas novidades sensoriais”! E olha que essa casta, a casta do vinho de hoje é mais do que especial, pois sequer a conhecia! Diria que essa variedade, fazendo uma analogia com o rock n’ roll, algo que também degusto vorazmente, é rara, obscura, pouco conhecida, pelo menos em terras brasileiras, em taças de enófilos brasileiros.

Eu a conheci de forma despretensiosa, diria, em alguns “garimpos” ou pesquisas que estava fazendo e que já não me recordo mais e me chamou a atenção pelo pitoresco nome. O primeiro contato, confesso que, diante da minha magnânima ignorância, eu pensei se tratar de uma casta de origem indígena, mas não, descobri se tratar de uma “casta de laboratório”, como a Pinotage, por exemplo, emblemática casta da terra de Mandela.

Outro dado que me chamou a atenção. Então o próximo passo foi ir mais a fundo, buscar rótulos dessa casta e quem sabe adquirir uns exemplares, afinal a minha caminhada em busca de castas pouco aclamadas precisa ser fomentada.

Para a minha surpresa e alegria encontrei alguns rótulos brasileiros! Sim! Brasileiros! O Brasil vem se destacando, cada vez mais, no cultivo de cepas oriundas da Itália e de algumas bordalesas, das mais conhecidas, como a Merlot, sobretudo na Serra Gaúcha e a própria “artista do espetáculo”, a qual me refiro. Essa casta é a Arinarnoa.

Para se ter uma noção da importância disso até mesmo em Bordeaux a Arinarnoa tem sido pouco usada, então ver os produtores brasileiros investindo nessa casta é no mínimo digno de orgulho. Mas pelo que pude ler a respeito da casta ela se dá bem em climas de invernos rigorosos e verões ensolarados, típicos das tradicionais regiões gaúchas da Campanha e Serra Gaúcha.

E achei um vinho com a casta, brasileiro, da Serra Gaúcha e a um valor até atraente, até pelo fato de se tratar de uma casta que, apesar de cultivada por alguns produtores tupiniquins, ainda tem uma baixa produção.

Então sem mais delongas vamos às apresentações: o vinho que degustei e gostei, como disse, vem da Serra Gaúcha, do Brasil, chama-se Valdemiz da casta Arinarnoa, safra 2015. E já que falei em garimpo, pesquisas e afins, vamos textualizar a história da Arinarnoa e da Serra Gaúcha.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Arinarnoa

De acordo com algumas fontes pesquisadas a casta Arinarnoa tem origem no País Basco, não sendo, portanto, francesa, não sendo também espanhola. Como a casta Marselan, que vem fazendo sucesso no Brasil e a Pinotage, a mais famosa cepa sul africana, a Arinarnoa também é um cruzamento entre uvas e que está na lista das novas possíveis queridinhas de Bordeaux.

País Basco fazendo fronteira com o sul-sudoeste da França

De acordo com o site “Plantgrape”, que cataloga videiras produzidas na França (leia aqui) o crescimento do cultivo da Arinarnoa vem aumentando exponencialmente desde 1988 que tinha 5 hectares, passando para 155 hectares em 2000, 164 em 2008 e 178 hectares em 2018. Os números não mentem, a Arinarnoa vem ganhando espaço entre os produtores franceses e vem também, consequentemente, tendo uma aceitação do mercado daquele país.

O reforço de que a Arinarnoa vem de Bordeaux é de que a mesma nasceu durante as alquimias de Pierre Marcel Durquéty, que também foi criador da uva Egiodola, que se destaca no Brasil com um rótulo da Vinícola Pizzato, no ano de 1956 no INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), que fica em Bordeaux, na França.

Durante muito tempo achava-se que o cruzamento que originou a Arinarnoa era entre a Merlot e a Petit Verdot, porém testes de DNA rechaçaram essa teoria e confirmaram que, na realidade, os pais verdadeiros são as uvas Tannat e Cabernet Sauvignon, o que nos leva a concluir que ela é neta da Cabernet Franc e da Sauvignon Blanc. Em 1980, a variedade foi oficialmente aprovada para ser utilizada nas vinificações. A França é o principal produtor, no Sul do país e norte de Cognac (não, não se produz apenas conhaques na região).

Em idioma basco, um reforço de que a casta pode ser oriunda dessa região, a palavra “arin” significa “leveza”, algo agradável e versátil, já a palavra “arnoa” significa “vinho”, ou seja, o seu autor, juntando as duas palavras quis justamente indicar uma casta que originaria vinhos leves, versáteis e agradáveis.

Inicialmente pensou-se ser cruzamento da Merlot com a Petit Verdot, mas estudos de DNA recentes a veem como o cruzamento entre a Tannat e a Cabernet Sauvignon. Há quem questione essa informação pelo fato da Arinarnoa não ser uma casta leve, ser detentora de taninos firmes e presentes, mas de Tannat e Cabernet Sauvignon.

Por brotar tardiamente, é uma ótima casta para evitar estragos em anos que ocorrem geadas de primavera. Os cachos costumam ser abertos, que é uma vantagem para evitar acúmulo de umidade e, consequentemente, doenças fúngicas. As uvas têm cascas grossas que concentram compostos fenólicos e de cor, então os vinhos costumeiramente são estruturados, possuem taninos firmes, com cor profunda, e há possibilidades de encontrar nuances herbáceas, o que também é de se esperar ao analisar os parentais.

Arinarnoa

Adaptou-se perfeitamente bem no Uruguai, Chile, Argentina, e, principalmente Brasil. Na região da Campanha Gaúcha há a projeção de que será uma das grandes uvas tintas. Gosta de invernos rigorosos e verões ensolarados, típico do clima continental da região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com intensidade, brilhante e reluzente, com reflexos violáceos e lágrimas finas e ocasionais.

No nariz é extremamente aromático, trazendo uma grande complexidade, com muita fruta vermelha e preta maduras, onde se destacam ameixa, framboesa, morango, cereja, com um toque herbáceo, de especiarias, vegetal, com notas amadeiradas em evidência, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho, mas muito bem integrada à fruta.

Na boca é macio, elegante, de leve para média estrutura, muito saboroso e agradável, com a presença, como no aspecto olfativo, da fruta e do vegetal, da terra molhada, do couro, com taninos vivos, mas domados e redondos, acidez média e equilibrada e a madeira mais discreta, que, ainda assim, traz o aporte da baunilha, do caramelo e até um pouco de chocolate. Tem um final de razoável persistência.

Uma grata surpresa! Assim defino o Valdemiz Arinarnoa! Que bom estar vivo e pleno de saúde mental e física para ter esse vinho inundando a minha taça, para deleite das minhas experiências sensoriais. Um vinho vibrante, intenso, estruturado, mas fácil de degustar, elegante, macio, o que faz jus às suas origens. É um vinho versátil e que harmonizaria tranquilamente com pratos estruturados ou alguma comida casual e simples. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Curiosidade sobre o nome do vinho: “Valdemiz”

O nome Valdemiz remete ao Valle del Mis, região italiana de onde emigrou a família Valdecir Mioranza. Lá a família já era reconhecida pela produção de vinhos finos. Valdecir, bisneto de Pietro Mioranza (patriarca da família e primeiro a migrar para o Brasil), dedicou-se e empregou toda a tradição dos antepassados para criar os vinhos varietais Valdemiz. As regiões da Itália nas quais a família prosperou na vinicultura antes de imigrar ao Brasil, são homenageadas na linha de Vinhos Finos Valdemiz.

Sobre a Vinícola Monte Reale:

Os registros da produção de vinhos, legado da família, datam de 1300, ainda na Itália. Na primeira metade do século XIX, integrantes da família imigraram para o Rio Grande do Sul, onde iniciaram a atividade na Serra Gaúcha. Em 1973, Valdecir Mioranza deu o pontapé inicial para a Monte Reale, vinícola que está há 45 anos no mercado nacional e guarda mais de sete séculos de conhecimento. A Monte Reale está localizada na entrada de Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, no coração da Serra Gaúcha, oferecendo diversas experiências enogastronômicas únicas. Flores da Cunha está próxima ao paralelo 30, local que favorece a produção de uvas de qualidade superior e, consequentemente, excelentes vinhos e sucos.

Cinco marcas compõem hoje o mix da vinícola. Os vinhos de mesa e sucos são comercializados com a bandeira Monte Reale. Vinhos finos chegam ao mercado com as marcas Valdemiz e Sospirolo, que produz ainda espumantes, brandy e outros produtos especiais. A tradicional PNS elabora vinagres finos e, ainda, com a marca Alem Bier são produzidas cervejas artesanais.

As uvas utilizadas na elaboração dos vinhos e sucos Monte Reale são cultivadas em uma das regiões mais nobres do país. O microclima da região com suas peculiaridades, como as temperaturas mais baixas, favorece o repouso das videiras no inverno. No verão, o calor e a constância do sol favorecem a concentração dos açúcares, proporcionando uvas maduras, com baixa acidez e ótima complexidade aromática.

A construção da empresa, com as rochas do próprio local, foi pensada para manter uma temperatura baixa em seu interior, garantindo uma ótima estrutura para elaboração e amadurecimento de vinhos. As condições de clima e solo ideais, aliadas às aprimoradas técnicas de cultivo, elevam a qualidade das uvas produzidas pela família de Valdecir Mioranza. Seus descendentes carregam seu legado, refletido na inovação e nos produtos de qualidade superior.

Mais informações acesse:

https://www.montereale.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Plantgrape”: https://plantgrape.plantnet-project.org/en/cepage/Arinarnoa

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2015/09/17/arinarnoa-uma-grata-surpresa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-arinarnoa/

“Mondovinho”: http://mondovinho.blogspot.com/2018/02/um-varietal-de-arinarnoa.html